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A organização dos sistemas dos serviços de saúde abrange três níveis de complexidade principais: o nível primário de atenção a saúde, o nível secundário de atenção a saúde e o nível terciário. Segundo Starfield 2002, o conjunto dos níveis constitui a base para a formação de um sistema de organização de serviços planejados, com o objetivo de responder as necessidades da população.

No Brasil, existe uma frequente discussão no que concerne a terminologia mais adequada para designar o primeiro nível de atenção da saúde. A expressão “Atenção Básica” (AB) é oficializada em todo o território brasileiro, sendo denominada em suas secretarias e documentos oficiais (MELLO; FONTANELLA; DEMARZO, 2009). Segundo o Ministério da Saúde (2006), a AB é definida como:

A Atenção Básica caracteriza-se por um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrangem a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde. É desenvolvida por meio do exercício de práticas gerenciais e sanitárias democráticas e participativas, sob forma de trabalho em equipe, dirigidas a populações de territórios bem delimitados, pelas quais assume a responsabilidade sanitária, considerando a dinamicidade existente no território em que vivem essas populações. Utiliza tecnologias de elevada complexidade e baixa densidade, que devem resolver os problemas de saúde de maior frequência e relevância em seu território e o contato preferencial dos usuários com os sistemas de saúde. Orienta-se pelos princípios da universalidade, da acessibilidade e da coordenação do cuidado, do vínculo e continuidade, da integralidade, da responsabilização, da humanização, da equidade e da participação social. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006)

Nesse sentido, o sujeito é considerado em sua integralidade, complexidade e singularidade, visto que a AB busca a promoção da saúde, a prevenção e o tratamento das patologias, objetivando reduzir os danos, os gastos e o sofrimento do indivíduo.

A Saúde da Família é a estratégia principal para o nível organizacional da AB, que segundo o Ministério da Saúde (2006), tem como fundamentos básicos: fornecer o acesso universal, contínuo e de qualidade a serviços de saúde, caracterizados como a porta de entrada do sistema de saúde; praticar a integralidade das ações programáticas, trabalhar de forma multiprofssional e articular as ações voltadas para a promoção, reabilitação, tratamento e vigilância a saúde; garantir a continuidade e a longitudinalidade das ações do cuidado, por intermédio de relações de vínculo entre as equipes e a comunidade; promover a valorização dos profissionais de saúde no que concerne a sua formação, atualização e capacitação profissional; realizar a avaliação dos resultados alcançados e estimular a participação social.

Nesta perspectiva, espera-se que as unidades de atenção básica sejam a porta de entrada para a assistência a saúde da população, promovendo o acesso às pessoas com lesões e diagnóstico precoce, garantindo acompanhamento e tratamento. A proposta é melhorar a assistência das pessoas com UV, reduzir o tempo de tratamento, diminuir as recidivâncias e evitar as complicações decorrentes dessas lesões.

No âmbito internacional, há uma tendência para a utilização do termo “Atenção Primária a Saúde” (APS), referente a “Primary Health Care” (PHC), em vez de Atenção Básica, que segundo a Declaração Oficial da Conferência de Alma Ata (1978), define a APS como:

Os cuidados primários de saúde são cuidados essenciais de saúde baseados em métodos e tecnologias práticas, cientificamente bem fundamentadas e socialmente aceitáveis, colocadas ao alcance universal de indivíduos e famílias da comunidade, mediante sua plena participação e a um custo que a comunidade e o país possam manter em cada fase de seu desenvolvimento, no espírito de autoconfiança e autonomia. Fazem parte integrante tanto do sistema de saúde do País, do qual constituem a função central e o foco principal, quanto do desenvolvimento social e econômico global da comunidade. Representam o primeiro nível de contato dos indivíduos, da família e da comunidade com o sistema nacional de saúde, pelo qual os cuidados de saúde são levados o mais proximamente possível aos lugares onde as pessoas vivem e trabalham, e se constituem no primeiro elemento de um continuado processo de assistência à saúde (WHO/ UNICEF,1978 apud Gusso; Bensenor; Olmos, 2012).

A APS pode ser definida também, como uma “filosofia” que permeia o sistema de saúde. É, portanto, uma forma de organização dos serviços de saúde que responde a um modelo

assistencial, por onde se integra todos os aspectos desses serviços, além de ser o local responsável pela organização do cuidado à saúde dos indivíduos e da comunidade ao longo do tempo (CONASS, 2007).

Mesmo sem estar presente em documentos oficiais brasileiros, APS é provavelmente a expressão que se enquadra com maior propriedade, no que concerne a universalidade e participação social no Sistema Único de Saúde (SUS) (MELLO; FONTANELLA; DEMARZO, 2009).

Nesse sentido, adotou-se para esta pesquisa, a expressão “Atenção Primária a Saúde”, proposta por Starfield (2002) que considera o conceito de APS compatível com o da AB, com a vantagem de ser mais ampla, tendo em vista que acrescenta dimensões essenciais, como coordenação, vínculo com o usuário, enfoque familiar e orientação comunitária, aos elementos já presentes no conceito adotado pelo ministério da Saúde, como porta de entrada e elenco de serviços (ALMEIDA; MACINKO, 2006). Assim, Starfield (2002), define a APS como sendo àquele nível de atenção do sistema de saúde que funciona como Porta de Entrada para todas as necessidades de saúde das pessoas. A atenção primária aborda os problemas mais comuns da comunidade proporcionando serviços de promoção, prevenção, cura e reabilitação para maximizar a saúde e o bem -estar. É responsável por coordenar, organizar e racionalizar o uso de todos os recursos, tanto básicos como especializados, direcionados para a promoção, manutenção e melhora da saúde (STARFIELD, 2002).