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Uma das dificuldades encontradas pelo MDL, conforme apontado por Sutter e Parreño (2007), foi o fato de ser pautado em ambas as finalidades: de oferecer opções de mitigação de emissões de forma economicamente viável e de contribuir para o desenvolvimento sustentável. Isso porque, uma vez que a proposição de ações para o desenvolvimento sustentável não foi pré-estabelecida a partir de um método de avaliação específico, ela foi realizada conforme a vontade de cada país, conforme previsto nos Acordos de Marrakesh (UNFCCC, 2002).

A ausência de parâmetros internacionais aplicáveis para todos os países pode ter interferido na real contribuição dos projetos para o desenvolvimento sustentável, a depender dos contextos nacionais e das metas que se esperavam alcançar (LAZARO e GREMAUD, 2017). Alguns estudos mostraram maior importância do fator econômico em análises de alguns países, em detrimento aos aspectos ambientais ou sociais (BOYD et al, 2009; NYAMBURA e NHAMO, 2014; SUBBARAO e LOYD, 2011).

Olsen (2007) pontuou que, se dependesse apenas da avaliação do mercado, o MDL não conseguiria atingir a proposta de contribuir para o desenvolvimento sustentável. Uma vez que a demonstração dos impactos socioambientais não foi determinada de forma criteriosa, abriu espaço para que os desenvolvedores de projetos entregassem informações rasas neste ponto específico, geralmente com menção a benefícios gerais esperados, sem aprofundar nos reais impactos esperados.

Vários estudos foram desenvolvidos com proposições para melhor quantificar essas contribuições (BOYD et al, 2009; SPALDING-FECHER et al, 2012), com o consenso de que a continuação do mecanismo após 2012 estaria muito relacionada a melhores definições nesse aspecto.

Ao longo do tempo, o Conselho Executivo da CQNUMC, responsável por coordenar os procedimentos do MDL, conseguiu avançar em seus regulamentos. Em 2015, foram estabelecidos novos procedimentos para o desenvolvimento de projetos no mecanismo para avaliação de impactos socioambientais a partir da inclusão de análises mais detalhadas no projeto, conforme mostrado na Tabela 18.

Tabela 18 – Regulamentos para consideração de impactos socioambientais para projetos de MDL

Impactos Ambientais

Apresentação obrigatória de análise resumida dos impactos ambientais da atividade, incluindo aqueles associados à biodiversidade e ecossistemas naturais, relacionados também aos limites físicos externos ao projeto, acompanhada de toda a documentação comprobatória para verificação. Para impactos significativos, estabelecer planos de monitoramento com resultados reportados a cada verificação.

Impactos Sociais

Apresentação obrigatória de análise resumida dos principais impactos socioeconômicos da atividade, acompanhada de toda a documentação comprobatória para verificação. Para impactos significativos, estabelecer planos de monitoramento com resultados reportados a cada verificação Fonte: UNFCCC (2015b)

Em 2017, uma nova adição foi realizada na regulamentação para incluir a consideração de cobenefícios socioambientais69, incentivando os proponentes de projeto a inserir, separadamente ao plano de monitoramento, um documento descrevendo a metodologia proposta para monitoramento dos cobenefícios do projeto. Além disso, incluiu-se a frequência da avaliação, além de informar se uma verificação externa dos resultados seria considerada (UNFCCC, 2017c).

Assim, avanços no tratamento desse desafio foram observados, todavia, não contemplaram a maior parte dos projetos – registrados até 2012 – uma vez que tais modificações ocorreram posteriormente. Dessa forma, créditos sobressalentes ainda podem enfrentar dificuldades na sua aquisição por estarem relacionados a projetos desenvolvidos em um período com critérios menos rigorosos em relação aos atributos socioambientais.

Já o mercado voluntário opera sem a necessidade de intervenção governamental, como mencionado anteriormente. Assim, a avaliação dos impactos socioambientais e da contribuição para o desenvolvimento sustentável ficam a critério dos próprios organismos de registro e das

69 Termo utilizado para caracterizar os ganhos socioambientais que vão além da redução de emissões propriamente

entidades de verificação envolvidas. Segundo alguns autores (CORBERA et al, 2009; BISORE e HECQ, 2012), houve maior preocupação com os critérios socioambientais nesses mercados, tendo em vista que a procura por créditos estava geralmente relacionada à melhoria da “imagem ambiental” de uma empresa compradora. Boyd et al (2009) também reforçaram que, pela maior independência e agilidade em seus procedimentos, as organizações desse mercado conseguiram testar metodologias e regulamentações, competindo na oferta por projetos de alta qualidade, incluindo aspectos relacionados com o desenvolvimento sustentável.

Avanços nos últimos anos nos mercados voluntários relacionaram-se com a maior preocupação em demonstrar os cobenefícios dos projetos registrados, visando atender a demanda de um mercado comprador que buscava financiar projetos com resultados além das reduções de emissões propriamente ditas (HAMRICK e GALLANT, 2017). Embora a quantificação desses cobenefícios possa ser realizada pelos desenvolvedores de projeto a partir de métodos de sua escolha, alguns “padrões” adicionais ganharam força no mercado, trazendo maior credibilidade ao processo.

Esses padrões funcionam como uma espécie de chancela e autenticam os cobenefícios demonstrados pelo projeto, conforme suas regras específicas. Projetos registrados junto ao Gold Standard passam por essa verificação e outras iniciativas – exclusivas para certificação desses atributos adicionais – existem, sendo as principais o Climate, Community and Biodiversity

Standard70 (CCB) e o Social Carbon71. Segundo Paiva et al (2015), projetos acompanhados por esses “selos” podem ter preferência para alguns compradores do mercado voluntário, inclusive com maior valorização do crédito. Em contrapartida, a certificação adicional incorre em outros custos no processo, além daqueles associados ao projeto de créditos de carbono.

Uma preocupação acerca dos projetos de geração de eletricidade a partir de fontes renováveis é o fato desses terem representado a principal oferta de créditos no mundo. Embora a determinação dos cobenefícios possa ser feita no próprio Documento de Concepção do Projeto (para novos projetos), verificou-se que projetos certificados adicionalmente nos padrões de sustentabilidade possuem maior valor no mercado. Assim, os desenvolvedores de projetos de energias renováveis mais difundidas, como a eólica, ao buscar essa certificação, poderão ter

70 Trata-se de um padrão de boas práticas e abordagem de múltiplos benefícios que certifica projetos de créditos

de carbono, a partir de aspectos relacionados às ações de enfrentamento às mudanças climáticas, suporte de comunidades locais e conservação da biodiversidade (CCBA, 2017).

71Esse padrão foi desenvolvido no Brasil pelo Instituto Ecológica, que certifica projetos de créditos de carbono a

partir de suas contribuições para o desenvolvimento sustentável considerando a quantificação dos componentes de biodiversidade, social, financeiro, humano e natural (SOCIAL CARBON, 2013).

custos adicionais sem uma garantia de melhor valor de venda do projeto, tendo em vista a competitividade de outros projetos da categoria.