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3. OS MODELOS DE INTERAÇÃO UNIVERSIDADE-EMPRESA NO BRASIL

3.2. A Repercussão dos Modelos e a Infra-Estrutura de C&T do Brasil

3.4.1. Aspectos Gerais da Lei de Inovação

É importante que se faça uma análise mais pormenorizada da lei, uma vez que ela dispõe sobre muitas questões conflitantes, como as referentes à propriedade intelectual e, também, representa grande salto para o estímulo à interação.

Em primeiro lugar, é importante identificar o âmbito de atuação da Lei de Inovação. Conforme disposto no artigo 2°, essa lei se aplica às Instituições Científicas e Tecnológicas (ICT) que, de acordo com definição própria, são as entidades da administração pública que têm como missão institucional, dentre outras, executar atividades de pesquisa básica ou aplicada de caráter científico ou tecnológico.

Um ponto importante para a interação entre universidade e empresas é o artigo 3° da lei. De acordo com este artigo, é permitido à União, aos estados e aos municípios criarem projetos de cooperação entre empresas nacionais e instituições de ciência e

74 tecnologia. Essa cooperação é permitida apenas para o desenvolvimento de atividades que possam gerar novos produtos ou processos. Observa-se, também, que é permitido, como consta no parágrafo único do artigo, o estabelecimento de acordos que contemplem redes e projetos internacionais de pesquisa, inclusive através de incubadoras de empresas e parques tecnológicos.

Outro estímulo à interação é dado no artigo 4º da lei, que faculta às instituições científicas e tecnológicas o compartilhamento de seus laboratórios, equipamentos, instrumentos, materiais e demais instalações com empresas, inclusive pequenas e médias. Da mesma forma que o artigo anterior, a permissão só é concedida nos casos em que ambas as instituições estiverem comprometidas com a criação de um ambiente favorável às atividades inovativas.

Para Cerqueira e Silva (2006), o compartilhamento dos laboratórios das instituições de ciência e tecnologia está estabelecido de forma mais clara, sendo que para um país como o Brasil, que está em processo de desenvolvimento, é importante utilizar a sua infraestrutura de P&D e, com isso, evitar o ociosidade dessa infraestrutura.

Uma forma de permitir a participação das instituições científicas e tecnológicas no processo inovativo do setor produtivo está exposta no artigo 5º da lei. Segundo o artigo, é permitido à União e às suas entidades a participação, desde que minoritariamente, no capital de empresas que desenvolvem produtos e processos inovadores. Dessa forma, são ampliadas as modalidades de possíveis interações. Porém, é necessário que se esclareça um ponto fundamental em relação à propriedade sobre os resultados das atividades inovativas. Conforme parágrafo único do artigo, a propriedade sobre os resultados das atividades inovativas deverá obedecer à proporção de participação dos recursos públicos no capital social da empresa.

A Lei de Inovação permite, em seu artigo 6º, que as instituições de ciência e tecnologia celebrem contratos de transferência e de licenciamento de tecnologias. Esses contratos podem conceder o direito de uso dessas tecnologias ou permitir a exploração de criações desenvolvidas pelas instituições científicas e tecnológicas por empresas. A

75 ressalva é feita, no que consta no inciso 5º, que, caso a tecnologia a ser transferida seja de interesse público, conforme pode ser interpretado pelo poder executivo, a transferência e o licenciamento não poderão ter caráter de exclusividade.

A regularização das interações entre universidade e empresa está disposta no artigo 8º, que permite que as instituições de ciência e tecnologia prestem a outras instituições, sejam elas públicas ou privadas, serviços nas atividades voltadas à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo. Um ponto fundamental a ser analisado no caso deste artigo é a situação dos pesquisadores das instituições científicas e tecnológicas. No inciso 2º, é estabelecido que o pesquisador envolvido nessa prestação de serviços poderá receber retribuição pecuniária da própria instituição de ciência e tecnologia ou da instituição para a qual ele esteja realizando os serviços. As pesquisas conjuntas realizadas entre as universidades e as empresas são contempladas pela lei e estão regulamentadas no artigo 9º. Este artigo permite às instituições de ciência e tecnologia a celebração de contratos de parceria, com outras instituições públicas ou privadas, para realizar atividades conjuntas de pesquisa científica e tecnológica e o desenvolvimento de tecnologias, produtos e processos. No caso das pesquisas conjuntas, mais uma vez é importante analisar a situação do pesquisador. O inciso 1º estabelece que o pesquisador da instituição de ciência e tecnologia, que esteja envolvido nessas atividades, pode receber bolsa de estímulo à inovação. Além disso, o inciso 3º estabelece que a propriedade intelectual e a participação nos resultados da pesquisa conjunta estarão garantidos somente se estiverem previamente estabelecidos em contrato. Ademais, a participação nesses resultados deverá respeitar a mesma proporção em que os recursos humanos, financeiros e materiais tenham sido alocados por cada agente envolvido na cooperação.

No caso dos contratos de transferência e licenciamento de tecnologias, é garantido ao criador delas, conforme o artigo 13, de participação mínima de 5% e máxima de 33% nos ganhos econômicos apropriados pela instituição de ciência e tecnologia. O inciso 1º estabelece que essa participação nos ganhos deva ser compartilhada por todos os

76 membros que tenham, de alguma forma, contribuído para a geração dessas tecnologias. É importante que, para os efeitos dessa lei, são considerados ganhos econômicos, de acordo com o inciso 2º, todas as formas de royalties, remuneração ou quaisquer benefícios financeiros resultantes da exploração da criação.

Um avanço incorporado na forma de atuação da lei relaciona-se às atividades empreendedoras realizadas nas universidades e instituições de pesquisa. As atividades de “spin off” foram contempladas no artigo 15 da lei. Segundo este artigo, a administração pública pode conceder ao pesquisador licença, sem remuneração, para que ele possa constituir uma empresa para realizar atividades empresariais relativas à inovação. É importante observar, de acordo com o inciso 1º, que essa licença pode ser concedida por até três anos, prorrogáveis por mais três.

Nas relações entre as universidades e as empresas, para as quais se pode obter inovações, é importante que nos contratos de parceria sejam celebrados acordos a respeito da titularidade da propriedade intelectual. A lei, em seu artigo 16, determina que cada instituição disponha de um Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) para conduzir sua política de inovação. Esses núcleos devem, de acordo com o parágrafo único, zelar pela política da instituição de estímulo à proteção das criações, licenciamento, inovação e outras formas de transferência de tecnologia.

E, por fim, é fundamental observar o artigo 19 que, para estimular a inovação nas empresas, permite que a União, as instituições de ciência e tecnologia e as agências de fomento financiem as empresas, em suas atividades inovativas, mediante a concessão de recursos financeiros, humanos, materiais ou de infra-estrutura necessários. Ressalva-se, porém, que as empresas beneficiadas por esse tipo de fomento deverão atender às prioridades da política industrial e tecnológica nacional.

Portanto, conforme pode ser observado, as relações entre as universidades e as empresas estão, a partir da Lei de Inovação, regulamentadas. As modalidades de interação e as abordagens feitas às questões de propriedade intelectual contempladas na Lei de Inovação representam, em termos legais, um grande avanço para a

77 consolidação de uma infra-estrutura científica e tecnológica interligada às atividades do setor produtivo.

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