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CAPÍTULO 5: Cadeia de comercialização da produção de moirões

5.1 Cadeia de comercialização de Eremanthus incanus

5.1.1 Atores envolvidos na cadeia de comercialização

5.1.1.1 Trabalhadores rurais

São pessoas que não possuem posse de terras e que, na maior parte do tempo, dedicam-se à retirada de candeia em terra de terceiros. Eles residem em zonas rurais e urbanas dos municípios onde a candeia ocorre com abundância. Para cortar a candeia, usam machado e, raramente, motosserra. O baldeio da madeira até a beira das estradas, normalmente, é feito por tropas de muares.

Os trabalhadores rurais são contratados pelos proprietários de terras onde há candeia e ou por atacadistas de candeia, que fazem o pagamento por dia de trabalho ou de acordo com a quantidade de moirões cortados e baldeados até a beira da estrada, sendo este último procedimento o mais utilizado.

O salário pago por dia de trabalho varia entre regiões e mesmo em determinado município. Por exemplo, no município de Morro do Pilar, MG, o salário diário de um trabalhador varia de R$ 12,00 a R$ 15,00. Já o preço pago pela dúzia de moirões colocada na beira da estrada varia de R$ 4,00 a R$ 6,00. Este valor depende do diâmetro e da quantidade de moirões existentes por unidade de área, da proximidade das estradas para onde os moirões serão baldeados, da topografia da área e de outras dificuldades encontradas para cortar e retirar a madeira de dentro do candeal.

Utilizando machado, um trabalhador consegue cortar de 8 a 20 dúzias de moirões por dia, sendo este rendimento dependente das condições mencionadas anteriormente. Para baldear a madeira até a beira da estrada utilizando uma tropa de três burros, o rendimento diário é de 15 dúzias a 30 dúzias. Cada burro transporta entre 8 e 15 moirões, dependendo do diâmetro dos mesmos e das condições do terreno.

De acordo com os entrevistados, para produzir moirões, deve-se cortar as árvores com diâmetro variando de 7 cm (“garrafa”) a 8 cm (“litro”). Abaixo disso, o moirão não tem boa aceitação pelo mercado, devido à sua baixa durabilidade, uma vez que a madeira tem pouco cerne e muito alburno (“branco”). Já quando o moirão vai ser utilizado como “esticador”, o ideal é que seu diâmetro seja pelo menos igual a 12 cm (“garrafão”).

5.1.1.2 Pequenos produtores rurais

São pessoas que possuem pequenas propriedades rurais onde pode ou não haver candeia. Parte de seu tempo é dedicada às atividades agropecuárias em sua propriedade e parte é dedicada à extração de candeia em terras próprias ou de terceiros.

Eles são contratados pelos grandes proprietários de terras ou por atacadistas de candeia, cujo salário recebido e o rendimento obtido na extração de candeia são semelhantes aos dos trabalhadores rurais.

No caso das pequenas propriedades onde há candeia, os produtores rurais a exploram e vendem aos atacadistas ou diretamente aos consumidores de moirões (fazendeiros).

5.1.1.3 Grandes produtores rurais

São fazendeiros capitalizados que, geralmente, têm caminhões para transportar a candeia. Há casos em que o produtor rural, além de explorar candeia em sua propriedade, compra candeia de outros proprietários de terra de seu município ou de municípios vizinhos.

Os grandes produtores contratam trabalhadores rurais e pequenos produtores para realizar a extração de candeia em sua propriedade e em propriedades de terceiros.

A candeia é vendida para os atacadistas de candeia ou diretamente aos consumidores (fazendeiros). No primeiro caso, a madeira pode ser vendida em pé ou já explorada e colocada na beira da estrada (“na porteira da fazenda”). No segundo caso, a candeia é vendida em diversos municípios mineiros e de outros estados.

No caso de o produtor rural possuir caminhão, há duas formas mais utilizadas para venda de candeia:

a) o produtor contrata um motorista e lhe paga cerca de R$ 300,00 a R$ 400,00, por caminhão e por viagem, para que ele venda a candeia (60 dúzias a 80 dúzias). O produtor fixa o preço pelo qual o motorista deve vender a madeira (de R$ 30,00 a R$ 45,00 a dúzia, dependendo do diâmetro dos moirões e da distância percorrida até o mercado consumidor). As despesas de viagem correm por conta do produtor;

b) o produtor disponibiliza seu caminhão ao motorista e lhe vende uma carga de candeia por um preço que varia de R$ 20,00 a R$ 25,00 a dúzia. O motorista tem autonomia para vender os moirões ao consumidor final pelo preço que desejar, mas as despesas de viagem são por sua conta.

Um caminhão carregado possui valor em torno de R$ 2.000,00 a R$ 3.000,00 em cargas de moirões.

5.1.1.4 Atacadistas de candeia

São aqueles que, normalmente, possuem caminhão, que é utilizado para o transporte de diversas mercadorias, sendo a atividade principal o transporte e a comercialização de candeia. Eles compram a madeira de produtores rurais e a

vendem em diversos municípios mineiros e de outros estados. A área de abrangência do atacadista pode envolver vários municípios onde a candeia ocorre em abundância.

Nos casos em que a madeira é adquirida em pé, o preço situa-se na faixa de R$ 11,00 a R$ 12,00. Já se a madeira for adquirida na beira da estrada, o preço pago varia de R$ 20,00 a R$ 30,00.

Os caminhões com candeia se deslocam para diversas cidades mineiras (principalmente sul de Minas Gerais e Triângulo Mineiro) e de outros estados (principalmente São Paulo e Espírito Santo), onde estacionam próximo a sindicatos rurais, cooperativas agrícolas, estabelecimentos comerciais que vendem produtos agropecuários, praças e vias de tráfego intenso e aguardam a chegada dos compradores. A negociação é feita diretamente entre o comprador (normalmente fazendeiros da região) e o caminhoneiro. A preferência do atacadista é pela venda de toda a carga a um só comprador, mas, na maioria dos casos, são vendidos lotes de diversos tamanhos (dúzias) a vários fazendeiros. Em geral, a entrega dos moirões é feita na propriedade do comprador.

Segundo depoimento dos entrevistados, quanto mais “paciência” o caminhoneiro tiver no momento da negociação, maior será o preço alcançado na venda dos moirões. O fato de a carga, normalmente, não possuir a documentação necessária para o comércio dos moirões deixa os caminhoneiros ansiosos para se desfazer logo dela, por temerem a chegada de fiscalização, o que acaba contribuindo para baixar o preço de venda.

O preço de venda da dúzia de moirões varia de R$ 40,00 a R$ 70,00 (podendo chegar a R$ 80,00) e depende de fatores como diâmetro dos moirões, época do ano e distância percorrida pelo caminhoneiro.

o ano inteiro, havendo paralisação apenas em épocas de chuvas intensas que danificam as estradas rurais e impedem o acesso dos caminhões aos candeiais para a retirada da madeira. Alguns atacadistas possuem pátios para estocar moirões e, dessa forma, garantir um fluxo mais constante do produto no mercado.

5.1.1.5 Consumidores ou mercado terminal

Constituem o último e o maior segmento da cadeia de comercialização da candeia. Trata-se, principalmente, de fazendeiros de diversos municípios mineiros e de outros estados que compram os moirões de candeia dos caminhoneiros ou diretamente dos produtores rurais. Os moirões são utilizados, principalmente, para a construção de cercas divisórias de pastagens, de plantios agrícolas e de limites da propriedade.

O preço de compra é negociado diretamente com o vendedor e o pagamento, normalmente, é feito à vista. O mais comum é não haver contrato formal de compra e venda entre as partes, ou seja, toda a transação é verbal.

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