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2 INOVAÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES

2.2 ORGANIZAÇÕES CONTEMPORÂNEAS INOVADORAS

2.2.2 Atributos das organizações contemporâneas inovadoras

De acordo com Magaldi e Salibi Neto (2018), em seu livro Gestão do Amanhã, as empresas historicamente evoluíram através de um método de ganho de escala, ou seja, aliaram alto crescimento com baixos custos de operação, mantendo controle total sobre seus processos. Nesta perspectiva as estruturas verticalizadas ganharam força e se mostraram muito presentes.

Com o incremento da tecnologia da informação e comunicação, essa realidade mudou e as empresas perceberam uma falha no modelo de funcionamento que estava sendo utilizado. Schwab (2016) indica que pela velocidade da inovação as empresas precisam de uma gestão mais dinâmica e coerente com o momento.

De acordo com Baraldi (2016) uma organização deve buscar meios de inovação que se identifique com a realidade do negócio, isso é tão importante quanto à inovação baseada no uso de tecnologias. A autora menciona que uma das dificuldades encontradas no processo de inovação está relacionada a forma como esse processo é gerido. Segundo ele, deve-se prover subsídios que orientem para

as práticas de inovação, a fim de alcançar melhor desempenho, resultados positivos e outras vantagens competitivas de longo prazo.

Magaldi e Salibi Neto (2018) citam alguns exemplos de organizações que não prosperaram justamente por não compreender a nova dinâmica dos negócios, como o case da Blockbuster. Os autores contam que em 1980 o visionário fundador da marca, Davis Cook, percebeu que o desejo dos consumidores da época era ter acesso em seus lares a conteúdos que até então só eram disponibilizados nas telas dos cinemas. Cook reinventou o modelo de vídeo locadora e investiu na criação de mega lojas com espaços de experimentação. O sucesso foi estrondoso para a época e a rede de lojas se espalhou pelo mundo, dominando o setor.

De acordo com os autores (2018) no ano de 2000 surgiu uma empresa concorrente que oferecia a comercialização de vídeos por um canal televisivo, entregues na casa do cliente por meio de um eficiente sistema postal. Essa empresa foi oferecida à Blockbuster pelo valor de 50 milhões de dólares, porém, o CEO da época recusou a transação alegando que se travava de “um negócio de nicho”. Magaldi e Neto comentam que foi nesse momento que a Blockbuster deixou de comprar a Netflix, justamente por acreditar que ela apresentava um modelo de negócio que não sinalizava ameaças. Segundo eles, a Blockbuster não compreendeu a curva da mudança que se anunciava e, tampouco, o impulso que a inovação daria ao negócio.

Em 2013 a dominante do setor Blockbuster fechou suas últimas lojas. Quanto a Netflix, segue alavancando no mercado sem deixar de perceber e apostar nas oportunidades de transformação. Em 2011 a empresa começou a distribuir seus vídeos em streaming6, aproveitando a evolução da tecnologia de banda da internet. Hoje a Netflix se consolida como um dos negócios mais rentáveis em seu segmento, o valor de mercado da marca é de cerca de 60 bilhões de dólares.

O exemplo demonstra bem a importância da inovação para os negócios, porém, deve-se ressaltar que o processo inovativo não é tão simples assim. Ornellas (2017) esclarece que não há uma 'receita de bolo' para o caminho da inovação nas organizações, mas indica que é possível identificar alguns padrões para alcançar esse novo estilo de vida organizacional.

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Streaming é uma forma de transmissão instantânea de dados de áudio e vídeo através de redes de conexão com internet. Disponível em https://www.techtudo.com.br

Ismail, Malone e Geest (2015) descrevem os principais atributos do engajamento para uma cultura de organização inovadora, sendo eles: transparência da avaliação; auto eficácia; pressão dos pares (comparação social); despertar de emoções positivas, (para promover uma mudança de comportamento ao longo do prazo); feedback instantâneo (ciclos curtos de feedback); regras, metas e recompensas simples e autênticas.

Baraldi (2016) contribui com esse pensamento reforçando a importância da visão holística para o processo de inovação. Segundo a autora nesse movimento é preciso considerar algumas competências essenciais, levando em conta que a operacionalização dos conceitos pode variar conforme as características específicas de cada negócio.

Para trazer maior entendimento sobre o processo de inovação nas organizações, elencou-se a partir das revisões bibliográficas deste trabalho atributos que são considerados essenciais para uma organização que deseja permanecer no mercado, e que foram mencionados de forma mais enfática pelos autores como algo fundamental ao processo inovativo.

O primeiro atributo apresentado é o Propósito Transformador Massivo (PTM) definido por Ismail, Malone e Geest (2015) como a finalidade que deve transmitir o que a organização aspira realizar e concretizar. Por isso, segundo eles, precisa ser inspirador, aspiracional e ambicioso, indo além da missão, visão e valores da empresa, conforme mostra o quadro a seguir.

Quadro 4 - Exemplo de Propósito Transformador Massivo (PTM)

Organização Propósito Transformador Massivo

“Organizar a informação do mundo”

“Ideias que merecem ser espalhadas”

“Tornar a invenção acessível”

Fonte: Adaptado de Ismail, Malone e Geest (2015).

O propósito torna clara a visão e os objetivos da empresa, por isso deve ser amplo, para permitir que o negócio não se limite a um pensamento linear. Conforme os exemplos apresentados no Quadro 4, o PTM permite que a organização expanda seus horizontes diante das oportunidades transformadoras da nova economia.

Magaldi e Salibi Neto (2018) reforçam que um PTM bem formulado impacta todos os indivíduos envolvidos, desde funcionários, clientes e fornecedores. De acordo com os autores ele inspira uma comunidade e por isso deve estar enraizado como parte da cultura da organização.

Relacionado a este entendimento está a visão de Marchiori (2017), que compreende a real importância da cultura organizacional para um empreendimento que busca a inovação, principalmente nos dias de hoje. Segundo a autora reflete um processo intelectual de desenvolvimento que abrange uma consciência comum de valores, fazendo com que as pessoas se sintam mais próximas e integradas.

Para manter o Propósito Transformador Massivo alinhado à cultura da organização é preciso contar com uma liderança apta a protagonizar nos processos exigidos. É neste ponto que se insere o segundo atributo elencado, a liderança estratégica.

Magaldi e Salibi Neto (2018) explicam que existe um comportamento comum dos líderes que possuem uma base de pensamento disruptivo, de que devem ser capazes de aprender e desaprender. Os autores salientam que essa atitude faz com que eles sejam capazes de visualizar as oportunidades e perceber as possibilidades

ainda inexistentes. Reforçam também que os líderes devem se libertar de egos para cumprir o papel de encorajar a equipe, para torná-la de alto desempenho, atraindo os melhores talentos para o negócio.

Ismail, Malone e Geest (2015) consideram que as lideranças das organizações exponenciais possuem aspectos profundamente diferentes das lideranças de tempos tradicionais. Segundo os autores o nível de exigência e de competência se elevou para atender as expectativas do mercado e alcançar os resultados esperados.

Quadro 5 - Características da liderança exponencial

Característica do líder Aspectos relacionados

Visionário defensor do cliente O líder deve assegurar que a organização esteja

engajada em atender às necessidades do cliente.

Experimentalista voltado aos dados Devem possuir abordagens ágeis, e estar

preparados para errar rápido e corrigir rápido.

Otimista realista

Sabem articular o resultado positivo, e são capazes de manter a objetividade em suas equipes. O crescimento e a mudança o instigam.

Adaptabilidade extrema

Sabem mudar de foco quando necessário e conseguem adaptar as suas habilidades. Buscam o aprendizado constante.

Abertura radical Estão abertos à críticas e sabem absorver para

fornecer novas perspectivas e soluções.

Hiperconfiantes

Estão sujeitos ao risco. Possuem coragem e perseverança para aprender e adaptar-se, a fim de desestabilizar o próprio negócio.

Fonte: Adaptado pela autora.

Além das demandas elencadas no Quadro 5, Magaldi e Salibi Neto (2018) descrevem que o líder deve também trabalhar em prol da construção de uma cultura organizacional aberta ao novo, orientando seus esforços para o crescimento e tomando iniciativas que levem ao alcance de resultados.

Para um líder estratégico também cabe desenvolver sua equipe e formar outras lideranças, com o objetivo de assegurar que a organização evolua sem a dependência excessiva de sua própria figura. Jesus (2017) contribui com esse

pensamento quando explica que a liderança é uma habilidade extremamente necessária para a sustentação do negócio. De acordo com o autor, o líder deve proporcionar um ambiente que estimule a colaboração e a cocriação, para que todos se sintam donos e responsáveis pelo resultado.

Não é novidade destacar a importância do cliente para uma organização, afinal são eles que trazem os resultados. O modelo de como atingir esse público é que foi remodelado, tornando-se o grande diferencial das empresas. Por esse motivo o foco no cliente é outro atributo importante para as organizações contemporâneas inovadoras, pois foi remodelado com o uso da tecnologia, em destaque pelo Big Data.

O foco de toda organização na concepção de novos produtos ou serviços deve estar em sintonia com os desejos e necessidades dos stakeholders. Magaldi e Salibi Neto (2018) apresentam que a customização e personalização é um anseio cada vez maior no mercado consumidor, sendo indispensável a busca de inovações que possibilitem às organizações novas abordagens competitivas que estejam de acordo com as necessidades do cliente.

Outro atributo importante é o meio inovador interno, que segundo Baraldi (2016) propicia as sinergias internas necessárias à geração continuada de inovações em uma organização. Por esse motivo essa característica fortalece as relações entre as pessoas, que vai além de uma estrutura de organograma e é baseada no compartilhamento de poder e autonomia para a tomada de decisão.

Conforme a autora, as organizações devem ser dinâmicas para se readequarem constantemente às rápidas mudanças. Para isso os processos organizacionais devem conduzir ao desenvolvimento de forma integrada e contínua, oportunizando a identificação e exploração de práticas que permitam obter resultados maximizados.

De acordo com os estudos de Baraldi (2016, p. 8) “o estímulo ao aprendizado contínuo – individual e coletivo – é uma característica marcante das organizações inovadoras”. Tendo por base essa referência insere-se a Gestão de Pessoas também como um atributo importante para as organizações contemporâneas inovadoras.

Ornellas (2017) enfatiza as mudanças na vida em sociedade, nos hábitos, nos valores, na forma como os indivíduos convivem e o quanto essas questões implicam inclusive no emprego e na carreira das pessoas. Já não há mais a intenção de

permanecer em uma única empresa a vida inteira, a rotina moderna é acelerada e repleta de novas informações, cabe à Gestão de Pessoas da organização acompanhar e se adaptar a este movimento.

É pertinente trazer a citação de Benvenutti (2018, p. 83) ao se referir à atração de talentos nas empresas contemporâneas inovadoras: “Você não constrói uma empresa. Você constrói um time. E o time constrói a empresa”. Pela fala do autor é possível compreender o papel fundamental que a Gestão de Pessoas possui em uma organização inovadora no desafio de formar um grupo dedicado, onde o valor do coletivo, o propósito e a conexão entre as pessoas contribui muito mais para resultados do que quando feitos apenas por simples contratos trabalhistas.

Novos modelos para gerir pessoas se fazem cada vez mais necessários. O perfil do profissional mudou e as organizações devem estar preparadas para recebê- lo e permitir o seu desenvolvimento contínuo. Da mesma forma, o profissional precisará estar apto para as exigências e habilidades demandas nessa nova economia.

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