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ARTIGO 3. CONDICIONANTES DA EFICIÊNCIA DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE NA

2.2. Atenção Primária à Saúde no Brasil: Principais Estratégias

Problemas referentes aos custos dos tratamentos, que se elevam à medida que aumenta a complexidade do tratamento, assim como à medida que as tecnologias de saúde avançam, encarecendo os custos de tratamentos, além de problemas relacionados a doenças endêmicas, fazem com que muitos países busquem soluções focadas na prevenção de doenças e promoção da saúde. Neles, a saúde é vista de forma ampla, buscando oferecer à população condições para que elas tenham uma boa qualidade de vida, evitando a ocorrência de doenças e agravos, bem como a disseminação de doenças endêmicas.

No Brasil, entre as tentativas de melhorar a saúde pública no nível da atenção primária à saúde, focando a prevenção e promoção de saúde, destacam-se o Programa Agentes Comunitários de Saúde (PACS), a Estratégia Saúde da Família (ESF) e o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF).

O Programa Agente Comunitário de Saúde é um modelo que tem sido seguido pelo Ministério da Saúde, atuante em vários níveis governamentais. Estados e municípios têm obtido resultados que o transformam em um dos esforços mais eficientes de saúde no mundo (POZ, 2002).

A partir da implementação do PACS, observou-se declínio importante nos índices de mortalidade infantil, ampliação nos níveis de imunização, avaliação de necessidades e recursos e uma interferência profissional mais rápida, quando necessária (POZ, 2002).

O trabalho do agente comunitário não é novo nem restrito ao Brasil; ele possui várias denominações em diferentes países, mas com basicamente as mesmas características e funções. Uma definição aceita internacionalmente diz respeito ao trabalho de pesquisa de um grupo de estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS), que define os ACSs como membros das comunidades onde trabalham, selecionados por elas, onde devem ser responsáveis perante as comunidades pelas atividades em saúde necessárias àquela localidade (LEHMANN; SANDERS, 2007).

No Quadro 8 podem-se visualizar alguns diferentes títulos dados aos ACSs em diversos países.

78 Quadro 8 - Títulos atribuídos aos agentes comunitários de saúde

Títulos País Títulos País

Activista Mozambique Femalemultipurposehealthworker Nepal

Agente comunitario de salud Peru Health promoter Various countries

Agente comunitário de saúde Brazil Kader Indonesia

Anganwadi India Lady healthworker Pakistan

Animatrice Haiti Maternal and child health worker Nepal

Barangayhealthworker Phillippines Monitora Honduras

Basic healthworker India Mothercoordinator Ethiopia

Brigadista Nicaragua Outreacheducator Various countries

Colaborador voluntario Guatemala Paramedicalworker India

Communitydrugdistributor Uganda Promotora Honduras

Communityhealthagent Ethiopia Rural healthmotivator Swaziland

Communityhealth promoter Various countries Shasthoshebika Bangladesh Communityhealthrepresentative Various countries Shasthokarmis(leaders of

shasthoshebika)

Bangladesh

Communityhealthvolunteer Malawi Sevika Nepal

Communityhealthworker Various countries Traditionalbirthattendant Various countries

Communitynutritionworker India Village drug-kit manager Mali

Communityresourceperson Uganda Village healthhelper Kenya

Femalecommunityhealthvolunteer Nepal Village healthworker Various countries

Fonte: LEHMANN; SANDERS, 2007.

No Brasil, o PACS foi criado em 1991 através do convênio entre a Fundação Nacional de Saúde e as Secretarias de Estado da Saúde, com uma equipe constituída na proporção de um enfermeiro coordenador para 30 agentes comunitários de saúde, em uma Unidade Básica de Saúde. A implantação ocorreu primeiramente na região Norte, impactando de forma significativa diante da epidemia de cólera que ocorria, comparando os indicadores com as regiões não cobertas (MARTINES; CHAVES, 2007).

De acordo com Silva e Dalmaso (2002), é possível identificar dois componentes principais da proposta de atuação dos ACSs: i) o primeiro corresponde ao aspecto técnico responsável pelo atendimento aos indivíduos e às famílias e à interferência para prevenção de agravos ou para o acompanhamento de grupos ou dificuldades específicas; ii) e o segundo aspecto possui caráter mais político, abrangendo não somente a solidariedade à população, a inclusão da saúde no contexto comum de vida, mas também o significado de organização da comunidade, de mudança dessas condições.

Entre as atribuições básicas do ACS, tem-se a função de mapear sua área de atuação; cadastrar as famílias; identificar indivíduos e famílias sujeitos a situações de risco; orientar as famílias sobre uso adequado dos serviços de saúde; acompanhar mensalmente as famílias em sua responsabilidade e informar aos demais membros da equipe sobre a situação destas; realizar ações de educação e vigilância à saúde; promover a educação e a mobilização comunitária; revelar para a ESF as necessidades,

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potencialidades e limites da comunidade; e identificar parceiros e recursos existentes na comunidade que possam ser utilizados pela equipe (ARAÚJO; ASSUNÇÃO, 2004).

Guimarães et al. (2013) afirmam que os ACSs devem possuir como habilidade a capacidade de identificar condições que constituem risco para a população, tanto física quanto social, possuir conhecimento acerca das doenças mais comuns para cada faixa etária em sua microárea de atuação, entre outras funções e habilidades:

(1) Identificar as condições do ambiente físico e social que constituem risco para a saúde de indivíduos e populações; (2) Identificar a relação entre os problemas de saúde e as condições de vida com base nas interpretações obtidas; (3) Estabelecer propostas de processos intersetoriais, visando o desenvolvimento do trabalho de promoção da saúde; (4) Analisar os riscos sociais e ambientais à saúde, por micro-áreas de territorialização; (5) Ter conhecimento das doenças mais comuns, por grupo etário, inserção social e distribuição geográfica, com ênfase nas características locais esperadas de atuação (GUIMARÃES et al., 2013, p. 3).

Tulenko et al. (2013) afirmam que o trabalho realizado pelos ACSs impacta de várias formas a comunidade e o serviço de saúde, como pode ser observado no Quadro 9.

Quadro 9 - Contribuições dos agentes comunitários de saúde

Contribuições notáveis dos agentes comunitários de saúde

• Agentes comunitários que são adequadamente treinados, equipados e apoiados podem assumir uma série de tarefas

que, caso contrário, dependem de profissionais de saúde de nível médio.

• ACS estende o cuidado às comunidades carentes, onde se aumenta o acesso a serviços de saúde, promove a

confiança das pessoas à demanda e uso de tais serviços.

• ACS que falam a língua local e se identificam com a comunidade local, transmitindo mensagens de saúde de forma

mais eficaz.

• Treinamento e serviço do ACS contribuem para a capacidade de liderança da comunidade.

• ACS pode ajudar os usuários a evitar viagens para as unidades de saúde, que se traduz em redução de custos de

transporte e tempo.

• ACS pode atender algumas das necessidades de pacientes que não podem sair de casa. Fonte: TULENKO et al., 2013, p. 848.

O PACS, para alcançar essas contribuições, trabalha inserido dentro da atenção primária que contempla a ESF, programa que trabalha conjuntamente com o PACS e tem, entre suas atribuições, a promoção da saúde das comunidades nas quais o agente está inserido (ZANCHETTA et al., 2009).

A Estratégia Saúde da Família teve início após as experiências positivas do Programa de Agentes Comunitários de Saúde, sendo idealizada em 1994. É visto como modelo inovador baseado em uma nova ética social e cultural, consolidando a ideia de promoção da saúde no aspecto da qualidade de vida da população (MACHADO et al., 2007).

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A ESF trabalha com visitas domiciliares como mecanismo de interação no cuidado à saúde, sendo uma ferramenta de intervenção essencial, empregada pelas equipes de saúde como forma de inserção e de conhecimento da realidade de vida da população.

A importância da visita domiciliar evidencia-se pelo fato de ela dispor de condições favoráveis a mudanças, confrontando o modelo centrado na doença, no qual há predominância da pouca interação dos profissionais com os usuários. A superação desse modelo requer dos profissionais de saúde a construção de um pensar e um fazer sustentados na produção social do processo saúde-doença (ALBUQUERQUE; BOSI, 2009).

De acordo com Silva e Rodrigues (2010), a ESF propõe a prestação de uma assistência que vai além do corpo biológico e que seja capaz de alcançar os indivíduos em sua complexidade e integralidade. Esse processo deve abranger ações que incluam o contexto histórico, social, cultural e econômico das pessoas e comunidades, no sentido de promover a saúde delas.

Assim, a Estratégia Saúde da Família possui ampla demanda de intervenções. Para que se possa obter efeito positivo sobre a saúde e a qualidade de vida da população, é necessária a utilização de saberes não apenas específicos da saúde, mas também de outros campos de conhecimento, como cultura, assistência social, gestão, esporte e lazer, a fim de que a APS possa ser mais eficaz e resolutiva.

Assim, com o objetivo de apoiar a Estratégia Saúde da Família, o Ministério da Saúde criou os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), mediante a Portaria GM nº 154, de 24 de janeiro de 2008 (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).

A criação dos NASF se constitui em um elemento importante para a consolidação da Estratégia Saúde da Família e, principalmente, para o desenvolvimento do modelo de trabalho de equipes multiprofissionais. Nos NASF, as diretrizes da integralidade, qualidade, equidade e participação social devem ser concretizadas em ações coletivas focadas no desenvolvimento humano e na promoção da saúde, capazes de produzir saúde no nível individual e coletivo (NASCIMENTO; OLIVEIRA, 2010).

De acordo com Mângia e Lancman (2008), o NASF possui como foco principal o fortalecimento de oito diretrizes básicas de atenção à saúde, atuando em oito áreas estratégicas, sendo elas:

a interdisciplinaridade, a intersetorialidade, o território, a integralidade, o controle social, a educação permanente em saúde, a promoção da saúde e a humanização, atuando em oito áreas estratégicas: atividade física/práticas corporais; práticas integrativas e complementares; reabilitação; alimentação e nutrição; saúde mental; serviço social; saúde da criança, do adolescente e do

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jovem; saúde da mulher e assistência farmacêutica (MÂNGIA; LANCMAN, 2008, p.1 ).

O NASF é formado por uma equipe integrada por profissionais de diferentes áreas de conhecimento, como terapeutas ocupacionais, nutricionistas, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, psicólogos, assistentes sociais, educadores físicos, farmacêuticos, médicos acupunturistas e homeopatas, escolhidos em função das necessidades de saúde, vulnerabilidade socioeconômica e perfil epidemiológico dos diversos territórios onde se encontram os serviços de saúde (NASCIMENTO; OLIVEIRA, 2010).

Observa-se, dessa forma, o empenho do Ministério da Saúde em reforçar as bases da atenção primária, utilizando como fundamento programas que já foram implantados em outros países e obtiveram resultados positivos, como o programa de agentes comunitários de saúde, bem como a implantação de estratégias que visam à promoção da saúde, na qual o conceito de saúde é tratado na sua forma ampliada, abrangendo as condições sociais, psicológicas, culturais e econômicas dos indivíduos e da comunidade.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

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