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Após o cotejo entre assédio moral e princípios constitucionais, neste sub- tópico, abordar-se-á a proibição da ocorrência de assédio moral no ambiente de trabalho em face dos direitos fundamentais, mais especificamente os direitos fundamentais sociais. Serão abordados os direitos sociais fundamentais ao trabalho e à saúde.

3.3.3.1 Direito fundamental à saúde

O direito constitucional à saúde está previsto no Capítulo II do Título I, artigo 6º, que trata dos Direitos Sociais e no Título VIII (DA ORDEM SOCIAL), Capítulo II (DA SEGURIDADE SOCIAL), Seção II (DA SAÚDE). E nesse tocante, o artigo 196 da Carta Magna é claríssimo quando determina que o direito à saúde será garantido mediante políticas sociais e econômicas, que visem à redução de riscos de doenças e outros gravames ao acesso igualitário às ações e serviços promovidos pelo Estado.

A simples leitura da norma constitucional permite concluir que a tarefa do Estado é cuidar das políticas públicas de saúde que tenham por objetivo reduzir e prevenir doenças e abrir a toda a sociedade caminhos igualitários a serviços na área de saúde.

O direito à saúde é direito fundamental constitucional e, como tal, também produz seus efeitos no âmbito privado. Não só o Estado é obrigado através de políticas públicas a buscar fornecê-lo à totalidade dos indivíduos, mas aos particulares também se exige que não atuem de forma a prejudicar a saúde de seus semelhantes.

Assim, exige-se uma conduta negativa por parte dos indivíduos particulares, devendo haver abstenção em relação ao cometimento de quaisquer práticas que venham trazer malefícios à saúde de outros particulares.

É situação clara e já identificada aqui que o assédio moral no ambiente de trabalho é ligado a diversas enfermidades que passam a sofrer os trabalhadores depois que passam a ser perseguidos em seu ambiente de trabalho e em função de suas atividades laborais.

As enfermidades apresentam efeitos tanto psicológicos, como baixa auto- estima, depressão, sintomas de paranóia, sentimentos de inutilidade, idéias e tentativas de suicídio, até problemas que podem ser sentidos fisicamente, como dores de cabeça, distúrbios digestivos, aumento da pressão arterial, insônia, palpitações e tremores, falta de ar, entre outros, resultando na clara conclusão de que o assédio moral no ambiente de trabalho viola o direito fundamental à saúde.

O assediante, desse modo, deve abster-se de quaisquer atos atentatórios à saúde do trabalhador, sob pena de malferimento ao referido direito fundamental.

3.3.3.2 Direito fundamental ao trabalho

Também previsto no caput do art. 6º da Constituição Federal de 19888, além de abranger os arts. 8, 9, 10 e 11 do texto maior, o direito ao trabalho é considerado direito fundamental de cunho social.

O direito fundamental ao trabalho possui lógica relação com a proteção do trabalhador em todos os âmbitos possíveis, conferindo abrigo à integridade moral, física e psicológica do trabalhador, tendo em vista as relações laborais às quais se submeterem.

O art. 7º apresenta rol meramente exemplificativo de alguns direitos sociais individuais do trabalhador, em seus mais de trinta incisos, lembrando que tal rol não impede a existência de outros direitos fundamentais relacionados especificamente ao

trabalhador. Todos esses direitos visando a consecução do valor maior constitucional, qual seja, buscam efetivar de verdade o que se pregoa através da dignidade da pessoa humana, oferecendo ao trabalhador condições mínimas de uma existência digna e honrada.

O valor social do trabalho, fundamento da república assim como a dignidade da pessoa humana, também apresenta íntima relação com esse direito fundamental, conforme já afirmado nesse capítulo. A empregabilidade e boas condições para se exercer um ofício, são fundamentais para que o trabalhador possa desenvolver sua personalidade de forma sadia e satisfatória.

Importante lembrar que a Constituição Federal concede tais direitos tanto a trabalhadores urbanos, como trabalhadores rurais, fazendo concessão também aos trabalhadores avulsos, nos termos do inciso XXXIV do art.7º do texto constitucional.

Segundo José Afonso da Silva,50 os direitos previstos nesse artigo dividem-

se em sete categorias diversas, sendo que três delas importam diretamente à temática do assédio ambiental no local de trabalho.

Dentre as sete categorias de direitos individuais do trabalhador, destacamos duas delas que possuem correspondência direta com o assédio moral no ambiente de trabalho.

A primeira delas é a categoria de direitos sobre as condições de trabalho, da qual fazem parte os incisos I, II, III e XXI do art.7º. Conforme aponta o autor, as condições dignas de trabalho são objetivos dos trabalhadores, servindo como vetor para a melhoria de sua condição social.51

50 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo, 30ª Ed. São Paulo: Malheiros,

2008, p. 289-295

Já a segunda categoria é aquela denominada por José Afonso da Silva como os direitos de proteção dos trabalhadores, abarcando os dispositivos previstos nos incisos XXVII, XXX, XXXI, XXXII, XXXIII e XXXIV do mesmo art. 7º. Tais direitos estão intimamente relacionados com o objetivo de coibir quaisquer tipo de discriminações injustas no ambiente laboral, promovendo o princípio da isonomia no ambiente laboral.52

Juntamente a todos esses direitos, deve-se levar em conta também os direitos coletivos do trabalhador, principalmente aqueles relacionados à sindicalização e associações por meio das quais o trabalhador pode buscar diminuir sua posição de hipossuficiente em relação ao empregador e, utilizando-se dos acordos coletivos e convenções coletivas, buscar condições de trabalho que melhor possam desenvolver sua personalidade e por condições que possam garantir sua dignidade.

Assim, percebe-se que o direito fundamental ao trabalho é vetor de transformação social na busca de iguais condições a todos os indivíduos, buscando igualá-los em oportunidades para que possam se desenvolver. Não se pode permitir que práticas como o assédio moral venham retirar a dignidade do trabalhador, impedindo sua busca pela real condição de indivíduo pleno.