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1 INTRODUÇÃO

1.6 Considerações sobre envelhecimento

1.7.4 Atendimento domiciliar

As novas configurações demográficas do país imprimem a necessidade de novos modelos de assistência na área da saúde. Colodetti et al. (2005, p.5), aponta que “com o crescimento da população idosa, a preocupação em relação à capacidade funcional vem surgindo como novo destaque para a estimativa da saúde desse segmento etário”. Nesse sentido, a assistência domiciliar é vista como um conjunto de ações preventivas, conforme dispõe a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Assim, acentua-se a preocupação em abordar o atendimento fisioterapêutico domiciliar de maneira sistematizada, enquanto área de atuação profissional determinado por especificidades distintas das práticas desenvolvidas nas áreas de atuação regulamentadas pelo Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO).

Na prática, a atuação no campo domiciliar aponta também que muitas pessoas demandam este modelo devido a praticidade de ser atendido em casa, complementando Alencar (2008, p.12), que considera a assistência em domicilio “uma atividade básica, que é realizada em atenção primária à saúde para responder às necessidades de assistência das pessoas, que de forma temporária ou permanente estão incapacitadas de se deslocar aos

serviços de saúde”. Entretanto, esta visão do atendimento domiciliar desconsidera pacientes

que se utilizam deste serviço não somente como alternativa ao atendimento disponibilizado pela saúde suplementar (convênios) e saúde pública (SUS) ou por impedimentos, mas por buscar a qualidade do atendimento individualizado.

Nesta perspectiva, o atendimento domiciliar aponta em direção aos novos modelos de prestação de serviço em saúde. Contudo, Almeida (2012, p.9), ressalta que “ainda é limitado o debate e o investimento político na atenção domiciliar como alternativa para os processos de trabalho e no modo de produzir o cuidado, caracterizando o caráter substitutivo das práticas

em saúde”. Atualmente busca-se a organização do serviço domiciliar em diferentes frentes.

Mesmo discreta essa organização se mostra mais eficientemente organizada por parte de instituições e empresas/convênios, do que por parte de profissionais liberais, autônomos. A demanda latente nesse campo de atuação vem sendo cada vez mais ampliada, acentuada pelo aumento da população idosa no país.

A área de atuação domiciliar requer do profissional uma articulação dos saberes obtidos na formação acadêmica e os obtidos com a prática efetiva, uma vez que se desenvolve em ambiente e contexto diferenciados, sujeito a interferências específicas, particulares, muito diferente do consultório/clínica ou hospital/instituição. A lógica do tempo e do espaço sofre constantes alterações. A lógica de o paciente procurar o profissional também é distinta, pois o profissional é quem vai ao encontro do paciente e dá o primeiro passo em estabelecer a relação profissional-paciente. Esta nova relação interpessoal se desenvolve em um ambiente que não pertence ao profissional, pois se trata da residência do paciente. É um ambiente que demanda interação com a família e com os demais (cuidadores e outros prestadores de serviço) que frequentam este espaço do paciente. Ademais, trata-se de um espaço não adaptado ao trabalho fisioterapêutico, mesclando o espaço-cotidiano da pessoa com o espaço- tratamento do paciente.

Importante ressaltar que todas as particularidades apresentadas no contexto da atuação domiciliar demandam estudos próprios, que demandam outros saberes, para além do campo da saúde. No contexto acadêmico, mostra relevante ampliar os estudos sobre essa área de atuação domiciliar, desenvolvendo referenciais teóricos que orientem a prática para a promoção de um atendimento contextualizado, que propicie o desenvolvimento motor e o desempenho das capacidades funcionais. Acima de tudo, referenciais que auxiliem uma prática profissional que potencialize o desenvolvimento do ser humano em tratamento fisioterapêutico domiciliar.

É preciso refletir, enfrentar e buscar vencer os desafios impostos ao processo da formação profissional no que diz respeito à atuação fisioterapêutica domiciliar, em especial com idosos. Esta prática, não pensada e não organizada na formação acadêmica como um campo específico de atuação, porém descrita nos referenciais de honorários da profissão, desenvolve-se marginalizada, muitas vezes apenas como alternativa para aprimorar o conhecimento do profissional recém-formado, para pacientes que não têm acessibilidade aos locais de tratamento ou como possibilidade de inserção no campo de trabalho da rede pública e privada.

É necessário preencher a lacuna do atendimento domiciliar na grade curricular, na formação profissional, na produção e na divulgação deste conhecimento e na contextualização desta prática em fisioterapia. A representação do profissional de fisioterapia que atua de forma liberal, autônoma é inexpressiva socialmente, refletindo na falta de organização dessa prática, reforçando a marginalização desse saber no contexto do atendimento domiciliar. Quando esta prática não condiz com o modelo ensinado na graduação, constata-se essa marginalização na escassez de referencial teórico e na ausência de comprometimento científico com a prática fisioterapêutica, evidente na narrativa dos pacientes durante o tratamento, relatando as condutas anteriores de outros profissionais da fisioterapia. Entende-se aqui a importância de mais estudos e oportunidades de formação profissional sobre o tema fisioterapia domiciliar e sobre a contextualização dessa prática profissional.

Em uma pesquisa de revisão bibliográfica, por meio da base de dados científicos SCIELO realizada com a palavra fisioterapia, no ano de 2011, foram encontradas 232 referências, das quais em nenhum dos títulos dos artigos foram encontrados temas relacionados à fisioterapia no âmbito do profissional liberal/autônomo. Os poucos artigos encontrados que faziam uma aproximação ao assunto fisioterapia domiciliar diziam respeito ao profissional vinculado a alguma instituição ou empresa.

Portes et al. (2011) realizou uma revisão da literatura brasileira sobre a atuação do fisioterapeuta na atenção básica à saúde. O autor encontrou nove artigos que abordam a atividade domiciliar, relacionadas aos pacientes que apresentam impossibilidade de se deslocar até as unidades de saúde. Para uma postura ética e a prática do papel social da fisioterapia, na atuação domiciliar, se faz necessário compreender as particularidades da abordagem fisioterapêutica nesse contexto. Busca-se fundamentar a prática profissional da fisioterapia domiciliar sob os preceitos da ética e do seu papel social no trabalho direto com o ser humano e com o seu movimento. Essa questão faz sentido também em relação ao novo conceito de saúde - um “estado de completo bem-estar, físico, mental e social”, elaborado

pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que ressalta a importância das variáveis biológicas, psicológicas e sociais enquanto determinantes de saúde. O novo conceito também revela a necessidade de adequação do sistema de saúde para as novas realidades apresentadas aos profissionais que atuam na área, em diferentes contextos como, por exemplo, o domiciliar.

Com base nos preceitos éticos e no papel social da profissão considera-se a importância de uma leitura mais ampliada da pessoa (aspectos físicos, sociais e psicológicos) durante a abordagem, a avaliação e a conduta fisioterapêutica. Entende-se aqui que a relação fisioterapeuta-paciente deve se estabelecer como base para o desenvolvimento de todo o tratamento proposto. Toda a particularidade da atuação domiciliar vem reforçar a importância de uma prática profissional preocupada com o paciente e com o mundo que o cerca e, aqui, a fisioterapia domiciliar interage com a perspectiva humanizada em sua prática e aproxima-se na interação com outras disciplinas.