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Aula expositiva: por que não?

PARTE II – A METODOLOGIA DE ENSINO NO CURSO DE DIREITO DO

2.3 E STRATÉGIAS DE E NSINO E A PRENDIZAGEM : NOVOS HORIZONTES PARA OS

2.3.5 Aula expositiva: por que não?

A pesquisa de campo realizada com os professores do curso de Direito demonstrou que todos utilizam a aula expositiva como recurso metodológico.

Assim, em que pese não seja realizada uma análise da aplicação prática da aula expositiva, como nos itens anteriores, pareceu-nos importante tecer algumas considerações a respeito dessa estratégia de ensino.

A grande incidência das aulas expositivas nos cursos de graduação pode ser justificada por fatores econômicos e administrativos, mas também por fatores pedagógicos como facilidade de se atingir um grande número de ouvintes, possibilidade da modalidade de ensino ser adaptada a diferentes públicos, rapidez e possibilidade de ênfase maior na apresentação do conteúdo, entre outros fatores.

O objetivo não é apresentar inovações, mas demonstrar que a aula expositiva, além de poder ser mais bem aproveitada no cotidiano da sala de aula, também pode contribuir para o desenvolvimento de diversas habilidades descritas na Resolução 09/04, quando utilizada adequadamente.

Isso porque se deve atentar que a “aula expositiva só é eficiente quando é bem planejada e executada mediante a observância de princípios e técnicas de ensino” (GIL, 2006, p. 134-135).

Uma alternativa para transformar a aula expositiva em estratégia de ensino capaz de estimular o pensamento crítico do aluno é dar-lhe uma dimensão dialógica.

De acordo com Freire e Guimarães (1982), essa modalidade de aula expositiva utiliza o diálogo entre professor e alunos para estabelecer uma relação de intercâmbio de conhecimentos e experiências.

No dizer de Lopes (1991, p. 43), “a aula expositiva dialógica valoriza a vivência dos alunos, seu conhecimento do concreto, e busca relacionar esses conhecimentos prévios com o assunto a ser estudado”.

O fundamento dessa dimensão é que “somente partindo do concreto é possível chegar a uma compreensão rigorosa da realidade” (FREIRE; SHOR, 1986).

Ao atentar para as considerações a respeito da aula dialógica, observa-se que ela deve estar intimamente relacionada com a realidade vivenciada pelo aluno, cabendo ao professor convidá-lo para estabelecer a relação entre as experiências vividas e o novo conteúdo que se apresenta em sala de aula. Dessa forma, professor e aluno podem obter uma compreensão crítica e ao mesmo tempo científica dessa realidade.

Considerando a dimensão instrumental da aula expositiva dialógica, é possível constatar dois principais elementos que são desencadeadores desse processo entre professor e alunos. O primeiro deles é a problematização.

Para Lopes (1991, p. 43), problematizar significa “questionar determinadas situações, fatos, fenômenos e idéias, a partir de alternativas que levem à compreensão do problema em si, de suas implicações e de caminhos para a solução”.

Nesse sentido, a problematização na aula expositiva dialógica visa a estimular os alunos a levantar problemas e a identificar as respectivas alternativas de solução, levando-os à reelaboração e produção de conhecimentos.

Por meio da problematização, o conteúdo apresentado pelo professor poderá ser contestado e redescoberto pelos alunos, ou seja, ensejará uma percepção crítica da realidade, eliminando a passividade e a simples memorização.

Outro elemento dinamizador da aula é a pergunta. Perguntar é interrogar, questionar, é querer saber um algo a mais daquilo que está sendo informado, aliás, “é a partir da vontade em querer saber algo que o conhecimento passa a ser produzido” (LOPES, 1991, p. 44).

Cabe esclarecer que não é a simples fórmula pergunta e resposta que irá propiciar a transformação da aula em dialógica.

Para que o processo de perguntar seja um elemento dinamizador na aula, ele precisa ser realizado de forma mais profunda. Ele deve proporcionar “uma troca de conhecimentos em que professor e alunos reaprendam por intermédio da descoberta coletiva de novas interpretações do saber sistematizado (LOPES, 1991, p. 44)”.

De outro lado, significa que um professor não pode bloquear a curiosidade de seus alunos, ou seja, não deve desconsiderar uma pergunta em aula, mesmo que ela possa parecer ingênua ou despropositada.

Isso porque a aula universitária deve ser entendida como:

[...] locus produtivo da aprendizagem, que é, também, produção por excelência. O resultado do ensino é a construção do novo e a criação de uma atitude questionadora, de busca e inquietação, sendo local de construção e socialização de conhecimento e cultura. (VEIGA; RESENDE; FONSECA, 2000, p. 175)

O professor deve incentivar a produção do conhecimento. Ao perceber uma pergunta mal formulada, deve ajudar o aluno a refazer a pergunta, pois essa atitude o educa a aprender a perguntar, consoante Lopes (1991, p. 44).

Diante da estimulação do ato de perguntar e da problematização das questões apresentadas em sala de aula, o aluno, além do pensamento crítico estimulado, também consegue estabelecer uma maior interação com a realidade, já que ele estará realizando a construção do conhecimento mediante a relação direta entre a fundamentação teórica e os problemas reais.

Veiga, Resende e Fonseca (2000, p. 177) dizem que:

Ao atribuir grande importância aos saberes e às experiências dos alunos, bem como às questões postas pelo contato direto com as atividades, realiza-se a proposta de ensino, que passa pelo movimento da realidade à ação, mediatizada pela teoria.

Sob o aspecto da relação professor-alunos, poder-se-ia imaginar a supressão da diretividade do professor na aula dialógica, mas essa visão é equivocada.

A autoridade do professor prevista nas aulas tradicionais é trocada por uma concepção mais democrática do saber. O professor continua sendo o

sujeito que domina o conhecimento, mas dá ao conteúdo um caráter democrático, uma vez que a forma de apresentar o saber é compartilhada com os alunos.

Essa nova relação com o conhecimento, propiciadora de uma relação pedagógica mais cooperativa, faz com que o saber seja trabalhado de forma solidária e não simplesmente transmitido e apropriado linearmente. A relação pedagógica é entendida como relação social a partir do momento em que alunos e professores se transformam em protagonistas.

Segundo Veiga, Resende e Fonseca (2006, p. 179-80):

O aluno é protagonista porque passa a ser o sujeito da aprendizagem e, por isso, sua atividade cognitivo-afetiva é fundamenta para manter uma relação interativa com o objeto do conhecimento. O professor é protagonista porque é ele que faz a mediação do aluno com os objetos dos conhecimentos.

Pode-se dizer também que o professor, ao reduzir os mecanismos de controle, estimula a participação e a iniciativa dos alunos, características essas essenciais para um futuro profissional.

O fato é que, ao adotar a aula expositiva dialógica como estratégia de ensino, o professor estará praticando uma educação transformadora na medida em que, no dizer de Lopes (1991, p. 45):

[...] favorece a compreensão dos determinantes sociais da educação porque permite o questionamento; ao mesmo tempo em que proporciona a aquisição de conhecimentos, favorece sua análise crítica, resultando na produção de novos conhecimentos; elimina a relação pedagógica autoritária; valoriza a experiência e os conhecimentos prévios dos alunos; estimula o pensamento crítico dos alunos por meio de questionamentos e problematizações.

Observa-se, então, que a questão não está em rotular a aula expositiva como uma estratégia tradicional e rejeitá-la como técnica de ensino. Ao contrário, por meio de uma perspectiva crítica que transforme a aula em um momento de favorecimento do diálogo, capaz de considerar os interesses e experiências dos estudantes, a aula será dinâmica, transformadora e estimuladora do pensamento crítico dos alunos.