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Aspectos relacionados ao comportamento

CAPÍTULO 9 MÉTODOS E ESTRATÉGIAS PARA PROMOVER A ADESÃO ÀS PRÁTICAS DE

9.4 Aspectos relacionados ao comportamento

É importante pensar que a adesão às recomen- dações ou protocolos envolve mudanças no comportamento dos profissionais de saúde. O porquê e como as pessoas mudam seus compor- tamentos têm sido algumas das questões funda- mentais na prática dos profissionais envolvidos no controle de infecção. A dinâmica da mudança comportamental é complexa e multifacetada, envolvendo a combinação de educação, motiva- ção e modificações no sistema, mas é de vital im- portância quando se pensa em estratégias para elevar a adesão às práticas de higienização das mãos. Em algumas populações, ainda, as práticas eletivas e inerentes são profundamente influen- ciadas por fatores religiosos e culturais.

Até o momento têm sido identificados fatores importantes que influenciam o comportamento em relação à higienização das mãos, incluindo (WHO, 2006):

• Padrões de comportamento em relação à higie- nização das mãos são desenvolvidos e imple- mentados precocemente em nossas vidas - de acordo com teorias comportamentais, esses padrões são estabelecidos nos primeiros dez anos de vida, tendo início, provavelmente, no período de treinamento de utilização do banheiro para eliminações fisiológicas. As- sim, tais padrões podem afetar a atitude das pessoas em relação à prática de higienização das mãos por toda a vida, em particular no que se refere a um procedimento conhecido como “higienização das mãos (com água e sabonete) inerente ou própria” e que reflete

a necessidade instintiva de remover a sujeira da pele. Como a maioria dos profissionais de saúde inicia a vida profissional com mais de 20 anos de idade, elevar a adesão às práticas de higienização das mãos neste segmento significa modificar um padrão de comporta- mento que já vem sendo praticado há mais de uma década e continua a ser reforçado no seu ambiente de convívio.

• Autoproteção - este é um comportamento que envolve a proteção contra infecções. En- tretanto, não está baseado no conhecimento de risco microbiológico, mas nas sensações de desconforto ou repugnância. Essas sen- sações não são habitualmente associadas à maioria dos contatos presentes na assistên- cia ao paciente.

• Prática eletiva de higienização das mãos - a atitude de lavar as mãos em situações mais específicas, que pode corresponder a al- gumas das indicações de higienização das mãos durante o cuidado ao paciente.

A importância do estabelecimento das razões pelas quais as pessoas mudam seus comporta- mentos acarreta uma segunda reflexão: como estabelecer ou obter mudanças comportamen- tais duradouras?

São destacadas a seguir áreas potenciais de atu- ação para aumentar a adesão às práticas de hi- gienização das mãos (WHO, 2006):

• Educação dos profissionais de saúde focada em como, quando e por que realizar a higie- nização das mãos, com ênfase na repetição dos seus padrões de comportamento na so- ciedade e no trabalho.

• Motivação para que os profissionais de saú- de exerçam as práticas adequadas de higie- nização das mãos por meio de modelos de comportamento adotados por seus colegas, superiores ou lideranças administrativas. Isso requer o suporte contínuo da administração dos serviços de saúde, tendo a higienização das mãos como prioridade institucional. Deve haver um clima de segurança institu- cional dirigido pelo alto comando do servi- ço de saúde, com programas de segurança, níveis aceitáveis de estresse no trabalho, ati-

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tudes tolerantes e de auxílio ao serem repor- tados problemas. Além disso, deve-se acre- ditar na eficácia das estratégias preventivas. Para mudar as crenças e valores individuais é importante considerar uma proposta que envolva uma aprendizagem grupal e, muitas vezes, afetiva. Para isso, dinâmicas grupais (grupos focais) podem auxiliar nas diversas abordagens voltadas a mudanças de com- portamento. As estratégias podem partir do levantamento das crenças inadequadas (“minhas mãos já estão limpas”, “não acho que este produto funciona”, “para mim só água e sabonete funcionam”, “já sei de tudo isso”, etc.) dentro de um clima descontraído, não punitivo e vivenciando cenas que levem a uma reflexão individual e coletiva sobre es- sas crenças. Cabe salientar que o ser humano é capaz de mudar o que faz sentido para ele, impulsionado por um ambiente agradável e não por uma conduta punitiva.

• Utilização de lembretes, como cartazes, para a ação desejada, instalação de dispensado- res de preparações alcoólicas próximo ao leito do paciente e, ainda, uso de frascos de bolso. O acesso fácil ao produto alcoólico, próximo ao paciente, soluciona o problema de falta de tempo em áreas críticas.

• Mudanças do sistema:

• Estruturais: a disponibilidade e conve- niência dos dispensadores de prepara- ções alcoólicas devem ser incluídas na mudança do sistema com o objetivo de economizar tempo e aumentar a ade- são à higienização das mãos. Entretanto, se persistir a necessidade de higienizar as mãos com água e sabonete, deve ser considerada a possibilidade de melhorar o acesso aos lavatórios/pias;

• Filosóficas: deve-se enfatizar que a higie- nização das mãos é uma prioridade ins- titucional. Premiações ou sanções têm

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sido consideradas necessárias e efetivas a curto e longo prazo, lembrando que esta abordagem tem sido utilizada com sucesso em alguns países em relação ao tabagismo e ao ato de dirigir sob efeito do álcool.

Em resumo, os padrões de higienização das mãos na comunidade e nos serviços de saúde representam um comportamento ritualístico e complexo, e podem ser afetados pelo nível cul- tural. Por isso, não é surpreendente que progra- mas para aumentar a adesão às práticas de hi- gienização das mãos com múltiplas estratégias tenham sido mais promissores que aqueles com estratégias únicas.

9.5 Organizando um programa para