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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.9 Aspectos relacionados à mastite em pecuária bovina leiteira

Mastite é considerada a doença que representa maiores custos à indústria do leite (Morin et al., 1993), sendo que sua ação sobre a produção de leite é responsabilizada por 69 a 80% destes custos totais (Jones et al., 1984). A estimativa das perdas econômicas no ano de 1976 com esta doença nos Estados Unidos foi de US$1,3 bilhões sendo 69% desta relacionada a casos subclínicos (Blosser, 1979).

As mastites podem ser extremamente dispendiosas quando as medidas para sua prevenção não são implementadas efetivamente. A infecção de apenas um único quarto da glândula pode provocar redução da produção em 10 a 12%. As infecções clínicas que levam a descarte de leite, tratamentos com antibióticos e eventualmente secagem, elevam os custos

em aproximadamente 2.000 libras anuais de leite por vaca (Elvinger e Natzke, 1992).

Segundo Fonseca e Santos (2000) estima-se que a prevalência de mastite no rebanho brasileiro seja entre 20 e 38%, causando perda de produção entre 12 e 15 %. Esta doença causa alterações na composição e nas características físico-químicas do leite, tais como: redução nos teores de lactose, caseína, concentrações de potássio e cálcio e aumento nos níveis de íons sódio e cloreto, além de aumento da concentração de albumina e das atividades lipolíticas e proteolíticas das enzimas do leite.

Além de alterar o leite físico-quimicamente, a mastite pode afetar a saúde do animal e acarretar uma série de prejuízos ao produtor (Reis et al., 2005). Estes prejuízos atribuídos a mastite decorrem da diminuição da quantidade (70 a 85%) e da qualidade (21% a 40%) do leite, de despesas com medicamentos, honorários de veterinários, e custos com mão-de-obra, de descarte de leite contaminado por antibióticos, secagem prematura de vacas e até mortalidade (Morin et al., 1993). Diversos estudos relacionam a ocorrência de mastite com elevação da CCS do leite cru (Ma et al., 2000).

Mastite subclínica é definida como a ocorrência de uma infecção na glândula mamária sem apresentar sintomas de alteração visual do leite (grumos) (Machado et al., 2000b). As mastites subclínicas além de representarem perdas de produção em vacas leiteiras, podem elevar os riscos de ocorrências de mastites clínicas agudas, de modo que os programas de controle devem focar no seu controle (Dohoo et al., 1984). Barnum e Meek (1982) registraram um baixo conhecimento por parte dos produtores de Ontário a respeito destas formas subclínicas, seus efeitos e as medidas de controle que devem ser adotadas. Segundo Tarabla e Dodd (1990) o desconhecimento a respeito da mastite

subclinica possui correlação com contagem bacteriana.

Segundo Ma et al. (2000) o nível de gordura no leite mastítico pode ser elevado devido à redução do volume total de leite sintetizado e assim, haver sua concentração. Eles observaram ainda que o leite cru apresentava relação diminuída da proteína da caseína sobre a proteína total. O leite mastítico afeta negativamente a qualidade do leite pasteurizado, diminuindo seu tempo de vida de prateleira.

Existem fatores inerentes ao hospedeiro e relacionados aos patógenos no estabelecimento dos quadros de mastite, além de interações entre os dois. Assim há que se considerar num processo de controle dois objetivos básicos: prevenção de novas infecções, meta principal nos programas, e redução da duração das infecções (Elvinger e Natzke, 1992).

Busca-se reduzir a transferência de organismos por contato direto através de manutenção adequada de camas, higiene ambiental, bom funcionamento de equipamentos de ordenha, sanitização das tetas antes da ordenha, o que reduz também a contaminação geral do tanque de leite, melhorando sua qualidade. Neste contexto, o ideal deveria ser o uso de toalhas individuais de papel na limpeza das tetas e uso de soluções sanitizantes, e uso de pós dipping (imersão de tetas em soluções sanitizantes após a ordenha) que podem reduzir em aproximadamente 80% os novos quadros de mastite. Outro artifício que pode reduzir a incidência de infecções é o uso de tratamento de vacas secas, independentemente do status de infecção do quarto. Os avanços da ciência levaram ainda ao desenvolvimento de vacinas que são efetivas contra coliformes. Todo procedimento que pareça elevar o nível de CCS no tanque resulta em possível perda em produção, além dos danos quando se considera valorização de leite de melhor

qualidade (Elvinger e Natzke, 1992; Sordillo et al., 1997).

A implantação do manejo correto da ordenha é fundamental para a obtenção de leite de qualidade, controle de mastite, diminuição do leite residual e do tempo de ordenha. Para alcançar estes objetivos é necessário que a ordenha seja rápida, completa e que não traumatize os tetos das vacas. O ordenhador tanto pelo método manual quanto mecânico, é elemento essencial na prevenção de lesões da glândula mamária e, conseqüentemente, na ocorrência de mastite (Reis et al., 2005). Segundo Tarabla e Dodd (1990) as práticas adequadas de manejo são as principais responsáveis pela saúde do úbere.

O estilo de manejo adotado pelo fazendeiro pode ser definido por combinações específicas dos objetivos, motivações e fatores relacionados ao ambiente de produção, como cota e sistema de preço do leite. Este estilo interfere na organização específica de diferentes assuntos no processo de trabalho, e também sobre a coordenação desses diferentes assuntos (Barkema et al., 1999). Segundo Tarabla e Dodd (1990) em estudos realizados na Irlanda, a atitude do fazendeiro quanto às práticas adequadas de manejo é inversamente relacionada a CCS e diretamente associada com a produção de leite.

Segundo Goldberg et al. (1992) o uso de pastejo intensivo está diretamente relacionado com menor exposição de patógenos ambientais e infecções do úbere, sendo que esta prática pode ser uma alternativa para o controle de mastites, redução da necessidade de antibióticos e melhora da qualidade do leite.

Barnum e Meek (1982) confirmaram em suas pesquisas a importância dos procedimentos adequados à ordenha, aliados à antibioticoterapia de vacas secas

na prevenção de mastite, deixando subentendido a necessidade de se educar os produtores com relação a esta doença, principalmente em sua forma subclínica enfatizando a sua importância sobre a produção e retorno de investimentos em seu controle.

Os tratamentos de vacas secas representam o método mais efetivo inclusive em termos de custos. Primeiro estes tratamentos apresentam efeitos mais significativos do que tratamentos durante a lactação, eliminando determinados patógenos da glândula mamária. Depois, não leva a descarte de leite e atuam sobre casos de mastite subclinicas que levariam a redução na produção subseqüente, sem serem diagnosticadas, além de proteger o animal de novas infecções durante o período seco (Elvinger e Natzke, 1992).

Morin et al. (1993) observaram problemas na aplicação de técnicas como descontinuação do uso de pós dipping durante o inverno, não descarte de sobras de solução antisséptica entre ordenhas, baixa cobertura das tetas, e inadequada infusão de antibióticos nas tetas, além de equipamentos com problemas diversos e procedimentos de ordenha mal aplicados como excesso de uso das peças da ordenhadeira, esgota excessiva, falhas nas medidas higiênicas dos úberes, não idendificação de vacas com mastite clínica.

Pesquisas realizadas em Ontário mostraram que 89% dos produtores realizavam a ordenha em local exclusivamente preparado para este fim. Cerca de um terço dos produtores (33,4%) reutilizavam toalha e solução de desinfecção de tetas. 63,3% utilizavam pós dipping e 56,5% terapia de vaca seca. 24,9% dos entrevistados disseram utilizar serviços veterinários regulares mensais ou bimestrais e assim, a média local de CCS era de 621,2 x 103 cel/mL. Já os produtores que se encontravam CCS abaixo desta média

(apresentando CCS média de 459,8 x 103 cel/mL), tinham produção mensal por vaca 95,9 kg superior aos com CCS mais elevadas. Esses tinham melhores anotações, usavam desinfecção de tetas, eram mais familiarizados com mastites subclínicas, usavam toalhas individuais descartáveis, trabalhavam com a atividade por mais tempo, possuíam maiores rebanhos, usavam instalações mais adequadas e antibioticoterapia para vacas secas, além de serviços veterinários periódicos. Assim eles constataram a necessidade de maiores medidas educacionais direcionadas aos produtores.

Trabalhos desenvolvidos na Zona da Mata de Minas Gerais mostraram que procedimentos e cuidados higiênicos ligados à prevenção de novas infecções mostraram que essas medidas não eram bem difundidas, com exceção do tratamento dos casos clínicos. Deixando a desejar outros procedimentos como lavagem dos tetos antes da ordenha e secagem com papel toalha individual e tratamento à secagem de todos os animais, os quais poderiam atuar de modo favorável, na freqüência e no controle de mastite do rebanho (Souza et al., 2005)

A redução da prevalência pode ser obtida por terapias de casos clínicos. O sucesso depende em grande parte do tipo de microrganismo envolvido, do agente terapêutico eleito, da dose administrada e do esquema do tratamento. A média de duração da infecção no rebanho pode ser reduzida ainda pela secagem de vacas infectadas, sendo que este procedimento pode não ser indicado por fatores econômicos, se tornando mais interessante quando o quadro for acompanhado por baixa produção ou mastite clínica recorrente (Elvinger e Natzke, 1992).

A eficácia dos tratamentos pode ser aumentada com sua detecção precoce, tornando o uso de canecas de fundo preto

ou canecas teladas ferramentas de grande auxílio neste processo. O uso destes recursos em Minas Gerais é pouco freqüente, sendo adotado por 22% das fazendas. O tipo de sistema de produção mais adotado reduz naturalmente as ocorrências de mastite, uma vez que as vacas são soltas no pasto após a ordenha e os bezerros mamam durante o processo de ordenha, o que induz a pouco cuidado na identificação desta patologia (Gomes, 2006).

Os programas de controle não podem basear em um único manejo ou ferramenta terapêutica. Uma vez que a mastite não pode ser eliminada completamente, o plano deve envolver todos os aspectos do manejo do rebanho a fim de prevenir perdas decorrentes de níveis médios ou altos de mastite. Os programas devem seguir rotas diferentes a fim de alcançar os mesmos objetivos. A base consiste em boa higiene, bom treinamento da mão-de-obra, os quais devem ser capazes de detectar um úbere afetado, e compreender a importância de todos os fatores relacionados aos manejos da glândula saudável. A saúde do úbere tem íntima relação com a qualidade do leite e de seus derivados, bem como sua aceitação pelos consumidores (Elvinger e Natzke, 1992).

O estilo do manejo adotado influi sobre a implementação de medidas para prevenção de mastite. Fazendeiros identificados como limpos e precisos usavam antibióticos para vacas secas, faziam desinfecção de tetas pós ordenha por longos períodos, eram cuidadosos em aspectos de higiene, e impediam que vacas se deitassem logo após a ordenha (Barkema et al., 1999).

O equipamento de ordenha pode afetar a taxa de novas infecções por diversos meios como: alterando o número de bactérias na teta ou em seu orifício, ou seja, contaminação; alterando a resistência do canal da teta à invasão bacteriana, afetando

as condições da teta em sua integridade; oferecendo forças que superem a resistência do canal da teta à invasão bacteriana; dispersando bactérias pelo úbere; pela freqüência e intensidade de drenagem do úbere (Mein, 1992).

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