• Nenhum resultado encontrado

Atividade nº 9: o tarot dos mil e um contos

No documento Inclusão cultural (páginas 103-105)

3. O conto e as múltiplas leituras: proposta para o contexto pedagógico

3.4. Proposta para o contexto pedagógico

3.4.2. Atividades pedagógicas com os contos em sala de aula

3.4.2.9. Atividade nº 9: o tarot dos mil e um contos

O tarot347 dos mil e um contos348 é um jogo que consiste em inventar histórias simples ou complexas, ilustradas ou não, a partir de um guião com catorze itens ou indicações, que muito se parece com o esquema actancial de Algirdas Julien Greimas349: 1. escolha de um herói (um

346Uma das lendas mais conhecidas sobre sereias é a da kianda, sereia-mãe, que habita no mar da cidade

de Luanda, história muito conhecida pelos habitantes da Ilha do Cabo. Luanda, por este facto, é também conhecida como “Cidade da Kianda”. O Jornal de Angola tirou uma matéria, na secção “Opinião”, no dia 11 de Agosto de 2017, com o título “Kianda existe, sereia não”. Dando a conhecer que kianda, enquanto sereia, não passa de um mito inventado pelos missionários católicos na era colonial, de modo a criar medo aos citadinos, que ficou no imaginário da população e tem sido difundido, ultimamente, pelos artistas (músicos, pintores, escultores, escritores). Disponível em http://jornaldeangola.sapo.ao/opiniao/artigos/kianda_existe_sereia_nao. Consultado em 10.03.2018. Facto inegável é que o tema das sereias ganhou grande destaque nas obras literárias angolanas. A exemplo dos contos de Óscar Ribas, tem-se a obra O conto da sereia, de Onofre Santos; O "Kianda" e barquinho de Fuxi, de Cremilda de Lima (infantil); o romance O desejo de Kianda, de Pepetela (Prémio Camões de 1997).

347 Ou taró, do francês tarot, relativo a baralho de 78 cartas mais compridas e com mais figuras que as

cartas de jogo vulgares, que servem para jogo e adivinhação. Disponível em https://www.priberam.pt/dlpo/tar%C3%B4. Consultado em 26.03.2018.

348 Proposta de análise e reescrita dos contos de Francis Debyser, presente no seu artigo “Le tarot des

mille et un contes”, publicado na revista Le français dans le monde (n.º 123). Cf. Francis Debyser, 1976, apud Maria Emília Traça, op. cit., p. 151-152.

349 “Trabalhando as 31 funções de Propp, Greimas sugere a sua redução sistemática a três eixos ou

95

príncipe, uma princesa, um soldado, uma criança, ou outros); 2. a este herói falta qualquer coisa para ser feliz (um objeto, o amor, a riqueza, etc.); 3. alguém o informa ou o aconselha (dizer quem e como o aconselham); 4. o herói parte à aventura (não necessariamente já com um objetivo predefinido, poderá partir ao acaso e só depois se decidir conquistar o que o fará feliz. Descrever o cenário da partida); 5. no caminho encontra um amigo ou um aliado (de preferência, anteriormente desconhecido); 6. Sozinho, ou com a ajuda deste aliado, encontra diversos obstáculos que consegue vencer (naturais ou sobrenaturais); 7. Consegue chegar ao lugar onde se encontra aquilo que procura (descrever o cenário); 8. um inimigo poderoso opõe- se-lhe (ogre, dragão, gigante, feiticeiro, e outros); 9. o herói defronta uma primeira vez o seu

inimigo, mas é vencido por ele (ferido, envenenado, enfeitiçado, feito escravo, etc.); 10. o amigo do herói vem em sua ajuda (liberta-o, dá-lhe um conselho ou uma arma natural ou

sobrenatural, etc.); 11. o herói defronta uma segunda vez o seu inimigo e ganha (fere-o, mata- o, tira-lhe o que foi buscar, etc.); 12. durante o seu regresso, o herói é perseguido por aliados ou servidores do seu inimigo (irmãos, soldados, monstros, e outros); 13. deve combatê-los e vencer diversos obstáculos, armadilhas ou dificuldades; 14. o herói regressa à casa; desfecho com um final feliz (contar livremente). Contudo, poder-se-á ainda criar uma segunda parte da história, a continuação, com novas procuras, intrigas e conquistas ou derrotas, dependendo da imaginação dos alunos.

Para o sucesso deste exercício, é de grande relevância que o contador se sirva da descrição para criar um quadro imagético das características das personagens, do tempo, dos espaços, dos objetos e de outros elementos da narrativa por meio das palavras; porquanto conferirá ao conto um meio pelo qual o ouvinte/leitor viajará ao mundo fantástico. Os modos de expressão (a voz do narrador, o monólogo e o diálogo) devem ser alternados ao longo do conto, sendo o monólogo usado em situações em que o herói esteja solitário, em aflição interna, pensativo…; o diálogo, em momentos de confronto entre o herói e um adversário, quando está a receber conselhos ou ajuda de um amigo, ou ainda em situações de grande realce na história; já a voz do narrador, serve para os outros momentos da narrativa.

Tendo em conta os quatro contos analisados, seria ideal aplicar esse jogo ao primeiro conto, “Kimalauezu”, numa turma da 12ª classe, criando uma segunda parte da história, com novas procuras, intrigas e conquistas ou derrotas, a partir do guião que o jogo apresenta. Em função da extensão e complexidade da narrativa, o nível de raciocínio será maior para os alunos. O professor, dependendo do número de alunos na turma, deverá formar grupos heterogéneos de no máximo quatro elementos, em que os mais dotados possam formar grupos com os menos dotados para haver equilíbrio. Todo o trabalho deve ser supervisionado pelo

desejo, o eixo do saber e o eixo do poder. As personagens são assim facilmente agrupadas em torno de cada um destes eixos, enquanto actantes-sujeito e actantes-objecto de cada uma destas modalidades funcionais. O esquema completo das modalidades funcionais e dos respectivos actantes que constituem a estrutura de superfície antropomórfica da narrativa [categorias semânticas]” é composto por seis actantes: (A1) sujeito, (A2) objeto, (A3) destinador, (A4) destinatário, (A5) adjuvante e (A6) opositor. Greimas desenvolve esta pesquisa na obra sémantique structurale (1966); mais tarde, retomada na obra Du sens. Essais sémiotiques (1970). Cf. Vladimir Propp, op. cit., p. 28.

96

professor, para que ninguém fique sem trabalhar no grupo ou não tenha as suas ideias ouvidas e analisadas, pelo que todos devem contribuir para o sucesso do trabalho e o domínio do mesmo.

No documento Inclusão cultural (páginas 103-105)

Documentos relacionados