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4 REFERENCIAL TEÓRICO

4.1 MARCO TEÓRICO

4.1.4 Atenção Básica à Saúde

Em relação à organização dos serviços de atenção à saúde do SUS, o enfoque neste estudo será para o âmbito da Atenção Básica à Saúde. Desde que o SUS foi concebido ideológica e legalmente, um movimento para a mudança do modelo de atenção à saúde, priorizando o nível da Atenção Básica, foi impulsionado nos âmbitos da gestão e da organização das ações e serviços de saúde (MARQUES; MENDES, 2002).

O Sistema está organizado em três níveis hierárquicos de atendimento, nível primário, nível secundário e nível terciário. Denominados níveis de complexidade de ações e de serviços, os três níveis estão configurados sob a forma piramidal. Compondo a base da pirâmide temos representada a atenção básica à saúde (COHN; ELIAS, 2005).

No contexto brasileiro, há diferentes compreensões acerca dos conceitos de Atenção Primária e Atenção Básica. Dada a complexidade e heterogeneidade do Brasil há sobreposição de diferentes referenciais adotados nas definições e aplicações dos conceitos e utilização dos termos Atenção Primária, Atenção Primária à Saúde e Atenção Básica (GIL, 2006; MELLO, FONTANELLA, PIVA, 2009)

Neste estudo adotou-se o conceito de Atenção Básica conforme descreve a Portaria 2.488 de 21 de outubro de 2011 que aprovou a Política Nacional de Atenção Básica à Saúde. Inclusive, a referida Portaria considerou os termos Atenção Básica e Atenção Primária à Saúde como termos equivalentes.

A Atenção Básica se caracteriza por:

Um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento a reabilitação, redução

de danos e a manutenção da saúde com o objetivo de desenvolver uma atenção integral que impacte na situação de saúde e autonomia das pessoas e nos determinantes e condicionantes de saúde das coletividades. É desenvolvida por meio do exercício de práticas de cuidado e gestão, democráticas e participativas, sob forma de trabalho em equipe, dirigidas a populações de territórios definidos, pelas quais assume a responsabilidade sanitária, considerando a dinamicidade existente no território em que vivem essas populações. Utiliza tecnologias de cuidado complexas e variadas que devem auxiliar no manejo das demandas e necessidades de saúde de maior frequência e relevância em seu território, observando critérios de risco, vulnerabilidade, resiliência e o imperativo ético de que toda demanda, necessidade de saúde ou sofrimento deve ser acolhida. (BRASIL, 2011, p. 3).

Na promoção do nível da Atenção Básica está implicada a consolidação de um modelo de atenção de caráter integral, com ênfase na promoção e proteção da saúde onde os sujeitos são compreendidos na sua singularidade. Mendes (1999) destacou que a crise na saúde, sobretudo, fundamentou-se na necessidade de reverter a lógica do modelo assistencial biomédico para o modelo de atenção à saúde baseado na produção social da saúde. O referido modelo abrange tudo o que o ser humano cria por meio do conjunto de suas capacidades como tal. Uma sociedade é capaz de produzir e acumular saúde ou produzir socialmente enfermidades. As mudanças das práticas sanitárias propõem estruturar-se sobre o conceito de vigilância à saúde, uma nova forma de resposta social organizada aos problemas de saúde, referenciada pelo conceito positivo de saúde e pelo paradigma da produção social da saúde. A vigilância à saúde apóia-se em estratégias de intervenção individual e coletiva, mediante a combinação de ações de promoção da saúde, prevenção de doenças e acidentes e, ainda, ações de caráter curativo, com base no saber interdisciplinar e no fazer intersetorial.

Os serviços de Atenção Básica estão inscritos numa área territorial próxima da população de referência adscrita com o intuito de desenvolver relações de vinculo e responsabilização entre equipe e usuários, garantindo a continuidade e longitudinalidade do cuidado. É o

contato preferencial dos usuários com a Rede de Atenção á Saúde do SUS. As Redes de Atenção à Saúde (RAS) são arranjos organizativos direcionados as necessidades de saúde da população, são estratégias para o cuidado integral, com serviços articulados de forma complementar (BRASIL, 2011).

A reorganização da assistência à saúde no SUS, com ênfase na Atenção Básica, e o processo de mudança do modelo de atenção apresentou, como marco, a operacionalização do Programa de Saúde da Família (PSF) em 1994. As origens do PSF estão no Programa de Agentes de Saúde (PAS) desenvolvido no Ceará em 1987 e estendido para todo país em 1991, denominado Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e numa experiência de programa de saúde da família, no município de Quixadá/CE. Com estas bases, em 1994, o Ministério da Saúde lançou o PSF como uma política de atenção primária à saúde (MARQUES; MENDES, 2002).

O PSF recebeu status de estratégia para a expansão, consolidação e qualificação da Atenção Básica. Desta forma, o Programa passou a ser denominado Estratégia Saúde da Família (ESF). A Saúde da Família se caracteriza pela composição multiprofissional da equipe, trabalho articulado com os Agentes Comunitários de Saúde (ACS), responsabilidade por uma população especifica e segue os demais princípios que norteiam a atenção à saúde no SUS e na Atenção Básica à Saúde (BRASIL, 2011).

De acordo com o texto estabelecido pela Portaria 2.488/2011, os espaços da Atenção Básica à Saúde são cenários privilegiados para as vivências das práticas do processo de formação em saúde. Isto se deve ao fato de congregarem elementos fundamentais para a integração com a realidade social e suas demandas tangíveis às responsabilidades do setor saúde.