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Cancela (2007) refere-se ao envelhecimento como o “processo de degradação progressiva e diferencial” (Cancela, 2007, p. 1) que varia de indivíduo para indivíduo , dependendo da velocidade e da gravidade em que se acentua nos diversos factores (biológicos, psicológicos e sociais), sendo difícil compreender o momento exacto do início deste processo (Cancela, 2007).

No entanto, pode-se ler no artigo 1, Lei no 10.741, de 1º de Outubro de 2003, que “É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos” (República, 2003), ou seja, em termos legais, considera-se uma pessoa idosa, a partir dos 60 anos. A este estatuto estão associados vários direitos relativos a saúde, política, lazer, entre outros. Porém, existe ainda outra definição legal de velhice que acontece quando a maioria das pessoas se retira do mercado de trabalho (reforma) – 65 anos em Portugal – sendo esta a idade cronológica utilizada como referência em diversos estudos científicos (Pires, 2008). O envelhecimento pode então ser compreendido a através do modelo biopsicossocial que analisa as mudanças inerentes ao processo de envelhecimento através de uma análise biológica, psicológica, (Cancela, 2007) social e ecológica (Fonseca, 2005).

A nível biológico evidenciam-se as modificações no aspecto como rugas e manchas na pele e declínios na saúde, mobilidade física, funcionamento cognitivo, entre outros (Ferreira, 2010; Fonseca, 2005; Pires, 2008). Na Tabela 2 pode-se verificar os efeitos do envelhecimento nas diferentes modalidades sensoriais (Fontaine, 2000 citado por Cancela, 2007).

A partir da análise da Tabela 2 pode verificar-se que as modalidades sensoriais mais afectadas pelo envelhecimento são o equilíbrio, a visão e a audição. A acuidade visual deve-se à redução do tamanho da pupila e diminuição da capacidade de acomodação ou de foco. A pupila do olho diminui com a idade: o olho de um jovem de 20 anos recebe 6 vezes mais luz do que um sénior de 80 anos. A visão da cor e a sensibilidade ao contraste também são afectados com a idade. Em relação à cor existe uma redução na distinção dos azuis e verdes. (Digest, 2009). Estas modificações biológicas podem causar mudanças a nível psicológico e social (Cancela, 2007) .

A nível psicológico os campos mais afectados com o processo de envelhecimento são os mecanismos perceptivos, memória de trabalho (permite o armazenamento temporário de informação) (Fonseca, 2005; Lima, 2010), aprendizagem e estilos de relação interpessoal (Fonseca, 2005). A nível cognitivo são apresentados alguns aspectos a considerar na presente investigação como:

 dificuldade em compreender mensagens longas e/ou complexas e a reproduzirem rapidamente termos específicos, bem como, reconhecer e reproduzir configurações complexas que não sejam familiares;

 lentidão nos processos cognitivo e perceptivo e nas funções motoras;

 dificuldade em filtrar informação ocasional ou em focar-se em várias tarefas simultâneas (Spar La Rue citado por Cancela, 2007).

A nível ecológico verificam-se alterações na relação pessoa – ambiente. Esta relação é passível de ser compreendida se considerarmos os contextos (como espaço físico e relacional no qual o indivíduo estabelece relações (família, trabalho, amigos, vizinhos) Bronfenbrenner,1989 citado por Fonseca,2005). Com a perda ou afastamento de entes queridos ou a entrada na reforma por exemplo, deixa de existir o conceito local de trabalho e há uma mudança para a habitação. Este facto pode afectar demasiadamente o indivíduo, modificando todas as actividades realizadas em cada contexto. Todas estas mudanças, que são frequentes causam impacto na maneira de ser e estar e na capacidade de adaptação a novas situações (Fonseca, 2005).

A nível social com a mudança dos contextos, aumenta o isolamento, o sentimento de exclusão social e de incapacidade. Aumenta também o sentido de dependência do outro para poder realizar actividades diárias ou pequenas tarefas para as quais o sénior deixa de estar ou deixa de se sentir capacitado. Perante todas estas mudanças o sénior sente

CAPÍTULO II Sénior

necessidade de ocupar o seu tempo com alguma actividade e proceder à redefinição da sua identidade social e do sentido de utilidade da sua vida (Fonseca, 2005).

As alterações mais relevantes da sociedade portuguesa da actualidade no que diz respeito aos mais velhos, são a perda de papéis identitários e a perda de poder (associada a acontecimentos de vida como a reforma) (Cancela, 2007).

O envelhecimento causa um grande impacto na vida dos seniores sobre as relações familiares, equidade entre gerações, estilos de vida e economia das nações (Machado, 2003), além dos factores biológicos inerentes, esta população é colocada à margem da sociedade de desenvolvimento. A perda de entes queridos ou a separação da família, o declínio físico continuado, o aparecimento de doenças, conduzem à solidão e ao isolamento e a sentimentos negativistas de inutilidade, insuficiência, podendo desencadear estados depressivos (I. Chaves, n.d.).

Os preconceitos e estereótipos formulados acerca do sénior (ageism - descriminação etária) caracterizam-no como antiquado, inútil, senil (Butler,1969 citado por Pires, 2008), rígido tendo como consequências a exclusão e o impacto na sua incapacidade de se desenvolver (Lima, 2010; Pires, 2008). Lima (2010) relata que as atitudes negativistas têm um papel central na sociedade contemporânea, afectando a auto-confiança, o bem- estar económico, social e psicológico dos mais velhos, excluindo-os e denegrindo-os (Lima, 2010).

Nesta perspectiva considera-se de extrema importância que as Instituições de Solidariedade Social, as instituições promotoras de saúde e Segurança Social tentem responder às necessidades desta população (I. Chaves, n.d.).

No Plano de Acção Internacional sobre o envelhecimento (OMS, 2002 citado por Fonseca, 2005) é sublinhada a importância de promover a inserção social do cidadão sénior, atendendo às suas necessidades e capacidades através da aprendizagem continuada, optimização das condições de saúde, da participação familiar, social, económica e cultural (Fonseca, 2005, p. 121). Todas as medidas ou estratégias com objectivo de promover bem-estar e qualidade de vida são benéficas para o cidadão sénior (Pires, 2008).

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