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Aspectos justificadores da flexibilização da jornada de trabalho

3 FLEXIBILIZAÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO

3.1 Aspectos justificadores da flexibilização da jornada de trabalho

O tempo trata-se de um substantivo masculino, com os seguintes significados,

segundo o dicionário94: série ininterrupta e eterna de instantes; medida arbitrária da

duração das coisas; época determinada; etc.

Este vocábulo refere-se a um bem inestimável, talvez o mais precioso de toda a sociedade contemporânea, assim, justifica-se a busca incansável do homem pelo tempo, mas não a um tempo qualquer, mas um tempo livre.

Todavia, o ser humano necessita preencher seu tempo e o trabalho, nas sociedades modernas, é a atividade que ocupa o maior espaço de tempo.

Nesse sentido Arnaldo Süssekind95 afirma que:

Dentre os princípios que se universalizaram visando à proteção do trabalho humano e a dignificação do trabalhador, cumpre destacar os referentes à limitação do tempo de trabalho. Se os dois principais objetivos e obrigações decorrentes da relação de emprego são trabalho prestado pelo empregado e o salário pago pelo respectivo empregador, torna-se evidente a importância do sistema legal que impõe limites à duração do trabalho.

Sendo o trabalho aquele que compromete sobremaneira o tempo do ser humano, nada mais justo é do que limitá-lo, caso contrário o homem viverá para o trabalho, de forma escrava sem tempo para usufruir dos frutos conquistados com o labor.

Nesse contexto, não podemos deixar de destacar que uma jornada de trabalho sem limites, isto é, se o labor tomar conta da maior parte do tempo do trabalhador, inevitavelmente, comprometerá outras áreas da vida desse indivíduo, tais como: o lazer; o convívio familiar; convívio com os amigos; a possibilidade de estudar; a possibilidade descansar adequadamente.

Ressaltamos ainda que o excesso de labor traz ao trabalhador além dos problemas acima apontados, outros males, tais como: fadiga e tensões nervosas. Atualmente o ócio deve ser visto como fundamental para a vida das pessoas, principalmente, para a recuperação do trabalhador entre uma jornada e outra.

94 PRIBERAM, Dicionário. Palavra-chave "tempo", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em

linha], 2008-2013, Disponível em <http://www.priberam.pt/dlpo/tempo> Acesso em 10 abr. 2014. .

Assim o instituto da flexibilização se utilizado de forma responsável e excepcional, assegurando direitos mínimos aos trabalhadores e com a participação do ente sindical, torna-se ferramenta útil e necessária para manter o equilíbrio nas relações empregatícias.

Nos dias atuais, o estudo da flexibilização da jornada de trabalho assume importância sobremaneira, pois, os novos métodos de trabalho, ocasionados pela evolução econômica, nacional e mundial, em razão da globalização, fizeram com que os institutos do Direito do Trabalho fossem repensados a partir dessa ótica globalizada, inclusive no que tange à jornada de trabalho.

Portanto, a investigação científica da flexibilização da jornada de trabalho deve ser feita pela academia, pelos tribunais, pois, espera-se que, com isso, possamos apresentar soluções para os modelos anacrônicos de jornada de trabalho para melhor atender os anseios de trabalhadores e empregadores.

A análise jurisprudencial sobre as formas de flexibilização da jornada de trabalho terá tratamento com maior profundidade no último capítulo, sendo o cerne do presente estudo científico.

Destarte, a expressão de ordem, tanto para as empresas como para os

trabalhadores é a “otimização do tempo”. Com a flexibilização, possivelmente o

trabalhador terá mais tempo para o convívio familiar, para o lazer, para a educação etc. Tomemos como exemplo o singelo instituto da compensação semanal, em que o empregado trabalha uma hora a mais por alguns dias na semana e se livra do labor aos sábados, podendo usufruir dos finais de semana, trata-se de um fundamental avanço social, com uma pequena medida flexibilizadora.

Conclui-se, portanto, que flexibilizar a jornada de trabalho, em casos específicos e necessários, certamente culminará na proteção ao trabalhador e na proteção da empresa, que se manterá em atividade, preservando, assim, os empregos.

Nesse sentido, faz necessário apontar às diferenças entre horário flexível de horário livre.

Neste, o empregado trabalha no horário que deseja. No primeiro, deve ter presença obrigatória em certos horários determinados pelo empregador, dentro de um limite mínimo e máximo de trabalho. Teoricamente, no horário livre o funcionário pode até não trabalhar em determinado dia, fazendo o horário que desejar. Isso já não ocorre no horário flexível96.

Diante de inúmeras modificações no campo das inovações tecnológicas, certamente impactando nas relações de trabalho, exigem-se novos contornos no tocante à jornada de trabalho, o que só será possível por meio da flexibilização, pois é inviável confeccionar uma lei para cada caso concreto e específico.

A flexibilização da jornada de trabalho servirá como instrumento hábil a possibilitar o trabalhador gerir melhor a sua vida seja no âmbito do trabalho, família, educação ou lazer. Dessa forma o trabalhador poderá otimizar seu tempo para garantir maior disposição e rendimento no trabalho.

No capítulo anterior, falamos sobre o fenômeno da globalização, inclusive, asseverando ser ele um dos responsáveis pela flexibilização, pois trouxe integração e aproximação entre os Estados e intensificou o comércio de prestação de serviços flexibilizando padrões tradicionalmente conhecidos.

Asseveramos ainda no capítulo anterior que com a globalização a preocupação relevante tanto dos empresários como dos economistas estava focada em atender as demandas do mercado, ou seja, acompanhar com agilidade às inovações tecnológicas a fim de serem empresas competitivas no mercado.

Entretanto, diante de tantas discussões, entre empregados e empregadores, em razão da competitividade e produtividade, recai ao Direito do Trabalho à árdua missão, diante da sua vocação de proteção aos “hipossuficientes”, equilibrar as relações sem que com isso criem-se obstáculos para o desenvolvimento econômico e venha ferir direitos indisponíveis dos trabalhadores.

Nesse sentido Amauri Mascaro Nascimento97

[...] assistimos às transformações do mundo das relações de trabalho numa sociedade que produz mais com pouca mão-de-obra. A tecnologia mostrou o seu lado cruel: a substituição do trabalho humano pelo software; a desnecessidade, cada vez maior, de um quadro numeroso de empregados para obter os resultados com redução da demanda de trabalhadores; a informatização e a robótica como principais fatores do crescimento da produtividade; o aumento do desemprego em escala mundial; o avanço tecnológico da sociedade de serviços maior que a sociedade industrial; novas profissões; sofisticados meios de trabalho. Enfim, uma realidade bem diferente na qual o direito do trabalho nasceu.

97 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Um terceiro caminho para o Direito do Trabalho, in A transcrição do Direito do Trabalho no Brasil – Estudos em homenagem a Eduardo Gabriel Saad, São Paulo, LTr,

A globalização integrou os povos, aumentou a velocidade das informações, fomentou o avanço tecnológico, principalmente no campo da informática, fez com que rompêssemos as fronteiras, por consequência houve mudança na relação entre empregados e empregadores, fazendo os mercados nacionais se tornarem peças integrantes da engrenagem denominada economia global.

O horário flexível, conforme dito anteriormente, trata da obrigatoriedade da presença do empregado em certos horários determinados pelo empregador, dentro de um limite mínimo e máximo de trabalho.

A flexibilização do horário de trabalho é um conjunto de mudanças98, no que

concerne formas, métodos e as próprias prestações dos serviços, proporcionando maior autonomia aos trabalhadores, no tocante à escolha da jornada de trabalho a ser executada na empresa. Naturalmente deverão ser respeitadas as regras preestabelecidas pelas empresas sobre horário flexível, caso contrário, ao invés de autonomia, haveria uma desorganização generalizada.

Logo, horário flexível é espécie de flexibilização de horário de trabalho.

Os pressupostos para se flexibilizar a jornada são elencados da seguinte forma: que haja autorização constitucional; que seja excepcional; que se observe a real necessidade; que se respeite às normas de ordem pública; que se esteja em consonância com o princípio protetor do direito do trabalho; que ela tenha caráter excepcional. Preenchendo tais pressupostos, certamente teremos na flexibilização da jornada uma ferramenta útil para modernizar o sistema de jornadas do Direito do Trabalho.

Ressalta-se que a jurisprudência, atuando no vazio legal, mas com permissão constitucional, está, a medida do possível, modernizando o sistema de jornadas do Direito do Trabalho, com o fito de atender as necessidades, tanto dos trabalhadores como dos empregadores, em razão das novas exigências de mercado, sem com isso contrariar, por exemplo, normas de ordem pública, tomemos como exemplo a escala 12X36, que se adequou perfeitamente às necessidades dos empregados de hospitais. A análise jurisprudencial das formas de flexibilização, conforme dito anteriormente, será tratada de forma mais detida no último capítulo.

Diante do exposto, percebe-se a importância de se estudar e debater o tema flexibilização da jornada de trabalho, uma vez que os envolvidos na relação de trabalho buscam a otimização do tempo.

A Constituição Federal em seu art. 7º, XXVI e art. 8º, VI, destacou a importância do sindicato e seus instrumentos na negociação entre os empregados e

empregadores, uma vez que, conforme Arnaldo Süssekind a “flexibilização admitida,

[...], está sujeita à tutela sindical [...]”99.

A flexibilização para se concretizar, conforme acentuou Arnaldo Süssekind, deve estar sujeita à tutela sindical, todavia, cabe ainda frisar, que além da chancela

sindical, para que se flexibilize — inclusive à jornada de trabalho —, faz-se necessária

previsão constitucional para flexibilizar direitos mínimos trabalhistas. A respeito desse

assunto, Sérgio Pinto Martins afirma que:100

A flexibilização não poderá ser feita sobre direitos mínimos assegurados constitucionalmente ao trabalhador, salvo quando a própria Lei Maior permitir, como nos incisos VI, XIII, XIV do art. 7º da Lei Maior, em que há uma expressa determinação para admitir situações in peius para o trabalhador. Também não será possível a flexibilização de normas de higiene e segurança do trabalho, pois são fundamentais à saúde do trabalhador.

Finalmente, podemos ressaltar que o instituto da flexibilização da jornada de trabalho é campo fértil para debates e polêmicas. Contudo, vale frisar que a flexibilização deve ser utilizada com cautela, sob pena de lesar direitos indisponíveis dos trabalhadores.