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Capítulo 3 – Farmácia Comunitária

6. Aspetos Básicos da Interação Farmacêutico-Utente

Durante o atendimento, é necessária uma rigorosa atenção a diversos aspetos e técnicas de comunicação que podem auxiliar o diálogo com o utente. Primeiramente, é imprescindível adaptar a linguagem e a comunicação ao nível sociocultural do utente. Especialmente quando o utente não é habitual, é importante observar cuidadosamente o mesmo e tentar reunir toda a informação que ele nos transmite. Por exemplo, as informações prestadas e a forma como são compreendidas podem variar amplamente caso se trate de uma pessoa mais jovem ou mais idosa.

O farmacêutico deve cuidar da sua apresentação e da postura corporal. Ao atender um utente, é importante o farmacêutico identificar o utente e tratá-lo pelo nome. Caso o utente não seja habitual na farmácia, o farmacêutico deve cumprimentar igualmente o utente e apresentar-se, disponibilizando-se para o assistir na sua visita ao estabelecimento. O atendimento não deve ser interrompido para tratar de outras pessoas ou assuntos, devendo demonstrar-se interesse pelo utente, pelos seus problemas e focalizar toda a atenção no mesmo. Para além disso, é também essencial demonstrar segurança nos esclarecimentos prestados, devendo consultar sempre fontes de informação a fim de esclarecer qualquer dúvida que possa surgir ao longo do atendimento. Durante a conversa inicial, é essencial formular perguntas que permitam obter os dados necessários à avaliação da situação. Uma vez avaliada a situação, deve ter-se em atenção os casos em que é necessário um atendimento em privado, no gabinete do utente.

Perante uma pergunta do utente, deve-se estimulá-lo a manifestar a sua opinião antes de responder objetivamente, utilizando palavras simples e expressões positivas, evitando o uso de expressões com conotação negativa. Devem-se desdramatizar as situações e desculpabilizar o utente ou terceiros, assim como se deve evitar paternalismo, autoritarismo ou agressividade.

Existem ainda alguns casos específicos em que o utente deve ser alertado para alguns tópicos relativamente ao uso da medicação. São exemplos destas situações a prescrição de antibióticos, em que o utente deve ser alertado para cumprir o horário de tratamento durante o período de tempo indicado pelo clinico, sendo igualmente importante alertar para algumas interações importantes entre os antibióticos e outros medicamentos, como acontece com os contracetivos orais. Nos descongestionantes nasais de aplicação tópica, que são muitas vezes usados em exagero, é necessário informar que a aplicação deve ser por um período muito curto, devendo ser consultado o médico caso a situação não melhore. Os corticóides de aplicação tópica, em relação aos quais muitas vezes as pessoas não sabem as

71 precauções de utilização mesmo quando prescritos pelo médico, não devem ser aplicados em zonas extensas e a região de aplicação deve encontrar-se protegida da luz solar. Para além disso, devem ser aplicados por um curto período de tempo seguido de suspensão gradual. Os anti-inflamatórios não esteróides devem ser administrados depois das refeições e a terapêutica deve ser de reduzida duração. Relativamente aos laxantes e antidiarreicos, que são usados por vezes de forma exagerada pelos utentes, é preferível recomendar alterações na dieta. No entanto caso seja necessário um destes medicamentos, deve ser aconselhado um não agressivo e alertar os utentes que não devem usar excessivamente.

Além da prestação de esclarecimentos verbais é também importante que se escreva parte da informação, particularmente no que se refere ao modo de administração e posologia. Esta indicação deve ser simplificada e sumarizada para que o utente a entenda corretamente, devendo-lhe ser pedido que repita as informações prestadas para garantir que o diálogo foi produtivo e atingiu o objetivo esperado. Por vezes podem ser usados pictogramas para facilitar o entendimento.

A disponibilidade do utente também é um fator importante no processo de atendimento. Por vezes, as pessoas têm pressa e por isso exigem um atendimento rápido, mas o serviço prestado na farmácia não pode ser comparado ao serviço prestado numa loja qualquer, pelo que por vezes pode ser um pouco complicado, mas é preciso fazer o esforço para que o atendimento seja, mesmo assim, feito com qualidade e da forma mais correta possível.

Na farmácia também se deve dar informação sobre o projeto VALORMED, incentivar as pessoas a entregarem os medicamentos não utilizados ou fora do prazo de validade, para que eles possam ter o devido tratamento. A distribuição de sacos próprios para o efeito é uma das formas de promover o programa.

6.1.

Farmacovigilância

O sistema de autorização de introdução no mercado de medicamentos, muito desenvolvido desde que Portugal pertence à UE, é acompanhado por um sistema de avaliação prévia que visa assegurar a verificação dos critérios de qualidade, segurança e eficácia de cada medicamento, garantindo uma relação favorável entre os benefícios e os riscos associados à sua utilização. Após a introdução no mercado e, porque a saúde pública tem que ser posta em primeiro lugar, tem que continuar a haver um controlo da utilização do medicamento.

A farmacoepidemiologia é uma área científica cujo objetivo é o estudo dos efeitos adversos e benéficos da utilização de medicamentos pela população. Tem como finalidade identificar e quantificar riscos de aparecimento desses efeitos secundários decorrentes da utilização de medicamentos, carateriza padrões de consumo e seus fatores determinantes. A farmacovigilância é uma das áreas da farmacoepidemiologia. Consiste na observação, registo,

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análise e interpretação de efeitos adversos supostamente relacionados com a utilização de um medicamento.

Os sistemas de farmacovigilância desempenham um importante papel na recolha e avaliação de informação sobre reações adversas de medicamentos, estabelecendo ainda a responsabilidade dos titulares de Autorização de Introdução no Mercado (AIM) de medicamentos, dos profissionais de saúde e das demais autoridades de saúde.

O INFARMED é a entidade responsável pelo acompanhamento, coordenação e aplicação do Sistema Nacional de Farmacovigilância. Este Sistema compreende o conjunto articulado de regras e possui a responsabilidade de recolher toda a informação relativa a suspeitas de reações adversas no ser humano pela utilização de medicamentos de uso humano, avaliar cientificamente essa informação e tratar a mesma no plano comunitário e internacional.

O farmacêutico deve estar atento a informações de farmacovigilância e deve notificar situações suspeitas de reações adversas graves ou inesperadas. Na dúvida, qualquer caso de suspeita de reação adversa que o preocupe deverá ser notificada. As notificações devem ser feitas nas fichas disponibilizadas para o efeito que, para os farmacêuticos, são de cor roxa.