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CAPITULO 2 – EVOLUÇÃO DO USO E OCUPAÇÃO DOS SOLOS EM ASSENTAMENTO DA REGIÃO NORTE E SUL DO ESTADO DO ES

2.1.2. ASSENTAMENTO 13 DE MAIO Breve Histórico

O Assentamento Treze de Maio é fruto da 4ª ocupação de terra realizada pelo MST no Espírito Santo, na região de Conceição da Barra/ES, que após períodos de intensos conflitos, foram deslocados e assentados nesta antiga fazenda que estava em processo de negociação e desapropriação pelo governo do Estado, hoje chamado de assentamento 13 de Maio (P.E 13 de Maio1). Foi criado oficialmente no dia 15 de maio de 1989, dois dias após a chegada das famílias transferidas. Com 500 ha e 45 famílias, atualmente tem 201 pessoas morando , trabalhando e produzindo no assentamento.

Este assentamento é considerado modelo do ponto de vista organizacional, visto que sediou várias experiências neste sentido, onde a coletividade era a forma central para garantir as conquistas que sucederam.

Apesar do solo degradado, as famílias produziram alimentos necessários à sua sobrevivência. No início muitas famílias desistiram de serem assentadas na área devido à percepção da baixa qualidade dos solos, inclusive relatada em entrevista realizada pela Comissão Pastoral da Terra durante a festa da cultura popular do assentamento 13 de Maio e disponibilizada no banco de dados de “Agroecologia em Rede” .

“E, desde que foi criado em 13 de maio de 1989, houve, preocupação muito grande em relação à permanência na terra. Mas, o foco maior era preocupado com a questão da produção da terra, porque a fazenda aqui trabalhava a pecuária extensiva. Então, quando a área foi comprada pelo Governo do Estado para assentar estas famílias que estavam pressionando por terra para trabalhar, a

área que virou assentamento era de um solo muito degradado. Para produzir era um desafio muito grande, tudo morro pelado, erosão. Então a degradação do solo era muito intensa.... Depois

de um período de várias tentativas de melhorar a produção, de várias tentativas de organização que criou a cooperativa e a associação. E produziu muito, só que não satisfazia porque se trabalhava muito a monocultura do café. As famílias eram aparentemente tristes e não tinham nada de integração”.

(Ana Miranda do Assentamento 13 de Maio). Grifo do autor.

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P.E – Projeto Estadual - designação para os assentamentos criados pelo governo do Estado do ES. Atualmente existem 23 áreas de assentamentos P.E. Estas ficam sob a tutela da secretaria de agricultura do Estado do ES.

Após pressionarem os órgãos responsáveis pela demarcação interna oficial do assentamento e não obterem respostas, em 2007, 16 anos depois de serem assentadas, as famílias auto-organizadas contrataram uma empresa de topografia e definiram a demarcação interna do assentamento. Só assim estas foram para seus respectivos lotes e puderam dar continuidade ao processo de desenvolvimento produtivo das famílias.

Após a divisão das áreas ambientais e os lotes, as famílias puderam fazer investimentos em médio e longo prazo nos lotes, facilitados pelo acesso ao crédito para a produção agrícola e pecuária.

Portanto, apesar de ser uma das primeiras áreas de reforma agrária do estado, esta teve seu desenvolvimento atrasado pelas dificuldades encontradas para efetivação de fato do assentamento.

A maior parte do imóvel era ocupada por pastagens e capoeira (cerca de 87%) em estádio avançado de degradação dos solos. O foco central da antiga fazenda era a produção de gado de corte (SEAG, 1988).

2.2. CONTEXTO SOCIOECONÔMICO DO ASSENTAMENTO 13 DE MAIO

A área de estudo está localizada no município de Nova Venécia, na região noroeste do estado do Espírito Santo, o assentamento está situado na bacia Hidrográfica do Rio Doce, fazendo divisa com a Bacia do Rio São Mateus. A região apresenta em sua maioria vegetação do tipo Floresta Ombrófila Densa. O tipo de solo mais representativo é o Latossolo Vermelho Amarelo (SEAG, 1988).

A caracterização climática do assentamento pode ser vista na figura 2.

Os lotes familiares possuem entre 7 e 10 ha, variando conforme localização e qualidade dos solos. O diagnóstico realizado pela COOPTRAES (2012) demonstra que 59% da renda das famílias origina-se da produção agropecuária, seguido de aposentadoria/pensão, e outros trabalhos remunerados como professores e professoras na escola do assentamento. Cerca de 90% desta renda vem do cultivo de café conilon (Coffea canephora), pimenta-de- reino (Piper nigrum L.) (4%), e os demais cultivos (hortaliças, mandioca, batata, feijão, milho e frutas), que somados representam 6%. 39% das famílias que acessam o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) com a produção e comercialização de alimentos prioritariamente orgânicos.

Figura 3 - Caracterização climática do município de Nova Venécia. Fonte: Mapa de Unidades Naturais EMCAPA/InPUT, 1999.

Das 201 pessoas assentadas, 51% são mulheres e 49% homens. Dentre os assentados, 8% tem o nível médio completo, e 13% nível médio incompleto. 37% tem apenas o nível fundamental. Apesar disso possuem 7 assentados com nível superior completo e 5 com nível técnico (em agropecuária), totalizando cerca de 6% dos assentados (COOPTRAES, 2012).

O manejo das lavouras de café é predominantemente convencional, embora muitos lotes apresentem manejo conservacionista, com a não aplicação de agrotóxicos e práticas de

manutenção da cobertura morta. Existe uma horta coletiva de 7 famílias, manejadas de forma orgânica que adota várias técnicas e práticas agroecológicas. A agricultura é praticada com baixo a médio aporte de capital, devido a ser recente a aplicação de créditos na área. Duas famílias se declararam agroecológicas, sendo encontrados, sistemas agroflorestais nestes lotes.

Na percepção das famílias as maiores dificuldades para a produção se referem à baixa fertilidade dos solos, à dificuldade de acesso a água para a produção e irrigação, aos créditos ainda insuficientes no que tange ao acesso e à falta de conhecimentos técnicos específicos (COOPTRAES, 2012).

2.3. TRATAMENTO DAS IMAGENS

Para a avaliação de uso e ocupação dos solos de forma temporal, foram utilizadas imagens raster2 no formato geotiff3 de aerolevantamentos feitos no estado do Espírito Santo: 1) Fotos aéreas, da década de 80 com resolução espacial de 1m cedidas pelo Instituto de defesa agrícola e florestal (IDAF);

2) Ortofotos do ano 2007 também com resolução espacial de 1m, cedidas pelo Instituto Estadual de Meio Ambiente (IEMA);

3) Imagem obtida do satélite RapidEye com resolução espacial de 25 cm, cedidas pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), para o assentamento Santa Rita, referente ao ano de 2015;

4) Imagem do Google Earth com ano base de 2015, de alta resolução espacial, para o assentamento 13 de Maio.

As poligonais de classes de uso solo foram realizadas por meio de digitalização em tela com auxílio do aplicativo ArcGIS 10.2 e para o ano de 2015 no assentamento 13 de maio foi utilizado o aplicativo QGIS 2.10, que faz uma conexão com a base de dados do Google Earth, as poligonais foram obtidas no formato vetorial4 em arquivos do tipo shapefile5.

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Raster: modelo de dados espaciais que define o espaço como uma matriz de células quadradas de mesmo tamanho, dispostas em linhas e colunas. Cada célula (pixel) contém um valor de atributo e coordenadas de localização.

3

GeoTIFF: é um padrão de metadados de Domínio público, o qual permite embutir informações das coordenadas geográficas em um arquivo TIFF.

4 Vetorial: modelo de dados baseado em coordenadas que representa características geográficas como pontos, linhas e

polígonos. Cada ponto é representado como um único par de coordenadas, enquanto a linha e o polígono são representados como listas ordenadas de vértices.

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Após a primeira classificação foi realizada uma viagem a campo para checar padrões da classificação e aumentar a acurácia do estudo.

De posse das poligonais, foram calculadas as áreas representativas de cada classe por meio da calculadora geométrica do aplicativo ArcGIS 10.2. Posteriormente estes dados foram inseridos em planilha eletrônica para obtenção dos percentuais de área em relação à área total de cada classe de uso do solo.

3. RESULTADOS