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Os assentamentos rurais, de onde são oriundos os jovens que estudam na Escola 25 de Maio, são a expressão da luta pela Reforma Agrária no Brasil, da qual os jovens assentados fazem parte direta ou indiretamente. Muitos desses jovens participaram dos processos de luta, permanecendo acampados com suas famílias, muitos se tornaram lideranças políticas, alguns estudaram em escolas do campo, outros em escolas urbanas, mas o que todos têm em comum é o fato de fazer parte da luta pela terra no Brasil. Talvez esse seja o principal fato que os diferencia dos demais jovens, rurais e urbanos.

6 http://www.abrareformaagraria.org/

Os jovens que fazem parte da luta pela Reforma Agrária conhecem de perto a falta de políticas públicas, as quais afetam o desenvolvimento social, cultural e econômico dos assentamentos. A participação dos jovens rurais nesse processo é algo da história recente do Brasil e que merece destaque.

De acordo com Stedile (2012), ao longo da história moderna, mas, sobretudo, a partir do desenvolvimento do capitalismo industrial, muitos países e governos implementaram programas de Reforma Agrária de diferentes tipos: Reforma Agrária Clássica; Reforma Agrária anticolonial; Reforma Agrária radical; Reforma Agrária popular; Reforma Agrária parcial; Reforma Agrária de liberação nacional; Reforma Agrária Socialista.

De acordo com Stedile (2012) a Reforma Agrária popular consiste na distribuição massiva de terras a camponeses, no contexto de processos de mudanças de poder, nos quais se constitui uma aliança entre governos de natureza popular, nacionalista, e os camponeses. Desses processos resultaram leis de Reforma Agrária progressistas, populares, combinando-se a ação do Estado com a colaboração dos movimentos camponeses, como são exemplos a da China e a de Cuba.

A Reforma Agrária socialista foi realizada em diversos países no contexto de processos revolucionários que buscavam também a superação do capitalismo e a construção do modo de produção socialista. Este tipo de Reforma Agrária se baseia no princípio de que a terra pertence a toda nação. Portanto, não pode existir propriedade privada da terra, nem compra e venda de terra. E o Estado organiza as diversas formas de uso da propriedade social das terras. (STEDILE, 2012)

Nesse tipo de Reforma Agrária as formas sociais de uso e propriedade mais adotadas foram o associativismo de base, em pequenos grupos de famílias, empresas sociais autogestionárias, cooperativas de produção e empresas estatais. Cada país, de acordo com suas condições objetivas e subjetivas, teve a predominância de uma ou outra forma de propriedade social. As experiências mais conhecidas desse tipo de Reforma Agrárias são a da Rússia, antiga União Soviética, em especial no período do governo de Josef Stalin (1924-1953), mas houve também experiências na Iugoslávia, Coreia do Norte, Alemanha Oriental, Ucrânia e outros países do chamado bloco soviético. (STEDILE, 2012) Após analisar todas as formas de Reforma Agrária realizadas pelo mundo, Stedile (2012) conclui que no Brasil nunca houve um processo de Reforma Agrária. O que há é uma política de assentamentos rurais, programas de governo que procuram distribuir terras

a famílias que estejam interessadas em ter um lote no campo para produzir. São, porém, limitados na abrangência e não afetam a estrutura da propriedade da terra. São políticas parciais, que atendem aos trabalhadores do campo, mas não são massivas, e por isso funcionam mais para resolver problemas sociais localizados ou atender populações mobilizadas que pressionam politicamente o governo.

Para Leite (2012) o assentamento rural é um dos elementos importantes na questão agrária brasileira, especialmente a partir da década de 1980, até os dias atuais. Com os assentamentos, ganha destaque os seus sujeitos diretos, os assentados, e indiretos, os movimentos e organizações, que contribuem para a garantia dos assentamentos rurais.

Através de assentamentos, trabalhadores passam a ter a terra para produzir e dela viver. A origem desses trabalhadores é diversa, há os que tiveram sua última moradia e/ou local de trabalho no meio rural, que se engajam em algum movimento social que luta pela terra, outros oriundos do meio urbano (metropolitano ou não), muitas vezes com uma trajetória anterior no meio rural, que buscam a (re)conversão para este meio. (LEITE, 2012)

De acordo com dados do MST7, nesses seus 30 anos de luta, este movimento conquistou 1.500 assentamentos legalizados, que reúnem aproximadamente 350 mil famílias em um total de 5 milhões de hectares. No estado de Santa Catarina, existem 132 assentamentos, com 4.893 famílias assentadas, ocupando uma área de 86.943 hectares.8

Além das diferentes origens dos trabalhadores, há diferentes formas de luta pela terra, realizadas pelos diferentes movimentos e organizações sociais, o que resulta em diferentes formas de organizar a produção, o consumo, o trabalho, a moradia, a escola, o lazer etc.

Conforme explicitado no primeiro capítulo, o que predomina na questão agrária do Brasil é a forte concentração fundiária. No entanto, há uma grande quantidade de famílias assentadas que passa a buscar novas formas de organização da vida, da produção etc, bem como a lutar por direitos.

Os assentamentos assumem então configurações distintas coletivos/individuais; agrícolas/pluriativos; habitações em lotes/em agrovilas; frutos de programas governamentais estaduais/federais; com poucas/muitas famílias; organizados e/ou politicamente representados por associações de assentados, cooperativas, movimentos sociais, religiosos, sindicais etc., mas significarão sempre, malgrado as precariedades que ainda caracterizam número expressivo de projetos, um

7 http://www.mst.org.br/MST-recebe-premio-em-Guernica-pela-luta-da-Reforma-Agraria 8 Dados fornecidos pela Secretaria Estadual do MST de Santa Catarina.

ponto de chegada e um ponto de partida na trajetória das famílias beneficiadas/assentadas. Ponto de chegada enquanto um momento que distingue fundamentalmente a experiência de vida daquela anterior à entrada no projeto; ponto de partida como conquista de um novo patamar do qual se pode acessar um conjunto importante de políticas (de crédito, por exemplo), mercados e bens, inacessíveis na situação anterior (LEITE, 2012, p. 111).

A partir da década de 1990 os assentamentos passam a ser uma forma viável de criar empregos a custo menor que o emprego urbano. Para os movimentos sociais a viabilidade do assentamento passa a ser peça chave.

Assim, a luta pela reforma agrária é colocada em outro patamar, e a partir daí passa-se a buscar a formação de cooperativas, o desenvolvimento de pequenas agroindústrias voltadas para a comercialização da produção dos assentamentos, a articulação da pequena produção das famílias assentadas e outros agentes econômicos, como cooperativas de industrialização etc. Um caso é a Cooperativa Terra Viva, localizada na região Oeste de Santa Catarina, em São Miguel do Oeste, para a qual algumas famílias dos egressos participantes dessa pesquisa vendem o leite para ser industrializado. Alguns alunos egressos também fizeram seus estágios e Trabalhos de Conclusão de Curso nesta Cooperativa.

Apesar de tratar-se de casos fragmentários, dispersos pelo país, a pequena produção dá mostras de vitalidade econômica e, em outros, há uma dificuldade enorme em produzir e desenvolver os assentamentos, consequência da não realização da reforma agrária e da hegemonia do agronegócio.

O que ocorre é que o Estado vê a Reforma Agrária como política social. A denotar tal circunstância, está a existência de dois ministérios: o Ministério da Agricultura, onde são tratadas as questões do agronegócio e o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) onde são tratadas as questões da pequena agricultura, com recursos irrisórios frente ao que é destinado para o agronegócio. Para a safra 2013/2014, estão sendo destinados 39 bilhões para a agricultura familiar9 e, para o agronegócio, R$ 136 bilhões10, ou seja, apesar de ser responsável por 70% da produção interna de alimentos, a agricultura familiar acessa apenas 14% dos créditos.

9http://agro.olhardireto.com.br/noticias/exibir.asp?noticia=Governo_anuncia_investimentos_de_R_39_bi_par

a_agricultura_familiar&id=7142

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