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4 A DIMENSÃO TÉCNICO-OPERATIVA NA FORMAÇÃO

4.2 A dimensão técnico-operativa na formação profissional presencial em

4.2.2 Atribuições privativas

Adentrando-se no segundo bloco de questões, o qual se aborda os incisos V, VII, VII, X e XI do artigo do artigo 5º da Lei nº 8.662/1993, de Regulamentação da Profissão pertinente às atribuições privativas, a pergunta é a mesma citada acima. Enquanto que as referidas atribuições foram selecionadas com a finalidade de aferir os avanços que a

formação, porventura, possa ter imprimido para além das requisições exigidas pelo Ministério da Educação. Assim, o referido bloco aborda as atribuições a seguir:

Quadro 2 – Atribuições Privativas – Código de Ética

Questões Satisfatoriamente Insatisfatoriamente Não Abordou

Pub. Priv. Pub. Priv. Pub. Priv.

1.2 Atribuições Privativas – Código de Ética. Assumir, no magistério de Serviço Social tanto a nível de graduação como pós-graduação, disciplinas e funções que exijam conhecimentos próprios e adquiridos em curso de formação regular;

4 8 5 5 0 0

Dirigir e coordenar Unidades de Ensino e Cursos de Serviço Social, de graduação e pós-graduação;

2 4 3 6 4 3

Dirigir e coordenar associações, núcleos, centros de estudo e de pesquisa em Serviço Social;

3 2 5 10 1 1

Coordenar seminários, encontros, congressos e eventos assemelhados sobre assuntos de Serviço Social;

8 6 0 5 1 2

Fiscalizar o exercício profissional através dos Conselhos Federal e Regionais;

5 9 4 4 0 0

Assim, ao indagar-se se a formação abordou a atribuição que prevê “assumir, no magistério de Serviço Social tanto em nível de graduação como de pós-graduação, disciplinas e funções que exijam conhecimentos próprios e adquiridos em curso de formação regular” (BRASIL, 1993), 13 avaliaram como satisfatória a abordagem realizada na formação, enquanto que 9 entrevistados avaliaram que a formação abordou insatisfatoriamente tal atribuição privativa, que consta também no rol das competências elencadas nas Diretrizes sintetizadas pela Comissão de Especialistas da ABEPSS. Ressalte-se ainda que, ao se propor tal questão, procurou-se na entrevista enfatizar o magistério em nível de graduação e não de pós-graduação, pois se sabe que, na complexidade da formação atual, a pós-graduação tornou- se requisito fundamental para o exercício do magistério, seja em nível de graduação quanto de pós-graduação. No entanto, tal atribuição não consta nas competências aprovadas pelo MEC, de modo que não é exigido pelo referido Ministério que essa abordagem seja realizada na graduação.

Ainda assim, algumas inferências podem ser feitas, sobretudo amparadas nas considerações dos entrevistados, na inserção destes no mercado de trabalho, assim como na

instituição de formação de origem. Primeiramente, é mister destacar que dos 9 entrevistados que consideraram tal abordagem insatisfatória, 5 são oriundos de instituição de ensino superior pública, na qual foi identificado o corpo docente mais qualificado em termos de mestrado e doutorado, o que pode fazer supor abordagem insatisfatória dessa competência a despeito da relevante qualificação e experiência do corpo docente da instituição. Ou, então, pode ter havido maior exigência no que se refere ao exercício da docência. Em outras palavras, o próprio fato de que boa parte do corpo docente atuante na graduação da instituição pública é formada de mestres e doutores pode contribuir para a compreensão por parte dos profissionais oriundos desta instituição da necessidade de qualificar-se em nível de mestrado e doutorado como pré-requisito para o exercício da docência. Todavia, tal hipótese não anula o fato de que estes consideraram a abordagem desta atribuição insatisfatória na graduação.

Ademais, dos 13 entrevistados que consideraram a abordagem satisfatória, 1 atua em docência presencial e 3 atuam em função correlata, nas modalidades a distância ou semipresencial, e todos os 4 acumulam exercício em função técnica durante o dia, com exercício em instituição de ensino durante a noite ou aos fins de semana. Nesse sentido, não se pode descartar que o fato de estes profissionais já atuarem na docência faça com que estejam constantemente em contato com os principais autores e temáticas da área, seja mediante leituras, seja mediante as aulas transmitidas por aparelhos multimídia. Tal realidade pode ter interferido na análise que estes realizaram de sua formação em nível de graduação.

Em se tratando da atribuição privativa “dirigir e coordenar Unidades de Ensino e Cursos de Serviço Social, de graduação e pós-graduação”, dos 22 entrevistados, somente 6 avaliaram que tal atribuição foi abordada satisfatoriamente na graduação, sendo 2 oriundos de instituição pública e 4 oriundos de instituição privada. Dos demais, 9 consideraram que tal abordagem foi insatisfatória, enquanto que 7 avaliaram que essa atribuição não foi abordada. A ênfase aqui se situa em “dirigir e coordenar cursos de Serviço Social”, realidade que vai se repetir em outras atribuições, cuja ênfase situa-se em nível de gestão, isto é, dirigir, planejar, coordenar, as quais serão apresentadas no decorrer do tratamento dos dados. Contudo, verifica-se que na formação profissional a abordagem das atribuições diretivas pertinentes ao curso de graduação foi frágil no sentido de preparar os assistentes sociais a desenvolvê-la.

Dando continuidade às atribuições que envolvem funções diretivas, ao se questionar a respeito da abordagem na formação profissional da atribuição que evidencia “dirigir e coordenar associações, núcleos, centros de estudo e de pesquisa em Serviço Social”, a função de coordenação no campo da pesquisa contribui para um dado preocupante: apenas 5 entrevistados avaliaram que a formação abordou satisfatoriamente essa atribuição, dentre os

quais, 3 são oriundos de universidade pública e 2, de centro de ensino superior situado em Imperatriz. Este último, embora não seja universidade, ainda assim 2 egressos consideraram satisfatória a abordagem da referida competência. Por outro lado, 6 oriundos de universidade pública, 3 oriundos de universidade privada e 8 oriundos de centro de ensino consideraram a abordagem insatisfatória, o que totaliza 17.

Aqui se desconstrói o ideário de que o tripé ensino, pesquisa e extensão dependem apenas da qualificação do docente inserido na instituição de formação profissional, pois mesmo em instituições públicas, cujo corpo docente é um dos mais qualificados, identificam- se lacunas nos dados. Tais lacunas indicam que a garantia do referido tripé depende também de investimento financeiro e de condições de trabalho que permitam sua realização, a saber: ampliação dos recursos humanos, sobretudo docentes, investimento financeiro tanto para extensão, quanto para a pesquisa, carga horária ampliada e remunerada para tais finalidades, sobretudo em instituições de natureza privada, a fim de que tais profissionais possam dedicar- se a tais atribuições.

Compreende-se que tal precariedade tem um duplo vetor: de um lado, a carência na abordagem da atribuição referente à função que possui interface com a administração (dirigir, coordenar), dado que já foi evidenciado em questão anterior, cuja ênfase é a gestão, e, de outro, a própria precariedade do conjunto das instituições e do espaço nelas reservado à pesquisa. Portanto, embora seja visível que o Maranhão tem avançado nos últimos anos no que se refere à criação de novos programas de pós-graduação sob direção da política de educação pública direcionada pelas agências governamentais (CAPES e CNPq), conforme os dados apresentados pelos entrevistados, essa expansão não conseguiu até o momento sanar problemas estruturais na garantia do tripé ensino, pesquisa e extensão. Assim como não conseguiu sanar as dificuldades de qualificação strictu sensu dos docentes em exercício em instituição de ensino superior privada, situada em Imperatriz, conforme já apresentado no tópico anterior, quando se tratou da qualificação do corpo docente das instituições em estudo.

Acerca da pesquisa surgiram considerações que indicam ser o referido tripé elemento constitutivo do curso em instituição privada, porém na prática fica a cargo do aluno, enquanto que na instituição pública foi reforçada a necessidade de ampliação do acesso, que é muito restrito. Dentre aqueles que responderam que tal atribuição foi abordada satisfatoriamente, um reforçou que o aprendizado se deu por participação do entrevistado em grupo de pesquisa como estudante de iniciação científica, o que indica a importância do fomento à participação nestes grupos como forma de contribuir para o aprendizado da atribuição em tela, posto que a abertura à participação ainda é incipiente.

Ao se enfatizar a abordagem da atribuição privativa referente a “coordenar seminários, encontros, congressos e eventos assemelhados sobre assuntos de Serviço Social”, dos 22 entrevistados, 14 avaliaram que esta foi abordada satisfatoriamente, sendo 8 oriundos de instituições públicas e 6 oriundos de formação privada, indicando que a maioria dos formados em instituição pública avaliam que tal atribuição foi abordada a contento. Por outro lado, 5 entrevistados oriundos de instituições privadas avaliaram que a mesma abordagem foi insatisfatória – enquanto 3 afirmaram que essa atribuição não foi abordada: sendo 2 oriundos de instituição privada e 1 de instituição pública. Assim, diante dos dados, verifica-se que a maioria das respostas que indicam avaliação negativa da abordagem dessa competência manifesta-se entre os entrevistados oriundos de instituições privadas, os quais somam 7 entre os que avaliam como insatisfatória ou não abordada.

Vale salientar, dentre os que consideram tal abordagem satisfatória, um entrevistado, oriundo de instituição pública, ressaltou a contribuição do movimento estudantil na formação, especialmente no que tange a essa atribuição. Então, embora essa atribuição não conste nas Diretrizes Curriculares aprovadas pelo MEC, verifica-se que as instituições de ensino de origem dos entrevistados vêm conseguindo dar respostas no que se refere a esta dimensão da formação. Contudo, tal abordagem torna-se mais predominante nas respostas dos entrevistados oriundos de instituição pública, o que indica a importância da instituição universitária nessa predominância, assim como as dificuldades decorrentes da expansão do ensino superior privado e sem garantia do tripé ensino, pesquisa e extensão para solidez da referida abordagem de forma satisfatória.

Há que se mencionar ainda que o fato de a maioria das respostas considerar a abordagem dessa atribuição satisfatória indica, embora com limitações, ter-se conseguido avançar para além do instituído, sobretudo porque das 3 instituições de origem dos entrevistados, apenas uma teve o curso de Serviço Social criado antes da aprovação das Diretrizes Curriculares pelo MEC. Ou seja, somente uma instituição acompanhou todo o processo de construção das Diretrizes Curriculares sob direção da ABEPSS, ainda assim, a formação profissional com ênfase no debate acadêmico, através de seminários, fóruns, congressos e assemelhados mantém-se como resistência no interior da profissão.

Ressalte-se que a abordagem de tal atribuição requer das instituições de ensino superior não somente o incentivo financeiro, mas também a garantia de um ambiente democrático e plural para fins de realização de fóruns e debates acadêmicos, o que acaba por confrontar a lógica da educação privada, que funciona pela égide de empresas prestadoras de serviço (educação). Ainda assim, essas instituições têm conseguido dar respostas, mas

convém acrescentar que o aprofundamento de tais espaços democráticos de debate e discussão depende também do movimento da sociedade e, no caso particular do Serviço Social, de como as organizações da categoria estão conseguindo aproximar-se e mobilizar tais espaços, especialmente os sindicatos, centros acadêmicos, a Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social (ENESSO), ABEPSS e o Conselho Regional de Serviço Social. Portanto, assim como as demais atribuições tratadas até o momento, essa não é igualmente de responsabilidade específica da graduação.

No que se refere à atribuição que enfatiza “fiscalizar o exercício profissional através dos Conselhos Federal e Regionais”, 14 dos 22 entrevistados, isto é, a maioria, consideraram que a abordagem feita na graduação foi satisfatória, enquanto que 8 consideraram insatisfatória. Dentre aqueles que consideraram satisfatória, os quais perfazem 14, 9 são oriundos de instituições de ensino superior privada, mais precisamente localizada no interior do estado, enquanto que os demais, 5, são oriundos de instituição pública. As considerações a respeito vão desde que “foi abordado, mas não com tanta ênfase” (entrevistado B), e que “houveram somente conversas com a professora em sala de aula sobre o assunto, todavia não fazia parte da grade” (entrevistado L), para aqueles que a consideraram insatisfatória, até aqueles que avaliam que essa atribuição “foi bem enfatizada na formação” (entrevistado M) e, por isso, satisfatória.

Ainda mantendo a mesma questão inicial partiu-se para o terceiro bloco, no qual constam as competências exigidas pelo Ministério da Educação na versão final das Diretrizes Curriculares, aprovadas pelo referido Ministério. Ressalte-se que por originarem-se na proposta da ABEPSS, embora fragmentada, ela ainda mantém atribuições privativas incorporadas pela Comissão de Especialistas, todavia ficou mais operativa, conforme consta no próximo subtópico.