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3. A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E A FAMILIA

3.2. Assistência Social – PNAS

capitalismo direcione sua reclamação para as organizações sociais que estejam, a seu ver, realizando práticas que geram custos e interfiram no sucesso da nova gestão capitalista.

Segundo Martins (2012), os problemas encontrados nesta nova gestão, iniciada na década de 1970, que envolvem as produções em larga escala, que não dão margem para flexibilidade no planejamento, encontrou uma barreira quase invencível na classe trabalhadora, que estava exigindo um esforço intenso do Estado para manter programas assistenciais, tais como o seguro social, pensões, dentre outros. Estas assistências

“aumentavam sob pressão para manter a legitimidade num momento em que a rigidez na produção restringia expansões da base fiscal para gastos públicos”. (idem, p. 148).

Esta contextualização situa a investida neoconservadora do mundo moderno, pós 1970, que envolve a crise do modelo produtivo capitalista, que coincidiu com o esgotamento dos projetos do Iluminismo do final do século XX – a socialdemocracia clássica e o socialismo, onde o neoliberalismo se posicionou como um modelo salvador dos estados nacionais, na luta pela superação da crise capitalista.

É a partir da Constituição Federal de 1988 e da Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS – que ela passa a ser compreendida como política pública inserida na Seguridade Social, como direito de quem dela necessitar e dever do Estado.

O artigo 203 da CF de 88 define como objetivo desta política:

I – a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;

II – o amparo às crianças e adolescentes carentes;

III – a promoção da integração ao mercado de trabalho;

IV – a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária;

V – a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei (CF, 1988, p. 120).

Esta configuração da Constituição de 1988 faz com que ela se torne um grande marco no que se refere aos direitos dos cidadãos brasileiros, e ocorre em essência devido ao fato da criação de um sistema centralizador de Seguridade Social, que visa uma proteção social mais inclusiva, com redistribuição e democracia.

Entretanto, ainda que estes avanços nas políticas sociais sejam visíveis, por outro lado, a Constituição não deixa de apresentar uma sociabilidade da burguesia, ficando limitada a avanços que envolvem elementos de cunho progressista. Dessa forma, segundo Diniz (2014) pode-se

destacar o seu objetivo, quando trata da Seguridade Social, de oportunizar o bem estar e a justiça sociais. Para tanto, busca ser consolidada a Seguridade Social como um conjunto integrado e articulado de políticas sociais com a finalidade de garantir a universalidade de cobertura e atendimento, a uniformidade e equivalência dos benefícios à toda população, a irredutibilidade do valor dos benefícios e a administração das ações de forma democrática e descentralizada, contando com a participação do conjunto da sociedade.

(idem, p. 94).

A Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, LOAS, em seu art. 1º caracteriza a assistência social como política social “não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas”, tem como um de seus objetivos “a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice.” (LOAS, 1993, p. 6).

Das diretrizes, preconiza que a organização da assistência social tem como base:

a descentralização político-administrativa para os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, e comando único das ações em cada esfera de governo; a participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no

controle das ações em todos os níveis; e a primazia da responsabilidade do Estado na condução da política de assistência social em cada esfera de governo. (LOAS, 1993, art.

5º, p. 9).

No entanto, as diretrizes definidas pela LOAS apenas começam a se concretizar através das normas operacionais básicas (NOB), instituída em outubro de 1997, “prevista para ser instrumento de regulamentação operacional do processo de descentralização, definindo e dando transparência às relações entre os três níveis de governo e as entidades prestadoras de serviços da área” (LIMA, 2003, p.102).

Segundo Lima (2003),

a NOB reafirmou os princípios e diretrizes da LOAS, conceituou o sistema de descentralização e participativo da assistência social, colocou condições para garantir a sua eficiência e eficácia e explicitou a concepção norteadora da descentralização da Assistência Social (Idem, p. 102).

A Política Nacional de Assistência Social (PNAS) é o documento normatizador das ações da assistência social concebidas na LOAS, tem suas diretrizes baseadas na Constituição Federal de 1988 e na LOAS e usa como critério de acesso a esta política a situação de vulnerabilidade social, definida em seu corpo como:

- famílias e indivíduos com perda ou fragilidade de vínculos de afetividade, pertencimento e sociabilidade;

- ciclos de vida;

- identidades estigmatizadas, em termos étnicos, cultural e sexual;

- desvantagem pessoal resultante de deficiências;

- exclusão pela pobreza e/ou no acesso às demais políticas públicas;

- uso de substâncias psicoativas;

- diferentes formas de violência advinda do núcleo familiar, grupos e indivíduos; inserção precária ou não inserção no mercado de trabalho formal ou informal; estratégias e alternativas diferenciadas de sobrevivência que podem representar risco pessoal e social (PNAS, 2004, p. 27).

Ainda que tenham ocorrido progressos na CF de 1988, em relação às anteriores, a prática estabelecida a partir dos anos de 1990 não estava corroborando com a norma positivada, pois o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso trouxe uma proposta neoliberal que incluía o regresso dos diretos cidadãos na flexibilidade dos contratos trabalhistas, na retirada de responsabilidades do Estado na provisão e execução imediata das políticas sociais e no fortalecimento do descrito como terceiro setor, que passa a ser privatizado.

A redução das verbas destinadas às políticas sociais também é uma vertente a se destacar, pois passaram a ser tratadas não com o foco na necessidade dos subalternos, mas conforme o orçamento governamental ditava, ou seja, as necessidades sociais

seriam atendidas somente mediante recursos, o que dava margem para priorizar outras áreas que garantissem um retorno melhor aos interesses capitalistas. Dessa forma, o Estado começa a atuar mediante as emergências, que além de tudo, devem ser específicas e pontuais, estabelecendo assim uma visão neoliberal que tem como grande foco o lucro do grande capital em detrimento dos direitos sociais.

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