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Avaliado a acessibilidade de dois surdocegos em duas calçadas com acabamentos diferentes, a da rua Augusta e a da rua Oscar Freire. As duas ruas tem grande importância no cenário paulistano e foram submetidas à reforma após a aprovação do Decreto nº 45.904/05 e do Programa Passeio Livre.

Em maio de 2005 foi aprovado o Decreto nº 45.904 que estabelece um novo padrão arquitetônico para as calçadas da cidade de São Paulo. O Decreto estabelece que os passeios públicos obedeçam aos dispositivos de acessibilidade determinados na norma técnica NBR 9050/04. O Programa Passeio Livre dispõe sobre a forma e materiais das

calçadas, permanecendo os outros aspectos relacionados aos passeios públicos exatamente como determinado em Decretos publicados anteriormente.

A cartilha do Programa Passeio Livre tem como objetivos conscientizar a população sobre a importância da construção, recuperação e manutenção das calcadas contribuindo para a melhoria da paisagem urbana, acessibilidade e resgate da socialização dos espaços públicos. O padrão arquitetônico previsto pelo decreto prevê três faixas na calçada: faixa de mobiliário com largura mínima de 0,75m, entre a guia e a faixa livre, destinada à locação de árvores, rampas de acesso para veículos ou portadores de deficiências, poste de iluminação, sinalização de trânsito e mobiliário urbano; a faixa livre deve ter largura mínima de 1,20m, destinada exclusivamente à circulação de pedestres, portanto deve estar livre de quaisquer desníveis, obstáculos ou vegetação e a faixa de acesso, quando possível, situa-se na área em frente ao seu imóvel ou terreno, onde pode estar a vegetação, rampas, toldos, propaganda e mobiliário móvel como mesas de bar e floreiras, desde que não impeçam o acesso aos imóveis, é uma faixa de apoio à sua propriedade (Figura 23).

Figura 23: padrão previsto pela Cartilha Passeio Livre

O trajeto selecionado é composto por quatro quarteirões das ruas Oscar Freire e Augusta. A reforma da calçada da Rua Augusta foi finalizada em outubro de 2006 e a da Oscar Freire em dezembro do mesmo ano. O piso instalado na rua Augusta foi o intertravado, já a Rua Oscar Freire recebeu placas de granilite (Figura 24).

O passeio acompanhado foi realizado em março de 2007. Domingo de manhã.

Características do avaliado 1: Surdo com baixa visão. Resíduo visual de 20% só no olho direito, sendo diagnosticado com Síndrome de Usher e retinose pigmentar.

Nasceu surdo e a partir dos 10 anos foi perdendo a visão. Tem 47 anos de idade. Sexo masculino.

Cursou 1º e 2º graus. Reprovado por duas vezes no vestibular para Engenharia Civil, formou-se então em perfuração, digitação e contabilidade pela Escola de Comércio Técnico da Cândido Mendes, Rio de Janeiro. Trabalhou como auxiliar de contabilidade e digitador. Aos 33 anos de idade iniciou Reabilitação no Instituto Benjamin Constant19, Rio de Janeiro. Outros cursos foram concluídos no Instituto Benjamin Constant como manipulação de produtos de limpeza e massoterapia.

De 1995 a 2000 participou de competições de natação e travessias no mar. Formou- se em mergulho adaptado no mar. Primeiro mergulhador surdocego do Brasil e segundo do mundo, registrado na Sociedade Brasileira do Mergulho Adaptado. Aprendeu apnéia aos 17 anos com um tio, em Búzios (RJ). "Vi, por toque, estrelas-do-mar, esponjas, corais, algas e dois naufrágios históricos."

Depois de quatro anos de resistência decidiu, aos 37 anos, usar a bengala como auxílio à locomoção.

Casado com a avaliada 2 aos 45 anos.

Forma de comunicação: Libras adaptada e letras de forma (alfabeto manual).

Características do avaliado 2: Cega com resíduo auditivo.

19O Instituto Benjamin Constant foi criado pelo Imperador D.Pedro II através do Decreto Imperial n.º 1.428, de 12 de setembro de 1854, com o nome de Imperial Instituto dos Meninos Cegos.

Atualmente é um centro de referência, a nível nacional, para questões da deficiência visual. Possui uma escola, capacita profissionais da área da deficiência visual, assessora escolas e instituições, realiza consultas oftamológicas à população, reabilita, produz material especializado, impressos em Braille e publicações científicas. (http://www.ibc.gov.br/)

Em decorrência de sarampo, ficou surda aos seis anos. Aos nove anos, foi perdendo gradativamente a visão e perdeu totalmente a visão aos 19 anos. Tem 38 anos de idade. Sexo feminino.

Concluiu o primeiro grau aos 17 anos. A mãe, que trabalhava fora, a ensinou a lavar, passar e cozinhar além de fazer crochê.

Descobriu a forma de comunicação Tadoma pelo desespero:

As pessoas falavam a minha volta, e eu não conseguia participar, não entendia, passei a tocar as pessoas, próximo do lábio, e pela vibração passei a entender tudo, ouvir através do toque. Primeiro eu percebi que pelo toque na face das pessoas eu podia entender tudo. Através dos livros dela descobri que outras pessoas também podem se utilizar desse método. Eu entendo tudo, desde que a pessoa articule perfeitamente as palavras. Por ter resíduo auditivo, posso, por exemplo, ouvir o toque de telefone, batida na porta, mas não ouço vozes, só as entendo pela percepção de sons através do tadoma. Não sou a única pessoa que usa o tadoma, devem existir outras, mas não conheço, pois aprendi sozinha. (http://www.ame- sp.org.br/noticias/entrevista/teentrevista12.shtml)

Aprendeu a ler Braille em dois meses. Passando a se corresponder com cegos e surdocegos. Faz palestras, divulgando a existência e a capacidade do surdocego no Brasil. Também usa a Libras (Língua Brasileira de Sinais) e se comunico bem com todos, independente de suas capacidades de comunicação.

É professora de Braille e tem o sonho de fazer faculdade de Pedagogia e trabalhar com criança surdacega e com múltipla deficiência sensorial.

Atualmente viaja, passeia, nada, tendo uma vida social normal.

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