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Após o Brasil ter aderido ao texto (Decreto Nº 3.956/2001) que foi estabelecido na Convenção de Guatemala, em 1999, com objetivos claros de “prevenir e eliminar todas as formas de discriminação contra as pessoas portadoras de deficiência” ocorreu a implantação de diretrizes para ampliar o acesso das pessoas com deficiência à educação.

Desde 2001 vem ocorrendo forte movimentação, no Brasil, a fim de que sejam estabelecidas diretrizes em favor da política de educação especial, na perspectiva da educação inclusiva. Vale destacar, aqui, algumas dentre as quais foram implementadas para o delineamento do Atendimento Educacional Especializado (AEE), o qual se constitui num serviço pedagógico complementar ou suplementar, oferecido ao aluno com necessidades educacionais especiais, como apoio à educação regular básica.

O Art. 2º da Resolução Nº 4/2009, define sua função como:

O AEE tem como função complementar ou suplementar a formação do aluno por meio da disponibilização de serviços, recursos de acessibilidade e estratégias que eliminem as barreiras para sua plena participação na sociedade e desenvolvimento de sua aprendizagem. (CNE/CEB Nº 4/2009).

Em 2001, por meio da Lei n°. 10.172/01, foi aprovado o Plano Nacional de Educação, o qual estabeleceu vinte e sete objetivos e metas para a educação das pessoas com necessidades educacionais especiais. No mesmo ano, foram instituídas as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, por meio da Resolução CNE/CEB Nº 2, de 11 de fevereiro de 2001 (BRASIL, 2001), que define em seu Art. 5º, quem são os alunos que se beneficiam com os apoios da Educação Especial, como segue:

Art. 5º Consideram-se educandos com necessidades educacionais especiais os que, durante o processo educacional, apresentarem:

I - dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das atividades curriculares, compreendidas em dois grupos:

a) aquelas não vinculadas a uma causa orgânica específica;

b) aquelas relacionadas a condições, disfunções, limitações ou deficiências; II – dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais alunos, demandando a utilização de linguagens e códigos aplicáveis;

III - altas habilidades/super dotação, grande facilidade de aprendizagem que os levem a dominar rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes. (CNE/CEB, 2001).

Uma vez definido quem são os alunos com necessidades educacionais especiais, ficou determinado que o atendimento escolar dos mesmos tivesse início na educação infantil, assegurando os serviços de educação especial sempre que houvesse necessidade, mediante devida avaliação, de atendimento educacional especializado.

Em 2006, aconteceu a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, conforme citada acima, a qual tinha por finalidade proteger os direitos das pessoas com deficiência.Em 2007 o Ministério da Educação/Secretaria de Educação Especial (MEC/SEE) apresenta a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, com intuito de constituir políticas que promovam educação de qualidade para todos os alunos, garantindo o acesso, a participação e a aprendizagem de todos, assegurando:

 Transversalidade da educação especial desde a educação infantil até a educação superior;

 Atendimento educacional especializado;

 Continuidade da escolarização nos níveis mais elevados do ensino;  Formação de professores para o atendimento educacional especializado e

demais profissionais da educação para a inclusão escolar;  Participação da família e da comunidade;

 Acessibilidade urbanística, arquitetônica, nos mobiliários e equipamentos, nos transportes, na comunicação e informação; e

 Articulação intersetorial na implementação das políticas públicas. (BRASIL,2007).

Também em 2007 foi aprovado o Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE, que dispões de inúmeras ações em prol da melhoria da educação do país, e no que se refere à educação especial, determina a ampliação da quantidade das salas de recursos multifuncionais (equipamentos para a Educação Especial), ou seja, espaço para a oferta do Atendimento Educacional Especializado (AEE), além da capacitação de professores para atuação nessas salas.

Assim, em 2007, o Ministério da Educação e a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (MEC/SECADI) instituiu o Programa Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais (PORTARIA NORMATIVA Nº-

13/2007), a fim de apoiar a organização dos sistemas educacionais públicos para a oferta do AEE, buscando assegurar o acesso dos alunos público alvo a esse atendimento, além de fortalecer a inclusão destes nas salas de aulas regulares. Em seu Artigo 1º Parágrafo Único, apresenta a configuração da sala de recurso multifuncional como sendo “um espaço organizado com equipamentos de informática, ajudas técnicas, materiais pedagógicos e mobiliários adaptados, para o atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos”.

Em setembro de 2008, o MEC, por meio do Decreto 6.571/2008, dispõe sobre o Atendimento Educacional Especializado, e, como já expresso anteriormente, foi revogado pelo Decreto 7.611/2011, que dispõe sobre a educação especial e o atendimento educacional especializado.

Quanto às características do professor e do aluno referente ao Atendimento Educacional Especializado, foi apresentada a Resolução CNE/CEB Nº. 04/2009, que define, em seu Artigo 12, que o professor, para atuar no Atendimento Educacional Especializado (AEE), “deve ter uma formação inicial que o habilite para o exercício da docência, e formação específica para a Educação Especial”. Em seu Artigo 13, descreve suas atribuições, como segue:

I – identificar, elaborar, produzir e organizar serviços, recursos pedagógicos, de acessibilidade e estratégias considerando as necessidades específicas dos alunos público-alvo da Educação Especial;

II – elaborar e executar plano de Atendimento Educacional Especializado, avaliando a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagógicos e de acessibilidade;

III – organizar o tipo e o número de atendimentos aos alunos na sala de recursos multifuncionais;

IV – acompanhar a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagógicos e de acessibilidade na sala de aula comum do ensino regular, bem como em outros ambientes da escola;

V – estabelecer parcerias com as áreas intersetoriais na elaboração de estratégias e na disponibilização de recursos de acessibilidade;

VI – orientar professores e famílias sobre os recursos pedagógicos e de acessibilidade utilizados pelo aluno;

VII – ensinar e usar a tecnologia assistiva de forma a ampliar habilidades funcionais dos alunos, promovendo autonomia e participação;

VIII – estabelecer articulação com os professores da sala de aula comum, visando à disponibilização dos serviços, dos recursos pedagógicos e de acessibilidade e das estratégias que promovem a participação dos alunos nas atividades escolares. (BRASIL, CNE/CEB, 2009).

Assim, almeja-se que o Atendimento Educacional Especializado se configure num conjunto de atividades, recursos pedagógicos e de acessibilidade a serem prestados de forma complementar ou suplementar como apoio à formação dos alunos no ensino regular, visando a identificação e estruturação dos recursos e estratégias pedagógicas que possibilitem a eliminação das barreiras que impeçam a plena participação dos alunos, considerando suas especificidades e o desenvolvimento de sua aprendizagem. Espera-se que esse apoio aconteça de maneira articulada com a proposta do ensino regular, com atividades diferenciadas das desenvolvidas em sala de aula regular (BRASIL, CNE/CEB, 2009), mas em conformidade com as necessidades educacionais especiais apresentadas pelo educando.

Em seu Artigo 4º, define o público-alvo desse atendimento como:

I – Alunos com deficiência: aqueles que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, intelectual, mental ou sensorial.

II – Alunos com transtornos globais do desenvolvimento: aqueles que apresentam um quadro de alterações no desenvolvimento neuropsicomotor, comprometimento nas relações sociais, na comunicação ou estereotipias motoras. Incluem-se nessa definição alunos com autismo clássico, síndrome de Asperger, síndrome de Rett, transtorno desintegrativo da infância (psicoses) e transtornos invasivos sem outra especificação.

III – Alunos com altas habilidades/superdotação: aqueles que apresentam um potencial elevado e grande envolvimento com as áreas do conhecimento humano, isoladas ou combinadas: intelectual, liderança, psicomotora, artes e criatividade. (MEC/SECADI, 2007).

Vale aqui ressaltar que, em dezembro de 2012, foi instituída a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, pela Lei nº 12.764, em prol da garantia de direitos e de condições da pessoa com TEA, instituindo a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista e estabelecendo diretrizes para sua consecução, e, em seu parágrafo 2°, considerando a pessoa com transtorno do espectro autista como pessoa com deficiência, para todos os efeitos legais (BRASIL, 2012).

Em seu Art. 3º, estão expostos os direitos da pessoa com TEA, direitos comuns a qualquer cidadão brasileiro, tais como, vida digna, integridade física e moral, segurança, lazer, acesso às ações e aos serviços da saúde; bem como acesso à

educação e ao ensino profissionalizante. Porém, no que diz respeito à educação, apresenta, em parágrafo único, condição diferenciada:

Parágrafo único. Em casos de comprovada necessidade, a pessoa com transtorno do espectro autista incluída nas classes comuns de ensino regular, nos termos do inciso IV do art. 2º, terá direito a acompanhante especializado. (BRASIL, 2012).

Como exposto até então, a inclusão vem sendo alicerçada pelas diretrizes nacionais, que, muitas vezes, se efetivam mais pelo compromisso de responder ao que está sendo imposto, e menos em respostas às necessidades educacionais propriamente ditas, o que pode gerar uma possível seletividade, uma vez que a falta de estrutura não contempla a demanda de todos. Cury (2008) descreve esse cenário dizendo que “se a inserção do direito à educação tornou-se, hoje, um princípio e uma norma do ordenamento jurídico brasileiro, e se a atual realidade indica uma inclusão excludente e seletiva...”, podemos afirmar que, ainda não existe uma educação voltada às condições de equiparação de oportunidades.

Diante do exposto, o que se espera da política de inclusão escolar é que a sua proposta tenha como base a igualdade de oportunidades; que ela possa superar as inúmeras questões conceituais, os embates e contornos políticos, para que a inclusão escolar não se resuma apenas à garantia de acesso do aluno com deficiência ao espaço escolar, sem a providência efetiva da educação de qualidade. Muito já se conquistou neste setor, mas sabemos que muito ainda precisa ser feito para alavancar a educação rumo à qualidade.

Traçou-se até aqui, um breve panorama das políticas de inclusão de ordem nacional. Pretende-se, adiante, apresentar, brevemente, o município de Barueri, campo empírico dessa da pesquisa, tal como suas diretrizes para o desenvolvimento da educação especial na perspectiva da educação inclusiva.