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3. ATIVIDADES FEMININAS: ANOS 1960 E 1970 EM TRIUNF-PB

3.1 Aspectos histórico-culturais do Município de Triunfo

Localizada no interior da Paraíba, mais precisamente na microrregião de Cajazeiras, alto sertão paraibano, a cidade de Triunfo possui uma extensão de 219,866 km² e apresenta uma população de 9.220 habitantes de acordo com dados do censo 2010 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)7. Triunfo teve sua independência político administrativa sob a Lei 2.637 de 20 de dezembro de 1961, sendo a municipalização instalada oficialmente no dia 22 de dezembro, data em que se comemora o

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dia da cidade. Como cidade do interior, Triunfo apresenta grande legado cultural ligado à religiosidade, traço marcante do município, através dos fatos que marcaram sua construção histórica, conforme os que são difundidos a partir de pesquisas e relatos orais de moradores locais, sua formação urbana teve início a partir da segunda metade do século XIX e está relacionada a um fato religioso que ocorreu no ano de 1864.

Em finais do século XIX, como descreve Erika Vanessa Lisboa Andrade em seu texto monográfico “Os quarenta”: tradição e identidade de uma comunidade negra na cidade de Triunfo - PB da década de 1950 aos dias atuais” (2013, p. 14 e seguintes) a cidade de Triunfo era apenas um povoado denominado “Picadas” pertencente a cidade de Antenor Navarro, atual São João do Rio do Peixe - PB. Sua formação urbana iniciara-se em torno da capela construída por um beato conhecido por Caboclo Manoel Bernardo, que teria feito uma promessa ao Menino Deus quando uma epidemia de cólera assolava a região. Segundo Andrade, o beato fez a promessa de construir uma capela tendo como padroeiro o Menino Deus, cuja festa seria celebrada na segunda quinzena do mês de Dezembro com novenas e festejos, caso a epidemia não atingisse o pequeno povoado. Como a graça foi alcançada e o povoado não foi atingido pela doença, o Beato saiu a pedir esmolas para a construção da capela, que viria a ser o marco da fé e da devoção do povo triunfense ao padroeiro Menino Deus, bem como da construção histórica do município de Triunfo, pois a esse fato está ligado também a mudança do nome daquela localidade de Picadas para Triunfo, em homenagem ao triunfo e vitória do povoado sobre a epidemia de cólera.

A capela foi construída no ano de 1864 e com o passar dos anos passou por várias reformas tornando-se a Igreja Matriz do Menino Deus símbolo de fé e devoção local, onde todos os anos devotos reúnem-se para expressar homenagens ao padroeiro durante nove noites, cumprindo o prometido por Caboclo, com fogos festejos e quermesses onde a maior parte da população participa com suas vestes na cor rósea.

Fotografia da construção da torre da capela construída em homenagem ao Menino Deus cedida por Marcondes Trajano, morador local, de seu acervo pessoal.

Assim como nas demais cidades paraibanas de moral católica, a religiosidade em Triunfo teve grande importância para o processo de formação social do município. A importância do contexto religioso para a fundação histórico-cultural da cidade é evidente, pois como descreve Andrade (2013, p, 16) “a religiosidade tornou-se um ponto de destaque dentro da sociedade triunfense compondo uma marca que se cristalizara cada vez mais com o passar dos anos”. Segundo Andrade,

Essa construção imagética coloca Triunfo como um lugar sagrado, que não fora atingido pela epidemia porque o Menino Deus não permitiu. A partir da promessa de caboclo, que se tornara uma figura folclórica local, e que possui grande importância na construção mítica do triunfo alcançado, iniciou-se a devoção ao menino Deus construindo uma imagem idílica da cidade que passou a atrair pessoas de todas as regiões (ANDRADE, 2013, p. 16).

Como acrescenta ainda Andrade (2013, p.15), a promessa de Caboclo sacraliza a história de Triunfo e sua construção imagética se cristaliza, transformando a localidade em lugar de salvação da cólera. Essa construção mítica da cidade se perpetua através de discursos produzidos por moradores e historiadores locais constituindo a identidade religiosa e do lugar. Assim sendo, essa história de fé e salvação passou a ser contada a todos que chegavam ao lugarejo, que logo passavam a partilhar da devoção e da promessa,

festejando e rendendo homenagens ao Deus Menino numa festa que perdura há quase dois séculos e que apesar de passar por ressignificações é através dela que a população local interage com a construção histórica da cidade.

Em meados do século XX, mais precisamente na década de 1950 como descreve José Ribamar Andrade em seu texto monográfico “Processo político da cidade de Triunfo: (da violência à alternância de poder 1961-1996)”, (1999, p. 05), apesar de ter um contingente demográfico ainda pequeno e dispor de poucas casas e alguns prédios comerciais que se agrupavam em sua maioria ao redor da Igreja do Menino Deus, a comunidade de Triunfo passava por um momento de razoável equilíbrio econômico baseado no cultivo do algodão, o chamado “ouro branco” que na época vivia o seu apogeu, sendo um dos produtos mais valorizados na balança comercial do país.

Nesse momento, a elite agrária local constituída pelas famílias que ocupavam os estratos econômicos e sociais mais elevados da comunidade, a exemplo dos Moreira, Mangueira, Teodoro e Félix, se articularam para realizar o desmembramento do seu território, ainda pertencente à cidade de Antenor Navarro, realizando as primeiras reuniões8 que conduziram à emancipação política daquela comunidade. Essas articulações, no entanto, esbarravam num impedimento legal, pois para se tornar município a Vila precisaria adquirir o status de Distrito, sendo esse status já pertencente a outro vilarejo da região em que se instalava a comunidade de Triunfo, o que inviabilizava esse processo.

Todavia, a elite agrária local que articulava o movimento, pressiona o então prefeito de Antenor Navarro, Manoel Fernandes Dantas para que aprovasse uma lei revogando a que criou o Distrito de Brejo das Freiras, para que pudesse ser criada a de Triunfo. A Lei foi sancionada sob o nº145, de 24 de junho de 1957 criando as bases para a vitória de uma campanha promovida por pessoas da comunidade e aliados, que perduraria até dezembro de 1961, quando por força da Lei Estadual de nº 2.637, no dia 20 de dezembro de 1961, Triunfo então Distrito de Antenor Navarro, torna-se Município, para deleite de um grupo organizado que desde 1952 se articulava para esse fim. Uma conquista que se por um lado satisfazia a necessidade coletiva do senso de unidade, por outro representava o começo de uma história repleta de lutas internas pelo poder, de um grupo local que buscava através das relações pessoais de apadrinhamento e uso do poder como instrumento de conquista do monopólio político, a partir da junção das famílias

8Não há registros oficiais dessas reuniões, com exceção da cópia da Ata de uma reunião do grupo e de um abaixo assinado, já que os participantes não tinham preocupação de formalizá-las por escrito.

economicamente mais bem estabelecidas, realizando as articulações necessárias para esse fim.

Ainda segundo Andrade (1999, p.06) na ocasião da emancipação política do Município, foi nomeado interinamente pelo Governador Pedro Moreno Gondim o primeiro administrador do Município de Triunfo, Antônio Duarte de Aquino vulgo, Atécio, para uma gestão que duraria de 28 de dezembro de 1961 a 10 de novembro de 1962, período em que se organizaria, além da instalação formal do Município, uma eleição democrática para a escolha do primeiro gestor e da Câmara de Vereadores. Atécio foi o responsável pela construção do primeiro chafariz público que abastecia o núcleo urbano e a primeira escola Municipal, o grupo escolar Antônio Duarte de Aquino, além de realizar pequenas obras de infraestrutura local.