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CON/EXC.

6.3 Atividade eletromiográfica

Esse é o primeiro estudo a mostrar que a velocidade de execução do movimento pode alterar o padrão de ativação muscular entre as ações musculares (EXC e CON) do CAE contínuo. Nos protocolos LEN e MED, a atividade EMG foi maior durante a ação CON em comparação a EXC, no entanto, no protocolo RAP a atividade EMG foi maior durante a ação EXC em comparação a ação CON.

Sakamoto e Sinclair (2012) também realizaram um estudo com diferentes períodos de realização do CAE (lenta = 5.6 s/rep, média = 2.8 s/rep, rápida = 1.9 s/rep e balístico = mais

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rápido possível). Os testes foram realizados no exercício de supino e para analisar o comportamento dos dados da EMG os autores também dividiram a ação CON em cinco subfases, sendo cada uma delas proporcional a 20% da amplitude total do movimento. No entanto, os autores não reportaram os dados referentes às ações EXC. Os resultados do estudo corroboraram com os nossos, pois, à medida que período de realização do ciclo foi reduzido, também houve uma redução na amplitude do sinal da EMG no final da ação CON.

Por outro lado, nossos resultados contrapõem demais dados reportados na literatura, que mesmo com velocidades de execução elevadas e/ou diferentes intensidades, observaram menores atividades neuromusculares nas ações EXC quando comparado as ações CON (TESCH et al., 1990; WESTING et al., 1991; AAGAARD et al., 2000; GRABINER; OWINGS, 2002; MCHUGH et al., 2002; DUCHATEAU; ENOKA, 2008; DUCHATEAU; BAUDRY, 2014). Todavia, tais dados devem ser comparados com cautela, pois nos estudos supracitados as ações musculares foram analisadas de forma isolada, com contrações voluntárias máximas e em dinamômetros isocinéticos, o que dificulta a comparação com os resultados do presente estudo.

Os resultados do estudo Sakamoto e Sinclair (2006) e de Sampson et al. (2014) também devem ser cuidadosamente comparados com os do presente estudo, pois esses trabalhos se diferem também com relação aos exercícios utilizados. No presente estudo, foi utilizado o exercício de extensão do joelho com 80° de amplitude de movimento. Isto significa que a velocidade angular média foi de 160°/s para o protocolo RAP. O estudo de Sakamoto e Sinclair e o estudo de Sampson usaram, respectivamente, exercícios de supino e flexão do cotovelo. Em nosso entendimento, até a presente data não há estudos que reportaram a influência de diferentes velocidades de execução controlada no exercício de extensão de joelho realizado com carga externa constante.

Um estudo realizado por Guilhem et al. (2013) comparou a execução de exercício de extensão do joelho de forma isotônica (carga externa constante) em comparação com velocidade constante no dinamômetro isocinético. No entanto, os autores utilizaram uma velocidade muito inferior (30°/s) ao que foi utilizada no presente estudo. Além disso, os autores do estudo não

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tinham como objetivo comparar diferentes velocidades de execução e investigaram apenas a ação EXC, tornando difícil a comparação entre os estudos.

Ishikawa e colaboradores (ISHIKAWA; KOMI, 2004) investigaram os efeitos de diferentes intensidades de ações EXC na potenciação subsequente da ação CON durante CAE realizados em saltos unilaterais em trenó. Os sujeitos do estudo realizaram quatro saltos com alturas diferentes (80, 90, 110, e 130% da altura máxima atingida no squat jump). O interessante desse estudo foi que durante a ação CON, os sujeitos deveriam realizar o mesmo esforço relativo em todos os saltos (80% da altura máxima atingida no squat jump), permitindo assim, a investigação da influência da intensidade da ação EXC na subsequente potenciação da ação CON. Cada salto foi dividido em 3 fases: 1) pré-ativação (período de 100 ms anteriores ao contato com o solo); 2) frenagem (contato com o solo até a mudança de direção); 3) fase de impulso (mudança de direção até o fim da produção de força pelo contato com o solo. Os resultados indicaram que, mesmo quando o contato com o solo ainda não tinha ocorrido (fase pré-ativação), a atividade EMG no vasto lateral aumentou quando a altura do salto aumentou. Tal observação revela a existência de um mecanismo de proteção do sistema neuromuscular no tocante a preparação para um esforço de alta intensidade (no caso específico a fase de frenagem). As análises das ações EXC mostraram que a atividade EMG também aumentou de acordo com a intensidade; no entanto, o mesmo comportamento não ocorreu durante a ação CON. Dessa forma, a atividade EMG da fase de impulso diminuiu com o aumento da altura de saída para o salto.

Os dados de Ishikawa e Komi (2004) de acordo com os dados do presente estudo. Ambos demostraram um aumento na produção de torque, acompanhado de um aumento na EMG durante a ação EXC. No entanto, quando comparamos a atividade eletromiográfica entre as ações musculares (EXC e CON), Ishikawa e Komi (2004) encontraram maior atividade eletromiográfica durante as ações CON. Diferenciando portanto de nossos resultados, onde no

protocolo RAP o EMGRMS da ação EXC foi maior que a CON. As diferenças na intensidade da

fase CON podem nos ajudar a explicar estes resultados divergentes. Ishikawa e Komi (2004) orientaram seus voluntários a realizar o salto unilateral para atingir cerca de 80% da altura atingida no squat jump. No presente estudo, a intensidade foi inferior (10% de 1RM). Especula-se portanto, que a baixa intensidade utilizada em nosso estudo seria insuficiente para inibir o

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recrutamento de unidades motoras da ação EXC, proporcionado pelo mecanismo protetivo do reflexo de estiramento. Dessa forma, se realizássemos o mesmo exercício (extensão de joelho) com intensidades mais elevadas, poderíamos alterar os padrões de atividade elétrica encontrados entre as ações EXC e CON.

6.4 Eficiência Neuromuscular

A maior eficiência neuromuscular encontrada durante a ação CON do protocolo RAP pode

ajudar na explicação dos resultados do presente estudo. O valor de EMGRMS da ação EXC

durante o protocolo RAP foi maior do que o da ação CON, principalmente por causa da

diminuição dos EMGRMS da ação CON e não devido a um aumento drástico na EXC. Os

mecanismos responsáveis pela maior eficiência do CAE (principalmente quando ocorre uma alta produção de força/torque no final da ação EXC) podem ser importantes para a compreensão deste fenômeno. A potencialização do CAE continua a ser um tema controverso entre os autores (ETTEMA, 2001) e vários mecanismos têm sido propostos: o reflexo de estiramento, menor tempo de transição entre ações (uma vez que o reflexo de estiramento têm efeitos de curto prazo), armazenamento e utilização da energia elástica do complexo músculo-tendão, a utilização de unidades pré-ativadas durante a ação EXC anterior, recuo de tecidos tendinosos e os mecanismos de antecipação relacionadas com o sistema nervoso central (movimento contínuo e previsto) (KOMI, 2000).

CONCLUSÕES

Concluímos que o aumento da velocidade de execução do CAE realizado de forma contínua requer uma alta desaceleração no final da ação EXC. Tal mudança na aceleração aumenta a produção do torque e da atividade eletromiográfica neste momento. O aumento do torque e da atividade eletromiográfica no final da ação EXC potencializa o início da ação CON subsequente (aceleração necessária para impulsionar a carga), aumentando a eficiência neuromuscular e provocando assim uma redução na atividade eletromiográfica. Portanto, altas

velocidades de execução do CAE (160°/s) realizados de forma contínua aumentam a eficiência

neuromuscular da ação CON e fazem com que a atividade eletromiográfica da ação EXC seja maior que a da ação CON.

37 APLICAÇÕES PRÁTICAS

Os resultados desse estudo ilustram que manipulando a velocidade de execução dos movimentos por si só é possível aumentar o recrutamento de unidades motoras, a intensidade do exercício e a tensão muscular. Tais incrementos acontecem sem a necessidade de se aumentar a carga do exercício, contribuindo para o aumento do estresse mecânico e metabólico, visto que, o aumento da velocidade de execução possibilita a realização de um maior número de repetições (SAKAMOTO; SINCLAIR, 2006). Com essa informação, é possível modular de forma mais eficiente as variáveis do treinamento de força para que se adequem aos objetivos do planejamento.

Durante programas de reabilitação e/ou condicionamento físico, especial atenção deve ser dada ao final da ação EXC, principalmente quando o CAE é realizado em altas velocidades. Pois, nesse momento ocorre um aumento expressivo do torque e do recrutamento de unidades motoras, favorecendo à ocorrência de dano ao tecido muscular.

A aceleração, torque e EMG alteram-se ao longo da amplitude do movimento. A interpretação dessas variáveis a partir de valores médios do CAE e/ou das ações musculares como um todo podem mascarar os resultados encontrados. Ressaltando a necessidade da subdivisão do CAE em determinadas subfases.

O presente trabalho mostrou também que a velocidade de execução do CAE tem igual importância em comparação as outras variáveis do treinamento de força (intensidade, volume, pausa e exercícios), devendo ser controlada em todas as sessões de treinamento, bem como em futuras investigações sobre o treinamento de força.

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