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CAPÍTULO 2 TRABALHO PROFISSIONAL: visualização, pertinência e

2.3 Processos de Intervenção

2.3.1 Aspectos Teórico-metodológicos no Contexto da Relação Teoria e Prática

O conhecimento por parte dos profissionais de Serviço Social que esta é uma profissão de caráter interventiva reside no fato de termos nosso trabalho profissional direcionado para fazer enfrentamentos na realidade.

Portanto, não é qualquer intervenção, mas uma atuação que além de prever uma postura crítica esteja alicerçada em uma sólida base de conhecimentos, ou seja, uma teoria que norteie tal atuação ao fornecer elementos que permitam desvendar a realidade, suas tramas conjunturais e as forças sociais postas.

Onde se dá o exercício da prática profissional do Assistente Social? No cotidiano. Espaço este do aparente e do real, do complexo, do contraditório, do dinâmico e do pulsante. Mas, também, espaço das possibilidades de traduzir a reconstituição deste mesmo real, através de uma leitura que oriente de forma teórica, ética e política. Acreditamos que esta condução aliada ao conhecimento da realidade em que se atua permite que exerçamos um trabalho competente.

Pensamos que o trabalho profissional do Assistente Social ao buscar apreender seu objeto de ação, seu movimento, direção e complexidade, tem na teoria do

materialismo histórico dialético, em seus pressupostos e método, melhores condições de realizar tal aproximação.

De acordo com Cláudia Mônica Santos (2006) a concepção de teoria e prática no materialismo histórico-dialético, traz que a teoria é a reconfiguração do movimento do real pelo pensamento, uma reprodução intelectiva do movimento real do objeto, que parte da prática, e ao mesmo tempo a ilumina e a antecipa. Enquanto a prática constitui esse real, é o processo de construção da vida social e, nesse sentido, a própria existência humana.

É através da teoria que se pode desvendar a importância e o significado da prática social, e esta por sua vez é ao mesmo tempo espaço privilegiado de elaboração da teoria.

O posicionamento do profissional AS 5, um dos sujeito da pesquisa, sobre a questão da relação teoria e prática reafirma a reflexão pontuada anteriormente quanto aponta que:

A teoria e a prática, [...] devem ser vista sempre em constante relação em nossa prática profissional. A interação cotidiana entre o estudo e o trabalho realizado nos possibilita uma melhor análise de nossos sujeitos e nos permite entender a realidade que é construída historicamente.

A apreensão das bases teórico-metodológicas de uma dada teoria se configura como recursos que o Assistente Social pode acionar para desenvolver seu trabalho, uma vez que os elementos que essas bases trazem permitem ler, entender e visualizar a realidade e com isso conduzir o trabalho a ser realizado.

Refletir a questão da prática profissional do assistente social com o objetivo de compreender a intervenção no plano das relações sociais de produção constitui-se tarefa das mais instigantes. Envolve discussões sobre os aspectos teóricos e metodológicos subjacentes ao agir profissional bem como a análise crítica, a dimensão de historicidade, o bojo do qual se produzem as relações capitalistas da sociedade. (COSAC, 2002, p. 167).

Outro aspecto a ser considerado é que a relação de unidade entre teoria e prática não se dá no plano da imediaticidade. Ou seja, conhecer as determinações dadas pela realidade social, as quais não se expressam na aparência do objeto, exige um movimento, uma busca que gere um conhecimento teórico sobre esta realidade. O âmbito da prática é o da efetividade da ação, enquanto o âmbito da teoria tem na esfera das finalidades ou resultados ideais para a ação, sua dimensão maior. Ainda que a realidade imponha um agir imediato como destaca o profissional AS 6 durante a entrevista: “[...] no âmbito do judiciário, cotidianamente nos

deparamos com usuários que apresentam suas necessidades prementes, imediatas, que exigem respostas igualmente imediatas, sobretudo na área da infância e juventude.”

Com relação a este aspecto Cosac (2002, p. 171) menciona que: “E, porque a representação é dinâmica, o sujeito não se descobre no imediato. Ser sujeito implica na mediação do político, isto é do poder.”

E ainda acrescenta:

As manifestações imediatas e cotidianas desses segmentos são explicadas nas relações de poder, ou seja, na correlação de forças entre os lados diferentes de uma mesma realidade ou situação social, vinculando a intervenção profissional do assistente social ao cotidiano, ao imediato, diverso e plural, num processo relacional entre as demandas (sócio- institucionais e profissionais) e a prestação dos serviços sociais. E é aí que está a especificidade complexa do Serviço Social atuar basicamente na trama das relações sociais de conquista, apropriação de serviços e poder desses segmentos subalternizados. Esse é o eixo da prática profissional, inserida no contexto mais amplo das práticas sociais, entendida como movimento de reflexão e ação capaz de apreender a concretude da realidade, ou sua totalidade, junto ao foco do jogo de poder. (COSAC, 2002, p. 177).

Ao atuarmos diretamente com as relações sociais e as questões resultantes de uma realidade, sabemos o quanto é importante planejar, executar e avaliar as ações objetivando atingir determinadas metas, o que é possível com a orientação de uma teoria e com o conhecimento desta mesma realidade. Lembrando que a todo o momento emergem novos dados estruturais e novos elementos que necessitam ser considerados no processo interventivo.

Entendemos que o eixo fundante no tocante aos aspectos teórico- metodológicos no exercício prático do Serviço Social centra-se em vislumbrar elementos norteadores de uma teoria que permita compreender e explicar o desenvolvimento da sociedade moderna, ou seja, a dinâmica social e delinear um projeto de intervenção. Neste sentido a coerência entre objetivos, objeto, teoria e método é pressuposto e fundamento básico do processo.

Compreender e articular todos estes aspectos cotidianamente passa pelo viés da formação continuada do profissional de Serviço Social, uma vez que a prática profissional com seu caráter interventivo requer contemplar, de fato, os conhecimentos necessários a essas competências, quais sejam conhecimentos teóricos, conhecimentos ético-políticos e teórico-metológicos.

Para respondermos às permanentes e diversas necessidades advindas da dinâmica social, o Assistente Social precisa redimensionar sua prática a cada

intervenção, conhecer a realidade em sua totalidade, integrando suas varias dimensões e buscando novos canais de conhecimento.

Ainda é preciso retomar um grande impasse que persiste em muitas práticas profissionais, a de pregar o distanciamento entre o exercício da prática profissional e a teoria. Esta é uma realidade posta, e não podemos desconsiderá-la mediante a gama de questões da dinâmica social. Ressaltando que é preciso entender, ou melhor, conhecer, essa mesma dinâmica e aproximar da realidade numa perspectiva histórica.

Este aspecto é percebido por dois dos sujeitos da pesquisa, trazendo à tona questões como a imediaticidade e urgência dos casos presentes na realidade do judiciário.

A relação teoria-prática, a gente tem que entender, pelo menos entende que é uma relação inseparável, embora ouça muito que na prática a teoria é outra, mas não dá para a gente pensar a prática profissional sem este respaldo teórico. (AS 4).

Teoria e Prática: [...] devemos ser profissionais reflexivos e atuantes, desenvolvendo nosso trabalho com eficiência. Faz-se necessário buscar embasamento teórico para as diversas situações que ocorrem, embora em determinados momentos e prática, a urgência tornam-se preponderantes. (AS 2).

Entendemos que a apropriação teórico-metodológica permite vislumbrar novos caminhos, novas alternativas para o trabalho profissional, em que este se configura em um elemento no conjunto maior para avançarmos na construção de novas mediações capazes de imprimir maior identidade à profissão.

Neste sentido Iamamoto (1997, p. 35-36) destaca:

O domínio teórico-metodológico só se completa e se atualiza ao ser frutificado pela história, através da pesquisa rigorosa das condições e relações sociais particulares em que se vive [...] só o domínio de uma perspectiva teórico-metodológica, deslocada seja de uma aproximação à realidade, do engajamento político, ou ainda de uma base técnico- operativa, ele sozinho, não é suficiente para descobrir e imprimir novos caminhos ao trabalho profissional.

E na mesma direção Mustafa (2004, p.181-182) coloca que:

Hoje, o assistente social já não se sente tão impotente! O arcabouço teórico-metodológico e ético-político, acumulado nos últimos anos, lhe dá segurança para compreender a realidade e intervir profissionalmente. Além disso, existe o sentimento de indignação que o impele a buscar os “porquês” e os “como”. Em outras palavras, busca-se o aprimoramento intelectual–ético–político que forneça os elementos necessários ao desvendamento da cotidianidade e um competente exercício profissional.