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2.4 Testes in vitro

2.5.3 Atividade nematicida de plantas medicinais avaliadas em

McGAW et al. (2000) utilizaram o C. elegans para determinar atividade anti- helmíntica de plantas da medicina tradicional da África do Sul. Dentre 72 extratos (hexânico, etanólico e aquoso) testados, derivados de 24 plantas, apenas um não apresentou atividade contra o nematódeo. Os extratos foram testados a 1 e 2 mg/mL sobre 500-1000 nematódeos de uma cultura de 7-10 dias. Os nematódeos foram avaliados através de um sistema de escore onde foram dadas notas de acordo com a sua motilidade. Em 2007, MC GAW et al., testaram extratos de 24 plantas, totalizando-se 70 extratos com a mesma metodologia. Vinte e cinco extratos foram ativos contra C. elegans. O extrato hexanico de Hippobromus pauciflorus demostrou a maior atividade matando 70% dos nematódeos a uma concentração de 0,5 mg/mL.

Trabalho semelhante foi realizado por KERMANSHAI et al. (2001) quando utilizaram extratos da semente de papaia, a qual é conhecida pela sabedoria popular como possuidora de atividade anti-helmíntica. Os autores recolheram o extrato usando solventes orgânicos e o fracionaram através de cromatografia de coluna em sílica. As frações encontradas foram testadas contra C. elegans e determinaram que a fração que continha benzil isothiocyanato foi responsável pelaatividade anti-helmíntica. Tribulus terrestris também foi testado de forma semelhante. Esta é uma planta que contém saponinas, alcalóides e flavonoides e através de extratos etanólicos teve a sua atividade anti-helmíntica in vitro confirmada por DEEPAK et al. (2002). MUKAI et al. (2008) também determinaram que os taninos da Camelia sinensis (novel tannin gallate) tiveram atividade contra C.elegans.

WATERMAN et al. (2010) determinaram a atividade anti-helmíntica de extratos aquosos e orgânicos de 33 partes de plantas de 17 espécies utilizadas na medicina tradicional do Sahara sub-africana. Das 17 espécies testadas, 12 plantas demonstraram significativa atividade contra a cepa de C. elegans resistente ao levamisol. Em 8 destas 12 plantas, os taninos foram identificados como o princípio ativo majoritário. Os taninos são compostos polifenólicos que podem ter atividade anti-helmíntica devido a coagulação de proteínas. Além dos taninos, outros compostos também foram identificados como possíveis anti-helmínticos, como por exemplo, os compostos fenólicos simples como ácido gálico, gentísico e elágico, assim como as saponinas e flavonoides tais como quercetinas e quinonas.

DEEPAK et al. (2002) realizaram testes utilizando extratos polares e apolares de Tribulus terrestris. Determinaram que o extrato apolar teve o melhor resultado e posteriormente os compostos puros foram identificados através de análise cromatográfica e

testados novamente contra o C. elegans. A tribulosina e o B-sitosterol-D-glucosideo são os compostos ativos contra o C. elegans numa dosagem de ED50 76,25 e 82,50 μg/mL,

respectivamente. Os autores citam que os compostos não foram tão eficazes quanto o levamisol, no entanto o valor encontrado é significante uma vez que compostos isolados com um ED50 <100 μg/mL em ensaios utilizando-se C. elegans são considerados ativos. Os autores

sugerem que compostos ativos a uma concentração menor que ED50 <100 μg/mL podem

servir como base para moléculas no desenvolvimento de anti-helmínticos úteis para seres humanos e para animais.

KERMANSHAI et al. (2001) fazem a relação entre volume utilizado em testes in vitro e volume do intestino delgado de um humano adulto. Os autores testaram a atividade anti- helmíntica da semente de papaia. De acordo com o trabalho, cerca de 1,2 a 2,4 mg de sementes matam >90% dos C. elegans em 500 μl em 4 a 5 horas. Se o intestino delgado humano contem capacidade de 1,3 l, então a dose anti-helmíntica será de 3,1 a 6,2 g de sementes, valor efetivo contra C. elegans no ensaio. No entanto, os autores comentam que a dosagem calculada geralmente não é a dose eficaz devido a fatores que diminuem a concentração da droga no intestino tais como movimento e a absorção do conteúdo gastrointestinal.

2.5.4 Como se determina a concentração eficiente de um anti-helmíntico?

A concentração de uma droga necessária para produzir qualquer efeito sobre C. elegans é geralmente bastante alta, chegando a ser mil vezes maior que a concentração efetiva para testes em células de mamíferos. Esta grande discrepância na eficácia está relacionada à relativa impermeabilidade de C. elegans. Muitas técnicas têm sido usadas para melhorar a permeabilidade ou solubilidade a droga. Por exemplo, uso de vortex, sonicação a elevada temperatura são técnicas para maximizar a solubilização do composto ativo. Além disso, o uso de solventes que possam melhorar a solubilidade também pode ser utilizado. Por exemplo, solventes orgânicos melhoram a atividade de muitos compostos. C. elegans pode tolerar modestas quantidades de solventes convencionais: <2%DMSO, <4% Ethanol e <2% methanol. Quantidades superiores podem afetar o crescimento ou comportamento do nematóide (STIERNAGLE, 2006).

Em muitos campos da quimioterapia, o uso de testes in vitro pode predizer com acurácia a que concentração uma droga vai ser eficaz in vivo. Por exemplo, de acordo com a

sobrevivência de bactérias expostas à drogas em culturas in vitro, pode-se predizer qual concentração é necessária em tecidos ou sangue para o sucesso terapêutico. Infelizmente, esse componente da farmacologia não pode ser facilmente aplicado para helmintos. Enquanto diversas opções estão disponíveis para se avaliar a potência anti-helmíntica in vitro, pouco se tem para predizer a concentração da droga necessária para eficácia in vivo. Os sistemas desenvolvidos para este propósito incluem culturas de nematódeos de vida livre e adultos ou formas imaturas de nematóides parasitas (particularmente tricostrongilídeos de ruminantes) (GEARY et al. 1999b).

As drogas que reduzem a motilidade como o levamisol podem ser detectadas a baixas concentrações e, de acordo com a potência contra o C. elegans é possível se predizer a potência contra nematóides parasitas. Contudo, a correlação não é universal. Por exemplo, morantel ou pirantel, que age de maneira similar ao levamisol em receptores acetilcolínicos de nematóides, necessita de altas doses para apresentaram algum efeito. Tal fato se contrapõe à teoria de que os nematóides parasitas possuem maior tolerância aos anti-helmínticos do que nematóides de vida livre devido à necessidade de sobrevivência no ambiente. Testes com o C. elegans também não são capazes de detectar alterações de comportamento induzidas pela droga que resultam em expulsão do parasita do organismo do hospedeiro (GEARY et al. 1999a ).

2.5.5 Avanços no conhecimento da farmacologia das drogas baseados em mecanismos de

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