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Atuação do MPT-RJ nos casos de trabalho em condições análogas à de escravo, em especial, que envolva trabalhadores migrantes

3. COMBATE À ESCRAVIDÃO DOS MIGRANTES TRABALHADORES NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO

3.1. Atuação do MPT-RJ nos casos de trabalho em condições análogas à de escravo, em especial, que envolva trabalhadores migrantes

Analisou-se a atuação do MPT-RJ nos acasos autuados nos anos de 2015 e 2016, nos quais a fiscalização constatou situações análogas à de escravo com trabalhadores migrantes.

Neste sentido, utilizou-se a lista das portarias de instauração dos inquéritos civis e, por meio desta, analisou-se o tema da classificação das notícias de irregularidades trabalhistas. A fim de maximizar e uniformizar o mapeamento valeu-se das palavras-chaves, abaixo elencadas, para filtrar as portarias que possuíam como temas o objeto da pesquisa:

45 ✓ jornada exaustiva; ✓ aliciamento; ✓ condição degradante ✓ tráfico de trabalhadores; ✓ servidão de dívida; ✓ trabalho de estrangeiro; ✓ tráfico de trabalhadores; ✓ aliciamento; e ✓ jornada exaustiva

Destaca-se que tais palavras-chaves foram utilizadas por remeterem ao objeto da pesquisa de forma direta ou indireta. Sendo assim, as palavras figuraram como importante filtro para a otimização da catalogação.

A partir do mapeamento foi criada uma ferramenta metodológica para catalogar os inquéritos civis que versam sobre trabalhador migrante em condições análogas à de escravo com as seguintes variáveis: data da atuação, tema, número do termo de ajuste de conduta, número do inquérito civil, número da portaria de instauração do inquérito civil, situação do investigado e procurador responsável pela investigação.

3.1.1. Estrutura da coordenadoria nacional de erradicação do trabalho escravo (CONAETE)

Em 2002, por meio da Portaria PGT nº 231, de 12 de setembro de 2002, foi instituído a Coordenadoria Nacional e Erradicação do Trabalho Escravo – Conaete, a qual possui como objetivo definir estratégias coordenadas e integradas de atuação institucional, no plano de ação nacional, para erradicação do trabalho escravo, o enfrentamento do tráfico de seres humanos e a proteção do trabalhador indígena. Tal coordenadoria atua, também, fomentando a troca de experiências e discussões sobre o tema, bem como uma atuação ágil onde seja necessária a presença do MPT36.

A Coordenadoria é composta por um Coordenador Nacional, um Vice Coordenador Nacional e por Membros titulares e suplentes das Procuradorias Regionais do Trabalho. Atualmente o Coordenador Nacional é Tiago Muniz Cavalcanti (MPT em Alagoas), pelo Vice-Coordenador Nacional é Maurício Ferreira Brito (MPT na Bahia). Já no Rio de

36 Informação retirada do site do MPT. Disponível em < http://www.prt1.mpt.mp.br/mpt- rj/areas-de-atuacao>. Acessado em 28 de mai. de 2017.

46 Janeiro a titular é a Guadalupe Louro Turos Couto e o suplente Marcelo José Fernandes da Silva.

3.1.2. Instrumentos do processo fiscalizatório

O Ministério Público do Trabalho atua na defesa coletiva dos direitos sociais, por meio de investigação de transgressões coletivas da ordem jurídica trabalhista. O processo fiscalizatório pode se iniciar de duas formas: espontânea, dita “de ofício”, ou mediante representação (provocação), podendo ser da sociedade civil ou do Poder Público.

A atuação de ofício ou espontânea ocorre por mera liberalidade do parquet oriunda de uma investigação interna. Já a atuação mediante representação consiste na investigação que fora movida mediante recebimento de requerimento ou comunicação oficial, de particular ou ente público, sobre determinado fato que possa ser objeto de sua atuação na defesa de interesses difusos da ordem trabalhista.

Neste sentido, basicamente há dois modelos de atuação o Ministério Público do Trabalho para defesa dos direitos sociais constitucionalmente garantidos no âmbito das relações de trabalho: extrajudicial (modelo resolutivo) ou judicial (modelo demandista).

Fabio Goulart Villela (2006, p. 2) salienta que o modelo resolutivo traz um maior controle da efetividade dos resultados, pois neste o MPT pode propor soluções alternativas, enquanto o modelo demandista o MPT figura-se como uma das partes da lide e a resolução é transferida para o Poder Judiciário, in verbis:

“O modelo resolutivo se caracteriza pela busca da solução extrajudicial dos conflitos, o que assegura ao membro do Ministério Público do Trabalho um maior controle da efetividade do resultado perseguido, assim como uma maior liberdade para apresentar soluções alternativas. Como exemplos, podemos citar a celebração de termos de compromisso de ajustamento de conduta e a expedição de notificações recomendatórias.

Por outro lado, o modelo demandista se caracteriza pela judicialização dos conflitos, implicando uma atuação do Ministério Público do Trabalho como agente processual, de modo a transferir a resolução do conflito para o Poder Judiciário. Como exemplos, podemos citar o ajuizamento de ações civis públicas, ações civis coletivas e ações anulatórias de cláusulas coletivas”.

47 Desta forma, destacamos os principais instrumentos legais utilizados pelo MPT no âmbito de sua atuação fiscalizatória: inquérito civil, termo de ajuste de conduta e ação civil pública.

O inquérito civil, que é um dos principais instrumentos investigatórios do Parquet, foi instituído pela Lei n° 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública), inspirado no inquérito policial. O inquérito civil é uma investigação administrativa prévia, presidida pelo Ministério Público, que se destina primordialmente a colher elementos para formar a convicção do órgão ministerial ou para identificar se houve circunstância que enseje eventual propositura de ação civil pública (MAZZILLI, 2000, p. 53).

É mister ressaltar que o inquérito civil é instrumento de investigação exclusivo do Ministério Público (artigo 8º, § 1º, da Lei nº 7.347/85), não obstante a legitimidade concorrente para ajuizamento de ação civil pública (artigo 5º da Lei nº 7.347/85).

Infere-se da definição de inquérito que este não é processo, mas procedimento administrativo. Não há acusação (inexiste a posição de “acusado” ou “réu”, apenas “investigado” ou “inquirido”) e não se aplicam penalidades ou sanções. Corroborando com o exposto, afirma CARVALHO FILHO (2001, p. 242):

“O inquérito civil é um procedimento administrativo de colheita de elementos probatórios necessários à propositura da ação civil pública. Também não estaria incorreto atribuir-lhe a qualificação de processo administrativo. Sem embargo de haver críticas à expressão, pelo fato de considerar-se o processo como instrumento da função jurisdicional, e não da administrativa, o certo é que está ela consagrada entre autores e tribunais. Parece-nos também que pouca preocupação deve causar o rótulo do instituto; de relevo é realmente a sua essência. Na medida em que se tenha ciência da função nele exercida – a função administrativa – nada impede seja o inquérito civil qualificado como processo administrativo”.

Após a fase instrutória do inquérito civil, o membro do Ministério Público, pode optar por celebrar termo de ajuste de conduta, medida extrajudicial, ou pela propositura de ação civil pública ou coletiva, medida judicial, caso haja fundamento, ou promover o arquivamento (arts. 5°, § 6° e 9º, caput, da Lei nº 7.347/85, e 10, caput e 14 da Resolução n° 69/2007 do CSMPT).

Findada a investigação, se o membro do Ministério Público do Trabalho concluir pela materialidade e autoria da lesão denunciada, poderá propor ao inquirido a

48 celebração de Termo de Ajustamento de Conduta, conforme art. 5°, § 6°, da Lei n° 7.345/85 (LACP)37 c/c o art. 14, da Resolução n° 69/2007 do CSMPT38, visando à reparação do dano, à adequação da conduta às exigências legais ou normativas e, ainda, à compensação e/ou à indenização pelos danos que não possam ser recuperados.

O referido termo, a ser firmado perante qualquer dos órgãos públicos legitimados ao ajuizamento da ação civil pública, consiste em manifestação unilateral e espontânea de vontade do compromissado em adequar sua conduta aos preceitos legais e/ou constitucionais.

Trata-se de título executivo extrajudicial, nos moldes dos artigos 5°, § 6°, da Lei nº 7.347/85 e 876, caput, da CLT, possui previsão de multa cominatória (astreintes) fixada no referido instrumento e caso o inquirido não concordar com a celebração de TAC, o MPT promoverá o arquivamento do inquérito civil, para ajuizamento da ação civil pública ou coletiva.

Também, pode ser proposta a ação civil pública, se assim entender o Parquet que os meio extrajudiciais utilizados em sede do inquérito civil não foram suficientes para garantir a efetividades dos direitos individuais homogêneos dos trabalhadores.

Por fim, analisaremos a atuação do MPT-RJ por meio destes instrumentos fiscalizatórios, utilizando-se de casos emblemáticos em que foram flagrados trabalhadores migrantes em condições análogas à de escravo. A análise da utilização de tais instrumentos se mostra efetiva, pois estes exteriorizam as medidas adotados pelo parquet na efetivação dos direitos laborais.