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Atribuição de responsabilidades

No documento RONALDO BORGES DE ANDRADE (páginas 34-52)

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.8 Atribuição de responsabilidades

A ABNT NBR 12655:2015, em seu item 4, trata sobre quem são os responsáveis por cada uma das fases de construção das estruturas em concreto armado.

Ao profissional responsável pelo projeto estrutural, embasado segundo a ABNT NBR 6118:2014, cabe, entre outros pontos, a especificação do 𝑓𝑐𝑘 e 𝑓𝑐𝑘𝑗 (para as diferentes etapas construtivas) do concreto, determinação dos requisitos referentes à durabilidade da estrutura e a classe de agressividade ambiental adotada, além dos requisitos correspondentes às propriedades especiais do concreto.

Ao profissional incumbido da execução da obra recaem, entre outras, as responsabilidades da escolha da modalidade de preparo do concreto, tipo de concreto a ser empregado (definindo a sua consistência, dimensão máxima do agregado e demais propriedades necessárias para o atendimento ao projeto e condições de aplicação), recebimento e aceitação do concreto e rastreabilidade do material lançado na estrutura.

Em seu item 4.4, a ABNT NBR 6118:2014 destaca quem são os responsáveis pelo recebimento e aceitação do concreto afirmando que esta obrigação recai sobre o proprietário da

obra e o responsável técnico pela obra, sendo este responsável técnico designado pelo proprietário.

4. ESTUDO DE CASO

4.1 Caso 1

O primeiro caso consiste em um edifício com sete pavimentos tipo mais cobertura. Para o pavimento tipo, temos que seis pilares possuem sessão transversal de 80 x 20 cm (tipo 1), enquanto que outros dois possuem seção de 60 x 25 cm (tipo 2), com pé direito de 2,90 m.

Sabe-se ainda que o concreto será produzido em betoneira estacionária com capacidade para 250 l.

Deseja-se, então, determinar a quantidade mínima de corpos de prova necessários para a estimativa da resistência dos pilares, tanto através do controle por amostragem parcial como por amostragem total. Os cálculos devem ser feitos ainda para cada um dos tipos de amostragem considerando o uso de concreto C40 e concreto C55.

Amostragem total

Começando pelo método da amostragem total, que não diferencia o processo para os concretos do grupo 1 ou 2 (classificação da ABNT NBR 8953:2015 relativa à classe do concreto), calcula-se o número de lotes a serem amostrados, número esse que é igual ao número de betonadas. Cada betonada possui 0,250 m³ de concreto, que é a capacidade da betoneira estacionária utilizada.

O volume de concreto a ser utilizado nos pilares da obra, considerando que estes são interrompidos na laje de cobertura do último pavimento tipo (laje de piso da cobertura) será dado por:

𝑉𝑐𝑜𝑛𝑐𝑟𝑒𝑡𝑜,𝑝𝑖𝑙𝑎𝑟 = (𝑏1× 𝑐1× 𝑛1+ 𝑏2× 𝑏2× 𝑛2) × ℎ × 𝑛𝑝 (10)

Com 𝑏𝑖 e 𝑐𝑖 sendo as largura e comprimento da seção reta do pilar tipo 𝑖, 𝑛𝑖 sendo a quantidade de pilares do tipo 𝑖 por pavimento tipo,

ℎ sendo o pé direito do pavimento tipo e 𝑛𝑝 sendo a quantidade de pavimentos tipo.

𝑉𝑐𝑜𝑛𝑐𝑟𝑒𝑡𝑜,𝑝𝑖𝑙𝑎𝑟 = (0,80 × 0,20 × 6 + 0,60 × 0,25 × 2) × 2,90 × 7

𝑉𝑐𝑜𝑛𝑐𝑟𝑒𝑡𝑜,𝑝𝑖𝑙𝑎𝑟 = 25,578 𝑚³

A quantidade de betonadas/lotes a serem utilizados na concretagem dos pilares podem ser obtidos pela divisão do volume de concreto utilizado pelo volume de uma betonada, então:

𝑛𝑙𝑜𝑡𝑒𝑠 = 𝑉𝑐𝑜𝑛𝑐𝑟𝑒𝑡𝑜,𝑝𝑖𝑙𝑎𝑟 𝑉

𝑏𝑒𝑡𝑜𝑛𝑎𝑑𝑎

⁄ (11)

𝑛𝑙𝑜𝑡𝑒𝑠 = 25,578 0,250

𝑛𝑙𝑜𝑡𝑒𝑠= 102,312 𝑙𝑜𝑡𝑒𝑠

Considerando que o número de lotes deve ser um valor inteiro e que não se deve deixar de analisar a última betonada, que possuirá um volume menor de concreto, arredonda-se para o próximo maior inteiro o valor encontrado. Assim:

𝑛𝑙𝑜𝑡𝑒𝑠 = 103 𝑙𝑜𝑡𝑒𝑠

Por fim, como cada lote deve ser amostrado por um exemplar e cada exemplar é constituído por dois corpos de prova, temos que o número de corpos de prova será o dobro do número de lotes. Logo:

𝑛𝑐𝑜𝑟𝑝𝑜𝑠−𝑑𝑒−𝑝𝑟𝑜𝑣𝑎 = 2 × 𝑛𝑒𝑥𝑒𝑚𝑝𝑙𝑎𝑟𝑒𝑠 (12)

𝑛𝑐𝑜𝑟𝑝𝑜𝑠−𝑑𝑒−𝑝𝑟𝑜𝑣𝑎 = 2 × 103

𝑛𝑐𝑜𝑟𝑝𝑜𝑠−𝑑𝑒−𝑝𝑟𝑜𝑣𝑎= 206 𝑐𝑜𝑟𝑝𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑝𝑟𝑜𝑣𝑎

Amostragem parcial

Inicialmente devemos formar os lotes a serem analisados atentando-se para os limites estabelecidos na Tabela 5. Como o concreto será utilizado em pilares, sabemos que o elemento estrutural estará submetido a compressão ou flexo-compressão.

Analisando o critério do volume de concreto, vemos que o lote pode ser formado por até 50 m³ de material. Considerando, como já visto segundo a equação 10, que o volume total de concreto utilizado nos pilares é de 25,578 m³, teríamos aqui apenas um lote a ser amostrado.

Não temos dados sobre o tempo de concretagem, então não podemos analisar a formação dos lotes segundo esse critério.

Já quanto ao critério do número de pavimentos, temos que cada lote deve ser formado por, no máximo, o volume de concreto utilizado em um pavimento. Com sete pavimentos tipo, tem-se sete lotes a serem amostrados. Como esse critério exigiu o maior número de lotes, deve ser utilizado para a formação destes.

Para o concreto da classe C40, integrante do grupo 1 segundo classificação da ABNT NBR 8953:2015, devem ser recolhidos, no mínimo, seis exemplares por lote, ou seja:

𝑛𝑒𝑥𝑒𝑚𝑝𝑙𝑎𝑟𝑒𝑠 = 𝑛𝑙𝑜𝑡𝑒𝑠× 𝑛𝑒𝑥𝑒𝑚𝑝𝑙𝑎𝑟𝑒𝑠/𝑙𝑜𝑡𝑒 (13)

𝑛𝑒𝑥𝑒𝑚𝑝𝑙𝑎𝑟𝑒𝑠 = 7 × 6

𝑛𝑒𝑥𝑒𝑚𝑝𝑙𝑎𝑟𝑒𝑠= 42 𝑒𝑥𝑒𝑚𝑝𝑙𝑎𝑟𝑒𝑠

Considerando a exigência de dois corpos-de-prova por exemplar (equação 12), temos que:

𝑛𝑐𝑜𝑟𝑝𝑜𝑠−𝑑𝑒−𝑝𝑟𝑜𝑣𝑎 = 84 𝑐𝑜𝑟𝑝𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑝𝑟𝑜𝑣𝑎

Para o concreto C55, integrante do grupo 2 de concretos segundo a ABNT NBR 8953:2015, a análise para formação dos lotes é a mesma, porém devem ser recolhidos, no mínimo, doze exemplares por lote. Assim, utilizando-se a equação 13:

𝑛𝑒𝑥𝑒𝑚𝑝𝑙𝑎𝑟𝑒𝑠= 7 × 12

𝑛𝑒𝑥𝑒𝑚𝑝𝑙𝑎𝑟𝑒𝑠= 84 𝑒𝑥𝑒𝑚𝑝𝑙𝑎𝑟𝑒𝑠

Temos, por fim (equação 12):

𝑛𝑐𝑜𝑟𝑝𝑜𝑠−𝑑𝑒−𝑝𝑟𝑜𝑣𝑎= 168 𝑐𝑜𝑟𝑝𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑝𝑟𝑜𝑣𝑎

4.2 Caso 2

O Edifício Amoreiras, localizado na cidade de São Carlos, estado de São Paulo, possui um pavimento térreo mais onze pavimentos tipo. A concretagem dos pilares do pavimento

térreo aconteceu em duas etapas, com uma diferença de dez dias entre elas. Sabe-se que foi utilizado 7,5 m³ de concreto na primeira etapa e 6,0 m³ de concreto na segunda, com a produção

in loco em uma betoneira com capacidade para 300 litros.

O 𝑓𝑐𝑘 especificado em projeto foi de 30 MPa e a verificação a esse requisito se deu com

a retirada de oito exemplares de betonadas distintas na primeira etapa e seis exemplares na segunda etapa para realização do ensaio de resistência à compressão aos 28 dias. Deve-se, então, a partir dos resultados dos ensaios, verificar se o material atende à resistência à compressão especificada em projeto.

Os exemplares da etapa 1 foram moldados no dia 02 de junho e ensaiados no dia 30 de junho de 2014, com os resultados mostrados na Tabela 8.

Tabela 8 - Resultados do ensaio da etapa 1

Exemplar C.P. Resistência (MPa)

1 1 34,6 2 31,5 2 3 32,2 4 30,1 3 5 27,4 6 31,4 4 7 32,3 8 28,1 5 9 36,9 10 32,3 6 11 31,7 12 29,8 7 13 31,8 14 28,4 8 15 29,6 16 25,8 Fonte: Autor (2020)

Como a resistência de um exemplar é dada pelo maior resultado entre os corpos de prova ensaiados, temos na Tabela 9 os valores de resistência para os exemplares da primeira etapa.

Tabela 9 - Resistências dos exemplares da etapa 1

Exemplar C.P. Resistência (MPa)

1 1 34,6 2 3 32,2 3 6 31,4 4 7 32,3 5 9 36,9 6 11 31,7 7 13 31,8 8 15 29,6 Fonte: Autor (2020)

Como cada betonada possui 0,3 m³, obteremos o número de betonadas da etapa como definido na equação 14. 𝑛𝑏𝑒𝑡𝑜𝑛𝑎𝑑𝑎𝑠 = 𝑉𝑐𝑜𝑛𝑐𝑟𝑒𝑡𝑜,𝑒𝑡𝑎𝑝𝑎 𝑉𝑏𝑒𝑡𝑜𝑛𝑎𝑑𝑎 ⁄ (14) 𝑛𝑏𝑒𝑡𝑜𝑛𝑎𝑑𝑎𝑠 = 7,5 0,3⁄ 𝑛𝑏𝑒𝑡𝑜𝑛𝑎𝑑𝑎𝑠 = 25 𝑏𝑒𝑡𝑜𝑛𝑎𝑑𝑎𝑠

Como o número de exemplares é menor que o número de betonadas, tem-se um controle por amostragem parcial. E como tem-se entre 6 e 20 exemplares, deve-se utilizar a equação 4 para a estimativa do 𝑓𝑐𝑘 do material, o que leva à:

𝑓𝑐𝑘,𝑒𝑠𝑡 = 2 ×29,6 + 31,4 + 31,7

4 − 1 − 31,8

𝑓𝑐𝑘,𝑒𝑠𝑡 = 30 𝑀𝑃𝑎

Como 𝑓𝑐𝑘,𝑒𝑠𝑡 = 𝑓𝑐𝑘, o concreto utilizado na etapa 1 está conforme.

Partindo para a análise da segunda etapa, temos os resultados dos ensaios, que foram realizados dia 10 de julho com corpos de prova moldados dia 12 de junho, mostrados na Tabela 10.

Tabela 10 - Resultados do ensaio da etapa 2

Exemplar C.P. Resistência (MPa)

9 17 35,8 18 31,7 10 19 32,6 20 30,2 11 21 30,4 22 29,8 12 23 37,3 24 29,4 13 25 32,5 26 36,3 14 27 34,6 28 37,8 Fonte: Autor (2020)

Os exemplares serão então representados pelos corpos de prova mostrados na Tabela 11.

Tabela 11 - Resistências dos exemplares da etapa 1

Exemplar C.P. Resistência (MPa)

9 17 35,8 10 19 32,6 11 22 30,4 12 23 37,3 13 26 36,3 14 28 37,8 Fonte: Autor (2020)

O número de betonadas utilizadas na etapa é obtida a partir da equação 14:

𝑛𝑏𝑒𝑡𝑜𝑛𝑎𝑑𝑎𝑠 = 6,0 0,3

Tem-se aqui também um controle por amostragem parcial. Utilizando-se, então, a equação 4 mais uma vez, chega-se à:

𝑓𝑐𝑘,𝑒𝑠𝑡 = 2 ×30,4 + 32,6

3 − 1 − 35,8

𝑓𝑐𝑘,𝑒𝑠𝑡 = 27,2 𝑀𝑃𝑎

Como 𝑓𝑐𝑘,𝑒𝑠𝑡 < 𝑓𝑐𝑘, o concreto da etapa 2 está não conforme.

4.3 Caso 3

O terceiro caso consiste na concretagem dos pilares do pavimento térreo de um edifício comercial a ser utilizado como shopping center. Serão concretados 48 pilares no total, sendo 16 pilares por dia e cada pilar possuindo seção transversal de 40 x 40 cm com pé direito duplo de 6,0 m de altura.

O concreto, que foi especificado em projeto como C35, será produzido em uma betoneira estacionária de 1000 litros e, por opção do engenheiro da obra, cada betonada será utilizada para preencher apenas um pilar.

Quanto ao controle tecnológico, optou-se por retirar exemplares de metade dos pilares para os ensaios de resistência à compressão, cujos resultados estão na Tabela 12 a seguir. O objetivo é verificar, a partir dessas informações, se o concreto se apresenta conforme a partir do cálculo do 𝑓𝑐𝑘,𝑒𝑠𝑡. As moldagens dos corpos de prova ocorreram nos dias 03, 04 e 05 de julho com os ensaios sendo realizados, após 28 dias e, respectivamente, nos dias 31 de julho e 01 e 02 de agosto do ano de 2017.

Tabela 12 - Resultados do ensaio de resistência à compressão

Dia Exemplar C.P. Resistência (MPa) Exemplar (MPa)

1 1 1 34,6 34,6 2 31,5 2 3 35,7 35,7 4 30,1 3 5 27,4 31,4 6 31,4 4 7 32,3 38,2 8 38,2 5 9 36,9 36,9

10 32,3 6 11 37,1 37,1 12 33,8 7 13 35,8 35,8 14 32,4 8 15 39,3 39,3 16 35,8 2 9 17 41,2 41,2 18 37,4 10 19 39,3 39,3 20 35,8 11 21 37,4 37,4 22 31,4 12 23 32,3 35,8 24 35,8 13 25 36,9 41,5 26 41,5 14 27 31,7 34,5 28 34,5 15 29 31,8 33,2 30 33,2 16 31 34,1 38,2 32 38,2 3 17 33 34,6 36,1 34 36,1 18 35 38,2 40,2 36 40,2 19 37 38,5 38,5 38 31,4 20 39 32,3 34,1 40 34,1 21 41 39,9 43,2 42 43,2 22 43 38,3 42,1 44 42,1 23 45 31,8 35,2 46 35,2 24 47 42,4 42,4 48 40,1 Fonte: Autor (2020)

Inicialmente é importante ressaltar que o controle se trata do controle por amostragem parcial já que apenas metade das betonadas tiveram material de ensaio recolhido. Com isso, partimos para a formação dos lotes.

Analisando a Tabela 5 e considerando que as peças concretadas foram pilares, tem-se que os elementos estruturais em estudo estão submetidos à compressão ou compressão e flexão. Sabemos também que toda a concretagem foi realizada em três dias e que os pilares são todos do mesmo pavimento, o que, segundo os critérios de tempo de concretagem e número de pavimentos, permite a caracterização de todo o material utilizado como pertencente ao mesmo lote.

Analisando o critério do volume de material utilizado, temos que o volume total de concreto lançado nos pilares pode ser encontrado pela equação 10 com um pequeno ajuste, o que nos leva ao seguinte:

𝑉𝑐𝑜𝑛𝑐𝑟𝑒𝑡𝑜,𝑝𝑖𝑙𝑎𝑟 = 0,40 × 0,40 × 48 × 6,0 × 1

𝑉𝑐𝑜𝑛𝑐𝑟𝑒𝑡𝑜,𝑝𝑖𝑙𝑎𝑟 = 46,08 𝑚³

Como o volume total de concreto é menor que 50 m³, concluímos que todo material utilizado na concretagem dos 48 pilares pode ser considerado como um lote apenas.

O cálculo do 𝑓𝑐𝑘,𝑒𝑠𝑡 agora é feito segundo as equações 1 e 2 devido ao fato de possuirmos mais de 20 exemplares representando o lote. Inicialmente, então, calcula-se a resistência média dos 48 exemplares:

𝑓𝑐𝑚 =𝑓1+ 𝑓2+ ⋯ + 𝑓47+ 𝑓48 48

𝑓𝑐𝑚 = 37,58 𝑀𝑃𝑎

Como temos mais de 20 exemplares que foram ensaiados em dias consecutivos dentro de um período de 30 dias, o desvio padrão do lote é dado pela equação 1, então:

𝑆𝑑 = √ 1

48 − 1∑(𝑓𝑖 − 37,58)²

48

𝑖=1

O 𝑓𝑐𝑘,𝑒𝑠𝑡 é dado por 2:

𝑓𝑐𝑘,𝑒𝑠𝑡 = 37,58 − 1,65 × 3,12

𝑓𝑐𝑘,𝑒𝑠𝑡 = 32,43

Como 𝑓𝑐𝑘,𝑒𝑠𝑡 < 𝑓𝑐𝑘, o lote é não conforme.

4.4 Caso 4

O caso 4 consiste na concretagem de lajes e vigas de um pavimento tipo que tiveram seu concreto especificado em projeto como C25. A concretagem ocorreu em um dia e foram utilizados nove caminhões betoneira de capacidade 3,0 m³ cada.

O controle tecnológico foi feito por amostragem total, ou seja, retirou-se exemplares de cada um dos caminhões betoneira e o resultado dos ensaios de resistência a compressão estão na Tabela 13 a seguir. As moldagens dos corpos de prova ocorreram dia 03 de agosto e os ensaios aconteceram dia 31 de agosto 2018.

Tabela 13 - Resistência a compressão dos exemplares e locais de aplicação Exemplar Local C.P. Resistência (MPa) Exemplar (MPa)

1 1 1 24,60 26,50 2 26,50 2 2 3 25,70 25,70 4 20,10 3 3 5 27,40 27,40 6 21,40 4 4 7 22,30 28,20 8 28,20 5 5 9 26,90 26,90 10 22,30 6 6 11 27,10 27,10 12 23,80 7 7 13 25,80 25,80 14 22,40 8 8 15 29,30 29,30 16 25,80 9 9 17 21,20 21,20 18 17,40

Fonte: Autor (2020)

Como se percebe na Tabela 13, a aplicação do concreto foi mapeada e, assim, sabe-se onde aplicou-se cada uma das nove betonadas na estrutura.

Com as informações dadas, deve-se verificar se o concreto está conforme ou não segundo as regras da ABNT NBR 12655 nas versões 2015 e 2006 e, caso o resultado seja a não conformidade, deve-se descrever o procedimento a ser seguido para a solução do problema.

Começaremos verificando a conformidade do material segundo a versão mais recente da ABNT NBR 12655. Isso é feito através da equação 5 para cada uma das betonadas e nos dá o contido na Tabela 14.

Tabela 14 - Conformidade das betonadas

Exemplar Local 𝒇𝒄𝒌,𝒆𝒔𝒕 (MPa) Conformidade

1 1 26,50 Conforme 2 2 25,70 Conforme 3 3 27,40 Conforme 4 4 28,20 Conforme 5 5 26,90 Conforme 6 6 27,10 Conforme 7 7 25,80 Conforme 8 8 29,30 Conforme 9 9 21,20 Não conforme

Fonte: Autor (2020)

Como pode ser visto, apenas o lote/betonada representado pelo exemplar 9 se apresenta como não conforme. Aqui é bom ressaltar como a versão de 2015 da norma permite que um lote inteiro, mesmo que com apenas 3 m³, seja representado por apenas um corpo de prova. Estatisticamente falando, não há como saber em que ponto da curva de Gauss esse exemplar caiu, logo, usá-lo para representar o lote é ignorar a variabilidade natural da resistência à compressão do concreto.

Já para a versão de 2006, tem-se que os 27 m³ de concreto utilizados formam um só lote e cada uma das betonadas desse lote fornecerá um 𝑓𝑖, que será o maior entre os dois valores do

exemplar e que coincide com os valores da terceira coluna da Tabela 14. Como existem menos que vinte exemplares, o 𝑓𝑐𝑘,𝑒𝑠𝑡 do lote é dado pelo 𝑓1. Sendo assim:

Isso implica agora que o lote, ou seja, todo o concreto utilizado (27 m³), está não conforme. Aqui, no entanto, diferente do método da versão de 2015, com nove corpos de prova e um abaixo da resistência esperada, temos uma maior segurança estatística para dizer que mais de 5% dos exemplares estão abaixo da resistência desejada.

Como tivemos o mapeamento do lançamento, a divergência de resultados não gera divergência nas medidas a serem tomadas devido ao material não conforme pois sabe-se que o material problemático está no local 9 e é aí que devem ser realizados os procedimentos que são descritos mais adiante.

Sem o mapeamento, porém, segundo a filosofia da versão de 2006, todos os 27 m³ de material utilizados estariam condenados e toda a estrutura teria que ser envolvida nos procedimentos que devem ser realizados em caso de concreto não conforme e que são discutidos abaixo.

Inicialmente deve-se informar esse resultado ao engenheiro projetista para que este analise se a estrutura pode continuar a ser usada normalmente. Em caso de permissão para tal, o melhor cenário possível, nada mais precisa ser feito. Em caso de negativa, outras atitudes devem ser tomadas. Lembrando que o ideal é que, por questão de segurança, a obra fique parada enquanto o aval do calculista permita o contrário.

Pode-se, a partir daí, colocar em dúvida o resultado obtido em laboratório e, para o confronto, devem ser realizados novos ensaios com testemunhos extraídos do local 9. A quantidade de testemunhos necessários é informada pela Tabela 7. Como o controle foi feito por amostragem total, o mapeamento foi feito durante o lançamento e o concreto foi aplicado em mais de um elemento estrutural, devem ser extraídos três testemunhos. Caso o os testemunhos mostrem que o concreto está conforme, a estrutura é diretamente aceita, caso não, pode-se ainda proceder a prova de carga na estrutura. Esse procedimento, porém, só pode ser realizado nas situações em que se sabe que a ruptura, caso venha a acontecer durante os testes, seja de natureza dúctil.

Caso os testemunhos e a prova de carga corroborem o resultado obtido em laboratório, iniciam-se os procedimentos para correção do erro.

A correção mais simples consiste na execução de reforços para os elementos estruturais que possuem o concreto não conforme. Para isso, porém, deve-se arcar com os custos provenientes da elaboração do projeto dos reforços, execução dos reforços e o tempo perdido com esses processos, que podem impedir, inclusive, a continuidade da construção dos pavimentos superiores.

Outra correção possível, mas mais dispendiosa, é a demolição dos elementos estruturais constituídos de concreto não conforme para a reconstrução destes.

Por fim, porém, caso os custos provenientes do processo de reparo ou dos atrasos de cronograma intrínsecos a essas situações cubram o lucro e a rentabilidade do empreendimento, o fim da obra pode ser a única ação a ser tomada.

5. CONCLUSÃO

Após a revisão bibliográfica sobre o tema concluiu-se que a ideia de controle tecnológico do concreto no país é bem difundida entre os profissionais da área, porém é pouco conhecido de forma integral. O entendimento errôneo de que o controle de aceitação é o controle tecnológico do concreto em si ainda é comum. Uma maneira de dar início à uma mudança desse panorama é sempre atrelar as normas brasileiras que auxiliam a ABNT NBR 12655:2015 no processo de controle tecnológico do concreto às discussões sobre o tema, já que estas tratam de forma mais específica o que deve ser feito em cada uma das etapas anteriores ao lançamento do material para obtermos um concreto de qualidade e que, quando respeitadas, será considerado conforme segundo os critérios da norma

Criou-se também a percepção da negligência que ocorre quanto a todos os efeitos negativos provenientes de um concreto não conforme para uma estrutura. Os problemas relacionados a instabilidade e ruptura de elementos estruturais devido à resistência a compressão abaixo do esperado são sempre, corretamente, lembrados, porém, quando superados esses problemas, a discussão sobre a qualidade do material é dada como finalizada e se esquece que problemas relacionados aos estados limites de serviço podem ocorrer já que várias propriedades do material são dependentes do 𝑓𝑐𝑘.

Verifica-se, ainda, o inverso, ou seja, como cada uma das etapas de produção do concreto são importantes para a resistência à compressão final do material e que, por isso, essa propriedade se mostra como um ótimo indicador para a qualidade do seu processo de produção.

A aplicação da norma em casos reais mostrou a praticidade do seu uso e o quanto essa é flexível para que possa ser usada em diferentes realidades de obra. A possibilidade de se obter o desvio padrão de forma tabelada e os diferentes tipos de controle disponíveis são exemplos de itens da norma que tornam sua aplicação possível mesmo em canteiros menores.

Mostra-se também que o caráter probabilístico dos métodos de controle deixa margem para a obtenção de informações que podem não ser verdadeiras e que, por isso, os resultados devem ser sempre analisados e, se necessário, verificados de outras maneiras.

Por fim, ressalta-se que o planejamento das atividades do controle de qualidade é essencial, não apenas no que diz respeito ao mapeamento do lançamento, mas também, por exemplo, na forma como o concreto da obra será produzido, já que a forma de produção, principalmente devido ao volume das amassadas, define qual o tipo de amostragem será usada no controle tecnológico do concreto.

REFERÊNCIAS

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Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2011.

TERZIAN, Paulo; HELENE, Paulo. Manual de Dosagem e Controle do Concreto. São Paulo: Pini/senai, 1993. 189 p.

No documento RONALDO BORGES DE ANDRADE (páginas 34-52)

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