• Nenhum resultado encontrado

Assimetria informacional e problemas decorrentes da relação de agência

2.1 T EORIA DA A GÊNCIA

2.1.3 Assimetria informacional e problemas decorrentes da relação de agência

No campo científico o surgimento das teorias tem uma motivação comum que é resolver problemas relacionados a fenômenos que ocorrem em áreas específicas ou ainda áreas que se inter-relacionam. A teoria da agência constitui uma linha teórica multidisciplinar que surgiu com o objetivo de compreender os problemas de correntes da relação de agência, ou seja, derivados dos conflitos de interesses entre partes envolvidas em um contrato no âmbito de uma organização.

Segundo Hendriksen e Van Breda (1999, p.139):

O trabalho mais recente na área de teoria de agency tem-se concentrado nos problemas causados por informação incompleta, ou seja, quando nem todos os estados são conhecidos por ambas as partes e, assim, certas consequências não são por elas consideradas. Tais situações são conhecidas como assimetrias informacionais.

Na concepção de Nossa, Kassai e Kassai (2000), uma característica inerente às relações principal e agente é a necessidade de tomada de decisões, as quais influenciam os interesses de ambas as partes. Um exemplo é o desempenho de uma organização que interessa ao principal e é significativamente influenciado pelas decisões dos agentes. Esses autores acrescentam que entre os diversos desafios enfrentados pelo principal nas relações de agenciamento destaca-se a necessidade de monitorar as ações do agente.

A assimetria informacional decorre da impossibilidade que o principal tem de observar todas as ações do agente, conforme corrobora Akdere e Azevedo (2006, p. 47), ocorre assimetria de informação quando a capacidade do principal de monitorar o comportamento e o trabalho do agente é limitada, restringida ou interrompida por fatores que só são conhecidos pelo agente.

No entendimento de Slomski et. al. (2008, p. 36), ocorre assimetria informacional quando gestores dispõem de informações privilegiadas que se referem à organização em que atuam, de maneira que de outros stakeholders (partes interessadas) é subtraída essa prerrogativa em decorrência de sua não participação direta na gestão dos recursos organizacionais dos quais são proprietários ou interessados. Essa situação pode ser exemplificada a partir de um contexto empresarial em que os administradores têm maiores informações sobre áreas estratégicas da empresa, tais como: estrutura de custos, posição competitiva, oportunidades e riscos de investimentos, entre outras.

A existência de assimetria informacional não se dá apenas pela incapacidade do principal de monitorar o comportamento e o trabalho do agente, mas também em decorrência dos interesses conflitantes. O agente recebe poder e autoridade para gerir recursos organizacionais que não são de sua propriedade, porém desenvolve interesses relacionados à organização que podem entrar em conflito com os interesses dos proprietários (principal) e da própria organização. Devido ao poder que recebeu de gerir os recursos, o agente, ao tomar decisões, pode optar por alternativas que lhe favoreçam mais, em detrimento dos interesses do principal. Como os resultados do trabalho do agente será avaliado em relatórios de desempenho e outras informações a serem analisadas pelo principal, o agente tende a revelar informação incompleta ou assimétrica. A quantidade e o tipo de informação revelada pelo agente a priori deve favorecer a sua permanência como agente, o que assegura também a defesa dos seus interesses.

A literatura sobre Agency Theory (Fama, 1980; Jensen & Meckling, 1976) quando aborda a questão da assimetria informacional, destaca dois problemas que decorrem do primeiro: a seleção adversa e o risco moral.

O risco ou perigo moral (moral hazard) diz respeito à falta de esforço por parte do agente que tem origem na incapacidade do principal de controlar todas as ações do agente. E a seleção adversa (adverse selection) está relacionada ao problema de acesso às informações pelo principal acerca da atuação do agente. Segundo esse conceito, há uma quantidade desigual de informações entre as partes e o principal não tem condições de avaliar se as ações do agente são as mais favoráveis ou não à maximização dos seus interesses.

De acordo com Lambright (2008, p. 210), a seleção adversa ou “informação oculta” se refere a uma situação em que um agente tem informações relevantes que o principal não tem, as quais têm potencialidade de fazer alguma diferença numa tomada de decisão. O principal não tem como saber se o agente tomou as decisões que melhor contribuem para os interesses

do principal. Em se tratando de risco moral, a referida autora utiliza também o termo “ação oculta” para fazer referência à dificuldade que o principal tem de observar e avaliar todas as ações do agente.

Partindo dos conceitos relacionados aos problemas de agência, Martinez (1998) corrobora a existência de desafios para o principal a partir da necessidade de monitorar as atividades do agente. Segundo esse autor, os conceitos de seleção adversa e risco moral são cenários prejudiciais à observação e de julgamento do comportamento dos agentes por parte do principal.

Diante da necessidade de monitorar as ações dos agentes em cenários desfavoráveis, Martinez (1998) definiu quatro principais momentos críticos que demandam atenção especial numa relação de agência:

criação: estruturar uma relação principal-agente que, mediante um contrato eficiente, assegure que as atitudes do agente sejam em defesa dos interesses do principal.

controle: encontrar mecanismos que acompanhem o desempenho do agente, com vistas a assegurar que os interesses do principal sejam defendidos, que as melhores ações sejam realizadas, evitando a ocultação de informações relevantes.

desempenho: mensurar o desempenho do agente e criar mecanismos para verificar o esforço implementado pelo agente;

conclusão: encontrar os melhores mecanismos que assegurem que o rompimento da relação entre o principal e agente ocorra de modo harmonioso, evitando riscos de confrontos entre o agente e o principal em momentos posteriores.

Entre os objetivos do desenvolvimento da teoria da agência está, a partir da compreensão das implicações das relações contratuais, identificar mecanismos capazes de reduzir os conflitos de interesses presentes nas relações de agência. Conforme a recomendação de Martinez (1998) a relação de agência possui momentos relevantes em que mecanismos de governança podem ser adotados com vistas a tornar a relação menos conflituosa e desgastante.

Até então, os conceitos apresentados fazem referência à teoria da agência de modo geral, que costuma remeter à realidade das organizações privadas e com finalidades lucrativas. O Quadro 1 apresenta as principais idéias associadas à teoria da agência.

Quadro 1 – Principais características da Agency Theory

Item Características

Idéias chaves As relações entre principal-agente devem refletir uma organização eficiente (equilíbrio) de informações e de riscos entre as partes.

Unidade de análise Contratos celebrados expressa ou tacitamente que envolvem a delegação de atividades de uma parte (principal) a outra (agente).

Hipóteses humanas Interesses pessoais; racionalidade; aversão ao risco.

Hipóteses Conflito de metas parciais entre as partes (principal e agente);

Eficiência como critério de efetividade;

Assimetria de informações entre principal e agente;

Agente responsável pelas atividades delegadas pelo principal.

Problemas contratuais Agency (risco moral e seleção adversa); compartilhamento de riscos.

Problemas dominantes Conflito entre os objetivos e disposição de assumir riscos do principal e do agente;

Assimetria informacional;

Dificuldade de monitoramento das ações do agente pelo principal.

Custos de agency Despesas de estruturação;

Despesas de monitoramento (sistemas de informações, auditoria); relações contratuais e seus desdobramentos, existem algumas limitações a esta abordagem (LAMBRIGHT, 2008, p. 210). Entre essas limitações, a autora referenciada cita que a teoria admite que as organizações e as pessoas são motivadas principalmente por incentivos financeiros. Essa limitação poderia comprometer a capacidade de explicação de fenômenos que não envolvem variáveis relacionadas com incentivos financeiros.