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Aula Náutica (1762-1803) e a Aula de Debuxo e Desenho (1779-1803)

4. Academia Politécnica do Porto: antecedentes, constituição e percurso

4.1. Aula Náutica (1762-1803) e a Aula de Debuxo e Desenho (1779-1803)

Para o sucesso das fragatas construídas, eram necessários navegadores qualificados, oficiais com capacidades adequadas. A criação da Aula Náutica pretendia formar graduados da marinha, tenentes do mar e guardas-marinhas, os quais viriam a integrar o corpo profissional a bordo das duas fragatas que defendiam o comércio português e certificavam a segurança das exportações (AZEVEDO, 1981). Assim, pelo Decreto de 30 de julho de 1762, foram criados 12 tenentes-do-mar e 18 guardas-marinhas, os quais teriam educação e residência na cidade do Porto.

A Aula Náutica marcou o início do ensino público da cidade do Porto3, preenchendo assim a falta

de ensino de navegação no país. O tipo de ensino era maioritariamente prático, com uma componente de aulas a bordo de embarcações (BASTOS, 1987).

Podiam frequentá-la oficiais da Marinha e quaisquer pessoas que se interessassem pela ciência náutica. Paralelamente à construção das fragatas, D. João de Almada e Melo (Membro do Conselho de Sua Majestade, Governador das Armas na Cidade do Porto e Presidente da Junta da Marinha4) ficou

encarregado também da implementação desta aula (ARAÚJO, BERNARDO e MONTEIRO, 2012). A Aula Náutica iniciou o seu funcionamento em novembro de 1764, gerida pela Junta Administrativa da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, como havia sido pedido, a qual se encontrava ainda encarregue de adquirir todo o tipo de material didático que fosse necessário5.

O local escolhido para o decorrer das lições foi o Real Colégio dos Meninos Órfãos de Nossa Senhora da Graça, onde posteriormente seriam abrigadas as futuras instituições de ensino público (ARAÚJO, BERNARDO e MONTEIRO, 2012).

O Colégio dos Meninos Órfãos de Nossa Senhora da Graça, tratou-se de uma instituição criada pelo padre Baltazar Guedes em 1051, que tinha como função providenciar habitação e educação aos órfãos pobres. A formação dada no colégio variava na sua amplitude, desde latim, música, náutica e desenho.

3 U.PORTO – Antecedentes da Universidade do Porto [Em linha]. Disponível em WWW:<URL:

https://sigarra.up.pt/up/pt/web_base.gera_pagina?p_pagina=122251>.

4 U.PORTO – Antecedentes da Universidade do Porto [Em linha]. Disponível em WWW:<URL:

https://sigarra.up.pt/up/pt/web_base.gera_pagina?p_pagina=122251>.

5 FCUP História da FCUP: Aula de Náutica [Em linha]. Disponível em

45 A maior parte dos órfãos saíam do colégio habilitados a exercer funções no comércio, indústria e navegação. A reputação deste estabelecimento perante o público, levou à preferência para albergar o ensino público portuense (BASTOS, 1987).

O primeiro lente a lecionar a Aula de Náutica foi António Rodrigues dos Santos, sendo este encarregado de ler aos aulistas e explicar o exercício da profissão náutica aos mesmos (SANTOS, 1996). Este havia anteriormente sido lente na Aula de Náutica de Goa e ainda lente substituto dos Guardas- Marinhas na aula da corte. Exerceu este cargo desde 1764 a 1769, ano da sua morte (ARAÚJO, BERNARDO e MONTEIRO, 2012). Em 1770, José Monteiro Salazar, nomeado Primeiro Piloto da Marinha por João de Almada de Melo em 1768, passa a exercer o cargo de lente da Aula Náutica, e nele permaneceria até outubro de 17896.

A formação adquirida pelos navegadores na Aula Náutica veio mostrar-se insuficiente para uma preparação adequada. Era necessário um curso mais abrangente, com mais utilidades às atividades desenvolvidas pelos portuenses (AZEVEDO, 1981). Assim, em 1779, por decreto, foi criada a Aula de

Desenho e Debuxo na cidade do Porto, aplicando-se a esta todos os pressupostos de financiamento da

Aula Náutica.

O decreto de criação, instituiu António Fernandes Jácome como o lente da aula, que inaugurou a mesma a 17 de fevereiro de 1780, principiando as lições com as regras gerais de debuxo e as partes do corpo humano. Nesta aula aprendia-se o desenho de máquinas, de instrumentos, a produção de cartas geográficas e topográficas de países, e de plantas de cidades e embarcações (SANTOS, 1996).

Em novembro de 1800, António Jácome foi dispensado do seu cargo de diretor da aula e substituído por Francisco Vieira, o portuense, pelo reconhecimento dos seus feitos em Itália onde foi distinguido com o primeiro prémio de desenho no concurso da Academia do Capitólio7. Tal era o prestígio do novo

lente que a frequência desta aula aumentou consideravelmente, chegando aos 120 alunos, obrigando a aula de desenho a mudar as suas instalações do Colégio dos Órfãos para o hospício dos religiosos de Santo António de Vale Piedade (BASTOS, 1987).

Na viragem do século, a Aula Náutica começou a perder prestígio, dado que em 1796 apenas um aluno se havia matriculado. Existiam alunos do Colégio dos Meninos Órfãos que se podiam candidatar a praticantes nos navios mesmo não possuindo conhecimentos de náutica, pois para isso lhes bastava serem recomendados pelo Provedor da Companhia. Para além destas situações, enfrentava-se ainda a problemática de que a maioria dos praticantes de navegação portuenses não possuía meios financeiros

6 FCUP História da FCUP: Aula de Náutica [Em linha]. Disponível em

WWW:URL:https://sigarra.up.pt/fcup/pt/web_base.gera_pagina?p_pagina=1019828>.

7 FCUP – História da FCUP: Aula de Debuxo e Desenho [Em linha]. Disponível em WWW:<URL:

46 ou conhecimentos suficientes para realizar o exame de piloto em Lisboa, de modo a que a maioria destes navegadores nunca chegava a ter carta de marinheiro (ARAÚJO, BERNARDO e MONTEIRO, 2012).