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Capítulo V – Conflitos e limites

2. Quais os principais limites ao recurso das presunções? aspetos gerais

2.1 Casos em que não é admissível a prova testemunhal

2.1.3 Os atestados das Juntas de Freguesia

As Juntas de Freguesia têm a competência de passar atestados, em nome das mesmas, mas com a assinatura do seu presidente. Esta competência encontra-se consagrada pela Lei nº 135/99 de 22 de Abril, com as alterações do decreto-lei 73/2014 de 13 de Maio, e pela Lei 75/2013 de 12 de Setembro, com as alterações introduzidas pela lei 69/2015 de 16 de Julho.

O artigo 16º alínea rr) da Lei 69/2015 de 16 de Julho, consagra que é da competência material da Junta de freguesia a emissão de atestados. A lei 135/99 de 22 de Abril, é mais específica, consagrando que “Os atestados de residência, vida e situação económica dos cidadãos, bem como os termos de identidade e justificação administrativa passados pelas juntas de freguesia, nos termos das alíneas qq) e rr) do nº1 do artigo 16º da Lei 75/2013 de 12 de Setembro, devem ser emitidos desde que qualquer dos membros do respectivo executivo ou da assembleia de freguesia tenha conhecimento directo dos factos a atestar, ou quando a sua prova seja feita por testemunho oral ou escrito de dois cidadãos eleitores recenseados na freguesia ou ainda por outro meio legalmente admissível.”

A força probatória destes atestados encontra-se consagrada no artigo 371º do Código Civil, por serem considerados documentos autênticos, fazendo prova plena dos factos neles atestados.

Mas os atestados apenas terão força probatória plena sob a condicionante do subscritor declarar de forma expressa o conhecimento direto e pessoal, pois desta forma, para todos os efeitos, os atestados terão por base a perceção direta dos factos que os consubstanciam.

Por outro lado, no caso de serem passados atestados baseados em declarações do próprio requerente, em testemunhos orais ou escritos de cidadãos, estes apenas terão prova plena sobre o facto de terem sido produzidas tais declarações perante o subscritor. Posto isto, o conteúdo do atestado carece desta força probatória essencialmente no que toca á veracidade, falsidade, honestidade ou efeito das declarações emitidas.

Relativamente a esta questão. Luís Filipe Pires de Sousa dá-nos o exemplo da união de facto, que pode ser provada por declaração, desde que seja emitida pela própria Junta de

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freguesia de residência do casal.230 Este tipo de atestado apenas faz prova plena que o casal prestou tais declarações, e não da veracidade do conteúdo das mesmas, ou seja se é mesmo verdadeira a união de facto.

A proteção das uniões de facto encontra-se consagrada na lei nº7/2001 de 11 de Maio, com as alterações da lei nº23/2010 de 30 de Agosto. Nos termos do artigo 2º-A nº2, do referido diploma legal, a prova da união de facto pode ser feita por declaração emitida pela junta de freguesia competente, ou seja de residência do casal, mas acompanhada com uma declaração sob o compromisso de honra, elaborada e assinada por ambos, em que declaram a convivência conjunta a mais de dois anos, e pelas certidões de nascimento de ambos. Sendo que, a prestação de falsas declarações podem ser punidas pela lei penal.

No caso de um processo judicial, o juiz pode duvidar do conteúdo da declaração emitida pela junta de freguesia a declarar a união de facto, devido a provas contrárias a mesma, e exigir que seja feita prova através de outro meio, como por exemplo o IRS conjunto, já que o artigo nº2-A nº1, consagra que a união de facto pode ser provada por qualquer outro meio de prova, desde que seja admissível legalmente.

Mas caso a dúvida se mantenha com devido fundamento, para beneficio dos efeitos previstos no artigo 3º alíneas e), f) e g), a entidade competente, que neste caso será a Segurança Social, deverá promover a uma ação judicial que possa comprovar a existência da união de facto, ou seja, uma ação judicial que simples apreciação, pois apenas pretende apreciar e comprovar a existência da mesma, nos termos do artigo 6º nº2, da lei supra identificada.

Segundo António Montalvão Machado e Paulo Pimenta, as ações apreciação são uma de reação a uma situação de incerteza no que toca a existência ou não existência de um determinado direito ou facto. Posto isto, apenas se pretende que seja declarada a existência ou não desse direito ou facto, e não uma condenação.231

José Alberto dos Reis, acrescenta ainda que, neste tipo de ações, não podemos imputar ao réu o incumprimento de qualquer obrigação, não sendo portanto exigida qualquer prestação, pois o autor da ação apenas pretende clarificar e colocar fim a questão que gera incerteza.232

230SOUSA, Luís Filipe Pires de - Prova por Presunção no Direito Civil. op. cit. p. 182. 231O Novo Processo Civil. 12º Edição. Coimbra: Editora Almedina, 2010, p. 39.

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Já sabemos que neste caso em concreto, a segurança social, com o objetivo de suprir qualquer dúvida, irá proceder com uma ação judicial de simples apreciação, faltando-nos clarificar se será de simples apreciação negativa ou não.

Nas ações de simples apreciação, o autor ao invocar o direito e pedir o reconhecimento do mesmo, tem o ónus de alegar e provar todos os factos que constituem esse direito.233

Nas ações de simples apreciação negativa, não é da competência do autor a alegação e prova da inexistência do direito em apreciação, mas cabe ao réu alegar e provar que esse direito existe.

Neste caso em concreto, a segurança social apenas procura que seja colocado termo a uma situação de incerteza, sendo muito difícil conseguir fazer prova de que esse direito não existe. Com a instauração da ação, o autor apenas irá alegar os factos que causam incerteza, apresentando o motivo da presente ação, e não alegar e provar factos que tornam esse direito inexistente, competindo ao réu a alegação e a prova de todos os factos que irão constituir esse direito, ocorrendo aqui uma inversão do ónus da prova.

Para além disso, os factos são, essencialmente, realidades presentes no nosso dia-a-dia, que podem ser observadas por qualquer um e a sua existência apenas pode ser demonstrada pela positiva, e não pela negativa.234 Daí se considerar que para este caso concreto, a ação judicial mais correta será de simples apreciação negativa.

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