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Você deverá criar uma situação que precisa ser investigada urgentemente. O assunto é do seu interesse, por exemplo, moda, cultura e costumes de algum lugar, violência etc. Ao decidir sobre o que você deseja investigar, justifique o motivo de esse assunto ser investigado, elabore estratégias ou sugira possibilidades para solucionar o que você criou como suspeito ou que necessita de investigação.

Justificamos essa atividade pela concepção que os participantes tinham a respeito das aulas de Matemática, ou seja, bastava entender um exemplo e repetir, de modo idêntico, os demais exercícios. Tratava-se de uma classe em que quase não se ouviam perguntas deste

tipo: “por que é assim?”, “por que ou por quem isso foi criado?”, “eu encontrei outra maneira de resolver, está correta?”. Enfim, percebemos que por algum motivo eles perderam, ou nunca tiveram, interesse ou curiosidade nas aulas de Matemática. Foi esta a primeira inquietação: como ajudá-los a se interessar por assuntos matemáticos?

A primeira necessidade observada foi promover envolvimento entre os participantes e estimular a escrita de um registro com descrição dos fatos. Assim, o encontro foi iniciado com a seguinte questão: “o que é investigação para você?”.

Nesta atividade a turma se organizou de maneira habitual, em filas. Entregamos uma folha A4 com a descrição da atividade “Investigando... O detetive sou eu.”. Todos leram o enunciado. Orientamos sobre o que seria realizado e respondemos aos comentários dos participantes.

Foi solicitado que cada participante criasse uma situação-problema para ser investigada. Depois ele deveria elaborar estratégias para solucioná-la ou indicar possibilidades para encerrar o caso escolhido.

4.2.1 Detalhamento da Atividade 1

O objetivo desta atividade foi favorecer a interação entre os participantes. O foco foi desenvolver neles a habilidade de questionar, socializar ideias, investigar e interagir com os colegas.

Assim, cada um elaborou um relatório sobre uma pretensa investigação e a apresentou aos colegas.

A atividade foi realizada individualmente, em 50min. Os primeiros 10min foram destinados à escolha dos temas a serem investigados e os 40min restantes para os registros. Nesse dia faltaram três participantes e seis não entregaram o registro, portanto foram recebidas 20 investigações. Alguns participantes comentaram sobre o que gostariam de investigar, mas não fizeram o registro escrito.

Os participantes estavam acostumados somente com aulas expositivas de Matemática, com indicação de capítulos do livro, exemplos e exercícios. A reação deles durante a realização da atividade foi registrada por meio do seguinte diálogo14:

P13: “Não estou entendendo o que isso tem a ver. Cadê a matéria? Eu não sou e nem quero ser policial. Essa história de investigação não tem nada a ver com Matemática. Eu quero saber quantos pontos está valendo isso.” P22: “Deixa de ser mal humorado, P13. É claro que isso deve ter a ver com a matéria! A Nunes cria umas coisas engraçadas para a gente aprender Matemática e eu tô (sic) gostando. É claro que eu decoro, mas decoro sabendo. E olha; não tá (sic) tão fácil assim porque você não escreveu nem uma linha do que ela pediu. E você só arrumou tema porque vai fazer igual ao que eu escolhi...”

Durante o registro da investigação, quase não houve brincadeiras e conversas que atrapalhavam o rendimento da turma. A atenção foi bem maior do que as brincadeiras, sendo isso positivo para o desenvolvimento da pesquisa.

4.2.2 Situações apresentadas pelos participantes

Os casos investigados não eram muito variados. E das 20 investigações realizadas, 6 investigações foram sobre tráfico de drogas (P01, P07, P08, P09, P12, P20), 3 sobre assassinatos (P04, P16, P18), 2 sobre traição entre marido e esposa (P28, P14), 2 sobre roubo (P04, P10), 1 sobre estupro (P11) e 1 sobre as tendências da moda primavera-verão 2012 (P29). Um participante escreveu sobre o uso do dinheiro arrecadado por eventos beneficentes, citando o Programa “Criança Esperança” (P03). Havia exemplos hipotéticos, como o desaparecimento da cartola do mágico holandês (P15), o roubo da Torre de Eiffel (P02), causas do desemprego (P26) e um sequestro realizado por um extraterrestre (P02). Resumindo, 15 registros, isto é, 51,72%, estavam relacionados com violência.

A maioria dessas escolhas estava relacionada à realidade em que os participantes estavam inseridos. Observamos isso porque, segundo informações dos funcionários da Escola que lá residiam, nos últimos dois anos foi crescente o tráfico de drogas. Também havia casos de violência doméstica.

Selecionamos dois registros de investigação elaborados pelos participantes. Ambos sobre o tráfico de drogas. A motivação da escolha foi a seguinte: os dois participantes, P07 e P09, diferem entre si pelo comportamento na sala de aula, um totalmente tímido e o outro bastante agitado. Um muito organizado e o outro totalmente desorganizado: um é o oposto do outro. Porém, nesta atividade, ambos demonstraram opiniões e situações parecidas, talvez mais no debate na sala de aula do que no que eles registraram. Portanto a investigação permitiu que conhecêssemos um pouco mais do contexto desses dois jovens.

Figura 7 - Investigação elaborada por P09

Fonte: Registro escrito de P09

Figura 8 - Investigação elaborada por P07

Fonte: Registro escrito por P07

P09 citou um local que fica próximo à sua casa e uma realidade conhecida pelos moradores da região, mas nada foi feito para mudar aquela situação.

P07 mostrou a realidade dos seus dois irmãos, de 19 e 13 anos, que foram apreendidos por policiais paisanos que investigavam o envolvimento desses rapazes nas drogas.

Embora as investigações tivessem sido simples, foi trabalhoso fazer com que os participantes escrevessem sobre algum assunto, mesmo sendo do interesse deles.

Consideramos que o objetivo da atividade foi atingido, ou seja, ela promoveu envolvimento entre os participantes e estimulou a escrita de um registro com descrição dos fatos. Alguns até opinaram sobre as sugestões dos colegas, mas sem agressões verbais. A natureza da atividade foi questionada, pois alguns dos participantes não entenderam essa proposta em uma aula de Matemática.

A proposta desta atividade não explicitou um conteúdo matemático nem histórico. O tema era livre. Mas as fases se voltaram para a comunicação oral e para o registro escrito, envolvendo um pouco da história de vida de alguns participantes. Por exemplo: o registro de P09 mostrou uma realidade observada por ele. P14 escreveu sobre a separação dos próprios pais, que, de acordo com o relato, não foi amigável. A investigação de P18 foi sobre o assassinato do irmão, que aconteceu em fevereiro de 2011, decorrente do envolvimento no tráfico de drogas. Dessa forma questionaram, socializaram ideias, investigaram e interagiram com os colegas.

4.3 Atividade 2: Investigando... O matemático sou eu.