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4. AS GUARDAS MUNICIPAIS COMO INSTRUMENTO DE PRESERVAÇÃO E

4.1. O PODER DE POLÍCIA DO ESTADO BRASILEIRO

4.1.1. Atributos, limites e extensão do poder de polícia

Já se tem a clara percepção de que o motivo da existência dessa atividade por parte do Ente público é o interesse da coletividade arrimado na supremacia que o Estado até os limites de suas fronteiras. Também resta claro que seus comandos mandamentais se prestam a oposição das ações ou omissões que alterem a normalidade da vida em sociedade e, portanto, disciplinando direitos e deveres a bem do bem comum.

Todavia, é necessário compreender os atributos, limites e a extensão dos atos do Estado que visem o disciplinamento de direitos e a imposição de restrições a direitos do particular. Isso porque cada conduta restrita imposta pela administração pública corresponderá a uma atividade policial administrativa desse mesmo Ente público.

Nesta feita, se o bem jurídico tutelado da atividade policial do poder público é a limitação aos direitos ou atividades afetas à coletividade e, por isso, exige contenção, regulamentação e controle, então todos os impactos negativos

236 COOLEY, Thomas McIntyre. A treatise on the constitutional limitations which rest upon: the legislative power of the states of the american union. 2ed. Boston: Little, Brown, and company. 1871.

Cap. XVI, p. 572 -597, p. 637.

Disponível em: <https://repository.law.umich.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1009&context=books>. Acesso em: 12 Set 2018.

provocados pelas ações antrópicas no meio ambiente artificial urbano estão sujeitos à atividade policial preventiva ou repressiva da administração pública, seja ela, federal, estadual ou municipal.

No conjunto de interesses protegidos da sociedade por meio dessa atividade, estão os direitos difusos do patrimônio imaterial de natureza moral, cultural, socioambiental e tradicional de uma nação. As aspirações nacionais se expressam na vida que se desenvolve nas cidades e, nesse contexto, a consagração da ordem constitucional democrática de direito resguarda o direito subjetivo de o particular ter em seu benefício a atividade do estado destinada a controlar os excessos de outro particular.

Dworkin237 assevera que a produção de capital e riqueza da sociedade se potencializa no desenvolvimento e no progresso sem que o particular precise ficar se preocupando com as consequências de seus atos a todo momento. A priori este pensamento conduz a percepção de uma permissiva negligência por parte dos indivíduos, o que invoca a ação do Estado para garantir a paz nos ambientes de convívio por meio de seu poder de controle e fiscalização.

Nesse sentido, o poder de polícia possui uma extensão deveras abrangente que vai da moral aos costumes, da saúde à censura de eventos públicos, do controle da liberdade cultural à mobilidade urbana e segurança pública, da fiscalização das posturas municipais, fincadas no plano diretor, à soberania nacional. Dessa linha racional decorre que os municípios brasileiros possuem o dever de atender, proteger, garantir e velar por quaisquer circunstâncias que haja relevante interesse social e público.

Skolnick238 afirma que há um grande problema no desenvolvimento desse policiamento, necessário à harmonia e ordem social nas cidades. Conquanto a organização policial valorize a iniciativa e eficiência daquele que fiscaliza, o estado de direito em uma sociedade democrática fortalece os direitos do cidadão e, por

237 DWORKIN, Ronald. O império do direito. Trad. Jeferson Luís Camargo. 3ed. São Paulo: Martins

Fontes. 2014, p.340

238 SKOLNICK, Jerome Herbert. Justice without trial: law enforcement in democratic society. New

conseguinte, constrange a atividade fiscalizatória que acaba por limitar a extensão das ações policiais no contexto disciplinar desta faculdade do Ente público.

Mas em sentido contrário argumenta Costa239 que isso ocorre quando os mecanismos de controle social são colocados no centro do processo de manutenção da ordem e garantia dos direitos individuais por esquecer de seu caráter preventivo e preservativo.

Ademais, nunca é demais trazer à baila que a administração pública federal, estadual e municipal, na externalização do poder de polícia a si inerente, está amplamente adstrita aos princípios da Legalidade de seus atos, os quais devem abster-se do favorecimento pessoal primando pela impessoalidade nos certames e pautando-se na moralidade e probidade administrativa que lhe deve ser unívoca, promovendo sempre que possível a publicidade necessária as ações, dando a conhecer aquilo que é de interesse social e público e, sobretudo, com a máxima eficiência no alcance de seus objetivos.240

Nada obstante, na sociedade moderna, especialmente, no território urbano das cidades, inúmeras são as áreas de atuação dos órgãos de fiscalização da administração pública a partir do regular exercício do poder de polícia. Segundo Meirelles241 o tecido social apresenta vasto campo de atuação, como na vigilância sanitária, nas posturas municipais, nas obras, edificações, uso, parcelamento e ocupação do solo urbano, no manejo dos recursos hídricos, na fiscalização dos níveis de emissão de gases poluentes na atmosfera, nas área ecológica naturais localizadas em ambiente urbano, como praças, parques e jardins, no trânsito, na circulação de informações, meios de telecomunicações, no exercício regular de profissões regulamentadas, em relação ao abuso do poder econômico a partir das violações ao código de defesa do consumidor, no meio ambiente cultural, laboral e artificial urbano e rural, entre tantas outras atividades.

239 COSTA, Arthur Trindade. Entre a lei e a ordem: violência e reforma nas polícias do Rio de Janeiro

e Nova York. Revista Brasileira de Segurança Pública | São Paulo, ano 5, ed. 08, Fev/Mar 2011. Rio de Janeiro: FGV, 2004, p. 80.

240 BRASIL. Constituição Federal de 1988. Art. 37.

241 MEIRELLES, Hely Lopes. O poder de polícia, o desenvolvimento e a segurança nacional. Revista

Di Pietro Apud Alexandrino e Paulo242 que os fundamentos de seu limite e atributos – do poder de polícia – está na distribuição de sua força por todos os poderes da República. O Poder legislativo estabelece as denominadas limitações administrativas em face das liberdades individuais públicas e o Poder Executivo regulamenta a norma, controla sua aplicabilidade de forma preventiva ou impõe medida coercitivas em face do particular. O judiciário equilibra os fatores quando tem sua natural inércia rompida.

Esclarece ainda, Alexandrino e Paulo243, que o poder de polícia se limita à dicotomia do rol a que está integrado, convencionalmente denominado de atividade jurídica de Estado, cujo desempenho encontra substrato no poder de império do Estado em decorrência da noção de soberania da nação.

Os atributos ou qualidades que revestem o poder de polícia são classificados por Alexandrino e Paulo244 como discricionariedade, auto- executoriedade e coercibilidade. Meirelles245 explica que a discricionariedade se caracteriza pela oportunidade e conveniência no momento da decisão, da escolha pela administração, de fazer uso ou não, do poder de polícia, decidindo ainda pelo emprego de sanções com intuito de atingir o objetivo persecutido.

A Auto-executoriedade se caracteriza pela capacidade decisória da Administração pública de executar aquilo que almeja por meio de seu poder policial, sem que haja necessidade de intervenção da jurisdição, porquanto, o poder público por meio do referido atributo impõe diretamente sanções e regramentos necessários para controle de situação ou de circunstâncias que ultrapassem os limites do ordenamento jurídico e, portanto, provoquem alteração no convívio social.246

Com efeito, a capacidade executória dos atos da Administração pública se resguarda na presunção de legitimidade com que seus agentes devem manifestar sua vontade pautada na legalidade. No entanto, em caso de cometimento de

242 ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito administrativo descomplicado. Ed.21 Rev.

Atual. São Paulo: Método, 2013, p.243

243 Ibidem, p.244. 244 Ibidem, p. 255-256.

245 MEIRELLES, Hely Lopes. O poder de polícia, o desenvolvimento e a segurança nacional. Revista

de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, v. 125, p. 1-14, dez. 1976, p.06-08.

excessos ou ilegalidade que violem direitos do particular, estes acovam o direito subjetivo de provocar o poder judiciário para lhes guarnecer o direito desrespeitado.

Nada obstante, a auto-executoriedade não se traduz em completa exclusão do direito de ampla defesa e contraditório que assiste a todas as pessoas em uma sociedade democrática que preza pela ordem jurídica justa. A penalização sumária, em alguns casos, pode ocorrer, como a flagrante surpresa de ilícitos cometido pelo particular ou circunstância que submetam a risco a segurança e saúde pública. Considera-se possível ainda, a imediata penalização dos autos de infração regularmente lavrados, ou por meio dos processos administrativos, respeitados o direito amplo de defesa e contraditório.247

Quanto a Coercibilidade pode-se atribuir a imperatividade do ato policial do ente público, o qual obriga seu destinatário ao cumprimento da ordem do administrador. O poder de polícia se consubstancia, em regra, pela admissão da coerção para efetivar uma vontade do Estado independente de autorização judicial para executar a medida ou aplicar a penalização na esfera administrativa, podendo seus agentes, inclusive, fazer uso do desforço físico gradativo para o alcance do objetivo. Em caso de desproporcionalidade da ação recai o ato na órbita do abuso de autoridade invocando a devida reparação civil ou criminal, de caráter punitivo ou indenizatório.248

4.2. PROTEÇÃO E POLICIAMENTO MUNICIPAL DO AMBIENTE URBANO COM