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HANSENÍASE: CARACTERIZAÇÃO, ESTIGMATIZAÇÃO DOS DOENTES E MEDIDAS DE CONTROLE

2.3. ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DA HANSENÍASE 1 AGENTE ETIOLÓGICO

A hanseníase é uma doença infecto-contagiosa, causada pelo bacilo denominado Mycobacterium leprae, de evolução lenta, que se manifesta, principalmente, através de sinais e sintomas dermatoneurológicos: lesões de pele e lesões de nervos periféricos, principalmente nos olhos, nas mãos e nos pés (Brasil, Ministério da Saúde, 2001).

Esse bacilo tem predileção pela pele, acometendo preferencialmente as regiões mais frias do corpo humano, sobretudo os membros inferiores e superiores, podendo comprometer outros órgãos e sistemas do corpo (Foss,1999). Não é hereditária, e sua evolução depende de características do sistema imunológico da pessoa que foi infectada. Atinge, principalmente, a pele e os nervos. Por isso, as pessoas por elas acometidas relatam ter, no início da doença, a percepção de regiões ou manchas como que "adormecidas" na pele, bem como dores, cãibras, formigamento e dormência nos braços, mãos e pés (Brasil, Ministério da Saúde, 2001). Apresenta múltiplas manifestações clinicas e se exterioriza, principalmente, por lesões dos nervos periféricos e lesões cutâneas. Epidemiologicamente,

a hanseníase apresenta doentes que são pólos transmissores da doença (multibacilares, aqueles com altas cargas bacilares, as formas clínicas dimorfa e virchoviana) e doentes sem capacidade de propagação da doença, com resposta imunológica mais eficiente contra o bacilo (paucibacilares, aqueles com escassa carga bacilar, formas clínicas indeterminada e tuberculóide).

As manifestações neurológicas são comuns a todas as formas de hanseníase e se caracterizam pela sensação de anestesia com perda da sensibilidade dolorosa ao calor ou frio no local. Por sua vez, o comprometimento dos nervos provoca: diminuição da força muscular, atrofia e contração dos pés e/ou mãos e dedos; ressecamento dos olhos; lesões da mucosa nasal e cavidade bucal.

O diagnóstico é feito clinicamente a partir dos sintomas acima apresentados. Solicita-se, também, a realização de testes laboratoriais específicos, visando encontrar nas secreções ou pele os bacilos causadores da doença (Brasil, Ministério da Saúde, 2001).

2.3.2. MODO DE TRANSMISSÃO

O ser humano é considerado a única fonte de infecção da hanseníase. A sua transmissão ocorre de pessoa a pessoa, através das formas contagiantes (virchowiana e dimorfa), ambas da forma multibacilar, uma vez que somente estas eliminam bacilos para o exterior. Os bacilos são numerosos na derme e nas mucosas. As vias aéreas superiores são consideradas a principal porta de entrada do bacilo (Galvan, 2003).

O Mycobacterium leprae tem alta infectividade e baixa patogenicidade; infecta muitas pessoas, entretanto poucas adoecem. A maioria das pessoas, mesmo convivendo com portadores de hanseníase, pode não adquirir a doença. Quando a pessoa inicia o tratamento quimioterápico, deixa de ser transmissora da doença, visto que as primeiras doses da medicação eliminam os bacilos (Brasil, Ministério da Saúde, 2001).

A transmissão da hanseníase é considerada complexa, sugerindo a necessidade de interação dos fatores: grau de contagiosidade do infectante e o grau de receptividade do indivíduo exposto. A infecção também se desenvolve de acordo com as características imunológicas do hospedeiro. Estima-se que cerca de 10% das pessoas infectadas

apresentam sinais da doença após um período de incubação, em torno de dois a sete anos (Noussitou et al., 1981).

Recentemente, foram descobertos tatus, chimpanzés e macacos infectados com bactéria similar ao Mycobacterium leprae. Entretanto, o papel dos insetos enquanto agentes de transmissão é ainda discutível.

2.3.3 DISTRIBUIÇÃO E MORBIDADE

A hanseníase é endêmica nos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. Considerando o contexto das visões sócio-econômicas, o trabalho de Sommerfelt et. al. (1985) demonstra a associação entre a desnutrição infantil e a hanseníase, e o estudo de Pömnighaus et al (1994) aborda o crescimento da hanseníase em pessoas com baixo índice de escolaridade na África.

Em relação ao estudo das doenças emergentes e reemergentes, as análises das alterações ambientais incluem as mobilizações populacionais na era da globalização como fatores importantes na disseminação de patógenos e a existência de ambientes modificados e degradados propícios ao aparecimento de doenças (Lederbeeg et al, 1992; Havard Working Group, 1995).

2.3.4 - SUSCETIBILIDADE

O estado geral de saúde de uma pessoa é determinado por fatores sociais, nutricionais, de idade e gênero, assim como pela herança genética. Os hábitos pessoais, tais como fumo, práticas sexuais, consumo de álcool, também contribuem para a susceptibilidade a uma doença, assim como os fatores econômicos e sociais. Esses fatores vão desde as condições de habitação até a disponibilidade de alimentos e grau de exposição aos poluentes, e estão diferentemente distribuídos na sociedade humana devido às condições de classe, gênero, raça e etnicidade (Pignatti et al, 1995).

A exemplo de outras doenças infecciosas, a conversão de infecção em hanseníase depende de interações entre fatores individuais e ambientais. A aquisição da doença está ligada a fatores socioeconômicos: estado nutricional, situação de higiene e elevado número de pessoas convivendo na mesma moradia (Brasil, Ministério da Saúde, 2001).

De acordo com Moreira e Costa Neto (2001, p.69), as pessoas que convivem ou conviveram com o doente apresentam maior probabilidade para adquirir a doença. Acrescenta ainda que a investigação epidemiológica constitui uma importante atividade de controle da mesma:

“A investigação epidemiológica tem o objetivo de romper a cadeia epidemiológica da doença procurando identificar a fonte de contágio do doente, descobrir novos casos de hanseníase entre as pessoas que convivem com o doente no mesmo domicílio (contatos intradomiciliares do doente) e prevenir o contágio de outras pessoas. Essas pessoas que vivem com o doente de hanseníase, correm maior risco de serem contaminados do que a população em geral, por isso a vigilância de contatos intradomiciliares do doente é muito importante.”

Devido ao longo período de incubação (2 a 7 anos), é menos freqüente na infância. O acometimento de menores de 15 anos constitui um indicador de alta endemicidade da doença (Brasil, Ministério da Saúde, 2002).

2.4. ASPECTOS CLÍNICOS