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O Atlas.ti como instrumento de análise sob atitude fenomenológica

O software Atlas.ti utilizado, versão 7.5.10, não é livre no Brasil e foi adquirido no ano de 2012, durante a realização da dissertação e, posteriormente, a licença para estudante foi renovada para o desenvolvimento da tese e outras pesquisas.

O software é considerando um recurso significativo para a pesquisa qualitativa, pois contribui para o manuseio, sistematização, organização e apresentação dos dados analisados. Seu lançamento se deu na Bélgica, em 1993, e, a partir desta data, percebeu-se a adoção deste por muitos pesquisadores que utilizam grounded theory e análise de conteúdo. (KLÜBER; BURAK, 2012).

É importante mencionar que o software não realiza análise e a organização dos documentos é de responsabilidade do pesquisador. Sobre isso, a partir de Klüber (2014), compreendemos que o Atlas.ti não substitui o olhar do pesquisador no tratamento dos documentos na descrição e realização das interpretações. No trabalho continua sendo necessário criatividade, coerência, clareza do que se busca responder, isso que é ato do próprio pesquisador.

Para Klüber (2014), não há uma relação direta das funcionalidades do software com os princípios da fenomenologia, mas é possível utilizá-lo sem desconsiderar aspectos próprios desta atitude. E, no nosso caso específico, pudemos empreender o reconhecimento das unidades de significado, realizar a análise ideográfica, elaborar a matriz nomotética, indicação de invariantes e/ou categorias abertas.

A utilização do software iniciou-se pela organização dos documentos. Inserimos as entrevistas transcritas, criando uma unidade hermenêutica, esta que é, segundo Klüber e Burak (2012), a reunião dos dados, dos documentos que constituem a pesquisa. É o grupo de materiais da tese, o arquivo deste trabalho e, como se observa no canto esquerdo da figura 3, a unidade hermenêutica foi chamada de “Tese_2018_Acadêmicos”.

FIGURA 3 – Página Inicial do Software Atlas.ti

Fonte: Os autores

Os dados obtidos a partir das entrevistas foram inseridos e dispostos para análise, podendo ser visualizados ao lado superior esquerdo na figura 3, no link aberto, P-Docs (documentos primários), estes “são denominados de Px, sendo que x= 1, 2, 3 ...n é o número da ordem” (KLÜBER, BURAK, 2012, p. 472). Assim, as entrevistas foram codificadas pelo sistema de P1 até P26, essas foram inseridas aleatoriamente no software, respeitando somente a ordem: grupo 1, 2 e 3, conforme apresentado no quadro 1.

No segundo momento, com os documentos já incorporados ao software, realizamos o destaque ou reconhecimento das unidades de significado, estas que, para Klüber e Burak (2008, p. 98), “aparecem como os invariantes que fazem sentido para o pesquisador a partir da pergunta formulada e são feitas por meio da análise ideográfica (representação de ideias)”.

A exemplo do mencionado por Bicudo e Klüber (2013), nessa linha, realizamos a leitura das entrevistas atentos à nossa interrogação e buscamos identificar/reconhecer as unidades de significado, passagens ou recortes do texto que dão sentido para o que interrogamos ou para a compreensão do nosso fenômeno, isto é, a Modelagem Matemática na formação inicial de pedagogos.

FIGURA 4 – Exemplo de destaque das unidades de significado

Fonte: Os autores

Na figura 4, portanto, apresentamos o destaque das unidades de significado. No lado esquerdo da figura pode ser visualizado o texto com um dos excertos grifados em verde (discurso do sujeito) e, ao lado direito, podem ser visualizadas as unidades de significado.

No movimento de identificação das unidades de significado, vale destacar, o software gera um código representando “os conceitos gerados pelas interpretações do pesquisador” (WALTER; BACH, 2015, p. 281). Na figura 5, visualizamos a unidade de significado e seu código.

FIGURA 5 - Exemplo de códigos

O código 5:11 indica que o excerto é parte da quinta (5ª) entrevista, mais especificamente, correspondente à citação 11: “Um certo dia até pensei será que é alguma coisa com brinquedo que vai envolver a matemática ou massinha. Sei lá, foram as ideias que passaram na minha cabeça”. Essa visualização potencializada pelo software é sintetizada em quadros do capítulo 4.

Na continuidade do movimento de análise e interpretação, o software possibilita, em sua função Network View, a visualização de todas as unidades de significado e, também, a manipulação destas no estabelecimento de aproximações.

Melhor explicitando, as unidades de significado podem ser tratadas em outra página do software, na qual se pode manusear, aproximando-as em sentido e significado à interrogação da pesquisa.

Considerando Bicudo (2000), esta aproximação e manuseio das unidades de significado referem-se à identificação das invariantes a partir das unidades de significado. Segundo a autora, “a reunião desses invariantes permite nos movimentarmos para um nível maior de articulações possíveis” (id.,p. 92), isto é, estabelecimento de núcleos de ideias.

O movimento realizado é correspondente à busca pela estrutura do fenômeno e “isso se dá a partir de um segundo nível de redução, isto é, a interrogação das unidades sob o sentido da totalidade das leituras realizadas anteriormente”. (KLÜBER, 2014, p. 17).

A exemplificação do argumentado pode ser visualizado na figura 6.

FIGURA 6 – Exemplo de unidades na Network View

As aproximações supracitadas, num exercício interpretativo dos pesquisadores, passaram a constituir as categorias deste trabalho, conforme exemplo na figura 7.

FIGURA 7 - Exemplo de categorias abertas

Fonte: Os autores

O processo apresentado compreende análises realizadas mediante à redução fenomenológica, pois entende-se que interpretação não é apenas das categorias. A reflexão fenomenológica, em nossa compreensão, se faz desde o momento que se tem a interrogação e se busca compreensões sobre ela.

Tanto é que, nos capítulos 2 e 3 desta tese, no quais apresentamos estudos teóricos sobre o universo da Educação, Educação Matemática e formação de pedagogos, já tentamos construir nossas compressões sob um olhar fenomenológico, pois não há fundamentações específicas sobre o que se interroga.

O capítulo 4 é, em nossa opinião, onde a análise fenomenológica aparece com mais consistência e densidade, fazemos as reduções sobre o descrito e percebido pelos acadêmicos que vivenciaram a Modelagem Matemática durante seu processo de formação inicial.

Apresentados as questões metodológicas da pesquisa, damos continuidade com os estudos teóricos e apresentação dos dados produzidos.

2 MODELAGEM MATEMÁTICA NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO