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Atividades primárias na cadeia de valor das fiações pesquisadas

5.3 Cadeia de valor das fiações paranaenses

5.3.2 Atividades primárias na cadeia de valor das fiações pesquisadas

A atividade de recebimento do algodão em pluma consiste na classificação de amostras, conferência dos fardos no momento do recebimento na fiação, reclassificação técnica baseada na coloração, comprimento e finura das fibras, quantidade de impurezas e outros, para posterior montagem dos lotes de trabalho. O estoque disponível determina a duração da mistura (lote). Algodões de diferentes procedências podem provocar alterações na coloração final dos tecidos.

Desde a verificação de amostras até a formação da mistura, as operações são realizadas pela unidade de fiação. Significa dizer que têm custos e constituem uma etapa fundamental para a qualidade e eficiência da fábrica. A seleção de fibras apropriadas é pré-requisito para o bom andamento das máquinas de uma fiação e conseqüentemente da qualidade final do fio.

Até o momento, as fiações paranaenses não adotam compra de algodão no sistema just-in-time e preferem fazer suas próprias classificações ao invés de utilizar estes serviços de fornecedores preparados para tal atividade. O motivo principal é que as compras recebem a prioridade de melhor preço de aquisição no mercado, e não de qualidade da matéria-prima.

Todas as fiações pesquisadas utilizam a embalagem de fios em caixas de papelão. Desde o início da operação destas fábricas esta operação continua a mesma. Foi possível constatar que é uma operação com valor de custo significativo, envolve muita mão-de-obra, e a caixa de papelão não agrega

valor ao fio. Foram citados estudos para paletização dos fios; no entanto, descobriu-se que para uma fiação isoladamente seria muito difícil operacionalizar estas mudanças. Além dos custos de desenvolvimento, a introdução destas inovações envolve transportadoras, clientes e mecanismos de retorno dos palets.

As fiações paranaenses contam com equipes próprias internas para a realização de manutenção corretiva e preventiva, apenas para algumas atividades específicas é utilizado serviço externo de manutenção.

Os testes também são realizados por equipes internas às unidades de fiação, em laboratórios próprios. Foi citado que no projeto inicial destas fábricas estava prevista a construção de um laboratório central para controle de qualidade de todas as fiações da região. A função seria realizar o controle de qualidade da fibra algodão e dos processos de cada fiação. Como o custo dos equipamentos eletrônicos utilizados nestes laboratórios é alto e normalmente eles ficam ociosos em parte do tempo, um laboratório regional seria uma forma de racionalizar custos. Além da vantagem de poder estar sempre modernizado, visto que os custos seriam diluídos entre os participantes, num laboratório central poderia ser montado um banco de dados regional, servindo de importante referencial para a qualidade.

As operações de produção são padronizadas nas fiações, porém foi observada uma diferença na formação de estoques intermediários, sendo que a fiação C trabalha com programas para troca programada de produtos nas várias etapas do processo de fiar. O uso de cartões e programação de trocas elimina a formação de material em estoques intermediários.

Em relação à logística externa, as operações de pedido e entrega de fios são feitas pelo departamento de vendas de cada grupo, de acordo com o solicitado pelos canais de distribuição e de acordo com o programado pela gerência de produção.

A coleta e distribuição física dos fios aos clientes é realizada de diferentes formas. A fiação A utiliza uma transportadora pertencente ao próprio grupo, à qual cabe contratar e programar os caminhões de acordo com o solicitado pelas unidades. O setor de vendas da fiação B passa a programação de venda e entrega diretamente ao setor específico de transportes, que se encarrega de contratar caminhões, no caso desta fiação somente furgões, e efetivar as entregas. A fiação C trabalha com caminhões próprios, motoristas são treinados, a fidelidade na entrega dentro dos prazos estabelecidos e a flexibilidade em atender eventuais antecipações nos pedidos são relatados como importantes serviços prestados e valorizados pelos clientes. Estes mesmos caminhões são programados para trazer as caixas de papelão utilizadas na embalagem dos fios. A fiação D utiliza caminhões de terceiros, sendo todos agregados à Cooperativa, de tal forma que participam do relacionamento com os clientes. A fiação E terceiriza totalmente a distribuição física de fios através de várias transportadoras comerciais.

Em relação às vendas, todas as fiações pesquisadas utilizam representantes comerciais localizados nas regiões consumidoras de fios. Normalmente são corretores de fios com larga tradição e representam simultaneamente várias fábricas de fios concorrentes, não havendo exclusividade e fidelidade.

As fiações foram unânimes em afirmar que a atividade exercida pelos representantes é muito onerosa: representa dois por cento do preço final do fio, e não agrega valor ao produto; mas que na prática é necessária em função do carisma e influência que estas pessoas têm sobre os clientes. As fiações consideram que o representante trabalha mais para o comprador, isto porque eles apresentam a seus clientes uma ampla possibilidade de escolha entre vários fornecedores de fios, com preços e qualidade variados.

Os representantes pouco contribuem para o desenvolvimento do produto ou adequação ao uso, na prática significam uma forma de as fiações entrarem em contato com os clientes. Seria muito difícil para uma única fiação alterar seu sistema de vendas com base em representantes regionais. Outra constatação

é que os representantes têm bom relacionamento com os clientes, mas pouco conhecem dos produtos e das técnicas do processo fabril.

A fixação de preços e a seleção dos canais de distribuição são feitas pelo departamento de vendas de cada empresa. O marketing e a propaganda basicamente são constituídos por troca de visitas comerciais e técnicas com os clientes e a entrega de folders.

A fiação A está aproveitando o fato de estar diferenciando sua linha de produtos para selecionar novos canais de distribuição. Estão sendo exigida dos seus representantes ações que envolvem desenvolvimento e acompanhamento de novos produtos em malharias e tecelagens. Os representantes têm de ser mais participativos, conhecer a parte técnica e colaborar no aumento de valor dos produtos.

Uma análise geral da cadeia de valor das fiações paranaenses demonstra que as atividades exercidas atualmente pouco diferem das previstas em seus projetos originais. Os consultores desenvolveram e implementaram estes projetos no final dos anos oitenta. A revisão e mudança na cadeia de valor para busca de vantagens competitivas é de difícil realização, principalmente para uma fiação de forma isolada, pois envolve custos e domínio de novas tecnologias. Envolve também a mudança de paradigmas e da cultura existente; no entanto, são fontes sustentáveis de vantagens, pois são difíceis também para os concorrentes.

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