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CAPÍTULO 2 MEGAEVENTOS ESPORTIVOS E A PROJEÇÃO

2.4 ATUAÇÃO INTERNACIONAL DOS MUNICÍPIOS

A atuação internacional, vista pela ação de países soberanos debatendo temas com outras nações, pode ter também atividade de outros atores, conforme R. W. Mansbach podem ser seis tipos de atores, agrupados em duas categorias – atores públicos e atores privados – conforme agrupamento abaixo. (OLIVEIRA, 2012):

a) Atores governamentais interestatais ou organizações intergovernamentais como OEA, OIT, EU;

b) Atores não-governamentais interestatais, compreendendo grupos ou mesmo indivíduos que desempenham atividades internacionais, sem representar seus Estados, como ONGs como Greenpeace ou de empresas transnacionais como Shell;

c) Os Estados, incluindo nessa referência de atores internacionais todos os Estados soberanos, que existem na atualidade;

d) Atores governamentais não centrais, com referência à atuação dos governos locais, como municipais e regionais;

e) Atores intra-estatais não-governamentais, ou seja, grupos privados de âmbito nacional, como organizações de caráter filantrópico, partidos políticos, sindicatos;

f) Indivíduos e pessoas que, a partir de seu prestígio internacional e a título individual, exercem atividades de destaque no cenário internacional. (OLIVEIRA, 2012, p. 190).

Nesta pesquisa, serão tratados principalmente, os aspectos dos atores governamentais não-centrais de municípios e regiões, que constam na letra d da listagem acima.

De acordo com Paulo Ziulkoski, presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), o Brasil é o único país que reconhece na sua Constituição a autonomia das unidades municipais. (CMN, 2011).

A relativa autonomia dos municípios e semiautonomia dos estados foi digna de nota na literatura internacional. Estudiosos de todo o mundo se debruçaram (...) sobre a autonomia dos entes da federação brasileira. (SARAIVA, 2004).

Esta autonomia é destacada nos discursos da CNM quando afirma que “a necessidade de trabalhar de modo regionalizado e, sobretudo, a existência dessas

competências compartilhadas fazem com que os municípios busquem ainda os governos estaduais para a construção de iniciativas conjuntas”. (CMN, 2011, p. 17).

Esta situação foi destaque no caso dos municípios catarinenses, que em conjunto com o Estado, fizeram o vídeo de divulgação de Santa Catarina como local de treinamento pré-jogos olímpicos e Paralímpicos Rio 2016, para divulgação nos Jogos de Londres em 2012.

São várias as formas que os municípios podem atuar no cenário internacional. De acordo com a CNM os eixos de atuação dos municípios de forma internacional podem ser com Política Internacional, Cooperação Internacional, Promoção Econômica Internacional e Marketing Urbano. (CNM, 2011).

Seguindo a pauta mundial, os estados brasileiros antecederam as cidades na criação de estruturas e estratégias paradiplomáticas inauguradas pelos estados do Rio de Janeiro em 1983 e do Rio Grande do Sul em 1987. (SALOMÓN, 2008).

As áreas internacionais dos municípios brasileiros são um processo recente, na tabela a seguir é possível ver que se iniciam em 1993, nos municípios do Rio de Janeiro e de Porto Alegre.

Na política internacional as formas de atuação são: fóruns internacionais, cidades-irmãs, redes de políticas públicas, e outras ações políticas. Já a cooperação internacional é dividida entre Cooperação Técnica e Cooperação Financeira (Captação de Recursos). Quanto à promoção econômica internacional as ações são de Comércio Exterior, Atuação de Investimento Externo Direto, e Turismo Internacional. Há ainda o Marketing Urbano internacional que tem recebido muita atenção atualmente. Entre as estratégias, incluem-se a participação em feiras internacionais, a premiação por políticas locais e mesmo a construção da marca da cidade. (CNM, 2011).

Tabela 7 - Dados históricos das áreas internacionais dos municípios brasileiros

Fonte: (Adaptado de CNM, 2011).

Conforme a publicação da Confederação Nacional dos Municípios, os motivos para atuação internacional dos municípios estão muito relacionados à captação de recursos e à participação em redes de cidades. O incremento de turistas internacionais na cidade é outro motivador, pois estão relacionados ao emprego e à renda, como observado em Florianópolis (SC), Foz do Iguaçu (PR), e São Vicente (SP). (CMN, 2011).

Salomón (2008) destaca que os governos brasileiros são basicamente receptores de cooperação internacional, tanto no sentido de receber recursos, como em modelos de políticas públicas.

Uma reflexão quanto à cidade Olímpica de Barcelona é que existe “um antes” e “um depois” dos Jogos Olímpicos de 1992. A Barcelona de antes precisava se apresentar ao mundo, mas depois dos jogos foi uma extraordinária exposição, tornando-a uma cidade internacional. (BORJA, 1995 apud SANCHEZ, 2003).

A motivação da Copa do Mundo levou Belo Horizonte (MG) a firmar parcerias com o colégio americano da cidade, com a Câmara de Comércio Brasil-EUA e com o Instituto Cultural Brasil Estados Unidos (ICbeu). Já a cidade do Rio de Janeiro (RJ), que traçou a meta de captar a maior parte de eventos internacionais, tem conseguido resultados: trazer o Fórum Urbano Mundial das Nações Unidas, ser selecionada para sediar a Copa do Mundo, as Olimpíadas 2016 e a Jornada Mundial da Juventude com o Papa Francisco, além de muitos outros eventos menores. (CNM, 2011).

Conforme o responsável da área internacional de Campinas “a primeira motivação em internacionalizar é transformá-la em uma cidade global. Segundo, é atender as demandas através de novas ideias, de novas oportunidades que surgem quando uma cidade procura por isso”. (CNM, 2011, p. 72).

Ainda sobre a relação com o governo federal, a prefeitura de Belo Horizonte (MG), entende que o surgimento das áreas internacionais dos municípios faz parte da descentralização da própria estrutura da diplomacia brasileira, também ilustrada pela existência de uma secretaria ou assessoria internacional em diversos ministérios. Surge daí o conceito de “diplomacia pública”, o qual se refere ao fomento da boa governança. (CNM, 2011, p. 91).

Os principais parceiros de cooperação dos estados e municípios brasileiros são os governos subnacionais da Itália, Espanha, França, Alemanha, Portugal, Argentina, Estados Unidos, Canadá, China e Japão (SALOMÓN, 2008).

Percebe-se que a atuação internacional dos municípios em parceria com os Estados e com o Itamaraty pode proporcionar ações nas mais diversas áreas, Santa Catarina recentemente conseguiu trazer a sede da BMW para o Estado no município de Araquari.

Vários governadores de Estado têm articulado através de viagens ou escritórios internacionais formas de intervenção no seu território, constroem pontes “transsoberanas”, formais ou informais com outros estados nacionais. Governadores viajam muitas vezes mais preparados e com mais objetividade de negociação que membros de governo central. Embora tenham autonomia relativa, os estados têm se mostrado criativos e ativos. (SARAIVA, 2004).

Os megaeventos esportivos podem ser elementos catalisadores do processo nas mais diversas áreas de políticas públicas, parcerias de cidades irmãs, entre outros.

A participação dos municípios e Estados federados brasileiros no sistema internacional de cooperação e desenvolvimento nas mais distintas modalidades de cooperação política transnacional tem tido um grande incremento nos últimos anos. (SALOMÓN, 2008).

Os municípios demonstram a diversidade brasileira nos mais diversos aspectos, da étnica-cultural à capital e têm condições de explorar as qualidades internacionalmente, se projetando-se com o termo utilizado por Joseph Nye - soft

power - poder brando. (FUGA, 2014).

Percebe-se que embora a paradiplomacia, com atuação de Estados e municípios no Brasil ainda seja recente, há um cenário de expansão e são inúmeras as possibilidades que devem ser investigadas.

CAPÍTULO 3 - MEGAEVENTOS ESPORTIVOS E A PARADIPLOMACIA EM