• Nenhum resultado encontrado

4. REGIME MILITAR E O ENSINO DE GEOGRAFIA NO BRASIL

4.6 Aspectos do legado da ditadura militar no ensino

Considerando a importância do contexto do período analisado, apresentamos a seguir os estudos relacionados a ditadura militar no Brasil e sua relação com o ensino. Os estudos mais relevantes apresentamos na tabela 4.

TABELA 6- Estudos acadêmicos desenvolvidos no Brasil desde os anos de 1964 até os dias atuais, relacionados a Ditadura Militar brasileira, organizados por título, autor, instituição, data e formato

DITADURA MILITAR

TÍTULO AUTOR DATA FORMATO

O legado educacional do

regime militar Demerval SAVIANI, 2008 Artigo de revista. Cadernos Cedes Imprensa e ensino na ditadura JANOTTI, Maria de Lourdes Mônaco 2008 Parte de monografia/livro – nacional. Universidade Estadual Paulista Educação e ideologia tecnocrática na ditadura militar FERREIRA JR., Amarilio; BITTAR, Marisa 2008

Artigo de revista. Cadernos Cedes

Entre a ditadura e a democracia : história oral de vida acadêmica

(FFLCH-USP).

BIAZO, Glauber

Cícero Ferreira 2014 Tese. Universidade de São Paulo

A Ditadura militar brasileira foi um golpe de Estado tramado entre os empresários e os militares já no final da década de 1950, que de acordo com Saviani (2008), “Em 1959 surgiu o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD), a primeira organização empresarial especificamente voltada para a ação política. Sua finalidade explícita era combater o comunismo e aquilo que seus membros chamavam de “estilo populista de Juscelino” (p. 294). Assim esses grupos foram se articulando, deram o golpe na nação brasileira e juntos permaneceram 21 anos ditando as regras de como a sociedade brasileira deveria agir.

Foi um período sombrio de muita repressão com punições severas à pessoa ou grupo que se posicionasse contra o Estado. Um período marcado por greves, lutas e massacres e a manipulação da imprensa que também era um veículo para alienar o povo em relação a real situação do país. De acordo com Ferreira (2003) com os militares aprofundou-se a crise econômica e agravou-se o problema social, marginalizando milhões de brasileiros, que sobreviveram entre o desemprego, miséria e a fome.

Conforme consta no ofício nº 050 de 2006, da Universidade de Brasília (UNB) os percussores da democracia foram caçados por todos os âmbitos da sociedade. Nesse período o que diz respeito ao ensino, que é a área de estudo desta pesquisa, os massacres foram vastos, alunos e professores que lutavam pela democracia foram tratados como delinquentes e foram torturados, exilados e até mesmo mortos, como foi o caso do professor Anísio Teixeira, que foi encontrado morto em um fosso de elevador, a suspeita de seu assassinato foi investigado em 2012 pela Comissão de Memória e Verdade da UNB, em que pediram uma audiência pública para discutir as denuncias sobre este caso.

A Universidade de São Paulo (USP) também sofreu violações em sua autonomia, afetando diretamente o Colégio de Aplicação (CA). As manifestações no CA iniciaram com a saída do diretor Prof. Clóvis da Silva Bojikian, que era admirado entre alunos e pais de alunos, a isso, de acordo com Janotti (2008), relacionavam a reestruturação da USP sob as diretrizes dos acordos entre MEC/USAID. Desta forma, os alunos se mobilizaram através de assembleias estudantis com o apoio dos pais e professores, no qual resultou na ocupação do CA. Janotti (2008) expõe através de relatos retirados de jornais da época que houve muita repressão ao movimento dos estudantes tanto por parte do Departamento de Educação da USP, como por parte dos militares, que agiam de forma violenta.

Toda a greve dos alunos do CA foi acompanhada pela mídia jornalística, que deram suas várias versões sobre os fatos, dentre os jornais de maiores circulação que fizeram a cobertura, estavam: Folha de São Paulo, Folha da Tarde, O Estado de São Paulo, Diário da Noite, Última Hora e Diário Oficial. Dentre esses, Janotti (2008) informa que o Diário da Noite, a Última Hora e Diário Oficial deram mais espaço para os estudantes, diferente dos outros jornais que apenas se preocupavam em divulgar notícias. Para a autora:

O noticiário de jornais não se limita a uma simples constatação do vivido, entre o acontecimento e o texto publicado há diversos mecanismos de apreensão do real: o ponto de vista do reporter-observador, a redação do noticiário, a edição do texto, editoração e arte, imagens do ângulo do fotógrafo, escolha das imagens, espaço disponível e posição política do jornal. Todos esses procedimentos acabam por criar outro fato, que ordena os acontecimentos de acordo com uma certa representação simbólica da realidade. (p.7).

Os jornais nesse período foram usados para transmitir os fatos do ponto de vista do Estado, devido a censura posta pelos militares e outros conseguiam transmitir os fatos mais próximos dos fatos reais. Deste modo, os jornais se configuram como importantes documentos de época para os historiadores, segundo Janotti (2008).

Ferreira (2003) aponta também que os militares tinham como intenção reformar as instituições, melhorar a vida de certas camadas da sociedade e viabilizar alguns processos de emancipação da economia brasileira. Não havendo nenhuma intenção de quebrar a hierarquia de classes. Foi uma forma de governo com projetos reformistas. Como a autora frisa, não foram projetos de mudar o país para melhor e reduzir a pobreza, mas sim salientar ainda mais o sofrimento da classe trabalhadora, pois quem mais se beneficiou do “milagre econômico” foi a classe que já detinha o poder.

No âmbito da educação houve um estreitamento na relação Brasil e Estados Unidos através dos empresários que tinham parcerias e amizade com os estadunidenses. Ferreira e Bittar (2008) exprimem que:

No tocante à questão educacional, os tecnocratas defendiam como pressuposto básico a aplicação da “teoria do capital humano”, como fundamentação teórico-metodológica instrumental para o aumento da produtividade econômica da sociedade. (p. 343)

Os autores expõem que essa teoria foi elaborada por Theodore W. Schultz (1902-1998). Para ele, a “instrução e a educação” eram, antes de tudo, valores sociais de caráter econômico, uma relação direta entre educação e economia. Essas ideias estadunidense adentraram ao Brasil, e foram a base das reformas educacionais executadas no período militar para o “crescimento econômico”.

A educação também foi marcada pela diferenciação do ensino para classes baixas e dos jovens da classe média alta. Os autores expressam que para a classe baixa o ensino era no máximo o técnico, já para as classes mais altas o conhecimento adquirido nas universidades eram o seu destino. A “cultura” não pertencia às classes mais baixas, para elas, a finalidade da educação se destinava apenas em uma mão de obra mais ou menos qualificada que venderia o seu trabalho a um preço baixo, devido a quantidade de pessoas que se formavam na época.

Para Poloni (1998) o golpe militar de 1964 expressou de forma marcante forças e tendências conservadoras e reacionárias, principalmente na política educacional. E em análise da palestra sobre Educação e Desenvolvimento econômico do ministro Roberto Campos, a autora ressalta que de acordo com o ministro, o ensino médio deveria atender à massa, enquanto o ensino universitário fatalmente deveria continuar reservado às elites.

A reforma nº 5540/68, conforme Biazo (2014) tinha por objetivo aperfeiçoar economicamente a universidade e sintonizar sua estrutura administrativa as novas perspectivas pedagógicas que priorizavam as exigências externas atreladas a produção industrial e ao desenvolvimento econômico. Apesar do constante monitoramento dos militares aos professores e alunos principalmente da USP, os que eram contra o autoritarismo do Estado, conseguiam se articular para resistir a essas repressões.

A ditadura militar de acordo com Ferreira (2003) abalou a nação e fragmentou o caráter brasileiro, alienou as novas gerações, tornando-os incapazes de entenderem a sociedade em que vivem. Esse período obscuro ao qual o Brasil passou teve fim em 15 de março de 1985, quando José Sarney assume a presidência da república. Oliveira e Cordenonsi (2015).

[...] a ditadura brasileira entrou em decadência a partir de 1980, quando o governo não conseguiu mais estimular a economia, controlar a inflação e os níveis crescentes de concentração de renda e de pobreza provenientes de seu projeto econômico, o que possibilitou então o surgimento e ascensão do movimento pró-democracia. (p.368).

No movimento pró-democracia estavam muitos estudantes de todos os níveis, como professores de escolas e universidades fazendo pressão contra os militares, esse foi um movimento muito importante para a queda dos militares.

A ruptura na liberdade que ocorreu também na Geografia, e no sistema como um todo, representa a necessidade de um determinado grupo de pessoas em modificar o sistema em decorrência principalmente da economia. Para a Geografia, os resultados dessas ações se estendem até os dias atuais, não de forma tão imponente e ressaltada, mas de forma mascarada e sutilmente danosa à qualidade da educação.

Segundo Fiori (2012) embora o tempo seja contínuo, têm rupturas e continuidade. Tais rupturas no tempo não são instantes de descontinuidade total com o passado, nem são absolutas, mas se realizam num processo regressivo-progressivo, que contém um pouco do passado no presente, seja nas formas, seja nas ações. Assim entendemos que essas rupturas são as mudanças que ocorrem dentro do sistema através das necessidades da sociedade ou de um grupo em determinado período, não significando que seja algo progressivo, mas que também pode ser regressivo para a maior parte da sociedade, como ocorreu nesse período.

Além dos estudos apresentados nas tabelas 1, 2, 3, 4, 5 e 6 outras pesquisas sobre o período estudado foram identificados, porém, não serão aqui analisados, ficando para estudos futuros. Entre eles: Peralva (1992); Greco (2002); Saviani (2010); Lourenço (2011); Viana (2014); Santana (2014) e Pedro (2015).