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A ATUAÇÃO DOS ATORES QUE PRODUZEM O ESPAÇO URBANO DO BAIRRO LUIZ

A relação entre o processo de organização socioespacial do espaço urbano torna-se viável por meio das ações mediadoras de diferentes atores sociais responsáveis pela complexa organização do espaço urbano. Nas últimas décadas, no bairro Luiz Ferreira, surgiram vários empreendimentos no setor imobiliário como reflexo da atuação dos atores responsáveis pela produção do espaço urbano, que vem contribuindo de forma significativa para o processo de expansão urbana do bairro a partir do surgimento de várias edificações na área.

Nesse processo, os atores que mais se destacam na produção do espaço urbano do bairro são, especialmente, os proprietários fundiários, são eles, segundo Corrêa (2003), os donos de terras que visam lucrar com a venda das mesmas.

No bairro em estudo, o dono da terra foi vendendo lotes sem que a área tenha passado por um projeto de loteamento e nem sequer por um planejamento. As aberturas das ruas ficaram por conta de quem comprava os lotes, gerando assim ruas tortuosas e algumas sem saída, fato esse que ocorre em diversas cidades brasileiras, mesmo as denominadas pequenas cidades. Por não ser exigência da lei a cidade de Ipaumirim, por não apresentar população acima de 20 mil habitantes, não possui um plano diretor e consequentemente não há um planejamento para abertura de loteamentos. Miranda (2010, p. 11) enfatiza que mesmo pequenas essas cidades apresentam diversos problemas sociais.

[...] diferentemente do que se imagina, as cidades pequenas apresentam, às vezes, problemas sociais comuns das maiores cidades, sem que nelas estejam contidas o mesmo tamanho e a mesma intensidade. As pequenas cidades demonstram possibilidades de ofertar um bom nível de vida aos seus moradores, desde que estes iniciem a mobilização em busca de um entendimento com o Poder Público na questão do planejamento, como objeto de melhoria de vida.

Diante do que discuti Miranda (2010), vale salientar que a cidade de Ipaumirim iniciou seu processo de formação sem nenhuma forma de planejamento. Nestas últimas três décadas, a cidade, com seus 60 anos de emancipação política, tem apresentado um crescimento populacional considerável. Em consequência deste, temos um aumento espacial da mancha urbana da cidade, o qual leva-se a refletir de que maneira esse crescimento vem ocorrendo, podendo ser de forma ordenada ou desordenada.

Outro ator fundamental nesse processo de expansão do município de Ipaumirim-CE é o Estado, um agente que merece destaque por ser essencial na discussão deste estudo, pois exerce papel importante na implantação de bens e serviços públicos no que se refere a uma infraestrutura adequada, ou seja, com a instalação de rede viário, calçamento, água, esgoto, iluminação e coleta de lixo periodicamente, como também pode atuar na elaboração e aplicação de leis e normas ligadas ao uso e a ocupação do solo urbano como também as normas do zoneamento, o código de obras e o plano diretor, permitindo, assim, a valorização do local onde o loteamento poderá ser construído, serviços que propiciam uma melhor condição de vida aos residentes do espaço urbano.

No entanto, no contexto do bairro Luiz Ferreira, esse ator tem papel quase nulo e negligencia grande parte de suas atuações no que diz respeito às leis e às normas que regulamentam o uso e a ocupação do solo urbano de Ipaumirim-CE e, consequentemente, do bairro. O que pode-se ser observado nessa área é a ausência de implantação de bens e serviços públicos.

De acordo com Corrêa (2003) a atuação do Estado pode acontecer através das formas de atuação indireta na produção do espaço urbano, por meio da criação de normas técnicas e jurídicas de planejamento e ordenação do espaço, conforme já foi colocado anteriormente. Assim, surgem as leis que regulamentam e ordenam a ocupação do solo urbano brasileiro, entre elas a Lei Federal 6766/79 de Parcelamento do Solo, os Códigos de Posturas, Códigos de Obras, Lei Orgânica, Estatuto das Cidades e o Plano Diretor, este último, em tese, profere todas as demais leis.

O Plano Diretor já existe para as grandes cidades brasileiras desde a primeira metade do século XX. No entanto, é a partir da Constituição Federal de 1988 que se consolida este instrumento técnico jurídico, passando a ser obrigatória a elaboração do mesmo para todas as cidades com 20 mil habitantes ou mais, conforme prevê o Cap. II, art. 182, § 1º: ―O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana‖.

No entanto, vale ressaltar que, de acordo com o Estatuto da Cidade Lei 10.257/2001, há obrigatoriedade também de elaboração do Plano Diretor em casos de cidades com menos de 20 mil habitantes, localizadas em áreas metropolitanas, turísticas e em áreas que possuem influências significativas de empreendimento no âmbito regional e nacional.

Assim, é recomendável que todos os municípios tenham um Plano Diretor, mesmo aqueles que não se encaixem em nenhuma dessas categorias. A importância da sua elaboração e dos processos de planejamento vale para municípios de todos os tamanhos, os quais queiram

aplicar instrumentos contidos no Estatuto da Cidade, devem obrigatoriamente ter um Plano Diretor.

A este respeito, a cidade de Ipaumirim-CE não dispõe de um Plano Diretor por não corresponder, obrigatoriamente, as exigências do Estatuto da Cidade, de modo que as questões relacionadas às políticas de urbanização são regidas somente pela Lei Orgânica e o Código de Postura, estes que se encontram ultrapassados, não atendendo a dinâmica do espaço urbano da referida cidade.

Assim, o Poder Público Municipal não manifesta interesse na elaboração deste documento oficial, mesmo estando prevista a sua criação na Lei Orgânica Municipal, na Seção II que dispõe da política urbana, em seu art. 113º, assim disposto: ―o Plano de Diretor, coordenado com o Código de Obras de Postura é o instrumento básico da política urbana desenvolvida pelo Município [...]‖.

Se a própria Lei Orgânica afirma ser o Plano Diretor um instrumento básico da política urbana, cabe-nos indagar o porquê da inexistência deste documento na cidade de Ipaumirim-CE, considerando sua importância para regulamentação do espaço urbano.

No âmbito da União, entre as normas e leis, que regem a ordenação e a regulamentação do solo urbano anterior a Constituição Federal 1988, destaca-se a Lei Federal 6766/79 que aborda sobre o parcelamento do solo urbano, definindo diversas diretrizes importantes para a estruturação física das cidades e que é vigente até a atualidade.

Na referida Lei, a expansão urbana é disposta por algumas normatizações fundamentais, em seu Cap. I, art. 2º que trata das disposições preliminares: ―O parcelamento do solo urbano poderá ser feito mediante loteamento ou desmembramento, observadas as disposições desta Lei e as das legislações estaduais e municipais pertinentes‖.

Para efeitos de definição, a referida Lei considera ―[...] loteamento a subdivisão de gleba em lotes destinados a edificação, com abertura de novas vias de circulação, de logradouros públicos ou prolongamento, modificação ou ampliação das vias existentes‖ (Lei Federal 6766/79; Cap. I, art. 2º, § 1º).

Nesse sentido, para que de fato aconteça um desenvolvimento adequado de uma área urbana em processo de edificação, no caso em tese o bairro Luiz Ferreira, é necessário que haja primeiramente a elaboração de um projeto de loteamento, sendo necessário para fins desta elaboração a solicitação à Prefeitura Municipal para a definição das diretrizes em relação ao uso do solo urbano, conforme prevê os arts. 6º e 7º da Lei 6766/79, assim disposto:

Art. 6º. Antes da elaboração do projeto de loteamento, o interessado deverá solicitar à Prefeitura Municipal, ou ao Distrito Federal quando for o caso, que defina as diretrizes para o uso do solo, traçado dos lotes, do sistema viário, dos espaços livres e das áreas reservadas para equipamento urbano e comunitário, apresentando, para este fim, requerimento e planta do imóvel contendo, pelo menos:

I - as divisas da gleba a ser loteada;

II - as curvas de nível a distância adequada, quando exigidas por lei estadual ou municipal;

III - a localização dos cursos d‘água, bosques e construções existentes; IV - a indicação dos arruamentos contíguos a todo o perímetro, a localização das vias de comunicação, das áreas livres, dos equipamentos urbanos e comunitários existentes no local ou em suas adjacências, com as respectivas distâncias da área a ser loteada;

V - o tipo de uso predominante a que o loteamento se destina;

VI - as características, dimensões e localização das zonas de uso contíguas.

No art. 7º dispõe que a Prefeitura Municipal, ou o Distrito Federal quando for o caso, indicará, nas plantas apresentadas junto com o requerimento, de acordo com as diretrizes de planejamento estadual e municipal:

I - as ruas ou estradas existentes ou projetadas, que compõem o sistema viário da cidade e do município, relacionadas com o loteamento pretendido e a serem respeitadas;

II - o traçado básico do sistema viário principal;

III - a localização aproximada dos terrenos destinados a equipamento urbano e comunitário e das áreas livres de uso público;

IV - as faixas sanitárias do terreno necessárias ao escoamento das águas pluviais e as faixas não edificáveis;

V - a zona ou zonas de uso predominante da área, com indicação dos usos compatíveis.

Quanto aos aspectos administrativos, a Lei expõe os procedimentos básicos para a aprovação do projeto de loteamento e desdobramento, destacando o papel do Poder Público, da atuação do agente empreendedor e definindo os documentos e informações estabelecidas tanto para o projeto quanto para a área a ser expandida.

Com base no que considera a legislação em tela, constata-se que a área em estudo, bairro Luiz Ferreira, não se desenvolveu atendendo os padrões técnicos exigidos pela Lei 6766/79, pois não houve, inicialmente, a elaboração de um projeto de loteamento, corroborando, assim, para uma expansão espontânea e desordenada. Dessa forma, a existência desse projeto é essencial para que as áreas expandidas se tornem regulares.

De modo geral, percebemos que há poucas leis municipais e uma deficiência técnica nas já existentes referente à regulamentação do solo urbano, o que dificulta o planejamento adequado das áreas em expansão na cidade de Ipaumirim-CE, especialmente no bairro Luiz

Ferreira. Contudo, Miranda (2010, p.14) traz para discussão a importância do Plano Diretor nas pequenas cidades e a relevância do planejamento urbano, visando uma vida melhor para os habitantes.

Nas pequenas cidades o planejamento urbano se torna um fato mais difícil de ser colocado em prática. Porém quando se tem um Plano Diretor, que deveria ser uma obrigatoriedade a todo gestor de uma cidade de menor porte, as residências são cuidadosamente planejadas, podendo assim integrar-se aos serviços municipais já existentes. Um Plano Diretor, mesmo que a cidade seja pequena, deve existir como é um plano criado por um grupo de planejadores urbanos e tem impactado de forma válida para qualquer comunidade ou cidade.

Como já foi citado anteriormente a cidade de Ipaumirim não dispõe de um plano diretor e dessa forma conforme a cidade foi crescendo espacialmente, começaram a surgir traços de um crescimento desordenado, fato este que nos leva a questionar que tais evidências ocorreram por conta da cidade não ter sido planejada e não possuir um Plano Diretor, tendo em vista, que a existência do mesmo poderia guiar o bom desenvolvimento da cidade.

4.2 O CRESCIMENTO ESPACIAL E AS CONDIÇÕES INFRAESTRUTURAIS DO

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