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4. A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO INTRA-URBANO DE

4.2. Aspectos da Problemática do Controle e da Produção do Espaço

Villaça (2000), em sua obra O Espaço Intra-Urbano no Brasil, mostrou como, na maior parte das capitais do país, verifica-se recorrentemente um eixo de desenvolvimento produzido pelas elites em seus deslocamentos em busca das áreas mais privilegiadas para se viver. Em uma clara inversão de prioridades, os governos municipais investem quase que exclusivamente nessas porções privilegiadas da cidade, em detrimento das demandas urgentes da periferia.

“Em cada cidade a direção e o padrão de futuro crescimento tendem então a ser governados por alguma combinação das seguintes considerações:

As áreas residenciais das camadas de alta renda tendem...

1. ‘... a prosseguir a partir de um dado ponto de origem ao longo de vias de deslocamento estabelecidas, ou em direção a outro núcleo existente de edificações, ou centros comerciais’.

2. ‘... a progredir em direção a terrenos altos, livres de riscos de inundações e a se espalharem ao longo das bordas dos lagos, baías, rios ou oceanos, nos locais onde tais bordas não são ocupadas por indústrias’.

3. ‘... a crescer em direção às áreas que apresentam uma região rural livre e aberta, afastando-se dos "becos-sem-saída" bloqueados por barreiras naturais ou artificiais.’

4. ‘... a crescer na direção dos líderes da comunidade’.

5. ‘As tendências de movimento de escritórios, bancos e lojas, puxam os bairros residenciais mais caros, na mesma direção geral da cidade’.

6. ‘... a crescer ao longo das linhas mais rápidas de transportes’. 7. ‘O crescimento das áreas residenciais de alta renda, permanece numa mesma direção, por um longo período de tempo’.

8. ‘as áreas de apartamentos de luxo tendem a se estabelecer próximo ao centro, em antigas áreas residenciais’.

9. ‘Promotores imobiliários podem desviar a direção de crescimento das áreas residenciais de alta renda’ (Ibidem, 2007, p. 04) “.

Porém, no caso de Rondonópolis pode-se acrescentar mais um fator: o esgoto. Pois, a região central e a Vila Aurora possuem rede de esgoto, que atinge apenas 30% da malha urbana.

Assim, nota-se que a Vila Aurora tornou-se o principal foco de atração do comércio em geral, através de dois eixos principais que a ligam com o centro principal, as Ruas Barão do Rio Branco e Dom Pedro II, formando um cone de crescimento, transformando-se em canalizadores dessa mudança do comércio através da Avenida Lions Internacional. A construção do Rondon Plaza Shopping nessa região só veio acentuar o foco de atração das classes médias e altas para o local. Portanto, nota-se que há um deslocamento do comércio especializado para atender esse público, tornando a área em questão um CDB (Central Business District).

Em entrevista, o Sr. Antonio Luis Silva Rondon11, funcionário da Construtora MTM, disse o seguinte sobre a escolha da Vila Aurora para construir prédios residenciais:

Como a empresa, ela tem um perfil, um que, no acabamento né, ela prima muito por isso, acabamento material, mão-de-obra, você entendeu? Então ela escolheu uma região, mais valorizada. Você pode ver que a Vila Aurora aqui ela é mais nova, o shopping inspira modernidade, estas coisas... que na verdade é um pouco de vaidade também, mas é uma vaidade comercial né, quer dizer... Então aqui é mais fácil de você vender. Se você pegar um prédio desses e colocar num outro bairro, que eu não vou citar nome porque não seria legal...mas se você colocar um prédio desses e colocar num lugar onde o metro quadrado é inferior, você vai ter problemas, você não vai vender.

(...) eu vejo Rondonópolis como a “bola da vez”, quem comprar um imóvel em Rondonópolis, ele não vai ter nada do que se arrepender, não.

Rondonópolis ao longo de sua história sempre caracterizou-se com um território “livre” para a especulação e controle do espaço urbano por parte da elite dirigente da cidade. Espaços que antes eram habitados por diversas classes sociais, atualmente são configurados por serem locais de supervalorização

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fundiária, o que acaba elevando os custos da moradia e faz com que grande parcela da população pobre seja obrigada a ir cada vez mais longe para obter condições econômicas de habitação.

Com exceção da área central, poder público e agentes imobiliários nunca se preocuparam com o ordenamento e direcionamento do crescimento territorial urbano. A política urbana sempre se caracterizou como uma política de resultados pontuais, nunca de planejamento preventivo, apesar de todo o desenvolvimento econômico alcançado.

Isso quer dizer que, embora o crescimento econômico tenha sido considerável, refletindo os bons resultados da produção agrícola, as conseqüências sociais e espaciais foram devastadoras, culminando no empobrecimento da grande maioria da população e na construção de um espaço diferentemente atingido pelo meio técnico-cientifico-informacional (ELIAS, 1996).

Além da política e da economia como instrumentos de dominação do espaço pela elite, esta busca deixa explícito seu controle e sua dominação através da ideologia, quando cria denominações de logradouros públicos, sobretudo, nomes de bairros e ruas na cidade de pessoas ainda vivas, mas que mesmo assim, acabam aceitando receber a homenagem. Dessa forma, apesar da Lei Federal n° 6.454 de 24 de Outubro de 1977, proibir que sejam prestadas homenagens a pessoas vivas, em Rondonópolis isso virou parte da “cultura” local da classe dominante.

Desta forma, é comum encontrar bairros chamados Jardim Carlos Bezerra (atual deputado federal), Jardim Ana Carla (ex-primeira dama do município), Conjunto Habitacional Lúcia Maggi (mãe do Governador do Estado de Mato Grosso), Jardim Maria Vetorasso (moradora em Rondonópolis), Parque Industrial Vetorasso (família tradicional da cidade), Av. Governador Blairo Borges Maggi (atual Governador do Estado de Mato Grosso), Av. Prefeito Percival Santos Muniz (ex-prefeito e atual deputado estadual), Av. Júlio José de Campos (ex- governador), apenas para citar alguns exemplos.

Resultado do histórico parcelamento do atual sítio urbano que compõe a área da cidade de Rondonópolis, onde praticamente 90% foi loteado e construído sobre as propriedades de apenas quatro pessoas, o Sr. Áureo Candido da Costa, o Sr. Júlio D. Goulart (Família Goulart), o Sr. José Youssef Merhi (José Sobrinho)

e o Sr. José Salmen Hanze (Zé Turquinho), sendo estes dois últimos parentes e, também, falecidos. Famílias influentes que adquiriram terras em torno do pequeno núcleo urbano que ainda estava se desenvolvendo nas décadas de 1940, 1950 e 1960 e, que, ainda controlam grande parte da oferta disponível do solo urbano na cidade, determinando inclusive em alguns momentos para onde, como e quando a cidade vai crescer, valor dos terrenos, implantação de bairros, condomínios etc. Porém, apenas o Sr. Áureo Candido da Costa e o Sr. Júlio D. Goulart modernizaram a forma de exploração do solo urbano, transformando-se também em promotores imobiliários.

Observa-se, então, que em Rondonópolis, além da força ideológica, a classe dominante também conta com a econômica e a política a seu favor.

Como se pode observar através da figura 38, logo a seguir, a presença de grandes espaços vazios na área urbana, entretanto, mesmo os espaços já loteados, muitos se apresentam também ainda ociosos, como já verificado anteriormente.

A morfologia urbana apresenta um crescimento em direção a todas as saídas da cidade, principalmente entre os anos de 1970 e 1989, período de maior expansão física e populacional. Contudo, a partir de 2000, começa haver uma predominância maior de seu crescimento em direção as regiões Sul e Leste, já que nestes locais são criados parques industriais, condomínios fechados horizontais e verticais, grandes loteamentos para a classe média e alta, além de conjuntos habitacionais. Estes últimos, porém, mais distantes da malha urbana.

4.3. O Impacto da Segregação no Acesso a Infra-Estrutura Urbana em