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3 O SERVIÇO DE ATER

3.2 A ATER no mundo

Jones e Garforth (1997) descreveram a origem, o desenvolvimento e o futuro da extensão rural, proporcionando uma reflexão muito oportuna sobre esse assunto, ao retratarem alguns aspectos da trajetória histórica da ATER em diversos países do mundo. Segundo esses autores, o uso do termo “extensão” tem sua origem no desenvolvimento educacional ocorrido na Inglaterra durante a segunda metade do século XIX. Nesse período, as discussões tiveram início nas universidades de Oxford e de Cambridge, sobre como essas instituições poderiam colaborar com as necessidades educacionais das populações em rápido crescimento na área industrial urbana daquele país.

As primeiras iniciativas foram designadas como “extensão universitária”, as quais tiveram êxito e despertaram o interesse da comunidade acadêmica, fato que colaborou para a consolidação de movimentos similares antes do final do século. Inicialmente, as ações eram desenvolvidas por meio de palestras com temáticas específicas. Os primeiros temas voltados aos assuntos agrícolas foram desenvolvidos por professores itinerantes nas zonas rurais (JONES, 1997).

O crescimento e sucesso desse trabalho na Grã-Bretanha influenciou o início de atividade similar nos Estados Unidos da América. Nesse país, o serviço de

extensão rural teve sua origem no Land Grant College Act1 em 1862, que transferiu

às universidades americanas a responsabilidade de ensinar aos agricultores os resultados das pesquisas, no sentido de implantar a agricultura mecanizada. O trabalho externo desenvolvido por essas escolas agrícolas buscou atender às necessidades de famílias de agricultores, gerando muita repercussão e grandes impactos, e isso fez com que ele se tornasse formalmente organizado já àquela época. Esse trabalho empregou o termo extensão, usado até os dias atuais.

No entanto, dois acontecimentos ocorridos após 1850 foram considerados significativos para o desenvolvimento da extensão rural nos Estados Unidos. O primeiro foi a Lei Morrill de 1862, assinada pelo Presidente Lincoln, a qual determinava a criação de faculdades estaduais “da agricultura e das artes mecânicas”. O outro evento foi o início da organização dos institutos dos agricultores, os quais trabalhavam temas de importância para agricultura no período. No final do século XIX, o governo central direcionou recursos federais para a criação de escolas agrícolas no restante dos Estados Unidos, sendo que os institutos dos agricultores se estenderam por todo o país, tornando-se uma instituição respeitada e com grande capilaridade. Esses fatos colaboraram para que, em 1914, fosse aprovada a Lei Smith-Lever, a qual instituiu o Serviço de Extensão Cooperativa, uma cooperação tripartite dos governos federal, estadual e local. Tal serviço funcionou como agência de extensão com a finalidade de auxiliar na difusão de temas considerados úteis e práticos, bem como de informações sobre assuntos relacionados à economia da agricultura e à economia doméstica.

Almeida (1989, p. 18), retratando os primórdios da Extensão Rural nos Estados Unidos, posicionou-se da seguinte forma:

O termo "extensão agrícola" nasceu nos Estados Unidos, no final do século passado. Os programas de extensão agrícola eram lançados, independentemente, em diversas partes do país como respostas às necessidades locais e eram patrocinados por diversos órgãos. Em lowa, por exemplo, a extensão agrícola se articulou em volta de dois estímulos. De um lado os agricultores fizeram pressão sobre os colégios agrícolas estaduais para que seus professores fossem enviados a localidades rurais para ensinar diretamente os agricultores, em vez de restringir o ensino aos alunos dos colégios. Por outro lado, os produtores rurais se organizaram em associações para discutir os problemas agrícolas e para ir à busca das

1 Land Grand College é uma instituição de ensino superior nos Estados Unidos, criada por um estado

para receber os benefícios dos Atos Morrill de 1862 e 1890. Trata-se da concepção que influenciou a criação das grandes escolas de agronomia, como é o caso da FAEM/UFPEL, fundada em dezembro de 1883.

informações e da assistência. O interesse dos comerciantes e banqueiros era baseado na premissa de que a sua prosperidade dependia da prosperidade dos agricultores. Sendo assim, valia a pena — visando o aumento da produção e da renda dos produtores rurais — financiar um agente de extensão para ajudá-los.

O mesmo autor relatou que a extensão rural, ou a prática extensionista, foi introduzida nos países em desenvolvimento nas décadas de 1950 para 1960, com exceção da África, em que a mesma foi estabelecida a partir de 1970.

Jones (1997) assegura que o primeiro sistema de extensão rural foi organizado na Irlanda, em meados do século XIX, durante uma crise motivada por dificuldades dos agricultores da época na condução das plantações de batata. Como essa cultura representava, àquela época, a principal fonte de alimentação dos pequenos agricultores, as consequências da queda na produção resultaram em grandes dificuldades, induzindo o governo a instituir diversos planos de caráter emergencial com o objetivo de amenizar a fome, diminuir o índice de desemprego e prestar apoio aos pequenos produtores falidos.

Segundo Jones e Garforth (1997, p. 11):

O então governador da Irlanda, Conde de Clarendon, através de uma carta endereçada ao Duque de Leinter, então presidente da Real Sociedade de Agricultura da Irlanda, apresentou um projeto de treinamento prático para pequenos produtores rurais atingidos pela fome. Além de ter apresentado detalhes quanto ao conteúdo dos treinamentos e o plano de financiamento, apresentava também o perfil dos instrutores a serem escolhidos e a definição da clientela a ser atendida.

A ideia central dessa proposta era organizar um trabalho voltado para a capacitação dos agricultores, a fim de que esses viessem a adotar novas práticas agrícolas que pudessem amenizar os problemas verificados e, consequentemente, aumentar a produção de alimentos. Para a implantação dessa iniciativa, foi selecionado um grupo de pessoas que possuíssem conhecimentos práticos dos sistemas agrícolas aperfeiçoados, aplicáveis à Irlanda, em condições de serem assimilados pelos pequenos agricultores. Os professores utilizavam palestras e visitas, ficando conhecidos como instrutores itinerantes.

Na Rússia, foi utilizado o termo “agronomia social” para denominar uma experiência de extensão rural existente no país entre o final do século XIX.e começo do século XX. Chayanov, expoente máximo da Escola de Organização da Produção e grande estudioso de questões relativas à agricultura familiar, incorporou alguns

elementos observados em outros países a fim de consolidar a extensão rural russa. As melhorias propostas acarretaram um grande efeito, sobretudo ao mostrar a importância do cooperativismo como instrumento de desenvolvimento de pequenas explorações. As características de interesse agronômico e social regem às decisões em nível local, considerando as especificidades naturais e sociais, bem como a existência de equipes multidisciplinares para fazer o diagnóstico das decisões. (SÁNCHEZ DE PUERTA, 1994).

Essas contribuições auxiliaram para construir e consolidar esse tipo de serviço, que posteriormente foi implantado em diversos países do mundo.