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5 SEQUENCIA DE ATIVIDADES E PESQUISA EMPÍRICA

5.1 ORGANIZAÇÃO DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA (SD)

5.1.3 Atividade 03: reescrita de conto

5.1.3.1 Planejamento

Atividade Operacional

Leitura do conto Rui Barbosa e o ladrão de galinhas. Reflexão sobre o gênero e interpretação da obra.

Pesquisa de significados no dicionário de Língua Portuguesa e na internet. Reescrita do texto em linguagem menos formal e/ou informal.

Objetivos Específicos

Produzir sentido nos textos lidos, identificando a centralidade temática e os dados informativos de maior relevância.

Pesquisar o significado de palavras de sentido desconhecido. Distinguir os níveis de formalidade da língua.

Reconhecer a variação linguística e adequá-la a diferentes contextos. Mudar de uma linguagem muito formal para uma linguagem informal. Reescrever o conto utilizando uma linguagem menos formal e/ou informal. Conteúdos Variação linguística (diafásica).

Linguagem formal e linguagem informal. Gênero textual: conto.

Metodologia Leitura do conto.

Pesquisa do significado de palavras no dicionário e na internet.

Apresentação das noções encontradas e regulação ao contexto do conto. Divisão da turma em duplas para a tradução e reescrita do conto.

Desenvolvimento das atividades operacionais. Apresentação das traduções realizadas.

Mediação A intervenção ocorrerá durante as aulas, a professora auxiliará as duplas durante as produções e ao final recolherá para correção por meio de bilhetes interativos. Após revisão das duplas, as reescritas serão apresentadas aos colegas.

5.1.3.2 Texto

Rui Barbosa e o ladrão de galinhas15

"Certa vez, um ladrão pulou o muro da casa de Rui Barbosa para roubar uma galinha. No alvoroço, o grande tribuno acordou do profundo sono, e se dirigiu ao galinheiro. Lá chegando, viu o ladrão já com uma de suas galinhas, e passou o carão:

– Não o interpelo pelos bicos de bípedes palmípedes, nem pelo valor intrínseco dos retrocitados galináceos, mas por ousares transpor os umbrais de minha residência. Se foi por mera ignorância, perdoo-te, mas se foi para abusar da minha alta prosopopeia, juro pelos tacões metabólicos dos meus calçados que dar-te-ei tamanha bordoada no alto da tua sinagoga que transformarei sua massa encefálica em cinzas cadavéricas.

O ladrão, pasmo e sem entender patavina, tascou: – Cumé, doutor, posso levar ou não a galinha?"

5.1.3.3 Desenvolvimento

Antes de iniciar a leitura, foi preciso informar aos alunos um pouco sobre a biografia de Rui Barbosa, personagem do conto, e suas contribuições para a literatura brasileira. É importante contextualizar a personagem para justificar a escolha da linguagem formalíssima ao representar sua fala. Depois de ler o conto, a professora questionou a turma se haviam entendido o que foi dito ao ladrão, e a resposta foi negativa. Por desconhecerem o significado da maioria das palavras ditas pelo autor, em sua fala, os alunos não conseguiram compreender o que ele quis dizer ao ladrão. Mas a maioria da turma compreendeu que o humor se dava justamente pelo fato de o ladrão também não entender o que Rui Barbosa queria lhe dizer.

A professora também questionou se houve comunicação entre os interlocutores, e a resposta da turma foi negativa. Assim, os alunos foram conduzidos a perceber que a

15 Disponível em http://www.marcoeusebio.com.br/coluna/rui-barbosa-e-o-ladrao-de-galinhas/31982. Acesso em 21 de novembro de 2016,

variação linguística é importante para uma comunicação eficiente e que quanto maior for o grau de monitoramento da língua, maior será seu grau de formalismo. Dessa forma, os alunos concluíram que, para haver comunicação efetiva, é importante que os interlocutores adequem sua linguagem a diferentes situações de interação, já que, de acordo com Bagno (2007, p. 45), “[...] todo e qualquer indivíduo varia a sua maneira de falar, monitora mais ou menos o seu comportamento verbal, independentemente de seu grau de instrução, classe social, faixa etária etc”.

No entanto, vale salientar que o texto foi produzido com uma intencionalidade: a de provocar humor. E isso acontece justamente pelo fato de o ladrão não compreender os sentidos expressos nas palavras do ilustre escritor. A atividade em questão tem a pretensão de levar os estudantes a perceberem que, ao retirarem o alto grau de formalidade impresso na fala da personagem, o texto perde sua funcionalidade, que é a de provocar humor.

Além de analisar a influência da variação linguística para a significação textual, a professora também buscou explorar com os estudantes os sentidos das palavras. Logo, foram entregues dicionários de Língua Portuguesa aos alunos para que buscassem neles os significados das palavras cujos sentidos desconheciam. Os alunos também utilizaram os celulares para pesquisar na internet os significados de palavras que não encontraram no dicionário. Foi pedido que anotassem os significados encontrados no caderno e que utilizassem aqueles que estivessem mais adequados ao contexto dos interlocutores. Depois da pesquisa, a professora transcreveu os significados no quadro para que todos pudessem anotar.

Os alunos, em duplas, foram orientados a executar a reescrita do conto de modo que o ladrão pudesse compreender o que o proprietário das galinhas queria lhe dizer. Ou seja, os estudantes deveriam compreender os significados das palavras para que pudessem interpretar a fala e depois mudá-las para uma linguagem com menor grau de formalidade. Assim que a reescrita era finalizada, os alunos entregavam o texto à professora para que ela apontasse as adequações que deveriam ser feitas nele. A figura abaixo apresenta a reescrita de estudantes e a correção da professora.

Figura 8 - Conto reescrito por alunos utilizando os significados encontrados no dicionário, e correção com bilhetes interativos realizada pela professora.

Fonte: Elaborado pela autora baseado no texto dos alunos do Ensino Fundamental (2017).

5.1.3.4 Análise

Na figura 8, é possível observar que os alunos tiveram dificuldades em localizar uma referência adequada ao contexto, pois se limitaram a copiar na íntegra os significados encontrados no dicionário e/ou na internet. Provavelmente isso aconteceu por desconhecerem o alto grau de formalismo empregado pelo autor em sua fala. O mesmo aconteceu com várias duplas, foi preciso intervir orientando-os que, assim como na tradução de textos de língua estrangeira, não se deve traduzir a palavra de

forma descontextualizada. Logo, deveriam buscar um significado que fizesse sentido dentro do contexto. Por várias vezes foram questionados a respeito da compreensão do texto, se a tradução se tornou mais clara após a reescrita e se eles entendiam o que estavam escrevendo.

A professora utilizou a correção textual-interativa para realizar as intervenções no texto. Para Ruiz (2015), esse tipo de correção é altamente dialógico, pois possibilita uma comunicação direta entre professor e aluno. De fato, a orientação por intermédio de bilhetes auxilia na comunicação e acaba por aproximar docente e discente ao proporcionar maior intimidade entre ambos. No entanto, é importante que alguns combinados sejam feitos antes para que o estudante entenda a nomenclatura utilizada pelo professor. Por isso, sempre que a professora devolvia o texto corrigido, também assessorava oralmente àqueles que ainda tivessem dúvidas a respeito de suas intervenções. Com isso, após algumas orientações da professora, a dupla chegou ao seguinte resultado.

Figura 9 - Conto revisado e reescrito pelos alunos após a mediação da professora.

Observa-se, na figura 9, que os alunos atenderam às solicitações da professora quanto à correção. Assim, conseguiram realizar a tarefa de adequar o texto a uma linguagem menos formal que a utilizada pelo escritor. De acordo com Ruiz (2015), os bilhetes, quando produzidos acerca da primeira versão do texto, sempre obtêm resposta revisiva do aluno. É possível observar que ao indicar os problemas contidos no texto e fazer questionamentos sobre eles, a professora incentivou seus alunos a revisarem sua escrita, refletindo sobre novas possibilidades de uso da linguagem. Fuchs (1985) denomina como paráfrase esse trabalho de interpretação e de reformulação, ou seja, uma atividade linguística dos sujeitos. Para a autora, a reformulação parafrástica consiste na identificação da significação do texto-fonte reconstruído pelo novo texto. Portanto, essa atividade de reescrita possibilitou aos estudantes refletirem sobre os graus de formalismo da linguagem, bem como interpretar, traduzir e contextualizar a língua para adquirir sentidos novos.

Na próxima atividade, os alunos deverão produzir notícias divergentes a partir do poema “A morte do Leiteiro”, de Carlos Drummond de Andrade. Para tal, antes será realizado um debate regrado, a fim de que os jovens estudantes possam elencar argumentos condizentes com suas teses a respeito do julgamento do crime. Essa atividade se destaca pelo manuseio do computador durante o processo de produção, bem como a correção virtual com a utilização de balões de revisão encontrados na barra de ferramentas do Word.