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ASPECTOS PRÁTICOS DE UM PROJETO DE PPP NO BRASIL

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA (páginas 43-47)

3. CONTEXTUALIZAÇÃO DAS PPPS NO BRASIL E EM SANTA CATARINA

3.4. ASPECTOS PRÁTICOS DE UM PROJETO DE PPP NO BRASIL

Quanto aos tipos de obras públicas mais adequadas ao modelo de PPP, na prática depende de cada caso. Mas a secretaria de desenvolvimento econômico de Minas Gerais explicita um quadro com um resumo interessante. Nesse resumo exemplifica-se quais obras são mais propensas a qual modalidade de parceria entre os setores públicos ou privados. Aponta também a tendência em relação a aspectos do projeto em cada modalidade contratual, como controle público e as vantagens para os envolvidos no processo: setor público, privado e a sociedade.

Quadro 2: Modalidades de contratação e suas características.

Fonte: Secretaria de Estado de desenvolvimento econômico de Minas Gerais, 2004.

Essa figura demonstra algumas tendências, embora, no geral, seja necessária uma análise caso a caso. Na presente etapa deste trabalho é interessante abordar aspectos mais relacionados aos pontos que devem ser analisados mais cuidadosamente na elaboração de um projeto de PPP.

Para a implementação do projeto o primeiro passo é a formação de uma sociedade de propósito específico – SPE – que desempenhará o serviço ou obra que seria de

responsabilidade do Estado. Essa sociedade é uma empresa privada cuja única finalidade é o desempenho do serviço ou obra pública.

Então, resumidamente, agentes privados munidos de uma quantidade de capital numa proporção de ao menos 30% do capital necessário para a execução do projeto desejado realiza a estruturação do projeto e apresenta-o aos agentes financeiros na busca pelo financiamento necessário, apresentando os recebíveis e os desembolsos necessários e apresentando sua capacidade técnica para a realização do projeto. Com o financiamento aprovado e o contrato firmado forma-se então a SPE que realizará as atividades, e recebendo as contraprestações do setor público a medida que atinge as metas contratuais.

O processo de formação da PPP é muito similar aos demais projetos privados, e especialmente similares aos projetos de concessões comuns, pois “[...] as normas sobre PPP referem-se na verdade, a matérias já regulamentadas por normas gerais federais, basicamente atinentes a licitações, contratos e orçamento” (CARDOSO; PEREIRA; SCHWIND, 2005, p. 121).

Assim os procedimentos citados nos art. 10 e 11, que dizem respeito ao processo de licitação e os requisitos para tal são muito semelhantes, constando neles explicitamente que tais procedimentos devem obedecer às normas existentes citando uma por uma. Dessa forma são procedimentos necessários para a existência do processo licitatório, por exemplo, a prévia licença ambiental, o que constitui um risco a menos para o projeto, visto que a contratação do projeto só é possível mediante tal licença, conforme ressaltam Pereira (2005)37 e Blanchet (2006)38.

As etapas da licitação incluem no caso das PPPs a apresentação das propostas econômicas em envelopes lacrados, havendo a possibilidade de leilões viva voz. Esses procedimentos estão detalhados no artigo 12 da lei das PPPs. A lei é bastante flexível em relação a forma de avaliar, ao definir que a escolha deve favorecer a melhor proposta. Essa disposição da lei segue a lógica da eficiência econômica, no sentido de não buscar projetos de baixo custo com qualidade duvidosa, nem tão pouco buscar projetos de melhor qualidade a preços incompatíveis com o tipo de serviço prestado39. Frisa-se, no entanto, que as regras

devem ser bastante claras e deve analisar aspectos técnicos e econômicos. Em última instância a decisão a respeito da melhor proposta recai sobre a comissão de licitação designada pelo órgão gestor das parcerias, no caso do estado de Santa Catarina, a SC Parcerias.

37 PEREIRA, 2005, p. 223

38 BLANCHET, 2006, p. 67

Em relação a formação da Sociedade de Propósito Específico, o artigo 9˚ da Lei 11.079/2004 normatiza que antes da celebração do contrato deve ser constituída a Sociedade de Propósito específico. A esse respeito é importante deixar claro que não pode assumir a forma de economia mista, conforme deixa claro o parágrafo 4˚ do referido artigo.

Uma questão interessante é que, conforme a lei, o autor do projeto que conduz ao edital de PPP pode também participar do processo de licitação. A esse respeito Schwind (2005) conclui, após realizar um amplo estudo comparando e analisando diversas leis e outras peças de cunho normatizador, que o autor do projeto básico sobre o qual é lançado o edital pode também participar do certame40. Embora essa seja uma prática que pode ser vetada pelo próprio edital de licitação, o que tende a ser comum devido ao fato de tornar o processo menos contestável.

A realização de PPPs não prescinde de licitação. O trâmite processual é idêntico ao de qualquer outra concessão e determinado na Lei das PPPs. Pereira (2005) ressalta que “[...] a PPP instrumentaliza-se primordialmente por meio de contratos de concessão. Desse modo, aplicam-se às PPPs as premissas estabelecidas em relação à concessão acerca do dever de licitar” (PEREIRA, 2005, p. 213)”

Para participar do processo de licitação é necessário também a elaboração de um pré- projeto, ou um projeto básico, como denomina a legislação, citada por Pereira (2005), ao afirmar que “continua em vigor o art 7˚, parágrafo 2˚, da lei 8.666/93, segundo o qual as obras e serviços somente podem ser licitados quando ‘houver projeto básico aprovado pela autoridade competente e disponível para exame’[...] ” (PEREIRA, 2005, p. 224). Embora haja desentendimentos relacionados à interpretação de outras leis41 acredita-se que a exigência do projeto básico é uma prática que torna o processo mais seguro para ambos os parceiros ao menos na modalidade de concessão patrocinada.

Nos casos de concessão na forma de PPP na modalidade administrativa, essa exigência não se faz necessária, visto que nesses casos a estrutura objeto da PPP já está construída, sendo apenas o serviço o objeto do contrato42. Porém em todos os casos deve haver uma

40 “Em face ao exposto, o autor dos projetos básico e executivo de uma PPP pode participar da respectiva licitação. Aplica-se

nessa situação o disposto no art. 3˚ da lei 11.079/2004, cumulado com o at. 31 da Lei 9.074/95. Nessas situações, contudo, incumbe à administração promover uma rigorosa fiscalização de modo a garantir a lisura do certame.” (SCHWIND, 2005, p. 319).

41 Capobianco (2005) afirma que o veto ao inciso II do art. 11 do projeto de lei da PPP conduz ao entendimento de que não só

o projeto de execução, mas também o projeto básico pode ser apresentado pelo licitante após formalizada sua contratação. Fundamenta essa posição também no artigo 9˚ parágrafo 2˚ da lei 8.666/93. Mais detalhes acerca desse posicionamento podem ser obtidos no texto de Capobianco (2005) página 319. (CAPOBIANCO, 2005, p. 319)

proposta econômico-financeira, que consiste em uma parte importante do projeto como um todo.

O processo de constituição de uma PPP compõe-se de um trâmite burocrático que não prescinde de preenchimento de várias condições descritas no corpo da Lei de forma suficientemente clara a ponto de não ser necessária sua repetição nesse momento, a Lei 11.079/2004 segue anexa ao presente trabalho.

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA (páginas 43-47)