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“Até ao fim do mundo, até ao fim da rua” o longe e o perto sempre próximos

Com o jingle “Até ao fim do mundo, até ao fim da rua”, a TSF inscreve na história uma garantia: todos os pontos do mundo que constituam palco de acontecimentos importantes serão visitados, explorados e explicados pela estação. O que a TSF promete ao ouvinte é, não só, a escolha mais correta dos assuntos a desenvolver mas sobretudo a garantia de que distâncias não importam nem são requisito de escolha dos acontecimentos a noticiar - se o motivo de notícia representar a importância necessária, decisão que a estação assume saber discernir, a TSF marcará presença e o ouvinte terá toda a informação, opinião e detalhe possíveis.

A repetição da preposição “até” representa a existência de barreiras – geográficas, económicas, materiais, humanas, etc – que, no entanto, não representam limitação para o trabalho da TSF. Pelo contrário, com a repetição da palavra, pretende-se mostrar que as circunstâncias adversas são bem conhecidas e que, mesmo assim, são contornadas pelos profissionais da estação.

A introdução do contraste pelas palavras “mundo” e “rua” vem apresentar a visão da TSF e relação ao papel de informar o ouvinte: a distância, os custos e os esforços não são entrave à prática do jornalismo. Com estes dois elementos, a TSF assume também que todos os assuntos são potencialmente interessantes, quer sejam internacionais quer muito próximos da sede da estação. O essencial é que sejam importantes para o ouvinte.

Contudo, como em todos os meios de comunicação, tem acontecido desde o aparecimento e intrusão da internet nas redações, uma alteração de rotinas e de práticas na escrita/emissão informativas. Com o acesso extraordinariamente grande à informação que a internet permite, assiste-se, cada vez mais, a um movimento que, na indústria mediática, é já

apelidado de ‘jornalismo sentado’. É uma teoria que compreende como principal premissa a diminuição da saída em reportagem do jornalista em detrimento do aumento de notícias, entrevistas ou outros textos noticiosos maioritária ou totalmente escritas com base noutras fontes existentes na rede global.

Assim, o jornalista pode hoje proceder à sua função de produção noticiosa a partir de um computador sem sequer necessitar de se levantar da cadeira. Este fenómeno começou a verificar-se com as ligações telefónicas para as fontes de informação, que reduziram substancialmente a necessidade de saída do repórter da redação. Mas é com a internet, e a rede gigante de informação que disponibiliza, que o ‘jornalismo sentado’ se acentua.

Esta questão tem, grandes consequências no dia-a-dia do jornalista e também no produto final que realiza. Agarrado à cadeira e ao computador, rege-se mais pela informação que encontra online do que, muitas vezes, pelas suas próprias convicções do que é notícia e do que é o ângulo mais certo. É ainda de relevar a importância, mais uma vez, dos assessores nos dias que correm. Sem sair da redação, o jornalista sujeita-se à informação que recebe e/ou que está disponível; acaba por ceder aos dados que lhe chegam às mãos, dados esses que muitas vezes limitam o seu poder de ação.

Silvino Évora, estudioso cabo-verdiano na área do jornalismo, acredita que nesta arquitetura implementada em cada vez mais meios de comunicação, “os media têm pouco espaço para criarem a sua própria agenda. Assim, a agenda mediática torna-se muito mais influenciável pela agenda pública (sobretudo a política).” (2011:40)

Os noticiários tornam-se, então, mais espelho de informação oficial do que procura de rasgo com o discurso formalizado das grandes instituições nacionais. Reportando assuntos das principais fontes oficiais, diminui a espontaneidade e a força de ação num dos pontos fundamentais executados pelos media: a definição do que está na agenda do dia. Os media vivem, por isso, momentos de fraca imposição no agenda-setting nacional: “perdem protagonismo a favor de uma classe política que define uma estratégia de influência social capaz de conduzir ao controlo da agenda pública.” (Évora, 2011:42)

As dificuldades económicas têm pautado a lista de justificações para as falhas consecutivas na ação dos meios de comunicação e, nomeadamente, para o crescimento do

‘jornalismo sentado’. A falta de dinheiro provoca a diminuição do número de trabalhadores que, por sua vez, provoca o decréscimo na qualidade dos conteúdos veiculados.

Um dos sujeitos na cena mediática que tem vindo a ganhar algum terreno com a conjuntura financeira atual são as agências noticiosas. No caso de Portugal, a Lusa atua sozinha sem qualquer tipo de concorrência (a Reuters e a France Press também são agências contratadas pelos meios portugueses, mas para o espaço português a Lusa tem, de alguma maneira, o monopólio da informação). E, ao passo que um indivíduo ou uma empresa são vistos como meras fontes, as agências noticiosas estão noutro patamar: afiguram-se como instituições especializadas, imbuídas no próprio meio mediático, que permitem ao jornalista de um outro canal saltar etapas da construção noticiosa. A procura de fontes e a construção do texto já foram feitas pela agência. Esta pré-produção da notícia não implica que o jornalista, seja qual for o meio para o qual trabalha, não as procure por si só. Apesar de ter em mãos a informação que a agência enviou, o jornalista podia, pelos seus meios, tentar verificar, comprovar ou investigar mais o assunto. No entanto, por limitações, na sua maioria das vezes, relacionadas com falta de tempo e meios humanos, o jornalista acaba por adotar por completo o ângulo escolhido pela agência assim como as vozes que a agência foi ouvir.

São, por tudo isto, uma escolha cada vez mais recorrente como fonte de notícias, pelas facilidades que trazem aos jornalistas.

As agências de notícias

O peso das agências noticiosas nas redações de canais informativos é já uma realidade incontornável. Veja-se o exemplo de um estudo ao jornal Público em que, durante 3 meses, as suas notícias foram analisadas segundo o autor do texto e as fontes utilizadas (Magalhães, 2011). O estudo revelou que, em três meses, em média, 20,48% das notícias publicadas eram, parcial ou totalmente, escritas por jornalistas da Lusa ou referiam-se a ela no momento de citar as fontes. Em 752 notícias, 154 reportavam à Lusa como base do texto. Dessas 154, 42 eram da total ou parcial autoria de jornalistas da agência.

Esta é a demonstração em números de uma realidade que é cada vez mais constante: a recorrência às agências noticiosas por parte dos jornalistas de vários meios de comunicação. As agências são um recurso que traz variadas vantagens aos media:

 A escolha por assuntos que as agências noticiosas coloquem em destaque permite ao repórter perder menos tempo na procura em jornais, nas televisões, nas agendas públicas de personalidades, etc., dos acontecimentos de relevo naquele dia.

 Aceitando seguir o evento sobre o qual a agência escreve, o repórter pode também dar- se ao luxo de não ter de procurar fontes, dados adicionais relativos ao acontecimento ou informações adicionais sobre ele.

 Optando por seguir o trabalho da agência noticiosa, o repórter consegue as informações necessárias – ainda que, nalguns casos, escassas demais - sem ter de se deslocar ao local ou sequer contactar as fontes telefonicamente.

 Os textos das agências são escritos de acordo com leis universais ao jornalismo que determinam, por exemplo, que o primeiro parágrafo consista no lead e, consequentemente, as principais informações que fizeram daquele acontecimento notícia. Para além deste facto, o texto da agência contém já um enfoque, um ângulo, um conjunto de informações ou opiniões que o jornalista da agência considerou serem os essenciais. Desta forma, o jornalista de um outro meio de comunicação, ao recorrer a um texto da agência recolhe, de uma só vez, as informações mais importantes, os testemunhos das fontes envolvidas e ainda o ângulo segundo o qual poderá escrever a peça, tendo ele a oportunidade de discordar dessa decisão ou aceitar segui-la.

 Como ilustra o estudo acima referido, muitas vezes os textos das agências noticiosas podem ser utilizados por completo. Nestes casos, o trabalho do jornalista que acede aos conteúdos da agência é ainda menor: o texto já vem escrito segundo as regras jornalísticas poupando-lhe ainda mais tempo.

 Uma das principais vantagens para um meio de comunicação em apoiar a sua oferta informativa nas agências noticiosas é, assim, a poupança de recursos humanos, financeiros e a poupança de tempo.

 Sendo a poupança de recursos humanos e materiais uma forma desejável de apoiar o trabalho do dia-a-dia nas publicações das agências de notícias, é mais fácil para o meio de comunicação que a elas recorre acompanhar o ritmo vertiginoso da informação potenciado por televisões com notícias 24 horas por dia e pela implementação da internet.

Exemplo (III) Presença da Lusa

A 7 de dezembro de 2011, o Instituto Nacional de Estatística (INE) revelou alguns dados provisórios relativos aos resultados do recenseamento da população. Para essa apresentação, foram chamados os jornalistas dos variados meios de comunicação portugueses.

Entre os diversos repórteres presentes, estavam representadas as rádios, as televisões e um ou outro jornal. Nos minutos que antecederam a entrada para a sala onde se daria a apresentação dos resultados, o repórter de uma das televisões demonstrou, várias vezes, pouco interesse pessoal e profissional pelo evento e pelos dados que viriam a ser revelados.

Quando os repórteres da Lusa chegaram, com equipamento de filmagem, o referido repórter telefonou para a redação a dar conta de que a agência noticiosa havia chegado e que, por isso, já não se justificava a sua presença ali. Passados poucos minutos, esse repórter e o operador de câmara que o acompanhava saíram da sala e não voltaram.

Sendo que a Lusa estava presente no evento e que o reportaria com recurso a imagem, nem o repórter nem a sua editoria na redação consideraram importante a recolha própria no local, talvez por existir outro, ao mesmo tempo, a garantir a cobertura.

Este é um pequeno exemplo que ilustra bem a tendência no jornalismo de hoje: a procura do facilitismo.

As agências noticiosas, como a Lusa, têm diferentes canais: um deles, para a rádio. A Lusa tem um serviço pago no qual disponibiliza sons para que as estações de rádio que não conseguiram estar presentes nos locais de reportagem, possam noticiar os assuntos.

Estas situações são muito frequentes com conferências de imprensa de dirigentes desportivos, membros do governo, etc.

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