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6. ESPÉCIES EXÓTICAS E OS MECANISMOS DE CONTROLE NO PNB

6.1. ASPECTOS TEÓRICOS E DEFINIÇÕES SOBRE ESPÉCIES EXÓTICAS

As gramíneas de origem africana foram introduzidas, no Brasil, acidentalmente ou para fins comerciais, e se espalharam por grandes extensões de ecossistemas naturais, deslocando espécies nativas graças à sua agressividade e ao seu grande poder competitivo. Embora a substituição pelas gramíneas africanas tenha ocorrido em função de sua maior produtividade, tais espécies são amplamente dispersas, em áreas perturbadas, faixas laterais de estradas, plantações abandonadas e reservas naturais, no cerrado (PIVELLO et. al., 1999).

Espécies exóticas são aquelas que ocorrem numa área fora de seu limite natural, historicamente conhecido, como resultado de dispersão acidental ou intencional por atividades humanas. O conceito refere-se à ocupação de espaços fora de seu ambiente natural, independentemente de divisas políticas de países ou estados. O fato de a espécie ser exótica não implica, necessariamente, que haja dano (ZILLER, 2000).

As espécies exóticas invasoras, por outro lado, são aquelas que, uma vez introduzidas a partir de outros ambientes, adaptam-se e se reproduzem a ponto de substituir espécies nativas e alterar os processos ecológicos naturais, tornando-se dominante após um período. Em novos territórios, proliferam em detrimento de espécies e ecossistemas nativos (ZILLER, 2000).

As espécies exóticas invasoras representam um grave problema para os ecossistemas e ameaçam a diversidade vegetal e animal, nas unidades de conservação. Os estudos sobre invasão biológica, no Brasil, em áreas protegidas são escassos, provavelmente porque o impacto é relativamente lento, em longo prazo, e pouco evidente nas fases de estabelecimento e dispersão (FREITAS, 1999). Entretanto, em reservas de Cerrado, em São Paulo, já foram verificados prováveis efeitos competitivos entre M. minutiflora e B. decumbens com as herbáceas nativas, com perigo de extinção destas últimas. As gramíneas exóticas mostraram-se dominantes, tanto na porção vegetativa, como no banco

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de semente do solo (FREITAS, 1999). Além disso, as gramíneas exóticas produzem uma grande quantidade de biomassa, altamente inflamável, aumentando os riscos de incêndio durante a estação seca (PIVELLO, et. al. 1999).

Sobre esta ausência de estudos sobre espécies exóticas em UCs, Ziller & Deberdt, (2008) observaram que a ausência de um levantamento nacional sobre espécies exóticas invasoras e de um reconhecimento oficial de quais seriam as espécies existentes e potenciais dificultou, até hoje, a realização de esforços de conservação e a efetividade de manejo destas, principalmente, em unidades de conservação, onde o problema se revela particularmente grave.

A grande maioria das espécies exóticas não se estabelece nos lugares nos quais foram introduzidas, porque o novo ambiente geralmente não é adequado às suas necessidades. Entretanto, certa porcentagem de espécies consegue se instalar e crescer, independente das espécies nativas, deslocando-as por meio de competição, alterando o habitat e levando-as à extinção. Essas espécies adaptadas, sobretudo, ao ambiente criado pelo homem, ampliam facilmente sua área de ocorrência (SOULÉ, 1990).

A Figura 6.1, a seguir ilustra as principais etapas de um processo de invasão. Tanto o tamanho da população como o tempo de duração de cada etapa variam entre diferentes espécies. Uma espécie naturalizada pode permanecer estável, com uma população em equilíbrio, durante tempo variável (em alguns casos para sempre) até que algum fenômeno facilite o aumento da sua distribuição. Freqüentemente, esta “facilitação” pode ser uma perturbação natural, como um fogo ou uma tempestade, ou antropogénica, como alterações no uso da terra, fogos de origem humana, ou construção de infra-estruturas (MACHANTE, 2001).

Figura 6.1- Principais etapas de um processo de invasão das espécies exóticas Fonte: MACHANTE, 2001

Uma espécie naturalizada pode permanecer estável, com uma população em equilíbrio, durante tempo variável (em alguns casos para sempre) até que algum fenômeno facilite o aumento da sua distribuição. Freqüentemente, esta “facilitação” pode ser uma perturbação natural, como um fogo ou uma tempestade, ou antropogénica, como alterações no uso da terra, fogos de origem humana, ou construção de infra-estruturas (MACHANTE, 2001).

Segundo o IBAMA (2007), em trabalho coordenado pela Dra Christiane Horowits, nesta interação/competição, por meio de uma sinergia de circunstâncias, as espécies exóticas podem vir a excluir as espécies nativas:

As espécies de plantas exóticas interagem negativamente com as nativas por competição interespecífica. Essa interação implica competição por recursos, por ocupação de espaço, por crescimento em cobertura e por inibição química devido à liberação de substâncias tóxicas pelas raízes, folhas e sementes – alelopatia. Em circunstâncias cujos sinergismos favorecem a exótica, essa disputa pode se intensificar e causar efeito depressor sobre as nativas, excluindo-as do local. (IBAMA, 2007, p.12)

O sucesso dos processos de invasão depende não só dos atributos das espécies invasoras, mas também da natureza, da história e da dinâmica dos ecossistemas invadidos. A pressão dos propágulos, considerando o número de propágulos da espécie invasora introduzidos no habitat, e o momento da sua introdução, é um dos aspectos considerados determinantes no sucesso de uma espécie.

Esse processo é denominado de contaminação biológica e refere-se aos danos causados por espécies que não fazem parte, naturalmente, de um dado ecossistema, mas que passam a se dispersar e provocam mudanças em seu funcionamento, não permitindo sua recuperação natural (ZILLER, 2000).

A Convenção de Diversidade Biológica (CDB) recomenda enfrentar o problema de espécies exóticas invasoras, com base no princípio da precaução: a falta de certeza científica não deve ser usada como justificativa para prorrogar ou deixar de implementar ações de erradicação, contenção ou controle. De forma análoga, a ação rápida para prevenir a introdução, o estabelecimento ou a expansão de uma espécie exótica invasora potencial é recomendada, ainda que haja incerteza sobre seus impactos no longo prazo (IUCN, 2000).

O princípio da precaução oferece a base para uma política de manejo que prefere “prevenir”, estratégia que definitivamente é a mais apropriada para enfrentar um problema

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de conseqüências tão sérias e manejo, por vezes tão difícil ou complexo. Sem dúvida, este princípio não é suficiente para resolver todas as limitações relacionadas ao controle de espécies invasoras (ZILLER, 2007).

As espécies exóticas invasoras são um dos principais agentes de degradação ambiental e está provado que, quando o processo de invasão avança, as possibilidades de limitar seu impacto sobre ecossistemas naturais diminuem significativamente. Assim sendo, a ação imediata e o controle precoce constituem ações de máxima prioridade e economia (MACK et. al. 2000).

Alguns ambientes são aparentemente mais suscetíveis à invasão do que outros. Segundo Ziller (2008), algumas hipóteses foram construídas a fim de explicar essas tendências: a) quanto mais reduzida a diversidade natural, a riqueza e as formas de vida de um ecossistema, mais suscetível ele é à invasão, por apresentar funções ecológicas que não estão supridas e que podem ser preenchidas por espécies exóticas; b) as espécies exóticas estão livres de competidores, predadores e parasitas, apresentando vantagens competitivas com relação às espécies nativas e c) quanto maior o grau de perturbação de um ecossistema natural, maior o potencial de dispersão e estabelecimento de exóticas, especialmente, após a redução da diversidade natural pela extinção de espécies ou exploração excessiva.

Embora não possa funcionar de forma isolada, a última hipótese é essencial para a compreensão dos processos de invasão biológica. Práticas erradas de manuseio dos ecossistemas, como a remoção de áreas florestais, queimadas anuais para preparo da terra, erosão e pressão excessiva de pastoreio contribuem para a perda da diversidade natural e fragilidade do meio às invasões. A fim de serem bem compreendidos, é fundamental que esses processos sejam avaliados de um ponto de vista abrangente, computando-se todas as variáveis que podem exercer algum tipo de influência ambiental (ZILLER, 2000)

Algumas características relacionadas com o potencial de invasão das plantas são a produção de sementes de pequeno tamanho em grande quantidade, dispersada por ventos, maturação precoce, formação de um banco de sementes com grande longevidade no solo, reprodução por sementes e por brotação, longos períodos de floração e frutificação, crescimento rápido, pioneirismo e adaptação a áreas degradadas, eficiência na dispersão de sementes e no sucesso reprodutivo e produção de toxinas biológicas que impedem o crescimento de plantas de outras espécies nas imediações, um fenômeno chamado de alelopatia. As invasoras também contam com a ausência de inimigos naturais, o que facilita, em grande medida, a sua adaptação (ZILLER, 2008).

O processo de invasão biológica em ambientes naturais tem sido reconhecido como um problema ambiental de importância global (D’ANTONIO e VITOUSEK, 1992). Vários estudos têm mostrado que a invasão por espécies exóticas pode afetar a estrutura das comunidades de plantas e animais, a ciclagem de nutrientes, a produtividade, a hidrologia e o regime de fogo. Porém, os mecanismos pelos quais as espécies invasoras causam esses impactos ainda não estão completamente esclarecidos (FILGUEIRAS, 1990; LEVINE et. al., 2003).

Sobre o processo de invasão Ziller, (2008) argumenta que, uma vez introduzida, a espécie precisa ultrapassar barreiras ambientais para sobreviver, que vão desde condições climáticas e de solos até o ataque de predadores e agentes patogênicos. Superadas essas primeiras barreiras, considera-se uma espécie como estabelecida quando passa a formar populações auto-regenerativas, ou seja, a reproduzir-se localmente. Esse é o segundo passo no processo de invasão.

A terceira etapa que a espécie precisa ultrapassar para se tornar invasora refere-se à capacidade de dispersão, indo além do ponto onde foi introduzida. Uma vez que a espécie encontre meios de se propagar para áreas mais amplas, seja por meios físicos, como o vento, ou por associação com outras espécies que funcionem como dispersores, por ajuda indireta do homem (por exemplo, no caso de espécies que se propagam seguindo canais de irrigação ou às margens de estradas e caminhos) ou por meios próprios, como é o caso dos animais, passa a ser considerada invasora (ZALBA & ZILLER, 2007).

O impacto dessas espécies sobre a biodiversidade é freqüentemente observado, como ocorre no caso de ratos predadores de aves, em ilhas; com os grandes herbívoros e seus efeitos em campos naturais ou com espécies de arbustos ou árvores invasoras, que cobrem completamente um ambiente, sufocando a vegetação nativa (GISP, 2005).

Em outros casos, os efeitos de espécies exóticas invasoras sobre o ambiente são mais difíceis de definir, entre outras coisas, porque a presença dessas espécies coincide em tempo e lugar com outros agentes de transformação ambiental, como o avanço da fronteira agropecuária, a expansão de ambientes urbanos e a fragmentação de ecossistemas naturais (ZALBA & ZILLER, 2007).

Um passo importante para manejar com eficiência um processo de invasão é detectar as incertezas-chave, ou seja, as lacunas de informação que, se resolvidas, melhorariam de maneira significativa a capacidade para resolver o problema. Essas lacunas de informação podem ser colocadas como perguntas e estas, por sua vez, irão orientar a formulação de hipóteses que são postas à prova, pela estratégia de manejo (ZALBA & ZILLER, 2007).

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Conforme Usher (1988), a avaliação das conseqüências de invasões biológicas, nas áreas naturais e os efeitos das medidas de controle podem fornecer um roteiro ideal para seu controle. Para Klink (1994), uma dificuldade adicional no controle das invasões por espécies exóticas é o desconhecimento dos fatores que levam estes organismos a serem mais bem sucedidos do que as espécies nativas.

Sobre as dificuldades de estímulo à pesquisa de controle de gramíneas exóticas Pivello (2005) argumenta que quanto às técnicas para o controle destas gramíneas, estudos específicos e experimentos que apontem soluções, praticamente inexistem, sobretudo, considerando-se que as principais invasoras de Cerrado – gramíneas forrageiras – são espécies de interesse econômico. Sendo assim, quase a totalidade dos estudos até agora realizados com gramíneas africanas, no Brasil, teve o enfoque pecuarista, com o objetivo de aumentar a produtividade e o vigor destas espécies, ou seja, o inverso dos objetivos conservacionistas. É, portanto, premente a necessidade de experimentação, in loco e em laboratório, para se testar técnicas de combate: mecânico, químico, biológico e de arranjo espacial dos elementos da paisagem, a fim de controlar a invasão dessas gramíneas exóticas.

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