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Aspectos históricos sobre a aprendizagem de surdos

4 O ENSINO E A APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO

4.3 Aspectos históricos sobre a aprendizagem de surdos

Historicamente, o tratamento especializado e a dedicação ao ensino de pessoas surdas são recentes. As pessoas com deficiência e os surdos eram vistos com desprezo, sem possibilidade de participação social e sem oportunidade de inserção nas atividades educativas,

138 de trabalho ou em qualquer outra instância da vida. Eram tidos como inúteis e incapazes de assinar qualquer documento, de decidir seu destino e de viver de forma digna.

De acordo com Strobel (2008), a presença do povo surdo é tão antiga quanto a humanidade pois sempre existiram pessoas surdas. O que acontece, todavia, é que, nos diferentes momentos históricos, nem sempre eles foram respeitados em suas diferenças ou mesmo reconhecidos como seres humanos.

As pessoas surdas eram comparadas a bruxos, consideradas possuidoras de espíritos maus e até mesmo julgadas como incapacitadas. O fato de nascerem com alguma deficiência motora, dificuldade de locomoção ou incapacidade sensorial era relacionado à ausência de capacidade cognitiva e intelectual. E, nesse sentido, eram excluídas do convívio, pois era comum acreditar que elas não poderiam raciocinar nem tomar decisões, muitas vezes inclusive dentro da própria família.

Conforme afirma Monteiro (2006),

Em décadas passadas, existiam famílias ouvintes que ―escondiam‖ os filhos surdos pela ―vergonha‖ de ter concebido uma criança fora dos padrões considerados normais; e por isso os surdos quase não saíam de casa ou sempre ficavam acompanhados dos pais. A comunicação dos pais com os filhos surdos era muito complexa, pois esses não sabiam a Língua de Sinais e também não a aceitavam; achavam que era ―feio‖ fazer ―gesto‖ ou ―mímica‖ (não Língua de Sinais) como forma de comunicação com sua criança e, consequentemente, não aceitavam a língua de sinais como a primeira língua dos surdos. Os filhos Surdos, por sua vez, sentiam-se ―isolados‖ e sem comunicação alguma. Desse modo, muitas vezes criavam ―complexos‖ e/ou ficavam ―nervosos‖ (MONTEIRO, 2006, p. 294).

A Idade Média foi considerada a Idade das Trevas, período em que algumas doenças tinham as suas justificativas baseadas em conhecimentos religiosos e sobrenaturais e eram relacionadas a espíritos malignos. E, dessa forma, caso a pessoa tivesse uma parte do corpo deformada, por exemplo, ou alguma incapacidade sensorial, considerava-se que essa pessoa possuía também problemas mentais, pois se tratava de pessoas com diferenças em relação às demais e, portanto, eram consideradas inferiores. Esse sentimento e julgamento podem explicar muitos pensamentos preconceituosos e de exclusão que ainda persistem, atualmente, em nosso meio.

A respeito desse pensamento de considerar os deficientes como seres amaldiçoados, assegura Silva (1987) que, ao se verificar a História da deficiência, é possível constatar que sempre houve a marginalização dessas pessoas e geralmente ligada a ideia de que as deficiências físicas ou mentais e outras doenças eram causadas por espíritos maus, demônios

139 ou uma forma da pessoa pagar por pecados. A deficiência era vista como indicativo de certo grau de impureza e de pecado o que, de uma certa maneira, justificava o fato de serem tolerados pela sociedade, restando às pessoas deficientes o destino de esmolar.

Perello e Tortosa (1978) e Ghirardi, (1999) complementam que, historicamente, as pessoas com deficiência foram consideradas ora amaldiçoadas, ora seres semidivinos, entretanto,, sempre foram excluídas do contexto social e vistas como objetos de caridade da comunidade.

Os surdos, na Antiguidade, eram desprezados do convívio social e eliminados, uma vez que mantê-los vivos era uma forma de traição em uma sociedade que entendia os surdos como criaturas não produtivas de quem nada se podia esperar de bom.

Em relação a esse apontamento, Amaral (1995, p. 49) cita Sêneca, o filósofo, que afirmava: ―Nós sufocamos os pequenos monstros; nós afogamos até mesmo as crianças quando nascem defeituosas e anormais: não é a cólera e sim a razão que nos convida a separar os elementos sãos dos indivíduos nocivos‖.

Nota-se que o sentimento na Antiguidade não era de compaixão ou de arrependimento. O pensamento era matar e/ou desprezar os diferentes, os deficientes, os defeituosos, porque eles não eram iguais aos outros, a maioria. A justificativa, nesse caso, era que o comportamento, ditado pela razão, estava correto, pois estavam eliminando pessoas que poderiam fazer mal para alguém e, portanto, havia explicação e fazia sentido para a sociedade.

Aos surdos não era dado o direito de serem educados formalmente e, nessa época, havia uma negação ao diferente e, por sua vez, a não aceitação dessas pessoas às atividades normais humanas. Por isso, ou as pessoas deficientes eram desprezadas ou exterminadas.

Com o advento do Renascimento e o avanço da ciência, segundo Silva (1987) inicia-se a preocupação e a atenção às pessoas com deficiências e o empenho para entender os problemas vividos por aqueles que sempre foram deixados de lado pela sociedade. O atendimento às pessoas com deficiência auditiva foi um grande marco, já que até então eram marginalizados pela sociedade como seres possuídos pelo mau espírito, aqueles que não escutavam, não falavam, logo não poderiam ser educados.

A despeito da exclusão sofrida pelos surdos, localizam-se registros de processos de ensino/aprendizagem para as pessoas com deficiência, desde os séculos XVI, apesar de não haver estabelecimentos dedicados ao ensino para surdos nessa época.

No final do século XV, afirma Rinaldi (1998) que não existiam escolas especializadas para surdos e que as pessoas ouvintes tentavam ensinar os surdos a falar e a escrever, tais

140 como: Giralamo Cardomo, italiano que usava a linguagem escrita e sinais e o Padre espanhol beneditino Pedro Ponce de Leon, que utilizava treinamento de voz, leitura dos lábios e sinais com os surdos da época.

Segundo Goldfeld (1997, p. 25), ―[..] o monge beneditino espanhol Pedro Ponce de Leon (1520-1584), ensinou quatro surdos, filhos de nobres, a falar grego, latim e italiano, além de ensinar-lhes conceitos de Física e Astronomia.‖ E ainda, de acordo com Goldfeld (1997), o monge Pedro Ponce de Leon teria dedicado boa parte de sua vida à Educação de surdos filhos de nobres e aristocratas, de modo que eles pudessem ter direito à herança, a votar e à participação social e, para isso deveriam ser capazes de falar, ler, escrever, fazer contas, rezar e confessar-se, fazendo uso da oralização. O monge Pedro Ponce de Leon usava como metodologia de ensino a datilologia, a escrita e a oralização.

Para Rinaldi (1998), nos séculos seguintes, destacam-se alguns professores especializados no ensino de surdos, tais como: Ivan Pablo Bonet (Espanha), Abbé Charles Michel de L‘Épée (França), Samuel Heinicke e Moritz Hill (Alemanha), Alexandre Graham Bell (Canadá e EUA) e Ovide Decroly (Bélgica). Cada professor utilizava um método diferente que considerava o mais indicado para o ensino de surdos. Alguns priorizam os sinais outros a linguagem oral e havia aqueles que faziam a combinação entre as duas. E foi no século XVII que L‘ Epée, precursor no uso da Língua de Sinais, reuniu surdos dos arredores de Paris e criou a primeira escola pública para surdos.

No Brasil, a Educação de surdos teve início no governo Imperial de D. Pedro II e, de acordo com Strobel (2008), Guarinello (2007) e Rinaldi (1997), o professor francês, que ficou surdo aos doze anos, Hernest Huet, foi convidado por D. Pedro II para fundar a primeira escola para surdos no Brasil, o Instituto Imperial de Surdos-Mudos, no Rio de Janeiro. O professor francês Hernest Huet era surdo e partidário de L'Épée e usava o método combinado.

A criação do Instituto Imperial de Surdos-Mudos se deu em 26 de setembro de 1857 e atualmente é denominado de Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES, uma vez que o termo surdo-mudo não é mais utilizado devido aos novos entendimentos sobre a surdez, conforme citam Veloso e Maia (2012):

É incorreto dizer surdo-mudo ou que o surdo é mudo. Ele não é mudo, pois as pessoas não apresentam deficiência ou limitações no aparelho fonador. Apague esta ideia. É um termo pejorativo, inadequado e sem fundamento científico. Muitas pessoas surdas não falam porque não aprenderam a falar, outras fazem a leitura labial e outras não. Os surdos podem aprender a falar se forem estimulados junto ao profissional de fonoaudiologia (VELOSO; MAIA, 2012, p. 19).

141 A expressão ―deficiente auditivo‖ também foi problematizado e a comunidade surda o recusou, por trazer uma conotação negativa, indicando que há falta ou alguma falha. E de acordo com a pesquisadora surda Strobel (2008, p. 35) ―[...] a terminologia deficiente auditivo é rejeitada, porque define o surdo segundo sua capacidade ou ausência de ouvir e não a presença de uma cultura linguística diferente‖.

Com base nos dados do sítio eletrônico do INES do Governo Federal, a História da Educação de surdos no Brasil inicia-se com a criação desse Instituto. A data de início de funcionamento é janeiro de 1856, sendo a mesma data da publicação da proposta de ensino apresentada por Huet. Essa proposta continha as disciplinas de Língua Portuguesa, Aritmética, Geografia, História do Brasil, Escrituração Mercantil, Linguagem Articulada, Doutrina Cristã e Leitura sobre os Lábios. (INES, 2020)

O Instituto Nacional de Educação de Surdos segundo Fini (2017), é reconhecido pelo MEC como centro de referência nacional na área da surdez, desde a Educação Infantil até o Ensino Médio, com uma proposta de Educação Bilíngue. A Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS, sendo considerada a primeira língua, e a Língua Portuguesa, a segunda língua, nas modalidades de leitura e escrita, tem por objetivo a aprendizagem da Libras para se comunicar, interagir e trocar informações com seus colegas da escola, professores, funcionários e familiares e a Língua Portuguesa para que possa comunicar-se em ambientes diversos, já que a Língua Brasileira de Sinais não é utilizada pela sociedade, de maneira geral. Conforme Fini (2017), o Instituto de Educação de surdos é o único em área nacional e por isso atende alunos surdos de vários estados, municípios e até de outros países. Além de promover fóruns, seminários, congressos, pesquisas e assessorias em todo o território nacional, forma profissionais surdos e ouvintes no Curso Bilíngue de Pedagogia no nível de Graduação.

Pode-se dizer, de acordo com Sá (2004) que a história dos surdos se resume dessa forma:

[...] Em síntese, a história dos surdos, contada pelos não-surdos, é mais ou menos assim: primeiramente os surdos foram ―descobertos‖ pelos ouvintes, depois eles foram isolados da sociedade para serem ―educados‖ e afinal conseguirem ser como os ouvintes; quando não mais se pôde isola-los, porque eles começaram a formar grupos que se fortaleciam, tentou-se dispersa-los, para que não criassem guetos (SÁ, 2004, p. 3).

Ao longo de sua História, os surdos, por não serem maioria e por não se comunicarem pela linguagem oral, eram considerados diferentes e viviam à margem da sociedade. Nos

142 movimentos de luta dos surdos, foram construídas as mobilizações em prol do rompimento da imagem sobre o surdo que tende a ameaçar a sua cidadania e a sua cultura. Nesses espaços de lutas, foram proclamados os seus pensamentos e se uniram para reivindicar os seus direitos de serem educados formalmente e de obterem o convívio social de maneira digna.

No cenário mundial, a Declaração de Salamanca (1994), segundo Santos (2000) redirecionou as ações para as políticas em Educação Inclusiva, e trouxe reflexos também para a Educação de surdos no Brasil, apesar de não ser uma legislação restrita aos surdos. Evidenciou-se a necessidade de políticas públicas e educacionais, que viessem a atender a todos de maneira equânime.

A Educação Inclusiva, segundo Stainback e Stainback (1999, p. 21) ―[...] é a prática da inclusão de todos - independentemente de seu talento, deficiência, origem socioeconômica ou origem cultural - em escolas e salas de aula provedoras, onde todas as necessidades dos alunos são satisfeitas‖.

Cardoso e Capitão (2007) destacam que os estudos sobre o desenvolvimento cognitivo dos surdos possuem três cortes epistêmicos claramente definidos na forma pela qual a sociedade percebe esse sujeito na contemporaneidade. As crianças surdas, em 1923, eram consideradas mentalmente inferiores às ouvintes, entendia-se que a surdez afetava o cérebro, causava retardo mental. Mais tarde, em 1953, passou-se a considerar que surdos e ouvintes possuíam o mesmo desempenho intelectual, mas que os surdos eram mais ligados ao pensamento concreto e tinham menos capacidade de raciocínio abstrato, o que dificultava a generalização do pensamento. Em 1960, afirmou-se que ambos os grupos eram iguais e que a ausência da fala não impediria o desenvolvimento intelectual do surdo, perspectiva que se firmou até a atualidade.

Nesse mesmo sentido, Goldfeld (1997) assevera que, a partir de uma perspectiva total do indivíduo em sua comunicação, o surdo deixa de ser visto como o portador de uma patologia, para assumir como pessoa, sendo a surdez apenas uma característica sua que repercute nele e o marca nas relações sociais e em seu desenvolvimento global.

Santos, Oliveira e Junqueira (2014), afirmam que todo ser humano é capaz de construir conhecimento e cada pessoa não se pode desenvolver sem a interação com o outro, estimulando a geração de práticas mais humanistas e que valorizam as diferenças.

Em decorrência desses estudos, é fundamental que os docentes tenham conhecimento de que os surdos e ouvintes possuem a mesma capacidade de assimilação e compreensão, sendo necessária a inserção de um novo olhar diante dos surdos na prática de ensino. O

143 professor deve inserir metodologias que melhorem a comunicação e interação entre surdos e ouvintes para que haja desenvolvimento de maneira adequada.

Entende-se que os surdos precisam ser acolhidos e levados a adquirir o avanço cognitivo de forma especial, pois apesar de não haver diminuição da capacidade de raciocínio, há diferenças na forma de se comunicar o que prejudica e pode limitar o acesso ao conhecimento. Ele deverá ser respeitado em sua singularidade e em suas potencialidades.

Pensar o surdo na perspectiva da alteridade, com o conceito de diferença em vez de deficiência é primordial de acordo com Cardoso e Capitão (2007) e o professor neste caso, precisa estar atento e utilizar da empatia para se colocar no lugar do aluno surdo e entender as suas limitações e a sua forma de adquirir conhecimento para então poder refletir sobre os melhores recursos, que podem auxiliá-lo nesse processo.

Com isso, surge a necessidade da promoção da Educação Inclusiva em todas as áreas. A Matemática também deve encaixar-se na perspectiva inclusiva, ou seja, deve alcançar todos os indivíduos, com ou sem deficiência, direcionando educadores ao estudo e compreensão das particularidades desses sujeitos para serem criadas e implementadas alternativas pedagógicas que possam contribuir para a qualidade do ensino e da aprendizagem dos alunos na sua formação escolar.

Entretanto, é possível observar que, culturalmente, as aulas de Matemática são organizadas e se baseiam estritamente no livro didático, na exposição de conteúdo, na assimilação e na reprodução de fórmulas e de informações. E, contrariamente a essa posição, coloca-se atualmente em discussão que esse tipo de metodologia de ensino que se aplica a todos os alunos, para que todos aprendam da mesma forma e no mesmo ritmo, quando apresentada como único recurso educacional, tem provocado resultados inferiores ao almejado para todos os alunos, especialmente para aqueles que possuem algum tipo de deficiência.

Nota-se, dessa forma, que as pessoas com deficiência, especialmente, os surdos, possuem particularidades que exigem o uso de recursos visuais e a intermediação dos conteúdos ensinados em sala de aula por meio de Libras. E, para esses alunos, é fundamental o uso das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação, a presença dos intérpretes e de alternativas metodológicas que os auxiliem a adquirir conhecimento e estabeleçam uma aprendizagem significativa.

Dessa maneira, entende-se que o ensino tradicional, baseado na perspectiva de que todos podem ter o mesmo ritmo e desenvolver-se ao mesmo tempo, deve ficar em segundo

144 plano para que outras metodologias e ações possam ser pensadas e desenvolvidas como prioridade no processo de ensino e aprendizagem das instituições escolares.

Assim, o profissional da Educação, ou mais precisamente o professor de Matemática, deve, segundo Colaço e Sanches (2013), procurar atender às necessidades dos alunos, garantir a sua participação nas diversas situações de aprendizagem, dentro e fora da sala de aula, nas interações com os que fazem parte da escola, em ambientes propícios à aprendizagem, recorrendo a estratégias, materiais pedagógicos e recursos didáticos e tecnológicos pertinentes, adequados e oportunos.

Atualmente, é crescente a preocupação com a inclusão nas instituições escolares, o que significa convivência desses alunos nos mesmos espaços educativos, mudança do trabalho pedagógico, formação dos professores e profissionais da Educação, permitindo que a socialização e a Educação sejam sistematizadas e ocorram de forma gradativa e eficaz.

Mesmo hoje - século XXI - as mudanças ainda se fazem necessárias. É preciso que a disciplina de Matemática seja planejada pelo professor e relacionada à construção do conhecimento a partir da realidade dos alunos e da aplicabilidade na vida, devido à sua importância nas diferentes esferas sociais. Isso deve acontecer, ainda que proporcione para muitos a sensação de incapacidade e de desconforto em relação à aprendizagem, por ser considerada difícil e geradora de dificuldades para assimilação e entendimento, principalmente para as pessoas com algum tipo de deficiência.

O que pode ser observado conforme cita Padilha (2004, p. 96) é o fato de que ―[...] juntar crianças em uma sala de aula não lhes garante ensino, não lhes garante escola cumprindo seu papel, não lhes garante aprendizagem e, portanto, não lhes garante desenvolvimento‖. Nota-se que, para o aluno surdo alcançar a aprendizagem, não basta apenas inseri-lo em uma escola ou universidade, mas depende de vários fatores, que, se somados, podem auxiliar na promoção da aquisição de conhecimentos, de desenvolvimento humano, educativo e social.

Acrescenta-se ainda, de acordo com estudos de Fini (2017), que, em contato direto com os pais de alunos surdos do INES, percebeu-se que a maioria não sabia se comunicar por meio da Libras com os seus filhos e a comunicação em casa era precária e por meio de gestos, olhares e que a maior dificuldade era para estudar, pois eles não conseguiam explicar em casa os conteúdos abordados em sala de aula, ficando restritos ao espaço escolar para terem acesso às informações básicas do cotidiano e aos conhecimentos formais.

145 O ambiente familiar exerce uma influência preponderante no desenvolvimento e na adaptação da criança surda ao contexto social mais amplo. Portanto, faz-se necessário o estímulo e o desenvolvimento de pesquisas que tratem também da questão das interações e relações desenvolvidas entre os genitores e sua criança surda (BRITO, 1997).

Dessa forma, leva-se a pensar que da mesma forma que ocorria antigamente, as famílias, muitas vezes, excluem os seus filhos surdos, mesmo não intencionalmente, apenas pelo fato de não se preocuparem em contribuir para a sua aprendizagem, por acharem que não têm essa responsabilidade, transferindo-a somente para a escola, ou, talvez, por não aprenderem a sua língua oficial, a língua de sinais, e até mesmo, por não se dedicarem a se comunicar com seus filhos para auxiliar no que for preciso. As pessoas surdas precisam de suporte, tanto da família quanto dos profissionais de Educação, para se desenvolverem, sentirem-se aceitos e capazes.

Ainda sobre as dificuldades em manter boa comunicação em sala de aula e em relação ao estudo dos alunos surdos no período em que estão em casa, Lacerda (2006) acrescenta que a presença de professores surdos é imprescindível para que o aluno surdo possa trocar conhecimentos de forma natural, por terem a mesma identidade. Além do que o professor surdo simboliza uma figura de liderança e representa para o aluno uma nova perspectiva sobre o seu próprio futuro. O professor surdo se faz ainda mais importante quando, em sua casa, o aluno surdo não mantém uma comunicação adequada com a família, em virtude das barreiras da língua.

Percebe-se, assim, que a questão da inclusão dos surdos e sua aprendizagem vai além da responsabilidade da instituição de ensino e da simples inserção do aluno, uma vez que é preciso que a família também compreenda, conheça esse processo e faça parte dele. Tanto os pais como a instituição escolar devem ter a preocupação com a comunicação dos surdos para tornar possível a sua interação com o mundo e permitir, assim, que se possam relacionar, conhecer, questionar, participar e refletir no meio em que vivem.

Neste sentido, para que a inclusão escolar aconteça, é fundamental que a formação dos professores seja pensada e planejada de forma a garantir condições de igualdade a esse aluno, com uma formação ligada à mudança de olhar, em uma perspectiva de empatia, de afetividade, de mudança e de adaptações de metodologias e inserção das tecnologias, para que sejam minimizadas as diferenças para os alunos com deficiência e sejam atingidas reais possibilidades de desenvolvimento.

146 Além da preocupação com o aumento de acessibilidade na comunicação e com a aquisição de informações do indivíduo surdo, é fundamental a mudança de atitudes e conscientização da sociedade, em geral, pois, muitas vezes, afastam e dificultam a participação social da pessoa com deficiência e comprometem a promoção da igualdade de

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