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5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1.1 Atividades Realizadas em Sala de Aula

No período em que foram realizadas observações na sala de aula de matrícula da participante A observou-se 15 atividades: 1) Leitura de Texto: Alvinho e o Coelho; 2)

Sondagem do Campo Semântico; 3) Estudo da Letra M; 4) Rimas terminadas em ão; 5)

Estudo da Letra N; 6) Confecção de cartão para o dia das mães; 7) Leitura da música

comemorativa do dia das mães; 8) Reconhecimento de palavras com a letra M; 9)

Correspondência palavra e imagem; 10) Ligar ponto: 1 ao 20 - detergente até a louça; 11)

figuras; 13) Leitura de história do livro: Nomes; 14) Conceitos de distância e medidas

matemáticas e 15) Leitura de parlenda.

A partir destas atividades e das entrevistas realizadas identificou-se 68 conceitos, que foram abordados, conforme Figura 1:

Figura 1 – Nível de Abordagem dos Conceitos19 da Participante A

Conforme a Figura 1, dos 68 conceitos que foram analisados junto a participante A, 65 tiveram nível de aprofundamento secundário, um primário e dois, por terem sido mencionados durante a realização da entrevista, foram definidos como terciários.

A participante A está matriculada no 1º ano do ensino fundamental, período no qual são enfatizadas habilidades relacionadas à alfabetização, conforme se pôde observar nas atividades e conseqüentes conceitos versados em sala de aula. Nos dias de observação verificou-se que todas as atividades, direta ou indiretamente, focavam a aquisição de habilidades para a aprendizagem da leitura e da escrita, bem como das habilidades básicas matemáticas; deste modo, os conceitos não eram o foco em si da atividade, mas eram tratados de maneira secundária ao conteúdo e objetivo principal. Apenas o termo urso, que fez parte de uma atividade de leitura, tendo sido aprofundado de maneira mais enfática em sala de aula, foi considerado primário quanto à abordagem.

19Abordagem dos Conceitos em Sala de Aula:

primária: conceitos abordados como objetivos principais da atividade

secundária: conceitos citados durante a realização das atividades, mas não como objetivos principais.

terciária: conceitos que não foram abordados em sala de aula, mas suscitados durante as entrevistas, podendo ou não estar relacionados aos conceitos primários ou secundários

A Figura 2 apresenta os modos utilizados em sala de aula para a exposição das atividades.

Figura 2 – Exposição das Atividades realizadas na sala de aula da Participante A

Na Figura 2 nota-se que das 15 atividades que foram observadas na sala de aula da participante A, 14 foram expostas verbalmente e de modo escrito, enquanto uma foi exposta apenas de modo verbal. Este dado sugere que na maioria das situações (14), a atividade escrita, seja na lousa, no livro ou na folha mimeografada, também foi apresentada de modo verbal para toda a sala. Apenas em uma atividade, cujo objetivo foi orientar os alunos quanto à confecção de um cartão, a demonstração aconteceu apenas verbalmente.

A Figura 3 destaca os Recursos e Estratégias utilizadas pela professora para a exposição das atividades para toda a sala.

De acordo com a Figura 3, dentre as atividades propostas pela professora para a turma, nove foram mimeografadas, quatro estavam contidas no livro didático da turma, uma teve como parâmetro um livro paradidático e uma foi apresentada apenas na lousa.

Considerando o direito ao acesso ao conhecimento garantido pela legislação (BRASIL, 2007) entende-se que a participante A não foi atendida nas suas necessidades quanto as Estratégias e Recursos utilizados para a exposição das atividades, uma vez que nem a folha mimeografada, o livro didático ou o paradidático, foram adaptados em Braille e em relevo, formato digital ou de áudio, o que a impediu de ter autonomia para a aquisição das informações. O MEC, segundo dados do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica (BRASIL, 2010), tem investido para que os alunos com cegueira, cadastrados no Censo Escolar, sejam contemplados com os mesmos livros didáticos escolhidos para a sua turma, acessíveis em Braille, por meio de parcerias com o Instituto Benjamim Constant (IBC) e com os CAP (Centro de Apoio Pedagógico).

A Figura 4 apresenta quais Estratégias e Recursos foram utilizados especificamente para a participante A.

Figura 4 – Estratégias e Recursos Específicos destinados à Participante A

Na Figura 4 observa-se que a Máquina Braille foi o recurso mais utilizado (10) pela estudante A, que a cola para produção de relevo foi empregada em três circunstâncias, o giz de cera em uma e que em três situações a estudante não teve acesso a Estratégias ou Recursos Específicos. Nesse caso, o uso da máquina Braille e a oferta de recursos e atividades adequadas estiveram vinculados ao apoio oferecido à professora pela estagiária ou pela

pesquisadora e as adequações realizadas em relevo não eram planejadas ou confeccionadas previamente, o que provocava atrasos na realização das atividades pela estudante A.

Apesar do processo de inserção de pessoas com cegueira no ensino regular comum ter sido iniciado na década de 50 (MAZZOTA, 1996), ainda são observadas práticas pedagógicas que ratificam a falta de informação de alguns professores sobre as necessidades especiais de recursos e estratégias dos alunos com deficiência visual (BATISTA, 1998).

A Figura 5 exibe a produção da participante A, a partir das atividades realizadas em sala de aula.

Figura 5 – Produção da Participante A em sala de aula

Ao término das atividades propostas pela professora PA obteve-se, conforme Figura 5, dez produções escritas, três desenhos em relevo e uma produção verbal da participante A. Em duas atividades propostas não houve qualquer produção da participante, sendo ambas relacionadas a tarefas de leitura: música comemorativa e história do livro didático, as quais a estudante não foi contemplada com adaptações em Braille para que pudesse ter acesso às informações, de modo concomitante aos demais alunos. Com relação à produção de ilustrações em relevo em equivalência às ilustrações visuais, Lowenfeld (1973) pontua que o conceito pode ser apreendido de maneira equivocada se não forem em duas dimensões ou se não puderem ser relacionadas com vivências e experiências corporais anteriores.

Em conformidade aos dados coletados por meio da observação da rotina escolar da díade: participante A e professora PA é possível considerar que não foram disponibilizados recursos e estratégias que possibilitassem que a estudante tivesse acesso adequado às informações abordadas em sala de aula, tampouco foram realizados ajustes para

a abordagem dos conceitos, de modo que se aproximassem das possibilidades de aprendizagem da participante A. Todavia, a professora PA demonstrou, ao término da realização da coleta de dados, e frente à devolutiva da pesquisadora, interesse em conhecer alternativas que melhorassem a sua prática pedagógica com relação à participante A.

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