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ASPECTOS DAS ESTRATÉGIAS E DAS TÁTICAS

4 ESTRATÉGIAS E TÁTICAS PARA O DESENVOLVIMENTO

4.1 ASPECTOS DAS ESTRATÉGIAS E DAS TÁTICAS

Após o percurso realizado junto às instituições estaduais e no próprio município de Limoeiro, as fontes que consultamos foram submetidas à análise, na perspectiva de Michael de Certeau (1998), segundo o qual, os indivíduos “[...] traçam ‘trajetórias indeterminadas’ aparentemente desprovidas de sentido, porque não são coerentes com o espaço construído, escrito e pré-fabricado onde se movimentam” (p. 97). Desse modo, os indivíduos percorrem caminhos diferentes dos que lhe foram traçados e impostos pela ordem do lugar que os subjugam, sem se ausentarem do espaço em que vivem.

Os indivíduos fazem, também, movimentos contrários aos impostos pelo poder manipulador vigente, como diz Certeau (1998) “ações desviacionistas”, dentro do espaço controlado pelo inimigo, ou seja, pelas forças opressoras do próprio lugar. Os indivíduos criam diferentes maneiras de utilizar a ordem imposta e, de forma pluralista e criativa, eles procuram desvencilhar dos propósitos das forças dominantes. Esses elementos são chamados pelo autor de estratégia e tática.

Chamo de estratégia o cálculo (ou a manipulação) das relações de forças que se torna possível a partir do momento em que um sujeito de querer e poder (uma empresa, um exército, uma cidade, uma instituição científica) pode ser isolado. A estratégia postula

um lugar suscetível de ser circunscrito como algo próprio e ser a base de onde se podem gerir as relações com uma exterioridade de alvos e ameaças (os clientes ou os concorrentes, os inimigos, o campo em torno da cidade, os objetivos e objetos da pesquisa etc.) (CERTEAU, 1998, p. 99).

Há na estratégia um saber peculiar determinante e articulador que postula um espaço, determina o seu limite, e este, passa a ser seu lugar próprio e, é neste espaço próprio que são gerenciadas as relações com exterioridade que podem tanto ser metas a serem alcançadas, como também um combate a algo que possa representar alguma ameaça.

Neste espaço próprio do “sujeito de querer e poder”, conforme Certeau (1998), as relações de força são avaliadas para que as leis, as normas, e as práticas que foram definidas sejam impostas, por meio da força, com intuito de subjugar, oprimir todo movimento, toda ação que contrarie a ideologia da “direção estratégica”.

Se a estratégia tem esse contorno circunscrito de um sujeito de “querer e poder”, de onde parte a força de controle, em contraposição, a tática é o movimento feito dentro do espaço do outro e, por esse outro, dominado. A tática não tem lugar próprio, por vezes ela se estabelece no lugar do outro, não podendo se constituir em si mesma. Por esse fato, deve jogar com o espaço do outro que lhe é imposto e por sua lei que o organiza.

Nesse sentido, Certeau (1998) chama de tática “[...] a ação calculada que é determinada pela ausência de um próprio. Então, nenhuma delimitação de fora lhe fornece a condição de autonomia. A tática não tem por lugar senão o do outro”. (CERTEAU, 1998, p.100). Na tática, o indivíduo tenta subverter a ordem, os silêncios e a ausência de um não poder.

Segundo o autor, esse lugar que não é seu, permite mobilidades e, por isso, devem ser observadas e aproveitadas às oportunidades que surgem, a partir das falhas “das conjunturas particulares na vigilância do poder proprietário. Aí, vai caçar. Cria ali surpresas. Consegue estar aonde ninguém espera. É astúcia. Em suma, a tática é a arte do fraco” (CERTEAU, 1998, p.101).

A astúcia faz parte das forças que estão sujeitas às forças dominantes. Quanto mais fracas forem, mais a astúcia se fará presente. Para Certeau (1998), ao fraco é possível à astúcia, sendo esta, muitas vezes, o último meio utilizado para resolução de conflitos. Na tática, a ação introduzida pelas forças subjugadas se dá por meio da surpresa, dentro de uma ordem estabelecida pelo seu opressor.

Aproveitar as oportunidades para dar o “golpe”, surpreender o inimigo dentro do seu próprio espaço e, com isso, dominá-lo, isso podemos chamar de astúcia, de tática. A tática é definida na inexistência de poder, diferentemente da estratégia que se constitui pelo estabelecimento de um poder.

Na falta de um poder, de um espaço próprio, no espaço do outro, por meio do acaso, das ocasiões que ocorrem devido às falhas na vigilância cometidas pelo opressor, a tática é introduzida e a ela está sujeita. A tática utiliza, com habilidade, o tempo, as ocasiões que lhes são apresentadas pelo poder constituinte, abrindo brechas e avançando por lugares antes não possíveis.

A tática se desenvolve na ausência de um poder, de um lugar próprio e de um tempo não próprio. No movimento de resistência, os indivíduos estão subjugados por um “sujeito de querer e de poder”, que é detentor do poder, que controla o lugar que lhe é próprio e que define e impõe as normas, leis e padrões de comportamentos a serem seguidos pelos “os mais fracos”.

É nessa conjuntura que a tática se constitui, os sujeitos subjugados calculam ações a serem realizadas no momento oportuno, aproveitando as oportunidades que surgem, a partir das falhas cometidas pelo poder constituinte do não lugar, em busca da autonomia e da liberdade.

A estratégia postula um espaço próprio, um poder próprio para sua existência e seu desenvolvimento, enquanto que a tática é estabelecida no espaço do outro, sem um poder próprio sob o julgo das leis, normas e práticas do outro. E, dentro desse espaço opressor, utilizando seus instrumentos de repressão, é que os sujeitos subjugados promovem ações, movimentos contrários à ordem vigente, com a finalidade de empregá- los para benefícios próprios.

Nesse contexto, é no espaço do “sujeito de querer e poder” que a tática é introduzida. Os indivíduos subordinados às regras, normas e práticas impostas por esse “sujeito de querer e poder” traçam trajetórias que não são coerentes com o espaço que foi construído e organizado por essas forças opressoras dominantes, ou seja, a tática é o movimento, a ação calculada, aproveitando o tempo oportuno, dentro do lugar do outro, que contraria a ordem estabelecida, imposta pela “direção estratégica”.

A estratégia e a tática são elementos fundamentais para construção deste estudo. Partimos do princípio de que ambas foram pensadas e utilizadas, de alguma forma, pelas instituições, por indivíduos limoeirenses e sujeitos de municípios vizinhos para o desenvolvimento do processo educacional do município de Limoeiro durante a

periodização investigada. Logo, reafirmamos que, são as estratégias e as táticas que foram pensadas e utilizadas que pretendemos identificar e interpretar para a construção deste trabalho.

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