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Associação entre a intensidade da exposição à VCI e a incidência

3 MÉTODO

4.5 Associação entre a intensidade da exposição à VCI e a incidência

Ao analisar os resultados, foi constatado que existe a associação entre a intensidade da exposição à vibração de corpo inteiro e a incidência de sintomas de dor e/ou desconforto corporal, rejeitando-se enfim a quinta e última hipótese nula (H0) deste estudo. As variáveis

amplitude de vibração (x2=4,26; p=0,039) e posição corporal adotada pelos sujeitos (x2=6,83; p=0,018) estão associadas à incidência de relatos de dor e/ou desconforto corporal, enquanto para a variável frequência não foi observada associação (x2= 1,24; p=0,112).

O que se pode observar na tabela acima, e que foi confirmado pelo teste de associação, é uma ocorrência maior de sintomas na PE. Nesta posição, a 6mm e a 50Hz e 70Hz de frequência, houve um aumento muito expressivo na incidência de queixas de dor e/ou desconforto corporal em relação à execução a 2mm de amplitude, variando de 9 para 15 (50Hz) e de 12 para 18 (70Hz).

Por outro lado, na PF, nas intensidades de 50Hz e 70Hz a 6mm, apesar de ter aumentado na frequência de 50Hz, o número de queixas foi bastante reduzido (4 e 2, respectivamente) em comparação à PE (15 e 18), o que sugere que o fator que determinou esse resultado foi principalmente a posição corporal adotada pelos sujeitos.

Tais resultados demonstram que a posição corporal adotada exerce forte influência no surgimento de sintomas de dor e/ou desconforto corporal durante a exposição à VCI, ratificando o que foi demonstrado no capítulo anterior quanto à magnitude das vibrações que alcançam o segmento da cabeça, devendo ser sempre monitorada.

Levy e Smith (2005) já haviam confirmado que as alterações nas propriedades elásticas e de amortecimento dos tecidos musculoesqueléticos produzidas por mudanças na posição corporal, a partir da flexão das articulações dos membros inferiores e do deslocamento do peso corporal para a parte anterior do pé, diminuem o risco de ocorrer o fenômeno da ressonância, que é responsável pela incidência destes sintomas, na maioria das vezes.

Apesar de não ter sido observada associação entre a frequência de vibração e a incidência de sintomas de dor e/ou desconforto corporal, identificou-se que a frequência de 35Hz parece provocar estes sintomas de forma semelhante em ambas as amplitudes de deslocamento testadas, com 11 relatos (2mm) e 12 (6mm) para PE; 6 relatos (2mm) e 5 (6mm) para PF. Neste caso, indicando que a influência de uma vibração nesta frequência sobre as estruturas corporais independe da amplitude de vibração, causando algum tipo de desconforto. Uma investigação mais aprofundada, por meio da testagem de uma gama maior de frequências, talvez contribua para a compreensão deste comportamento.

Na Tabela 4 os sintomas relatados estão apresentados de acordo com o grau, considerando-se a amplitude de deslocamento e a frequência de vibração, além da posição corporal adotada.

E conforme descrito na Tabela 5, os sintomas mais comuns foram dores nas costas (n=45), náuseas (n=27) e dores de cabeça (n=18). Cabe ainda ressaltar os relatos de desequilíbrio corporal, os quais foram mais presentes na PE (10 para 1), reafirmando o que foi discutido anteriormente no Tópico 4.1 deste documento. Ou seja, a PF parece ser capaz de otimizar a ativação e estimulação da musculatura envolvidas proporcionando maior estabilidade e equilíbrio corporal sobre a plataforma.

Tabela 4 – Grau dos sintomas de dor e/ou desconforto corporal relatados pelos sujeitos durante a exposição à VCI, nas posições corporais analisadas.

Condição

Posição Estendida Posição Flexionada Ausência (f) Leve (f) Moderado (f) Forte (f) Ausência (f) Leve (f) Moderado (f) Forte (f) 2/20 13 6 1 0 19 1 0 0 2/35 9 5 6 0 14 6 0 0 2/50 11 9 0 0 20 0 0 0 2/70 8 11 1 0 17 3 0 0 6/20 16 3 1 0 15 4 0 1 6/35 8 7 5 0 15 3 2 0 6/50 5 12 3 0 16 2 2 0 6/70 2 9 7 2 18 1 1 0 Total 72 62 24 2 134 20 5 1

Tabela 5 – Sintomas de dor e/ou desconforto corporal relatados pelos sujeitos durante a exposição à VCI, nas posições corporais analisadas.

Tipo de Sintoma PE (f) PF (f) TOTAL (f)

Dor nas costas 35 10 45

Náuseas 20 7 27

Dor de cabeça 15 3 18

Desequilíbrio corporal 10 1 11

Tontura 7 2 9

Dormência nas pernas 5 3 8

Dormência nas costas 3 1 4

Vertigem 2 0 2

Dor abdominal 1 0 1

Dor nos joelhos 1 0 1

Dor nos pés 1 0 1

Formigamento na cervical 1 0 1

Formigamento nas mãos 1 0 1

TOTAL 102 27 129

Outro achado importante é que na PE a presença de sintomas é muito mais evidente do que na PF, com frequências de 102 e 27, respectivamente (tabela 6). Os sintomas ocorreram, em média, três vezes mais na posição corporal com os joelhos estendidos e o peso do corpo no calcanhar, chegando, em algumas situações, a cinco vezes mais, como é o caso de dor de cabeça, onde houve 15 relatos na PE, para 3 na PF.

frequência natural, uma frequência de ressonância. Portanto, é possível que estes resultados tenham relação com a frequência de ressonância da cabeça. Para Komi (2006) está em torno de 18Hz, enquanto para Harris e Piersol (2002) se aproxima de 30Hz. Segundo eles, ao ser exposta a frequências muito próximas da sua frequência natural, ocorrem oscilações amplificadas do segmento da cabeça e seus órgãos internos, podem causar sintomas de dor ou algum tipo de desconforto.

Apesar de alguns estudos (ROELANTS; DELECLUSE; VERSCHUEREN, 2004; BAUTMANS et al.,2005; BEHBOLDI et al, 2011, entre outros) terem encontrado resultados positivos para protocolos aplicados com esta faixa de frequência, todo o conjunto de informações apresentadas até o momento sugere que frequências de 20 a 35Hz, devem ser evitadas, ou serem aplicadas apenas em amplitude mais baixas e, inevitavelmente, serem realizadas na posição correta na tentativa de minimizar possíveis efeitos adversos.

De acordo com Constantino, Pogliacomi e Soncini (2006), vibrações muito intensas podem desencadear diversos efeitos prejudiciais para o corpo humano, como dores de cabeça e hemorragia interna, entre outros e amplitudes muito elevadas também devem ser evitadas, pois tendem a provocar uma aceleração mais intensa nas estruturas corporais. Segundo eles, estes sintomas estão relacionados ainda à frequência vibratória que atinge o segmento da cabeça, devendo- se tomar um cuidado especial para que o estímulo vibratório seja o mais atenuado possível antes que alcance este segmento.

Mester et al. (1999) constataram ainda que frequências de vibração inferiores a 20Hz são mais prejudiciais à saúde, desencadeando um maior número de sintomas nas pessoas submetidas à vibração de corpo inteiro. Frequências abaixo de 20Hz, porém, não foram testadas no presente estudo.

Diante do que foi exposto, fica evidente que o treinamento VCI com plataforma vibratória requer mais cuidados do que o treinamento resistido tradicional, pois é muito fácil ultrapassar o limite que garante a segurança e a saúde dos indivíduos durante o treinamento. Neste sentido, é de extrema importância que os profissionais que atuam neste campo de intervenção tenham conhecimentos reais a respeito da forma correta de manipular a intensidade da vibração gerada pela plataforma, bem como garantir a execução correta e segura por meio do monitoramento da posição corporal adotada sobre esta.

Cabe ressaltar ainda que os resultados apresentados neste estudo não podem ser reproduzidos ou aplicados para pessoas idosas, tendo em vista que nesta população a transmissão vibratória pode ser diferenciada

em função do processo natural de envelhecimento, que tende a tornar as articulações menos complacentes, os tendões e músculos menos rígidos e diminuir consideravelmente a atividade muscular.