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Aula sobre constelações e estações do ano, visita ao Observatório e obtenção de

4. A RACIONALIDADE PRÁTICA E OS CONTEÚDOS DE OBSERVAÇÃO DO CÉU

4.5 ABRINDO A PORTA DA SALA DE AULA PARA OBSERVAR OS PLANETAS E

4.6.3 Aula sobre constelações e estações do ano, visita ao Observatório e obtenção de

O conteúdo tratado na aula 12 foi relacionado às estrelas. Iniciou-se com uma aula expositiva sobre constelações, depois se discutiu distâncias, sistemas, tamanhos, cor e temperatura das estrelas. No que se refere às constelações abordou-se a relação das constelações com a época do ano em que são mais facilmente observadas, particularmente no começo da noite para nossas latitudes. Assim, evidenciaram-se as relações mais evidentes: Outono: Leão; Inverno: Escorpião, Cruzeiro do Sul e Centauro; Primavera: Pégaso; Verão: Órion.

Naquela aula, tendo passado quase três meses do início do curso, os participantes já haviam verificado, pela prática e pelo programa trabalhado, que existe uma relação entre as constelações observadas e a época do ano. Além disso, o uso de mapas e instrumentos nas visitas que fizeram ao Observatório contribuem para a formação do pensamento prático ligado ao tema da observação do céu.

As visitas dos participantes ao Observatório como aula do curso foram feitas nos seguintes momentos: J e W: entre A8 e A9 e também entre A12 e A13; B: A11; R e SS: A13. Isto se faz necessário para se localizar as visitas relatadas como ações extraclasse pelos participantes que foram ao Observatório também em outros momentos e por iniciativa própria.

Na visita de J e W (25/05/2002), observaram o funcionamento dos relógios de Sol, manchas solares, fizeram reconhecimento de constelações e observam a Lua, Vênus, Júpiter, α- Cen, α-Cru.

Na Aula 13 quando relataram a visita ao Observatório, J e W, particularmente W, referem-se a ter observado as crateras da Lua com maior número de aumentos, com o uso do

telescópio e ao uso de várias oculares, que também constituiu-se em novos conhecimentos. Finalmente, W nota que, nesta segunda observação de Júpiter que realizou no observatório, notou que duas luas foram vistas de um lado e outras duas do outro com relação ao planeta, diferentemente da primeira vez em que uma lua estava de um lado e as outras três do outro. O importante aqui não é o mero relato dos participantes, mas o fato de terem destacado esta atividades e observações da visita realizada. Nota-se que perceberam pontos de avanço com relação à prática anterior:

a) instrumento com maior número de aumentos; b) instrumento com acompanhamento mecânico; c) referências a detalhes das crateras da Lua;

d) referências às posições dos satélites de Júpiter em comparação com a outra observação no início do curso.

Na visita de R e SS (26/06/2002), após a aula 13, observaram as constelações mais evidentes e usaram os telescópios para observarem outros objetos celestes como a Lua, Vênus, α- Cen, α-Cru.

O Observatório também é mencionado por J quanto às características do curso que mais chamaram a sua atenção.

J: É o telescópio, daquela visita que nós fomos fazer no Observatório.

Paulo: Então talvez o que mais tenha chamado a atenção foi a visita ao Observatório, é isso?

J: Mas, no presente momento o que veio à cabeça foi isso aí, mas não deixando de lado a teoria que eu achei sensacional, sem isso aí acho que não é nada, não? Que a gente pode observar o dia-a-dia agora, como o professor falou isso, o professor falou aquilo.

Paulo: Observar o dia-a-dia que você fala? J: A noite.

Paulo: O céu?

J: O céu, né? Eu acho que com a teoria isso é possível (...). O Observatório. Lá, só foi possível também analisar algumas outras coisas a partir da teoria que o senhor passou.

O participante menciona o telescópio, o Observatório e a observação do céu. O que chama a atenção em sua fala é a relação que faz com a teoria trabalhada no curso. Menciona que a teoria é determinante para o entendimento e o desenvolvimento com sucesso do trabalho

realizado em sua visita ao Observatório. Outro movimento importante verificado foi de solicitação de efemérides astronômicas pelos participantes.

Estas ações passam a ocorrer na segunda metade do curso. Isto demonstra que, se num primeiro momento os participantes estão prioritariamente interessados em obter mapas celestes e identificar constelações, num segundo momento, passam a solicitar mais informações e a informar sobre ações mais avançadas de busca de materiais como CD, almanaque ou lista de posições de planetas.

Em outro momento ainda, já familiarizados com recursos mínimos de mapas para identificação do céu, procuram por efemérides, o que representa um desenvolvimento do pensamento prático para futuras observações.

Após ter relatado sobre sua visita ao Observatório, na Aula 13, W solicita uma lista de efemérides com posições de planetas. Estava interessado em saber quais astros poderiam ser visíveis em outras oportunidades, pois observou os mesmos astros nas duas vezes em que esteve no Observatório. É importante notar que as visitas foram feitas com apenas um mês de diferença, o que leva a um céu razoavelmente parecido em particular nesta época em que os participantes relatam as visitas realizadas.

Também neste sentido, J perguntou, na Aula 13, se o almanaque que obtivera mostraria posições de planetas e se permitiria localizar outros que ainda não observara.

Também ocorreu uma ação relatada pela participante SS, na Aula 13, quando se refere ao relato feito na Aula 11 sobre a observação da conjunção da Lua com o planeta Vênus feita com uma colega, a professora de Ciências da escola em que leciona após saírem de uma reunião e mostrou interesse em saber, com antecedência, da ocorrência de fenômenos como as conjunções.

SS: Aquele dia que apareceu a imagem e você comentou, da Lua e Marte29, foi um espetáculo maravilhoso

no céu. Se você tivesse essa notícia uma semana antes da previsão do dia, seria uma coisa muito interessante porque a minha amiga saiu e falou assim: O que é isto? Ela olhou para o céu e falou: - Mas gente o que é isto? Eu falei: - Bom, eu sei agora que é a Lua que está perto de Vênus. Mas se você soubesse a notícia ... Eu não sei como prever isso. Você falou, eu fiquei observando, fui marcando até que a gente viu chegar naquele ponto. Se você sabe antes, você chama a atenção do povo. Pelo menos se for dois ou três que leu aquele assunto, você fala assim: - Nossa, eu li aquele artigo, me explicou o que que é. Ah, aquele ali é o planeta Vênus.

O comentário refere-se a um momento da aula em que se discutiu a repercussão na imprensa sobre os fenômenos das conjunções dos planetas e também com a Lua. Nota-se o interesse em obter efemérides com predições de conjunções ou a maneira de prever a ocorrência de tais fenômenos. Na fala da participante, além de demonstrar interesse próprio em obter as predições, nota-se a importância que dá ao fato de ter identificado o planeta Vênus para sua colega e que isso foi possível pela informação dada pelo professor e pelo fato de o participante estar acompanhando o movimento dos astros no céu. Percebe-se também o interesse em obter predições para divulgar os fenômenos com antecedência para chamar a atenção das pessoas, que poderiam ler sobre o assunto.

Nota-se que a sugestão de procura de materiais, pela própria da metodologia do curso, para que os participantes façam um acervo próprio assim como reconhecer o céu e praticar observações locais fica aqui evidenciado.

Todos relataram ações ligadas à observação do céu. Em escalas e com resultados diferentes, todas mostram passos seguidos no caso de cada participante conforme o ponto em que se encontrava na prática de observação do céu.

É possível aqui estabelecer-se uma seqüência de etapas, não exatamente rígida, seguidas pelo grupo como um todo:

a) Procura de mapas celestes e maior variedade de fontes;

b) Procura de um local sem iluminação artificial para observação do céu noturno; c) Identificação de constelações e planetas;

d) Visita ao observatório;

e) Aplicação em aula com alunos;

f) Obtenção de efemérides e domínio de recursos, como mapas celestes e Internet, que contribuem para a autonomia do participante para que possa saber, em momento qualquer, qual o céu da época consultada.

4.6.3.1 Terceiro Momento de Avaliação

Na continuação do curso, na Aula 14 (03/07/2002) novamente é feita a pergunta C sobre “o que seria importante para ser ensinado em Astronomia para alunos de 5ª a 8ª séries”, para a qual os participantes SS e W responderam:

SS: (...) constelações principais de acordo com a estação do ano, Fases da Lua (...). Movimentos da Terra (dia e noite e estações do ano) O uso dos telescópios. O Sol e sua trajetória.

W: (...) A localização do nosso Planeta. A nossa localização no Planeta (instrumentos e coordenadas).

Novamente verifica-se a questão de que os diferentes saberes e o saber-fazer dos professores estão longe de serem produzidos por eles mesmos ou de se originarem do seu trabalho cotidiano e de terem origem social patente. Isto se verifica pela menção a conteúdos de aulas recentes sobre a posição e movimentos da Terra e, em função de seu movimento, a relação das constelações com as estações do ano, na aula 12, (12/06/2002) bem como as fases da Lua e a trajetória do Sol.

Também é mencionado o uso de telescópios, que foi conteúdo de aulas, mas principalmente relacionado às visitas que fizeram poucos dias antes ao Observatório (SS em 26/06/2002 e W em 22/06/2002) quando mencionam o uso de telescópios e instrumentos. Nota-se aqui a temporalidade do saber, como mencionado por TARDIF (2002), ao momento específico do curso em que os participantes estão envolvidos.

Tanto ao que se refere ao programa do curso quanto às visitas ao Observatório, nota-se aqui o saber proveniente de diferentes fontes, como também mencionado por TARDIF (2002).

A evidência do programa do curso, da escolha de determinados conteúdos e a presença desses nas respostas dos participantes está na própria ausência de tais conteúdos nas respostas à mesma pergunta quando fora formulada no início do curso.

Portanto, entende-se aqui que investigar determinadas abordagens ou concepções de professores é algo que pode ser feito levando-se em conta suas ações, os acontecimentos do cotidiano, as informações dos meios de comunicação e a sua própria atividade docente.